Consequências - Fred E Hermione escrita por penelope_bloom


Capítulo 21
A virada




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VINTE UM:

A virada.


Abri os olhos e senti o ar fresco entrar em meus pulmões. Olhei pela janela, o dia estava bonito, claro completamente o oposto do meu estado de espírito.

Fred estava ao meu lado, já estava acordado, e apenas olhava apático pela janela. Ao perceber minha movimentação ele deu um beijo no topo da minha testa. Eu ainda não conseguia sorrir, e pelo visto nem ele.

Nos levantamos, eu fiz nosso café, mas tocamos na comida.

Começamos a colocar as coisas no lugar, a arrumar a casa. Não sei Fred, mas eu tinha a esperança que arrumando aquela casa eu arrumaria minha alma.

Colocando os móveis no lugar, assim como se organizavam os pensamentos.

Limpando cada centímetro do assoalho, assim como se clareavam as ideias.

Colocando a sujeira para fora, assim como todas aquelas mágoas.

Por fim chegamos ao que seria o quarto de Naoki. Não chorei por falta de lágrimas.

Estava tudo revirado, caído, quebrado. Ali apenas uma memória dolorosa do meu filho que nunca nasceria. Apenas um lembrete incessante das consequências das minhas escolhas. Apenas um futuro alegre e feliz que eu havia matado.

– Não foi sua culpa. – Fred disse de repente como se lesse meus pensamentos.

– Fred eu preciso te contar uma coisa, e provavelmente você vá me odiar ainda mais. – eu sentei ao lado do berço.

– Mas eu não te...

– Apenas me escute. – eu disse suspirando.

E então eu contei. Tudo mesmo. Como eu tinha me apaixonado por ele, como eu já sabia estar grávida antes da batalha, como eu tinha recebido a profecia da professora Trelawney e mesmo sem querer havia condenado nosso filho. Como eu tinha usado o vira-tempo para salvá-lo e salvar Tonks, Lupin, entre outros e tinha assim matado várias e várias pessoas,inclusive nosso filho.

– Por que não me contou antes? – ele disse sem olhar pra mim.

– Por que eu me senti culpada, achei que fosse conseguir arrumar isso sozinha. Já bastava eu me culpando por todas aquelas mortes, ao queria que você achasse que elas eram sua culpa também.

– E não são? – ele virou seu olhar acusativo.

Fred não deixou que eu respondesse, apenas se levantou, não disse nada, nem esboçou reação alguma. Quando acabei de falar ele simplesmente anunciou que precisava tomar um banho. Eu sabia o quanto ele estava se controlando para não gritar comigo e me xingar de todos os nomes possíveis e imaginários? Será que ele estava considerando me matar? Será que ele estava considerando se matar?

Assim que o ruivo saiu eu voltei minha atenção para o quarto. Não conseguia arrumar aquilo. Não conseguia tocar em nada, era muito doloroso.

Apenas me encostei na parede e imaginei todos os momentos felizes que eu havia matado. E ali fiquei, por horas, dias, meses, e anos, passando na minha cabeça, como uma tortura, a vida perfeita que eu tinha jogado fora.

***

Eu estava sentado em baixo do chuveiro, com roupas mesmo. Tudo aquilo era demais pra mim. Eu sabia que um dia essa falta de confiança nas pessoas iria acabar em algo assim. Ela deveria ter me contado há muito tempo.

Como ela conseguia dormir com uma culpa dessas?

Por que ela não confiou em mim?


“Fácil falar agora, mas o que você faria? Se mataria e deixaria Hermione sozinha? Contaria aos outros que tentariam exorcizar seu filho? Fácil jogar toda a responsabilidade para cima dela.” Minha consciência veio me azucrinar.

“Eu poderia ter evitado o que aconteceu, se ela tivesse confiado em mim!”

“Você sequer confiou nela para contar que ficou com a vadia lá! Hipócrita Weasley!”.

“São coisas diferentes.” Rebati.

“Claro que são. O que te torna um covarde muito maior que ela! Ela carregou literalmente uma culpa do tamanho do mundo e não te contou por que não queria esse fardo pra você. E você não contou por quê? Para que ela não te deixasse? Você só pensou em você.”

Com um soco tão repentino que até eu me assustei, estilhacei o box de vidro em vários pedaços machucando minha mão, saí do Box e derrubei tudo que via para frente, destruí o banheiro até finalmente escorregar em algo e cair de costas no chão.

E assim fiquei, respirando ofegante, pensado na merda que eu tinha feito.

Não apenas no banheiro.

Eu sempre soube que ela estava mal, não dormia direito, por algum motivo. Simplesmente negligenciei. A culpa também era minha.

“Sem autopiedade por favor! A culpa não é sua!...” minha consciência ralhou irritada.

“Mas você disse que a culpa não era dela e...”

“Não me interrompa seu cabeça de cenoura. A culpa não é de vocês. É o mesmo que querer culpar o Harry pela morte dos pais. Essa situação toda só tem um culpado. Por mais que você e Hermione tenham lidado com tudo isso da forma errada, não foi nenhum de vocês que puxou o gatilho. Vocês só demoraram para desviar da bala.”

“Não tenho certeza se entendi.”

“Eu sou sua consciência, só falo coisas que você sabe Fred. Vamos, use seus dois neurônios e descubra a coisa mais óbvia do mundo: se alguém é culpado, não é Hermione, nem você e sim aquele que começou toda essa maldita guerra. Quem começou toda essa guerra? Quem encomendou sua morte? Quem colocou a alma no seu filho?”

“Voldemort.”

“E quem deve ser punido e execrado, implorar por misericórdia pelo que fez com a sua família?”

“Voldemort.”

“Então, gênio, levante daí e recupere-se. Você tem um bruxo para matar, e um filho para vingar.”

***

Eu estava sentada contra a parede quando os barulhos incessantes começaram. Fred estava destruindo o banheiro.

Com certeza ele me odiava mais que tudo. Eu tinha sido simplesmente horrível. Eu era um monstro.

Os barulhos cessaram e quando dei por mim estava encolhida no chão, tampando os ouvidos e apertando as pálpebras, desejando que eu morresse logo. Eu era um monstro e merecia aquilo tudo, eu era a causa daquilo tudo.

E no momento eu simplesmente não aguentaria um olhar de ódio dele. Era apenas isso o que estava faltando para que eu enlouquecesse de vez, e me perdesse na minha própria insanidade.

– Hermione? – a voz dele me assustou. A quanto tempo eu estava naquela posição? Séculos? Milênios? Eu não sabia mais onde estava, nem a quanto tempo estava ali.

– Por favor, não. – eu não abri os olhos. – apenas acabe logo com essa tortura.

– Tortura? – ele me recolheu do chão e colocou-me no colo, sentando-me no sofá. – Hey, abra os olhos. Olhe para mim.

– Não... – eu sentia que estava a um passo de perder o pouco de lucidez que me restava.

– Te assustei com os barulhos do banheiro? – ele tirou meu cabelo do rosto e sentou-se do meu lado, passando os braços pelos meus ombros. – Eu queria pedir desculpas, queria que você me perdoasse.

Eu não esperava por aquilo. Abri os olhos sem querer.

– Tudo bem, eu acabei com o quarto do Naoki também.

– Não. Eu digo por tudo. Falhei muito com você.

Eu não acreditei, depois de tudo que eu fiz, ELE estava pedindo desculpas?

– Pare com isso, por favor. Não seja falso, eu sei que você me odeia. Você têm que me odiar pelo que eu fiz. Não é possível que você não sinta nada de ruim.

– Eu sinto muitas coisas, a maioria ruim. Na verdade a única coisa boa que restou para mim foi você. Eu odeio, e muito, mas não você. Eu me culpo por não ter estado ao seu lado como deveria. Você aguentou tudo sozinha.

– Eu comecei tudo isso sozinha.

– Não começou não. Por que você não está sozinha, desde aquele baile no sétimo ano, você nunca mais esteve sozinha. Eu vou sempre estar aqui. E eu simplesmente negligenciei você. E queria que você me perdoasse por deixar você guardar tudo isso pra você. – ele estava sentado de pernas cruzadas de frente para mim enquanto eu abraçava meus joelhos. – você pode me perdoar, e voltar a confiar em mim?

– Eu confio em você. – aquilo soou como a mais importantes das verdades. – mas não tem o por que de eu te perdoar, você tem que me perdoar por não ter confiado o suficiente em você.

– Certo. Eu te perdoo, se você me perdoar.

E por um instante curioso, por ser tantas vezes dita, a palavra “perdoar” soou estranho aos meus ouvidos. E em alguns segundo minha mente viajou pela composição da palavra. Per-doar. Parecia que significava “doar para sempre”. Será que tinha alguma coisa a ver?

Acho que no fim sim. Eu perdoaria ele, esqueceria de tudo, me doaria completamente ao ato de desculpá-lo. Mas devo dizer, isso é fácil, afinal ele não fez nada de grave.

Mas ele nunca me perdoaria. Nunca mais seria o mesmo comigo, afinal, ele nunca esqueceria o que eu fiz, e sempre seria algo pesado e presente na nossa relação.

Suspirei.

Eu estava quebrada de um jeito irreversível. Não era novidade que sem o Fred eu não era nada. E isso é algo que sempre me assustou, mas agora não é algo que eu temo.

Simplesmente não faz mais sentido para mim respirar. Eu não faço mais nada aqui além de ser dele. Se ele quisesse me considerar um mero capricho, eu não faria nada, apenas aceitaria e existira para ele, para quando ele me quisesse existindo.

– Hermione. Não se deprima, certo? – ele disse novamente lendo meus pensamentos.

Ele abriu um sorriso para mim e me beijou.

– Agora quero que preste atenção. – ele disse segurando minhas mãos sentando-se na minha frente acariciando meu rosto, seus olhos verdes buscavam os meus com urgência. – estamos no fundo do poço por causa dele. Voldemort.

Me encolhi.

– Hermione, estamos vazio.

– Sim.

– Mas tem um lado bom.

– Qual? – eu disse piscando sentindo seu polegar passear pelo meu rosto.

– Não temos nada a perder. Já chegamos ao fim, à decadência.

Ele não precisou dizer muito mais, conforme ele ia dizendo, toda minha mágoa, e angustia ia se configurando, se transformando. Era verdade eu estava morta. Só tinha Fred e ele só tinha a mim.

Nada é tão perigoso quanto um animal ferido. Ou uma mãe quando tem sua prole ameaçada.

E Hermione era os dois. Sentia-se nada humana. Conforme Fred falava ela sentia uma animalidade bestial se alimentar da dor dela. Queria vingança, um acerto de contas e não tinha nada a perder.

– Vamos seguir em frente. –Fred disse. – vamos terminar isso.

– Juntos.

– Até o fim.



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