- Ah! COMO FOI?! - Caroline correu em minha direção.

- Normal. - falei com indiferença, ainda tentando me recuperar do quase beijo.

- Ele é tão lindo, Blake! Você tem bom gosto!

- É porque normalmente eu escolho só um, não a cidade inteira. - ela ficou quieta por um momento e senti que havia a magoado, mesmo assim me recusei a pedir desculpas para aquela idiota.

- Bem... Vocês se beijaram? - ela falou, muito menos animada do que antes.

- Não. 

- Que pena. - ela realmente parecia triste e eu estava tentando descobrir porque ela tentava ser minha amiga.

- Estou com muito sono. - falei, bocejando e indo para o meu quarto e me esqueci completamente que o Lucas estava lá por isso quando entrei no quarto tomei o maior susto ao ver ele sentado mexendo no meu computador.

- É impressão minha ou vestido esta um pouco mais sujo do que antes? - ele falou rindo, já que o vestido branco estava completamente preto agora, graças ao meu malabarismo com o skate.

- Cala boca. - falei, jogando o meu casaco na direção dele e infelizmente caiu no chão antes de atingi-lo. - Eu to morrendo de sono, vou dormir, se virem pra arrumar as coisas de voces. - falei e deitei na cama, de vestido e tudo, e acho que em menos de cinco minutos já estava dormindo.

"Promete?" "Sim, Bê" Ele segurou a minha mão e ouvimos alguém me chamando, era hora do jantar. "Blake, eles vão se mudar" ouvi meu pai falando. "E a promessa?" eu pensei. "Por que ele não tinha me contado?", eu era só uma criança e talvez perder a uma das únicas pessoas que já amei possa ser traumatizador as vezes. "Você sabe andar de skate?" eu perguntei pro Hunter. "Não" ele respondeu. E alguma coisa nele me lembrava alguém, ele era tão reconfortante, e eu nem sei porque, só me sinto bem de estar perto dele. E então o Hunter me beijou.

- Que droga! - falei, acordando assustada e irritada.

- O que houve? - Caroline perguntou.

- Ah, foi só um sonho. - ela sentou do meu lado na cama.

- O que esta fazendo?

- Voce teve um pesadelo, minha mãe sempre sentava do meu lado quando eu tinha pesadelos e ela mexia no meu cabelo. - em um momento eu pensei que ela iria chorar, mas ela só ficou sorrindo, um sorriso triste.

- Ta bem, não precisa agir como se fossemos amigas. 

- Eu queria que fossemos. - ela disse triste.

- Por quê?

- Eu nunca tive uma amiga, pelo menos, não de verdade.

- Isso é problema seu.

- Voce tambem nunca teve amigas.

- Não me importo com isso.

- Claro que se importa.

- Sai daqui Caroline. 

- Blake, voce teve um pesadelo, o que era? - ela deitou na cama.

- Nada.

- Pode confiar em mim.

- Não confiaria em voce, nem se fosse a ultima pessoa no planeta.

- Talvez um dia mude de idéia.

- É, talvez... - revirei os olhos - agora sai da minha cama. - empurrei ela.

- Agora não. - ela falou fechando os olhos.

- Caroline...

- Vai dormir, Blake. - ela falou com a voz baixinha, e como estava morrendo de sono, fechei os olhos e peguei no sono.

- Psiu! Acorda! 

- Oi? - falei, ainda de olhos fechados e sonolenta.

- Blake...

- Que? - abri os olhos e vi o Lucas.

- Vai se atrasar. - ele disse, me puxando e fazendo eu me levantar.

- Que droga. 

- Hum... A Caroline dormiu com voce ontem? - olhei pro lado e vi que ela ainda estava dormindo.

- Pelo jeito sim. - disse me espreguiçando - ela não vai ir pra escola? 

- Blake... - ele ficou em silencio.

- Que?

- A Caroline não vai pra escola.

- Ah? 

- Ela ia, quando tinha dinheiro.

- E como assim ela não tem mais?

- Desde que ela parou de transar com os caras. 

- Mas...

- Ela não fazia aquilo porque tinha escolha, ela tinha que arrumar dinheiro de algum lugar pra estudar.

- Mas... 

- Se arrependeu?

- E voce! Seu idiota!

- O que eu fiz isso?!

- Voce transou com ela, se aproveitou disso! Como voce pode se aproveitar dela?! Devia ter dado o dinheiro pra ela, e não transado com ela!

- Mas...

- Sai daqui! - empurrei ele.

- Blake...

- Lucas, eu to falando sério, sai daqui. - gritei.

- Deixa eu explicar primeiro.

- Explicar o que? Que sabia que ela precisava de dinheiro e dai se aproveitou disso pra transar com ela? Ah, sai da minha frente. 

- Ta, olha, se acalma e depois a gente conversa, ta bem?

- O que esta acontecendo? - a Caroline falou se levantando.

- Sai daqui.

- Ta. - ele disse e saiu.

- Mas... O que esta acontecendo?

- Nada. - eu disse.

- Isso não é nada! Voces brigaram? O que houve?

- Desculpa. - peguei minha mochila e corri pra fora de casa, ainda estava com o vestido de ontem, então, não tinha muito problema eu sair de casa daquele jeito.

Eu pensei que o Lucas fosse diferente, que ele não faria uma coisa dessas com alguem! Que ele não iria se aproveitar assim de uma pessoa que precisa de ajuda! E eu? Ainda tratei ela como lixo, como eu sou uma idiota, eu tratei ela como sempre me trataram, julguei sem ao menos conhece-la, como eu fui estupida.

Sentei no chão, estava perto da escola e temi que alguém me encontrasse ali, mas, agora eu não estava pensando em quase nada.

- O que houve? - Rebecca perguntou.

- Ah, estou cansada.

- Conta outra. - ela riu. - Você esta com uma cara de chapada.

- Não é isso...

- Toma. - ela me alcançou um cigarro.

- Eu não fumo.

- Deixa dessa, vai logo.

- Eu. Não. Fumo. - falei pausadamente.

- Bem, voce nao fuma, não bebe, não transa, qual a diversão de uma vida tão chata?

- A vida é minha, e eu não me lembro de ter pedido a sua opinião.

- Nossa, amiga... 

- Amiga? Tudo o que voce fez foi me transformar em uma garota igual a voce!

- E isso é ruim? - ela riu.

- É! É pessimo! Eu não sou essa vadiazinha, eu não uso saias, eu não transo com qualquer um, eu não fico bebada até não conseguir nem ficar em pé, eu não fumo, eu odeio maquiagem, eu ando de skate, falo palavrão e pra mim é muito melhor ser isso e sofrer preconceito, do que ser igual a voce. - ela se levantou e saiu, e eu finalmente tive um pouco de paz.

Depois, entrei na escola, e vi que todos estavam olhando pra mim, pensei que fosse outro boato, mas entao notei que era só a minha roupa, estava com um vestido de festa todo sujo e usando um vans com ele. Entrei na sala e vi a cadeira do lado do Hunter vazia, me senti mal mas decidi sentar sozinha. A aula parecia ter passado mais devagar do que o normal, mas, finalmente cheguei em casa. 

- Pode me explicar o que esta acontecendo! - Caroline gritou - Te procurei em todo lugar quando voce saiu correndo!

- Nada. 

- Não parece nada! Blake, confia em mim!

- Eu te tratei muito mal, me desculpe. - eu sou pessima em desculpas, e eu acho que ela entendeu isso, porque antes de eu terminar minha fala ela me abraçou.

- Tudo bem. - ela disse.

- A gente vai dar um jeito nisso, voce vai estudar. 

- Não!

- Mas...

- O jeito que eu ganho dinheiro pode ser nojento, mas eu ganho pelo meu esforço, eu não vivo pelas custas de ninguem, e eu não conseguiria viver assim.

- Caroline, meu pai tem dinheiro o suficiente pra jogar pela janela, não vai ser nenhum problema pagar os seus estudos.

- Desculpa Blake, mas não, eu não posso aceitar isso, eu nunca vivi dependendo de alguém, e agora não vai ser a primeira vez.

- Pelo menos arruma um jeito de conseguir emprego melhor.

- Como? Acha que é fácil arranjar emprego? Eles não saiem contratando prostitutas por aí. 

- Mas...

- Todo mundo sabe o que eu faço pra arranjar dinheiro, e ninguém liga pra o que eu tenho pra falar, é só eu falar em trabalhar que as pessoas já dizem não. Isso que eu faço, é só o que eu sei fazer.

- Eu quero te ajudar de alguma maneira.

- Já esta ajudando. Tudo o que eu precisava agora era de uma amiga e voce se certificou muito bem disso. - ela sorriu.

- Bem, ta.

- Me diz uma coisa, como é ser virgem? - ela riu.

- Como sabe que eu sou virgem?

- Estou deduzindo. 

- Acertou.

- Eu queria ser.

- Não é tão divertido. 

- Posso te fazer uma pergunta?

- Isso já não é uma pergunta?

- Então, posso te fazer duas perguntas?

- Claro.

- O que aconteceu entre voce e o Lucas hoje de manha?

- Ah, a gente brigou.

- Voces nunca brigaram! Pelo menos não desse jeito, o que esta acontecendo?!

- Ele agiu como um idiota.

- Eu ouvi.

- Ouviu o que?

- A briga. 

- Então porque esta perguntando?

- Quero que confie em mim. - ela suspirou - Blake, não fica brava com o Lucas, pelo menos não por esse motivo, fui eu que comecei tudo, eu gosto dele.

- Gosta?

- É. 

- Quer dizer, gostar do Lucas não é bem uma coisa boa.

- Não posso fazer nada. - ela deu de ombros. - Não vai ligar pra ele?

- Pra que?

- Bem... Ele vai dormir aonde hoje?

- Ele tem amigos. Ou pode dormir na casa de uma prostituta qualquer. - minha raiva por ele ainda não tinha passado completamente.

- Liga logo pra ele, Blake.

- Tudo bem, tudo bem...