A Vida de Uma Garota Nada Popular escrita por Lu Carvalho


Capítulo 8
Psicótica do Queijo




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As celas se fecharam na minha frente.

Sabe o quão frustrante isso é?

Eu e Matheus fomos trancados na única cela que tinha na delegacia, esperando por um julgamento.

Embor

a, já estivesse bastante claro o que acontecera.

Jessie estava de mal humor.

Sentei-me do lado de Matheus, preocupada. O que minha mãe iria dizer quando soubesse que fui presa? Ficarei, no mínimo, com uma penalidade por ter quebrado todas as penalidades possíveis!

Matheus já não parecia tão preocupado quanto eu. Ele estava bem mais calmo e lindo. Q-quer dizer, mais calmo e pacífico.

Ele segurava uma gaita vermelha e toda riscada na mão, estudando-a de ponta a ponta. Sua sobrancelha estava levantada, provavelmente se perguntando “Como toca esse troço?”.

-Como se toca esse troço? – finalmente perguntou.

-Bem... não sei. Só vejo isso nos filmes.

-É, eu também. Achei que seria legal fazer coisas de preso.

-Ah, é. Muito legal. Deixe- me ver essa gaita – pedi, pegando-a de sua mão.

Observei o instrumento por um tempo, tentando imaginar como é que os prisioneiros conseguiam tocar essa coisa já que, você sabe, tinham mais coisas para se preocupar.

Cheguei à conclusão de que era apenas assoprar com força.

E foi isso o que fiz.

Assoprei forte a gaita.

Péssima ideia.

O som que saiu foi de matar vovós. Sem brincadeira.

Devo apostar que minha vó teria uma sincope se ouvisse isso.

-Acho que não é assim. Por que não tenta fazer um sopro menor, com um leve movimento para a direita? – sugeriu Matheus.

-Como?

-Desse jeito... – Matheus passou seu braço direito por meus ombros e colocou suas mãos por cima das minhas, fazendo uma leve pressão.

Olhei para ele confusa.

-Vamos lá! Agora, sopre devagar do lado esquerdo ao direito.

Assenti com a cabeça e fiz o que ele pediu.

Embora não conseguisse me concentrar direito. Afinal, estávamos tendo um contato físico enorme.

Assoprei devagar do lado esquerdo ao direito.

Mas isso também mataria minha vó.

-Ahn... Continue tentando – sugeriu Matheus.

-Certo... – olhei para suas mãos ainda sobre as minhas. Depois voltei à seus olhos.

Ficamos de narizes e testas coladas.

Tenso.

No mesmo instante me afastei.

-F-foi mal... – desculpou-se Matheus.

-Não foi nada. É só que eu... é... só que... – sou uma bebê que não tem experiência na vida e tem medo de interagir com outras pessoas, era isso o que queria dizer. Mas o que saiu foi... – ...nada.

Outra vez; parabéns Mariana.

Um silêncio mortal invadiu a sala.

Ficamos um tempo sem dizer nenhuma palavra um para o outro. Estava muito preocupada para ficar tagarelando, e, também, o que eu iria dizer?

“Nossa, ta calor, não é?”

Essa frase idiota começa um longo dialogo no elevador. Mas só tinha um detalhe; estávamos na delegacia.

-Ei, – chamou Matheus, quebrando o silencio desconfortável. – temos direito a uma ligação, não é?

-Ahn... acho que sim. Por quê?

-Vou ligar para o meu pai.

-Quem? O presidente? – zombei.

-Sim.

–Boa sorte com isso.

-Você vai ver... – levantou-se, então chamou o policial. – O... você! Posso ligar para meu pai?

O policial assentiu, desconfiado, mas assentiu. Deixou Matheus sair de trás das grades e mostrou a ele o telefone.

-Alô, pai? – falou. – Preciso que você venha aqui. Sim, sim. É. Em Nova York. Por quê? Preciso de você! Aonde? Ahn... Departamento Policial de Nova York. Ei, não grite comigo! Foi um mal entendido. Não me importa se você está pegando um vôo para o Afeganistão indo fechar um acordo de paz mundial, venha para Nova York já. E... não conte para mamãe. Beleza? Tchau.

Matheus voltou para cela, como se tudo estivesse correndo perfeitamente bem.

-Já, já sairemos daqui – prometeu Matheus. – Vai ver como o tempo passa.

-É lógico.

Ele me olhou como se estivesse falando com uma criançinha irritante de sete anos, o que pode ser facilmente confundida comigo.

-Por que você acha que isso é mentira? – perguntou.

-Porque, oras, é uma mentira!

Ele revirou os olhos.

-Ta, ok. Se você é o filho do presidente ou coisa parecida, por que está em Nova York?

-Washington não é muito legal.

-Washington é a capital da nossa nação.

-Não quer dizer que é legal. Não consigo sair da minha própria casa sem que flashes me atinjam.

-Oh, me desculpe, celebridade.

-Você não tem noção de como isso é irritante. Em Nova York eu consegui um pouco mais de liberdade, sabe?

-Não. Na verdade, não.

Ficamos um tempo em silêncio, outra vez. Minha implicância devia estar enchendo ele, mas acontece que isso é impossível. Quer dizer, impossível não, mas... bem, você me entendeu!

O policial Jessie veio até nossa cela e ficou um tempo parado nos olhando intimidadoramente.

Deu-me mais tempo para perceber uma verruga enorme que tinha perto do nariz.

Acho que a chamaria de Bob.

-Seus dias de crime se acabaram – disse a verrug... quer dizer, Jessie olhando para mim. – Agora, nunca mais conseguirá assaltar caminhões de queijo suíço.

-O quê? –eu e Matheus dissemos juntos.

-Não se faça de despercebida, Jenny Lewis. Sabemos de seus crimes.

-Ei, ei. Espere um segundo... Jenny Lewis?

- Você não queria mostrar seu documento por isso! Não queria que soubéssemos sua identidade – concluiu o policial. – Mas, é lógico, que reconheci sua face. Senão eu não seria o melhor policial de Nova York.

-Nossa... você errou feio – comentei. – Meu nome é Mariana Sward, e eu nem gosto de queijo suíço!

-Não nasci ontem, mocinha. Sei que é você.

-Não fui eu quem pegou o queijo suíço! – contestei.

-Essa é a frase preferida dos assaltantes de queijo.

-E-eu... – não sabia o que dizer. Aquilo era tão ridiculamente confuso que não tinha nada para dizer.

-Então... você trafica queijo suiço? – perguntou Matheus.

-Não! Nem sei quem é essa tal de Jenny Lewis!

No mesmo instante em que disse isso, dois policias chegaram, ofegantes, carregando uma garota toda descabelada pelos braços.

-Meu... Deus...!

Aquela garota era meu clone , só que mais descabelada e com cheiro de queijo. Ela esperneava e gritava por liberdade, ameaçando pegar arma. Os dois policias pediram desesperados por ajuda, então o nosso policial foi até eles.

-Quem é essa? – perguntou nosso policial, Jessie.

-Conseguimos achar Jenny Lewis,pegamos ela no flagra!

-J-jenny? – gaguejou Jessie.

-Isso mesmo! Agora, ajude-nos!

Nosso policial sacou suas algemas e prendeu Jenny, que ainda esperneava e gritava.

-Não podem me prender! – contestava.

-Você esvaziou cinco caminhões enormes do queijo suíço mais caro do planeta! É lógico que podemos!

-Nããããããããããããããããão! – berrou.

Nisso, a pessoa menos provável do mundo chegou na delegacia com dois seguranças atrás.

Era ele.

Era o Presidente dos Estados Unidos.

Repito: O PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA.

-Oh. Minha. Nossa! – gaguejei.

-Pai! – gritou Matheus.

-Ahhhhhhhhhh! –Jenny berrou de novo. Mas, dessa vez, ela nos pegou de surpresa.

Em um movimento ninja Jenny conseguiu tirar seus pulsos da algema...

...e sacou uma arma.

Jenny começou a atirar para todo o lado. E quando digo para todo o lado, foi para todo o lado mesmo.

Foi tudo tão rápido. Primeiro uma clone minha psicopata por queijo suíço aparece, depois é o presidente e a arma.

-Tire-nos daqui! – implorei para Jessie, o policial.

Não precisava ter pedido se não estivesse trancado.

Eu e Matheus estávamos desesperados. Mais Matheus, pois seu pai estava lá. Sem muita opção, Matheus foi tentar abrir a porta com um chute.

E por mais incrível que pareça, conseguiu.

-C-com...?

-Venha! – gritou, puxando-me rapidamente da cela.

Jenny continuava cegamente atirar para todo lado. Os policiais se esconderam debaixo do balcão da NYPD e pediram por reforços, enquanto o presidente, mudo, procurava por algum lugar para se esconder, junto com os seguranças.

E foi nesse momento em que os seguranças deviam ter pensado “Dane-se o presidente! Eu vou é salvar minha pele!” e saíram correndo da delegacia.

Coisa inteligente a se fazer quando se tem tempo para pensar e nenhuma arma atirando.

Jenny achou o presidente correndo junto, porém foi rápida demais. Apontou sua arma a ele. Nisso Matheus me abraçou para proteger meu crânio, e Jenny ameaçou:

-Se não me deixar sair daqui estouro teus miolos!

Acho que esse não é um jeito muito bom para pedir liberdade.

Os policiais tentavam a acalmar, (apontando outra arma a ela, mas isso não vem ao caso) porém nada.

Ela devia estar bem chapada.

-Pensa que estou brincando? Tenho uma arma!

O presidente estava de mãos para o alto, ditando frases como “Acalme-se, podemos conversar?”. Mas ela não queria papo, só seu queijo.

-Vai! Diz para me deixarem ir!

O presidente ficou quieto.

-Diz! – mandou.

O presidente continuara quieto.

- DIIIIIIIIIIIZ! – berrou.

-Acalme-se...

-AHHHHHHHH! – gritou, tapando os ouvidos. Ela apontou a arma e, dessa vez, atirou mirando no peito do presidente.

Foi tudo tão rápido que nem vou conseguir dar muitos detalhes, apenas isso.

Garota maluca querendo liberdade + Arma + Presidente dos EUA + Pedido de liberdade negado = Tentativa de tiro no presidente, que só não foi possível por uma adolescente maluca se atirando na frente dele, consequentemente, levando ela um tiro no ombro.

Detalhe: a adolescente maluca era eu.

Então... Sem pensar muito pulei para frente do presidente... e, é, levei um tiro...



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