Alec tivera um sonho...

Nesse sonho ele parecia trancado num quarto escuro — sozinho, triste.

Abandonado.

Era ridículo — pensara — As peças que o nosso inconsciente nos podia pregar.

Alec nunca teve o mínimo medo do escuro. Era um caçador de sombras. Lidava com as trevas e seus similares, basicamente, o tempo todo.
Mas neste específico sonho, ele tinha medo. Talvez não fosse da engolfada de escuridão que o envolvia, tentando tomá-lo para si num abismo sem fim — talvez a coisa que mais tivesse medo fosse, na verdade, a solidão...

Instintivo, ainda sonolento, procurou a fonte de calor e luz mais próxima — sua fonte humana.

Bem, algo do gênero.

— Hmm.... Alec? — chamara um sonolento Magnus — Você está bem?

Alec anuiu, não confiando na própria voz para respondê-lo, aproximando-se um pouco mais do corpo esguio do namorado, procurando...

...Por que não diria? Proteção.

Porque até mesmo o mais bravo dos cavaleiros precisava de alguém em quem confiar. Alguém para quem, depois da árdua batalha, voltar.

Magnus bocejou, dando pequenos tapinhas na cabeça do Alec, como se este fosse uma criancinha pequena e assustada logo depois de ter um pesadelo. Era uma forma de consolo. Um consolo mudo que oferecia-lhe sempre que o requisitava.

"Eu estou aqui... Eu estou aqui e sempre estarei".

Sentia como se a respiração reverberante do amado lhe dissesse isso, quando envolveu-o com o braço forte e o trouxe para mais perto.

Tão perto que Alec pôde recostar a cabeça no peito do bruxo, acompanhando as batidas lentas e regulares de seu coração.
Magnus sorrira, a cabeça encaixada entre os cabelos negros e revoltos do nephilim — normalmente o outro não era assim tão dócil, ele sabia. Mas estavam em circunstâncias especiais.

Jace estava perdido em algum lugar onde nem a Clave nem sua família poderiam localizar, sob o domínio de Sebastian. Como seu parabatai, Alec não sentia... nada. Como se sua existência houvesse sido anulada sob o domínio do outro. Como se Jace houvesse desistido de sua vontade — antes tão grande — de viver.

Magnus suspirou, preocupado — conhecera parabatais tão unidos que praticamente tornavam-se um só. Temia por seu querido, pela consequência de tais planos nefastos e obscuros provindos do irmão de Clary. O que aconteceria a Jonathan e, por conseguinte, a Alec.

Sabia que deveria ter usado o moleque como cabideiro quando teve a chance.

O Alto bruxo do Brooklyn, que nunca sentia medo, estremecera.

Alec, ainda acordado, pensando que o namorado estava com frio agarrou-se ainda mais a ele — trazendo o longo cobertor consigo.

O sorriso voltara aos lábios finos do mais velho, e ele aspirou o cheiro de sândalo que exalava por todo o cabelo do nephilim.

Um cheiro que agora era tão seu quanto dele.

No breu completo, abraçados daquela forma eles se tornavam um só.

Tais como parabatais.

Mas de um modo ainda mais profundo — uma ligação que nem a morte separaria — a morte de Alec, Magnus pensou, porque ele, em contrapartida, viveria para sempre.

— Durma com os anjos, meu precioso Alexander. Eu estou bem aqui — Ele sussurrou nos cabelos do outro, que assentiu, já sentindo o sono apossar-se de seu corpo.

A despeito de tudo que estava acontecendo, Alec finalmente se sentia seguro.

Porque quando Magnus o abraçava daquela forma — apertado e sincero — sentia coragem. Uma coragem tão absurda e confiante que nem mil demônios o podiam derrotar.