Em um dia em que não teríamos aula porque a escola estava sendo dedetizada (Eu tinha certeza que alguém colocou os ratos de propósito na sala dos professores), Peeta resolveu arrastar meu irmão e eu para um passeio na Avenida Malcom, que ficava no centro da Cidade. Os jovens da cidade gostavam dessa rua porque, além de ser um dos poucos lugares com atrações para adolescentes além do shopping, ela era conhecida por suas lojas de roupas alternativas, quadrinhos e outras coisas.

Eu gostava muito do lugar. Gostava de ficar vendo os quadrinhos e de uma pequena loja de CDs que ficava no fim da rua. Eu sempre encontrava CDs raros, nunca saia decepcionada. O melhor de tudo é que ela ficava perto da biblioteca de Seu Gaspar, alguém que eu já tinha aprendido a gostar nesse pouco tempo.

Finnick e Peeta estavam conversando sobre quadrinhos. Peeta estava tentando convencer Finnick de que X-men era muito melhor que Homem Aranha. Eu juro, gostaria de ter dado uma educação cultural melhor para meu irmãozinho. Se no inicio essa proximidade dos dois me assustava agora eu estava feliz em ver como os dois se davam bem.

De algum modo, Peeta estava se tornando alguém importante na minha vida. Embora eu não saiba o que fazer com essa novidade, eu estava grata por ele estar ao meu lado, principalmente com o que tem acontecido no ultimo mês. Embora eu ainda sinta aquele antigo vazio, ás vezes quando estou com Peeta aquela sensação que tive quando ele me beijou pela primeira vez volta e me pego pensando “Eu quero viver, eu quero viver”.

Quando entramos na Loja de CDs fiquei aliviada de perceber que não tinha muita gente. Aproveitei e decidi mostrar meus conhecimentos musicais para Peeta e Finnick. Eles riam a cada banda que eu mostrava. Decidi não ligar. Eles é que não tinham conhecimento musical nenhum.

Depois fomos para a loja de quadrinhos. Finnick conhecia todas as histórias de super-herói possíveis, eu me divertia com o modo com que ele contava e ia mostrando cada Gibi como se fosse uma preciosidade.

Resolvemos deixar Finnick se divertindo com os Gibis do Lanterna Verde e fomos ver o resto da loja. Peeta pega minha mão e aproveita que meu irmão está longe para fazer uma pergunta que sempre me faço.

–Você tem certeza de que conseguiria deixá-lo?

–Não sei Peeta- respondo sincera- A verdade é que ás vezes eu nem pensava nisso. Mas se quer saber não estou pensando nessa possibilidade, não neste instante. Além disso, em um mês muita coisa pode acontecer não?

Ele ri, sei que ele está aliviado por ter dito isso, e é verdade. Peeta aproveita e me puxa para um beijo. Devo dizer que estou me acostumando rapidamente com eles.

–Fico feliz em ouvir isso. Para comemorar eu trouxe um presente para você.

Quando abro o envelope, delicadamente embalado, encontro um lindo anjinho de porcelana, bem diferente daqueles mórbidos de cerâmica. Não que ele não seja triste e frágil como os outros, mas este pode se dizer que é de um material mais consistente e muito mais alegre.

–Peeta é lindo- digo surpreendida. Sei o quanto esses anjinhos significam para ele. De repente me dou conta do quanto esse garoto tem feito por mim- Sabe ás vezes eu não sei como te recompensar por tudo isso.

–Ficando aqui. Esse seria um ótimo começo. Um beijo também não seria pedir demais.

Dou um tapinha de leve em seu ombro. Mas acabo cedendo, porque no fundo ele não está pedindo demais.

Saímos da loja meia hora depois com uma sacola de cheia de gibis que meu irmão me fez comprar. Já vi que vou ficar um tempo sem precisar contar histórias para o garoto.

Estávamos indo em direção à biblioteca municipal visitar seu Gaspar e é claro que eu estava um pouco temerosa do que ele podia dizer a Finnick (Afinal ele era bem capaz de dizer ao garoto que Peeta e eu cometíamos orgias inimagináveis na parte superior da biblioteca).

Meu celular toca e quando atendo posso ver que Rachel está muito assustada. Quando desligo Peeta percebe que estou pálida.

–O que foi Katniss?

–Percy descobriu o que aconteceu com Annabeth.

–Isso não é nada bom, nada bom mesmo – Posso ver que ele está temendo a mesma coisa que eu. Que Percy saia que nem louco querendo de alguma forma machucar Luke.

Decidimos não passar mais na biblioteca e assim que deixamos Finnick em casa, vamos direto conversar com Percy.

Quando chegamos na casa dele a primeira coisa que percebo são alguns copos quebrados. Percy está com o punho sangrando. Rachel está tentando controlá-lo sem muito sucesso. Assim que ele nos vê a fúria descomunal que está sentindo aumenta.

–Vou matá-lo, eu juro que vou matá-lo- É a única coisa que ele diz, posso ver que ele está tão furioso que está destruindo tudo a sua frente. Leva um tempo mas finalmente ele se acalma e deixa Peeta cuidar de seus ferimentos.

A coisa se deu assim. Percy estava saindo do treino de natação, quando ouviu Luke conversando com os amigos sobre Annabeth no vestiário do clube que eles frequentavam. É claro que ele e os amigos estavam falando de mulher. Luke resolveu se gabar de como conseguiu tirar a virgindade da garota mais santa do colégio.

A conversa que Percy ouviu foi nojenta. Mas como Luke é arrogante demais, e arrogância geralmente nos faz estúpidos, ele soltou detalhes que fizeram Percy entender o que havia acontecido na hora.

O jeito como ele dopou Annabeth “Ela estava tão drogada que não parava de gritar”, o jeito como ele chantageou ela. “Ainda consegui que a loirinha fizesse todos os trabalhos para mim, sabe como é, ela não queria ficar com fama de Vadia”

A sorte foi que Rachel estava saindo do treino de futebol e viu Percy furioso do lado de fora do banheiro. Foi um daqueles momentos divinos, já que ela se deu conta do que estava acontecendo rapidamente e segurou Percy que estava pronto para entrar no banheiro e arrebentar a cara de Luke. Nunca vou entender como ela conseguiu trazê-lo para casa no estado em que ele estava.

–Vou matar ele- Diz Percy pela centésima vez desde que chegamos.

– Não vai não. Vamos fazer ele pegar de um jeito ou de outro, você não vai precisar sujar suas mãos. Você vai ver- Digo tentando me convencer também.

–Como?- A fúria de Percy está dando lugar a curiosidade. O que é um alívio.

Eu e Peeta nos entreolhamos. Temos conversado muito sobre isso nas ultimas semanas. Estudado a melhor maneira de fazer com que Luke pague sem expor Annabeth. Chegamos a conclusão de que nossa maior arma é a principal fraqueza de Luke, a arrogância.

–Vamos fazer com que ele confesse- digo simplesmente.

Eles ainda estão me olhando, esperando incrédulos que eu diga algo inteligente, que eu tenha um plano mirabolante para por Luke atrás das grades. Peeta me lança olhar encorajador.

–Ok, o negócio é o seguinte. Temos que fazer com que ele repita a mesma história que contou para os amigos, mas quando estivermos gravando. Sei que pode ser uma ideia estúpida, mas vamos fazer com que ele acredite que alguém está adorando a história que ele está contando, que ele acredite que está sendo admirado pelo que fez. Assim que tivermos a gravação em mãos, vamos levar para a polícia. Acho que esta é a melhor forma de preservarmos Annabeth e fazermos com que ela tenha justiça.

Eles sabem que é um plano idiota, talvez até ingênuo. Mas ninguém consegue pensar em mais nada.

– O único problema é que eu já briguei com Luke demais. Talvez se eu conseguisse fazer ele acreditar que eu estava apenas com ciúmes de Annabeth- Digo pensativa. Posso ver o olhar de pânico de Peeta, o que eu simplesmente ignoro.

–Não, Katniss, não se preocupe, eu vou. Posso fingir que sempre a achei uma biscate de primeira- Rachel diz.

Nos três olhamos para ela surpresos.

–Rachel, você tem certeza?

–Tenho, é a escolha mais lógica e não vai ser tão arriscado assim. O único risco que eu vou correr vai ser ter que beijar aquele saco de estrume ambulante, espero que não precise chegar a tanto.

–Rachel, não vai ser tão fácil assim. Se ele descobrir que está sendo gravado...-Diz Peeta cauteloso.

–Não tenho medo de Luke. Além do mais tem que ser eu. Você já brigou com ele Katniss. Ou vocês querem contar para uma daquelas garotas fofoqueiras da escola o que ele fez?

– Ok Rachel, mas temos que ter certeza que você está segura, não vamos errar por arrogância como Luke- Não posso deixar que Rachel se prejudique de forma nenhuma.

–Agora estou me lembrando, Katniss, Luke falou de você também.

– O que?- Isso me pega totalmente de surpresa.

–Ele falou algo sobre fazer com que você ficasse quieta, ele disse que não precisava se preocupar com você, já que também conhecia certos segredos seus.

Gale. Pergunto-me como alguém pode ser tão sujo. Mas se Luke acha que vai ficar impune me ameaçando ele está cometendo um erro muito grande. Isso só fez aumentar minha determinação.

–Não se preocupem, isso não quer dizer nada. Ele provavelmente está falando do soco que dei nele outro dia no Parque.

–Você deu um soco nele? – Percy e Rachel perguntam ao mesmo tempo.

Ambos estão admirados. Que ótimo, virei heroína porque bati em alguém. Os valores estão realmente deturpados nesta cidade (Mas não posso me esquecer de que estamos falando de Luke)

–Bem, sim, tivemos uma discussão outro dia no Parque, mas isso não vem ao caso- Peeta está me olhando desconfiado. É claro que ele não caiu nessa história- Então acho que teremos que fazer desse jeito. Rachel você está pronta para agir como a mais nova admiradora de Luke?

O brilho nos olhos de Rachel me mostra que ela tem toda certeza do que está fazendo.

–Pode apostar benzinho.