"I hate everything about you, why do i love you?" 

- DESLIGA ISSO BLAKE! - Caroline gritou da cama de baixo e eu me limitei a virar para o outro lado da cama. Aos poucos minha mente foi ganhando consciência e eu entendo o que estava acontecendo... Bem, mais ou menos.

- O que esta acontecendo? - tentei abrir um pouco os olhos... Falhei.

- Seu celular, cabeça de ovo! - foi então que entendi o que estava acontecendo. Eu sei de quem é esse toque. Bernardo. 

- Alô? - falei tentando parecer menos cansada, dei uma olhada no relógio no criado-mudo... Tres e quarenta e dois da madrugada.

- Blake? - uma voz feminina falou do outro lado da linha.

- Sim... Quem fala?

- Sinto muito te acordar... Er... Aqui é a Vicky, mãe do Bernardo? - me despertei no mesmo segundo e sentei na cama assustada, eu não estava com um bom pressentimento.  

- O que aconteceu?

- O Bernardo... Bem, ele quer te ver. - ela suspirou.

- Mas... Ele disse...

- Querida, eu sei o que ele disse. Mas ele pode te explicar tudo, poderia vir para cá.... Agora?

- Já estou indo. - disse e desliguei. 

Coloquei a minha blusa cinza e rosa dos Ramones, uma calça de moletom preta e um all star cinza. Escovei meu cabelo o mais rápido que consegui e avisei para Caroline onde ia, caso o meu pai acordasse e perguntasse por mim. 

Peguei um taxi e foi rápido para chegar no hospital já que não tinha ninguém na rua essa hora, logo que cheguei no hospital já fui gritando o nome de Bernardo e sua mãe para ninguém especifico, era obvio que estava desesperada. A recepcionista que parecia estar muito cansada, me chamou e disse pra mim me acalmar e dizer o meu nome. Ela logo entendeu quem eu era (a mãe de Bernardo devia ter falado de minha visita) e me encaminhou para uma sala diferente da que eu ia todas as outras vezes. Lá dentro avistei Victoria que veio correndo em minha direção e me abraçou, algumas lágrimas saiam de seus olhos e eu tentei segurar o folego e me preparar pelo que viria. Não fiquei nem dez minutos naquela sala quando uma enfermeira apareceu dizendo que eu poderia ir ver Bernardo e que ele me chamava. Segurei as lágrimas, respirei fundo e a segui, indo parar em uma sala quase identica a outra, só que com as portas de vidro, dava para ver todos os outros pacientes que se seguiam naquele corredor imenso, só de imaginar que alguns não iriam nunca mais sair daquele hospital - vivo - me dava um nó na garganta. 

Quando entrei no quarto esperei ver o mesmo Bernardo que vi da ultima vez, mas foi... Pior. Ele estava tão magro, tão frágil, parecia que a qualquer momento ia quebrar ao meio. Eu queria correr até ele e abraça-lo, mas tinha medo que em tal movimento ele se partisse ao meio de tão magro e fino que ele se encontrava. 

- Blake. - sua voz rouca ecoou pelo quarto e a enfermeira saiu nos deixando sozinhos.

- Oi. - tentei forçar um sorriso, mas não consegui. Pelo menos ainda não chorava. 

- Estava com saudades. - ele sorriu. Ele ainda conseguia sorrir. E continuava igual ao que sempre foi.

- Estava? - arqueei as sobrancelhas. 

- Me desculpe. Por tudo. Sei que não mereço seu perdão. - ele parou por um momento para respirar, dava para ver que cada palavra que ele dizia o machucava... Literalmente - Eu só fiz aquilo pois não queria que em visse nesse estado. Não queria que sofresse. Eu... Fui estupido. Fui imbecil no momento em que disse aquelas coisas pra voce, mas... Acreditou tão facilmente. Não pediu nem uma explicação. Não contestou o que eu disse. Eu estava louco, Blake. No momento em que a magoei de tal maneira que a fez chorar, eu prometo nunca mais fazer isso... E engraçado, essa promessa eu vou poder cumprir, ela vai morrer comigo. - e então uma lágrima escorreu pelos seus olhos - Eu... Até tentei não te chamar, talvez se voce me odiasse fosse mais fácil viver com a minha morte, mas... Eu não iria conseguir morrer com voce me odiando. Pode ser egoismo, mas amor é uma coisa egoista. - ele estendeu a mão e me aproximei lentamente para segura-la - Eu sinto muito... Por tudo, por... Morrer.

- Morrer?! Voce esta aqui na minha frente, vivo e respirando, e não vai a lugar nenhum. - ele deu uma risada triste.

- Eu vou pro céu. 

- NÃO! NÃO VAI! Voce... Não pode... - lágrimas escorriam pelo meu rosto agora e eu tentava segura-las. 

- Sinto muito... Já quebrei a promessa... 

- Cala a boca Bernardo, voce... Voce... Fica aqui comigo.

- Eu estou com voce.

- Pra sempre. - novamente ele deu um sorriso triste.

- Eu te amo, Blake. Sinto muito.

- Pare de se desculpar! Para! Voce não vai a lugar nenhum. Vai para a sua casa, bem e saudavel... - abaixei o rosto e ele com esforço os levantou novamente me obrigando a olha-lo nos olhos.

- Voce me perdoou? - ele perguntou.

- Pelo que?
- Por... Tudo.

- Mas é claro. 

- Então, pode ter certeza que eu vou morrer feliz. E se voce quiser ficar com o Jason, que caso não saiba eu não estou com bravo com voce, nunca estive, eu só precisava de uma desculpa pra terminar com voce e polpa-la da dor que esta sentindo agora. Fique com o Jason. Beije quantos garotos quiser. Só não fique presa a uma promessa que fizemos aos seis anos. Eu fui seu primeiro beijo e o seu primeiro namorado, esta na hora de esquecer e seguir em frente. 

- Eu te amo, Bê. Meu Bê.

- Eu também te amo Blake. Minha Blake. - ele deu um meio sorriso e a enfermeira veio me chamar dizendo que estava na hora do Bernardo descansar... Talvez pra sempre. 

Voltei para casa e dormi. Queria dormir para sempre. Mas duas horas depois que eu peguei no sono meu despertador tocou, como eu queria ficar na  cama pra sempre. 

Levantei com dificuldade, coloquei a pior roupa que eu podia ter no armario e fui para o colégio. Eu era como um fantasma lá, não falava com ninguém e ninguém falava comigo. Rebecca, Elle e Belle até tentaram puxar um assunto e eu nem respondia, colocava meus fones, meu capuz e seguia em frente. Na aula eu olhava para o nada e pensava no nada também... Se é que isso é possivel. Será que era assim que a minha mãe se sentia? Será... Que eu estou igual a ela? 

Nem fome eu sentia mais, tudo o que eu sentia era um vazio dentro de mim, como se... Como se junto com o Bernardo eu tivesse morrido junto. E ele ainda estava vivo, imagina quando o... Pior acontecesse? 

Quando a aula terminou fui para casa, não falei com ninguém e ninguém falou comigo. E os dias se passaram assim, eu ignorando o mundo e o mundo me ignorando. Recebi ligações do Lucas e do Jason e tentativas da Caroline de falar comigo e eu nunca respondia, eu nunca falava com ninguém, fazia dias que eu não ouvia a minha própria voz. Tudo era vazio, era como se o mundo tivesse perdido o sentido pra mim. E os dias se passaram, as semanas também, e os meses. Então finalmente as esperadas férias chegaram. Ótimo... Tudo o que eu queria.

Sentiram o sarcasmo?

- Voce tem que parar com isso. - Lucas disse quando eu fui recebe-lo na porta da frente. Não disse nada e me preparava para fechar a porta. - Espera. - ele disse segurando a porta - Nós vamos ir ver o Bernardo hoje. Estou cansado de voce agindo desse jeito. Já faz um mes, Blake.

- Me deixa em paz. - e finalmente escutei a minha voz que não ouvia a semanas.

- Não, voce vem comigo por bem ou por mal. - virei de costas andando pra longe dele, deixando claro que a minha resposta era "não" quando alguém segurou minha cintura e me colocou em suas costas, me segurando pelas pernas de cabeça pra baixo.

- Me solta, Lucas! - disse enquanto batia nas costas dele com as minhas mãos. 

- Não! Voce tem que ver como ele ta, Blake. 

E sem escolha alguma, fui arrastada para uma droga de hospital, onde o garoto com qual eu estive apaixonada estava morrendo aos poucos.