O Garoto Da Casa 918. escrita por Greensleeves


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

espero que gostem...



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  "Querida, o que houve!" -Disse minha avó quando entrei em casa.

  "Eu esqueci meu casaco." -Olhei para ela tremendo.

  "Vá tomar um banho quente." -Ela disse.

 Assenti. Tirei meus sapatos e subi as escadas correndo.

 A água quente bateu na minha nuca e foi escorrendo pelas minhas costas e cobrindo meu corpo que agora se esquentava; era tão bom. Quando olhei para o espelho estava todo embaçado, passei a mão e pude ver meu reflexo na marca limpa.

 A garota de cabelos molhados e olhos manchados de rímel parecia cansada. Coloquei meu vestido* e sequei meu cabelo. Quando saí, o cheiro de chá rondava a casa. Fui para meu quarto e peguei uma blusa, eu estava com mais frio do que antes.

  "Vó eu posso sair com July amanha de novo?" -Perguntei encostando na parede da cozinha.

  "Eu ia pedir sua ajuda nas estregas, mas claro."

  "Vamos nos encontrar depois das duas." -Comente- "Tenho tempo de te ajudar."

 Ela sorriu e levou o bule para a mesa.

  "Como foi no parque?"

  "O que quer dizer com isso?" -Perguntei.

  "Você nunca é de sair e agora quer ir de novo?" -Ela deu uma risadinha e se sentou na minha frente.

  "É que tinha uns garotos lá..." 

  "Já entendi tudo." 

 Eu não pude deixar de rir.

  "Não é nada de mias vovó." -Segurei a xícara para esquentar minhas mãos- "É que eles vão ficar na cidade até semana que vem... E combinamos."

  "Tudo bem, você pode ir." -Ela disse.

  "Obrigada."

 Uma das coisas que eu amava na minha avó, é que ela era compreensiva para tudo.

  "Então, antes do almoço você me ajuda com as entregas e depois você pode ir."

 Bebi meu chá.

x

 A lua estava cheia, eu poderia ficar olhando a noite toda para ela. Me levantei e fui até a janela, abri o vidro e olhei para a rua lá em baixo. Alguns carros passavam, mas a rua esta silenciosa. Olhei para as casas e para as arvores do parque, como eu amava essa cidade.

 Ouvi a porta se abrindo e me virei. Vovó entrou e sorriu.

  "Eu já vou me deitar querida." -Ela comentou.

  "Boa noite." -Disse fechando a janela e a cortina.

  "Boa noite." -Ela então saiu.

x

  Quando acorde o sol invadia meu quarto. Me levantei e troquei de roupa, desci para a cozinha e vovó estava no telefone, quando me viu sorriu.

  "Tudo bem, chau." -Ela disse desligando.

  "Bom dia vó." -Disse indo para a geladeira.

  "Duas entregas." -Ela disse.

  "Tudo bem." 

 Depois do café, vovó foi até o quartinho e pegou dois potes de geleia, um de mel e outro de melado. Nossas entregas eram apenas produtos caseiros, e as pessoas adoravam; principalmente as do asilo.

  "São tudo para o asilo." -Disse vovó.

 Eu ri.

  "Tudo bem, eu levo." -Disse pegando a trouxinha com os produtos.

  "Cuidado."

 Assenti e saí. Com as entregas ficando famosas, vovó teve de comprar uma bicicleta e isso facilitava muito.

 Coloquei a trouxa na cestinha da frente e montei. O asilo não ficava longe e nossa rua era bem tranquila. Pedalei calmamente pelas calçadas, virei esquinas e em cinco minutos eu já estava lá. Deixei a bicicleta perto da cerca e entrei.

  "Bom dia, encomenda da Anna Produtos." -Disse para a recepcionista.

 Ela já me conhecia, por isso deixou eu entrar em um sorriso.

 Na salinha, vários idosos estavam sentados ou jogando dominó, quando me viram, não disfarçaram a felicidade.

  "Bom dia." -Eu disse.

  "Olá Helena." -Disse a senhora Douglas.

  "Como vai a senhora?" -Perguntei.

  "Vou cada dia melhor com os doces da dia avó."

 Sorri.

  "Vou por os potes no armário." -Disse indo para os fundos.

 Coloquei os potes no armarinho de vidro e voltei.

  "Lembre-sem exercícios também, não só doces." -Disse.

 Eles riram.

  "Estamos assim mais pelos doces do que os exercícios." -Disse o senhor Jonathan.

 Ri.

  "Tenho que ir, aproveitem." 

  "Espere." -A senhora Douglas veio até mim- "Aqui está." 

 Ela colocou duas moedas na minha mão.

  "Você sabe que eu não cobro para vocês."

  "Mas você é uma moça e precisa." -Ela deu seu sorriso desdentado.

  "Obrigada." -Sorri.

 Voltei para casa e fiz o resto das entregas. Quando era meio dia elas já tinha acabado.

  "Esta com fome querida?" -Vovó perguntou.

  "Não." -Respondi tirando meu casaco e pendurando no cabide.

  "Vou fazer uma torta."

  "Pode ser." -Fui até ela e coloquei o dinheiro no pote.

  "Você sabe que sua ajuda é muito útil para mim." -Ela comentou enquanto cortava os tomates.

  "Eu sei vó, por isso que eu amo o que faço pela senhora."

 Ela sorriu.

  "Mas as vezes eu gostaria que você tivesse algo melhor."

  "De novo esse assunto vó?" -Suspirei.

  "Estou falando serio. Talvez fazer uma faculdade..."

  "Vó eu amo trabalhar com a senhora, e se eu não estivesse aqui, me sentiria culpada."

 Ela se virou e me olhou.

  "Obrigada querida."

 Sorri.

x

  "E então ela ficou de novo com a história da faculdade." -Disse.

  "Ela te ama, Helena." -Jully disse.

  "Eu sei, mas eu fico pensando o que seria dela sem eu aqui para ajudar."

 Jully deu de ombros.

  "Ela poderia ficar no asilo..."

 Olhei para ela.

  "Soube que eles tratam as pessoas muito bem lá." -Ela comentou de cabeça baixa.

  "Não sei.."

 Chegamos no parque, e como dito, os garotos estava lá. Quando nos viram, vieram até nos."

  "Olá rapazes." -Disse Jully.

  "Oi." -Lian respondeu- "Você esqueceu isso ontem."

 Ele mostrou meu casaco.

  "Ah, obrigada." -Peguei.

  "Eu pensei em te devolver, mas eu não sabia onde você morava."

  "Tudo bem, obrigada mesmo assim por guardar."

 Ele sorriu.

  "O que vamos fazer hoje?" -Perguntou Jully.

 Os dois se entreolharam.

  "Nós trouxemos isso." -Howard pegou uma cesta que estava no chão.

  "Piquenique?" -Perguntei.

  "Vocês não gostam?" 

  "Adoramos." -Jully sorriu.

 Arrumamos a toalha perto de uma sombra e Lian arrumou as coisas.

  "O que vocês fazem por aqui?" -Ele perguntou pegando uma maça.

  "Tinha um cinema, mas estão arrumando." -Peguei uma uva.

  "Tinha um teatro, mas depois de uma chuva que deu, o teto foi para baixo acabou com o lugar. Então o prefeito desistiu e acabou transformando num museu."  -Disse Jully.

  "Museu do que?" -Howard perguntou.

  "Sei lá, eu nunca fui." -Ela de de ombros.

 Olhei para o céu que dessa vez estava limpo. Como ontem, não tinha cara de que iria chover.

  "O que foi?" -Perguntou Lian.

 Olhei para ele.

  "Nada.." -Dei de ombros.

  "Você não é muito de falar." -Ele riu.

  "Não mesmo." -Jully respondeu.

  "Quer dar uma volta." -Perguntou Howard.

 Jully assentiu e se levantou, os dois foram para o lago e eu fiquei sozinha com Lian. Durante dez minutos ficou a quele silêncio constrangedor entre nós.

  "Você gosta de pássaros?" -Por fim ele perguntou.

  "Sim." -Sorri.

  "Eu tenho um guia de pássaros só da Europa."

  "Legal." 

  "Eu posso trazer para você ver da próxima vez." -Ele disse.

  "Adoraria." 

 Ele assentiu.

  "Desculpa, eu não sou o tipo de menina animada." 

  "Percebi."

 Desviei o olhar. E foi sempre assim, quando eu tinha a grande chance de ter amizade com alguém, eu estragava tudo.

  "Mas eu não vejo problema nisso." -Ele disse.

 Olhei para ele.

  "Acho até fofo. Do que ser a quelas garotas que chamam atenção de mais."

 Sorri. Senti meu rosto esquentar e acho que minhas bochechas tinham passado de cor normal para extrato de tomate.

 Ele riu.

  "Você é muito tímida." 

 Ri, escondendo o rosto com as mãos.

  "Ah, eu sei." -Disse.

  "Quer dar uma volta?"

  "Prefiro ficar aqui." -Disse olhando para trás e vendo Jully e Howard juntos.

  "Entendi." -Ele disse percebendo o que eu quis dizer.

 Suspirei.

  "Você quer uma uva?" -Ele pegou o pote.

  "Pode ser." -Peguei uma e coloquei na boca.

 Senti ele segurando meu rosto e se aproximando. Meu coração foi a mil. Seus lábios tocaram no meu rapidamente e quando eu abri os olhos ele já se afastava. Rimos; por qual motivo? Eu não sei. Mas foi muito bom, apesar de ter durado três segundos. 


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Notas finais do capítulo

*Essa história não acontece tão atualmente. Mais ou menos 1950.. por ai =)