"E ai eu posso te ajudar em física." -Ele disse.

  "Claro seria muito bom." 

 Olhei para o céu que ainda estava claro. Lembrei de Dave e como ele deveria estar furioso por eu não ter ido vê-lo.

  "Ah, Jack. Eu acho que posso ir para casa sozinha." -Parei na rua.

  "Mas estamos na metade do caminho." -Ele apontou para frente.

  "Eu sei, mas é que eu vou ver uma amiga, e talvez eu fique por lá um pouco. Coisa de escola."

 Ele me olhou desconfiado.

  "Eu ficarei bem." -Sorri.

  "Tudo bem, mas cuidado. A gente se vê amanha." -Ele disse me beijando na bochecha.

 Ele voltou a rua e eu segui em frente. Olhei para trás para ver se ele já tinha virado a esquina, e quando virou, comecei a correr. Passei pelas pessoas na calçada e desviei de dois bancos e um poste. Olhei para o céu que ainda estava claro. Eu tinha tempo de sobra, pelo menos duas horas.

 Virei a esquina e avistei a casa. Acelerei e quase acabei caindo de cara. Entrei entre os arbustos, um galho bateu na minha testa e doeu tanto que eu me segurei para não gritar. Peguei impulso e pulei a cerca. Corri até a porta e abri com tudo.

  "Desculpa a demora." -Disse quase sem folego.

 Ele estava sentado na escada e quando me viu se levantou.

  "Esta tudo bem?"

  "Não." -Falei ofegante.

  "O que houve?" -Ele disse vindo até mim e fechando a porta.

  "Eu...Corri o mais... Rápido que... pude." -Disse respirando a cada palavra.

  "Calma." -Ele me olhou.

  "Estou bem." -Suspirei.

  "Quer água?"

 Neguei com a cabeça.

  "Desculpa." -Falei enquanto subíamos as escadas.

 Atravessamos o corredor e entramos no quarto.

  "Tudo bem, eu vi que você estava... Ocupada." -Ele disse puxando a corda.

  "O que quer dizer com isso?" -Olhei ele subindo e então subi depois.

  "Quero dizer." -Ele acende a vela da iluminaria- "Que eu entendo que você as vezes queira sair com alguém."

  "Isso significa que...?" -Me sentei na cama e olhei para ele.

  "Que você pode." -Ele deu de ombros.

  "Achei... Que você iria ficar bravo... Ou coisa do tipo." -Desviei o olhar.

  "Por que achou isso?" 

 Não respondi. Ele se sentou do meu lado e pegou o livro da estante.

  "Acabei." -Ele me entregou.

 Peguei o livro e coloquei no meu colo.

  "Acho que eu gosto dele." -Comentei olhando para a capa.

  "Do seu amigo? Não duvidaria, você parece feliz com ele." -Dave comentou tirando os suspensórios.

  "Você não deveria gostar dele. Por que se ficarmos juntos eu não poderei mais te visitar."

 Ele me olhou.

  "E você acha que poderá ficar fazendo isso sua vida inteira?"

  "Como assim?" 

  "Eu não vou ficar aqui para sempre Helena, como entendo que você também não."

  "E você iria para onde?"

  "Talvez pegar um trem para outro estado e ser mecânico ou pintor. Ganhar alguma coisa e ter minha casa." -Ele deu de ombros- "Algo parecido com isso."

  "Promete que não fará isso sem me contar, ou que esperará até eu não ligar mais para você? Ai eu ficaria tão... sozinha."

 Ele levantou uma sobrancelha.

  "Você logo voltará para a escola, e terá seu namoradinho. Nem ligará mais para mim."

  "Mas eu me importo." -Olhei para ele.

  "Será?" -Ele disse.

  "Por que acha isso? Acha que eu não pareço demostrar? Por que eu ligo."

  "Não vamos começar com esse assunto de novo." 

 Ele se levantou e foi para o fogão.

  "Mas acho que você não entendeu." -Fui até ele.

  "Helena, chega."

  "Você vai me ouvir agora. Se eu não ligasse não viria aqui, não me importaria em como você fica quando eu não estou."

  "Para." -Ele disse.

 Mas eu continuei.

  "Não ligaria para o que você come ou como toma banho. Como fica quando chove, por que eu percebi que aqui tem goteiras. Como passa o seu tempo. Como fica sozinho. Eu ligo sim para você! Ligo mais do que eu gostaria de ligar, eu acho que até gosto de você! E você não enxerga isso por que esta preocupado de mais com quem eu ando ou em como tornar meu dia uma droga por alguma coisa que você vai me dizer." -Gritei- "Por isso que você não liga."

 Me virei e olhei para a janela. Eu não deveria ter dito isso, eu me sentia uma estupida e infantil. Queria poder dizer que era tudo mentira e que eu só estava estressada, mas ai eu estaria mentido.

  "Acha mesmo isso?" -Ele perguntou largando a panela no fogão- "Se acha mesmo que eu não ligo, então deveria sair daqui."

 Limpei meus olhos, que estavam embaçados.

  "Eu ligo para você, por que gosto de você. Gosto mesmo de você, mas acho que não o suficiente para você perceber que eu me importo." -Ele passou por mim e foi até a cama. Pegou o livro na estante e colocou em cima do outro- "Você é egoísta de mais para perceber que eu preciso de você, mas também acho que sou estupido de mais para perceber que você não." 

 Ele se sentou no chão e encolheu os joelhos, apoiando os braços em cima. Fui até ele e ajoelhei na sua frente.

  "Eu preciso de você. Você é meu amigo... Meu grane amigo." -Suspirei- "Eu nunca me perdoaria se um dia... Você se fosse..."

  "Não chore." -Ele comentou.

  "É que eu não gosto de brigar com você." -Limpei o canto do meu olho- "E odeio fazer drama... Por algo simples." 

  "Para com isso."

  "Me desculpe." -Sussurrei, dando de ombros.

  "Eu não devia ter sido tão... " 

 Tampei a boca dele com a mão e com a outra limpei meus olhos.

  "Eu odeio quando você faz isso." -Ele disse, quando tirei a mão.

  "E eu amo que você odeio. Por isso vou continuar." -Sorri.

 Ele fez uma careta.