O Garoto Da Casa 918. escrita por Greensleeves


Capítulo 5
Capítulo 5




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 "Querida esta tudo bem?"

 Olhei para minha avó.

  "Sim." -Menti e voltei a mexer o cereal.

  "Então coma, quase nem tocou na comida."

  "Não estou com fome." -Me levantei e coloquei o pote na pia.

  "Você esta assim dês de terça." -Ela disse vindo até mim.

  "Estou bem vó. Só não dormi muito bem." 

  "Por que não vai dar uma volta?"

 Dei de ombros. 

 Eu precisava sair, penar um pouco. Poderia ser drama, mas aquele dia mexeu comigo. Olhei para o céu e, ao contrario dos outros dias, estava tão nublado; como se a natureza não estivesse tão animada para se mostrar.

  "Helena, não é?" -Ouvi alguém me chamando. Quando me virei, Lian estava parado atras de mim.

  "Sim. A gente se falou terça." 

  "É mesmo." -Ele coçou a nuca.

  "O que você quer." -Não quis, mas minha pergunta soou fria de mais.

  "Eu vi você pela rua e pensei que estava sozinha." -Ele disse desviando o olhar.

  "É.. estou dando uma volta." -Chutei uma pedrinha.

  "Que companhia?"

  "Na verdade não..." -Falei, ele pareceu desapontado- "Mas se você quiser me acompanhar." 

 Ele deu de ombros.

  "Mas o que houve?" -Ele perguntou quando paramos em frente ao banco, perco do parque.

  "Estou um pouco... abalada com um incidente." 

  "Huum." 

  "É.."

 Ficamos ali sentados por pelo menos quinze minutos, ninguém se atreveu a falar algo. Então ele apenas se levantou e foi embora. Fiquei o olhando atravessar a rua e sumir virando a esquina. Suspirei e apoiei minha cabeça na mão.

 Eu já estava sentada a meia hora e minhas costas começaram a doer. Me levantei e voltei para casa. Eu não me importava de ficar sozinha, pelo ao contrário, até preferia. Mas as vezes eu me sentia sozinha de mais. Como se faltasse pessoas no mundo para conversar comigo.

 Eu conversava com Jully, minha avó e as vezes minha tia quando ligava. Mas acho que as vezes elas não me entendiam muito. Na escola eu não tinha muitos amigos, e agora teria menos ainda, pois logo iria me formar e ficar na cidade.

 Percebi que estava a uma rua de casa, e isso significava que a casa estava a dois metros da minha frente. Eu não sei por que uma casa me dava tanto medo; eu já morei em tantas. Mas a quela era diferente.

 Olhei para as janelas escuras e com os vidros quebrados ou rachados. As vigas da varanda estavam rachando e as plantas que, um dia cresciam pela casa, estavam secas ou mortas.

 Me apoiei na cerca e fiquei imaginando uma afamilia morando na quela casa. Filhos brincando com o cachorro, a mulher cozinhando e o marido bebendo uma limonada no banquinho da varanda.

 Algo na quela casa me encantava. Talvez a história ou a beleza que ela um dia teve. Atravessei a cerca e andei atá a porta. Olhei para a maçaneta e minha mão estava coçando para toca-la. A girei lentamente, olhei em volta, mas a rua estava vazia, só alguns carros passavam.

 A porta se abriu com um rangido, estava muito escuro lá dentro, mas minha curiosidade não ia me impedir. Fechei a porta atras de mim e olhei para o breu que se estendia sobre meus olhos.

 Uma frestinha de luz entrava entre as madeiras da janela e eu consegui saber que ali tinha uma escada, outro comodo e um móvel. Respirei fundo e fui até a escada. Os degraus rangiam sobre minhas botas, que andavam segas pelo piso.

  "Você só deve estar louca." -Sussurrei para mim mesma.

 Olhei para o largo corredor que fazia o segundo primeiro andar. Deveria ter ali umas cinco portas fechadas; mas a do final do corredor estava meio aberta. Caminhei lentamente até ela, não parecia haver ninguém. Será que a pessoa que morava lá saía?

 Mexei meus olhos e segurei na maçaneta. O grito da porta ecoou pela casa vazia. O quarto estava vazio, não tinha cama, armário, nada. Apenas um quadro na parede com uma fotografia antiga e meio esfumaçada. Fui até ele e percebi que era uma família em frente a casa.

  "Você de novo aqui?" -A voz disse me virei e o vulto estava encostado na porta.

 Meu grito me deixou surda. Passei por ele e corri pelo corredor, ouvi passos atras de mim. Desci as escadas correndo e quase caí no penúltimo degrau. Senti mão gélidas agarrando minha cintura.

  "Me larga!" -Gritei, mas ela tampou minha boca rapidamente. 

 Tentei agarrar alguma coisa para me segurar, mas ele me puxava de volta. Segurei no corrimão com força, meu dedos foram deslizando para cima por causa do suor. Meu gritos iam sendo sufocados pela sua mão que ainda cobria minha boca. Tentei gritar por socorro, mas eu estava cansada de tanta força que fizera para me soltar dos seus braços. 

 Percebi que ele me lavava para o corredor. Entramos em uma das portas, o quarto estava escuro, mas o canto estava levemente iluminado com uma simples vela. Ele me colocou no chão ainda com a mão na minha boa e segurando meu braço.

  "Fique quieta!" -Sua voz estava irritada mas ele não gritou.

 Tentei ver seu rosto, mas a vela só iluminava suas mãos que eram cheias de marcas e cicatrizes. Meu peito parecia explodir, minha respiração estava acelerada e minha testa com alguns fios de cabelos grudados por causa do suor.

 Quando me acalmei ele tirou lentamente a mão da minha boca e soltou meu braço, mas eu sabia que ele ainda estava lá.

  "Não me machuque." -Disse ofegante.

  "E por que eu faria isso?"

 Meus olhos percorriam a escuridão tentando achar a origem da voz, mas sem sucesso.

  "Então me deixe ir." -Sussurrei.

  "Para você fazer um escândalo que nem agora?" -Ele disse com um tom de sarcasmo.

 Estava frio e eu não tinha pego meu casaco. Encolhi as pernas e tentei as cobrir com a saia do vestido, mas era muito curto. Olhei para avela e cautelosamente a puxei para perto.

  "Vai me manter aqui para sempre?" -Perguntei.

 Mas não houve respostas; Eu estava sozinha. Olhei para a vela que estalava derretendo a sera. Minhas mãos tremiam e a vela não estava ajudando tanto.

  "Esta com frio?"

 Levei um susto. Olhei para a escuridão na minha frente tentando ver algo, mas como sempre, nada.

  "Sim." -Concordei. Tudo estava tão quieto que eu parecia gritando quando sussurrava.

  "Pode se cobrir com isso." -A voz disse.

 Perto da vela apareceu uma manta. Parecia meio velha, mas eu não liguei. Cobri minhas costas e abracei minhas pernas.

  "Me deixe ir." -Disse.

 Sem resposta.

  "Eu quero sair daqui!" -Gritei me levantando. Olhei para a vela no chão e joguei a manta em cima. Agora tudo foi pintado de preto. Minha respiração quebrava o silêncio. Andei cega pelo comodo, encostada na parede até que ela acabou e eu encostei no corrimão.

  "Você não vai ir." -Senti algo puxando minha mão.

  "Por que?" -Supliquei.

  "Para ir contando para todo mundo que aqui vive um mostro. Não mesmo." -Ele gritou.

 Puxei minha mão e com o esforço me desequilibrei e afundei na escuridão. Caí para trás e tentei me segurar no corrimão, mas minha mão deslizou e eu tropecei no degrau. Senti minha cabeça batendo com força em algo duro e então desmaiei.


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Notas finais do capítulo

nossa, amei escrever esse cap. de verdade =D