Aos poucos a luz do quarto atingiu meus olhos e eu fui obrigada a acordar, a noite passada parecia um sonho, não... Um terrível pesadelo. Levantei com dificuldade da cama e fui pra cozinha, Regina estava preparando ovo mexidos, meu preferido para o café da manha, e enquanto ela fazia isso peguei o jornal e comecei a folhear algumas paginas.

- Seus ovos. - ela me alcançou o prato.

Eu nem fingia estar feliz, eu simplesmente ignorava o mundo, e só queria que ele me ignorasse também.

Daqui dois seria o enterro e eu teria que encarar tudo isso de novo, sei que pode parecer egoísmo, mas eu só queria esquecer da existência do Bernardo pra sempre. 

Passei o dia lendo um livro qualquer na minha cama, um livro sobre uma garota que conhece um garoto e eles se apaixonam... Aquela baboseira de sempre, no fim da tarde meu celular começou a tocar que nem louco e por mais que eu tentasse ignora-lo a pessoa ligava de novo, finalmente me levantei pra atender.

- Alô? 

- BLAKE? - a pessoa do outro lado da linha gritou.

- Sim. - disse sem animo.

- Que droga Blake, porque não me ligou? Por que não me disse pelo que estava passando?! Eu vou aí te ver. - finalmente entendi que era o Jason.

- Não, obrigada. - disse simplesmente, quem ouvisse a minha voz ia pensar que eu estava cansada... Bem, e era mais ou menos isso, estava cansada do mundo.

-Voce deve estar morrendo ai Blake, eu preciso te ver.

- Sabe o que eu preciso? Paz. Paz do mundo, eu preciso ficar feliz e parar de perder as pessoas mais importantes da minha vida, eu quero poder sorrir sem ter que me lembrar do Bernardo ou do meu irmão... Eu quero ser feliz. É pedir muito? - dito isso eu desliguei o telefone e deixei as lágrimas escorrerem.

Dois dias se passaram voando desde a minha conversa com o Jason e eu estava ignorando completamente o mundo desde então, o Lucas tentou me ligar algumas vezes mas eu ignorei e hoje seria um dos piores dias da minha vida e eu não estava preparada pra isso. Coloquei meu vestido preto com rendas, um salto alto também preto, um chapéu preto e fiz uma maquiagem preta... Eu estava de assustar qualquer criancinha. 

Chegando no enterro encontrei a mãe do Bernardo - uma no qual eu não falava desde o telefonema - e o pai dele, entramos na igreja e a cerimonia começou, via as pessoas indo lá na frente pra falar algumas coisas, até que o meu nome foi chamado e eu com muita dificuldade fui até lá. Eu sou uma pessoa que sempre faz as coisas de ultima hora, ou seja, eu não tinha nenhum discurso pronto quando subi lá em cima, e era pior ainda com todas as pessoas me olhando, num primeiro momento eu pensei em somente chorar, mas senti que devia a ele algumas palavras, por isso mesmo sem saber o que falar... Falei.

- O Bernardo... Ou Hunter. - dei um riso triste me lembrando do dia em que o conheci - Era desde... Vamos dizer, sempre, o meu melhor amigo. Eu juro que não consigo me lembrar de um dia em que eu não tenha amado esse garoto e infelizmente eu continuo amando e vou amar pra sempre. Ele adorava surfar, foi assim que eu conheci ele, e eu sempre dizia a ele enquanto ele me ensinava... Ou tentava me ensinar a surfar,"algum dia voce vai morrer nessas ondas" e nós dois começavamos a rir. É Bê, voce não morreu no mar, mas espero que lá no céu tenha muitas ondas, e espero que também tenha pão de queijo, que eu sei que voce adora, que voce encontre a camiseta vermelha que voce usa sempre que vai fazer alguma coisa importante, espero que eles te deixem dormir sem camisa porque esse é o único jeito que voce dorme, espero que tenha poucas coisas amarelas, já que voce odeia essa cor, que o seu edredom do Dragon Ball Z vá contigo, espero que lá voces ouçam Guns N Roses que eu sei que voce adora, e eu espera um dia te encontrar lá. Descanse em paz, nessa sua ultima onda da vida. 

Voltei ao meu lugar e o rumo das apresentações se segui, no fim fui até Victoria, sentia que devia falar com ela. 

-Oi. - que péssima maneira de começar uma conversa.

- Oi, Blake. - ela tinha lágrimas nos olhos e até tentou forçar um sorriso pra mim.

- Eu sinto muito não ter falado com voce antes...

- Oh, querida, não tem problema. - ela me deu um abraço e eu permiti que algumas lágrimas caissem dos meus olhos - Foram lindas as suas palavras. 

- Obrigada. E forem todas verdadeiras. 

- Eu sei, querida. 

O silencio passou a ficar constrangedor, então, eu simplesmente sai de lá. Falei com o meu pai e implorei para que fossemos embora, não iria aguentar mais nenhum momento naquela cerimonia.

Cheguei em casa e me atirei na minha cama, coloquei a cabeça no travesseiro e chorei, chorei e chorei. Acabei pegando no sono e acordei algumas horas depois com a campainha tocando. Esperei que o meu pai ou outra pessoa abrisse a porta mas pelo jeito a casa estava vazia, me levantei e com um pouco de força fui até a porta. 

E dei de cara com um Lucas todo molhado com uma expressão de raiva no rosto e também triste.

- O que... - e antes que eu pudesse terminar a frase ele me abraçou me molhando toda. - O que aconteceu? - perguntei quando ele me soltou.

- C-como... Pode não me contar o que aconteceu? - ele entrou na minha casa e eu o segui - Eu nem consigo imaginar pelo que voce esta passando! E voce não pensou nem em me ligar pra dizer?! 

- Eu não sabia que fazia tanta importancia pra voce, quer dizer... Você nem gostava do Bernardo. 

- Caralho Blake, mas eu gosto de voce... Não, eu te amo... E voce esta passando por tudo isso e em nenhum momento pensou em me ligar?!

- Me desculpe...

- Não! Nao se desculpe... Eu só quero o seu bem, eu não aguento te ver assim. - ele colocou os braços envolta da minha cintura e eu chorei em seu peito. - Blake... O que vai acontecer agora?

- Não sei, sinceramente... Não sei. 

Seis meses depois...

- Eu não acredito que voce vai embora. - meu pai me abraçou e eu suspirei no ombro dele.

- Eu preciso... Pensar. De um tempo desse lugar. 

- Eu te amo tanto... Vai vir me visitar sempre né?! E me ligar a cada duas horas?! - revirei os olhos e dei um risada alegre.

- Pode apostar. - ele me ajudou a descer as escadas com as malas e fui até a Regina.

- Acho que vou sentir sua falta. - disse a ela.

- Eu também vou sentir a sua. - e ela então me abraçou. - Ah... Blake - ela sussurrou no meu ouvido - Manda um beijo pro Lucas. - ri junto com ela e me direcionei ao carro que meu pai dirigia, estávamos indo para o aeroporto. 

Cheguei lá e encontrei o meu parceiro para a viagem fazendo o check-in com os seus apis e sorri ao pensar que nós iriamos morar juntos, ia ser tão... Divertido. E é claro que ia ser a casa mais suja do planeta, pois nem eu e nem ele iamos nos prestar para colocar um prato na louça... Já estou até imaginando. 

- É melhor esse garoto ai, se comportar, ouviu Blake?! - meu pai zumbiu no meu ouvido. 

- Somos só amigos... Nem te preocupa pai. 

- Sei... - ele me olhou desconfiado e eu ia falar mais alguma coisa quando ouvi uma voz que eu reconheceria em qualquer lugar.

- BLAKEEEEEEEEE! - ela gritou.

- CAROLINEEEEEEEEE! - gritei de volta e nós corremos e nos juntamos em um grande abraço.

- Vou sentir sua falta, besta. 

- Também vou sentir a sua, chata. 

- É sério, tu não tem noção... Acho que eu vou morrer sem você. - ela então se derramou em lágrimas e eu limpei seus olhos, mas quando vi os meus também estavam molhados. 

- Obvio que não... Nos falamos todos os dias, ok? 

- Com certeza. - ela então se aproximou do meu ouvido e disse - Espero que não fique brava, mas eu... Transei com o Jason. 

- Espero que não fique brava, mas eu... Transei com o Lucas. - disse do mesmo jeito no ouvido dela. E ela riu.

- Eu sempre soube que voces iam ficar juntos.

- Juntos? Eu e o Lucas? Não! Enlouqueceu?

- Qual é... Voces vao dividir uma casa juntos!

- Um apartamento...

- Qual a diferença?!

- Que somos só amigos... Com beneficios. - ela riu e eu a acompanhei. - E então... Voce e o Jason?

- Vixi... Não... Somos só amigos. 

- Sei... - revirei os olhos.

- É sério, eu deveria estar bebada... Mas eu conheci um garoto... Espero que esse voce não roube de mim. - ri dela. 

- Qual o nome dele?

- Er... Lucas. - revirei os olhos e comecei a rir. - Se eu não pego o original fico com a falsificação. - dei mais um abraço nela e então vi alguém que não via a muito tempo. 

- Jason. - disse enquanto ia ao seu encontro.

- Blake. - ele me deu um abraço e eu coloquei os braços envolta de seu pescoço  - Senti sua falta.

- Também senti a sua.

- Eu não acredito que vai se mudar pra tão longe.

- Eu vou vir visitar.

- É bom mesmo, não viveria sem ver a minha melhor amiga gata. 

- Melhor amiga? - arqueei as sobrancelhas.

- É. Só isso, eu te respeito se voce escolheu o Lucas, eu não gosto, mas fazer o que - ele deu de ombros.

- Escolhi o Lucas? Qual é... Somos só amigos. 

- Então ainda tenho chance? - ele riu.

- Vai sonhando. - disse de brincadeira. 

- Ah... Rebecca, Elle e Belle te mandaram abraços. - claro... Nem pra vir no aeroporto pra se despedir.

- Diz que eu mandei um grande "foda-se" pra elas. - sorri cínica. 

Me assustei ao ver o meu pai falando alguma coisa com o Lucas... Só pode ser merda.

- Jason, a gente se vê, ok? Meu pai deve estar enchendo a cabeça do Lucas com merda. - dito isso sei um beijo em sua bochecha e fui ao encontro deles. Só pra ouvir o fim da conversa com uma frase de meu pai dizendo "estou de olho em você", dito isso meu pai saiu me deixando com o Lucas.

- O que ele queria?

- Acho que ele não gosta de mim.

- Como ele vai gostar do garoto que tirou de sua pequena garotinha a virgindade? - ele riu e ficamos um tempo conversando juntos. 

Meia hora depois...

Olhei pra trás, lá estava a minha familia, tudo bem... Meus amigos e meu pai. Mas a minha familia. Meu pai tentava esconder algumas lágrimas que caiam de seu rosto, ao contrario de Caroline que não fazia nada pra esconder e estava quase desmaiando de tanto chorar lá no aeroporto... Jason abanava pra mim e eu via em sweus olhos que eramos só amigos e sempre devíamos ter sido isso.. Só amigos. Como eu ia sentir falta deles. E a cada passo que eu dava mais longe eles ficavam, mais afastada do meu passado eu ia e ia avançando para o meu futuro, a cada passo milhões de oportunidades poderiam surgir e a cada passo mais triste e feliz eu ficava... Tudo ao mesmo tempo. O meu futuro e o meu passado, finalmente sendo separados. E quase sem notar uma lágrima escorreu dos meus olhos.

- Ei... Não chora. - o Lucas disse e limpou a lágrima. - Vai ficar tudo bem, voce vai ver como essa mudança vai ser boa... Alias, não podia ter parceiro melhor para a viagem.

- Eu te amo, seu chato. - abracei ele. 

- Também te amo, pequena. - ele deu um beijo na minha testa.

Era agora que o meu futuro começava e eu deixava para trás todas as dores... Josh, mamãe e Bernardo, as pessoas mais importantes da minha vida, mas que agora não se passam de uma mera lembrança.