A Vida de Uma Garota Nada Popular escrita por Lu Carvalho


Capítulo 31
O Passar dos Anos




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Sei lá. Sei cá. Sei nada. E sei mesmo.

Tu já parastes para imaginar o teu futuro-eu? Aquele bem-sucedido. Aquele feliz. Aquele realizado. E enquanto aquele outro? Aquele futuro-eu desprezível. Aquele que não deu certo. Aquele infeliz. Este nós raramente idealizamos, não? E por quê? É porquê temos medo? É porquê somos muito positivos para isso? Ou é tudo mentira? Ou na verdade cada um de nós pensamos sim no futuro-eu que não deu certo, e apenas o ignoramos?

Qual é o seu futuro-eu?

Sei lá. Sei lá.

Eu estava deitada na cama, olhando pro teto. Thiago e eu estávamos pensando sériamente em pintar. Afinal, é um teto horrendo. Bege, sabe? Mas nosso apartamento é alugado, e não queríamos investir em algo que não é nosso de verdade. O que nos leva a outro dilema: queremos comprar nossa própria casa, afinal, ele graduará em poucos meses e não há nada mais que nos prenda aqui, exceto nossos colegas de quarto; Audrey e Steeven. Eles também são um casal, e fica bem mais divertido dividir o apartamento com eles. Eles nem sempre foram um casal - creio que após um ano e pouco que assumiram-se e iniciaram algo. Entretanto, sendo casal ou não, eles foram nossa salvação. Não dá para negar.

No começo, quando o apartamento era só nosso (Thiago e meu), era péssimo. Se você for conversar com Thiago, tenha certeza que ele não partilhará do mesmo ponto de vista que eu; ele dirá que era "suave". Mas só era "suave" para ele porque ele tinha os estudos e um ambiente de compromisso. Enquanto eu era perdida e descompromissada, tentando ainda descobrir o que faria para assentar minha confusão mental. Eu arranjei esse emprego de garçonete, mas o movimento era raso. Nessa época ociosa minha, eu vivia sobre a linha da loucura. Então todo e qualquer piu que Thiago emitia era motivo de exaltação para mim. A verdade verdadeira é que eu tinha inveja por ver meu companheiro tão feliz e realizado, ao passo que eu não estava nem perto de chegar à realização. Eu o culpei internamente por muito tempo por me trazer aqui, e esfregar na minha cara sua vida perfeita. Eu era cega de tanta decepção própria. Em sua calmaria, ele sempre soube lidar comigo. Mas, qual é, nós bem sabemos que os estudos, uma hora ou outra, nos levam ao nervoso. Não foi sempre que ele aguentou meus argumentos infundados e assentiu. Ele é um ser humano! Por mais que não pareça. E soltava os cachorros uma vez ou outra. Não obstante, nós temos um defeito. É quase impossível dormir quando brigados. Normalmente, ou eu ou ele, aparecíamos no quarto um do outro, com aquela face de cachorro pidão, e pedíamos desculpas. E foi entre tapas e beijos que decidimos alugar os outros quartos do apartamento.

[Assista Me&You para ter uma melhor experiencia ao ler o capítulo -> http://vimeo.com/120893601]

Audrey fora uma das primeiras candidatas. Audrey é essa esselência em pessoa de 24 anos, tem esse cabelo afro e lábios carnudos invejáveis e um cérebro paranormal. Ela reconheceu-me logo de cara como "a menina que salvou o presidente". Audrey é dona de uma das histórias de vida mais emocionantes que já ouvi; perdeu os pais logo cedo e foi adotada com sete anos por pais maravilhosos. Nesse tempo teve de lutar muito para entrar em uma boa escola e lutar contra o preconceito. Ela só usa roupas coloridas, para "atrair boa energia" como ela diz. Sua vida no orfanto havia sido dura, porque enquanto observava crianças e bebês brancos indo e vindo, ela permanecia por lá. Era a mais velha de todas, e a mãezona. Diz ela que isso a tornou uma garota forte e pronta a qualquer momento. Ela é estudante de Harvard também, e procurava por um lugar barato e perto. Lembro que simpatizei no primeiro olhar, e na outra tarde já desabafava toda minha existência. Porém, entretanto e todavia, ela também era uma estudante de Harvard e tinha um compromisso com os estudos. Ela não pôde oferecer sua análise psiquiátrica reconfortante e conselhos em período integral. Eu ainda estava sozinha e sem perspectiva. Daí eu implorei para alugarmos o outro quarto, desta vez para um não estudante de Harvard.

Apareceu o Steeven. Steeven, com dois es mesmo para preservar suas origens orientais (como diz ele), é o rapaz mais sem noção que conheci. Ele também reconheceu-me logo de cara como "a menina que salvou o presidente". Ele é japonês direto, mas se rebelou ao sistema de Tóquio e veio tentar a vida nos Estados Unidos. Mas não antes de mudar seu estilo e nome. Deixou a barba e o cabelo crescerem (trançando dreads por toda a cabeleira depois) e usa as estampas mais improváveis. Ele não revela seu nome próprio, porque diz que não é mais essa pessoa e prefere esquecê-la. Steeven foi meu grande aliado. Com sua mudança eu ganhei um companheiro para fazer minhas besteiras ocasionais. Havia dias em que eu furava com o trabalho e não levantava da cama, e mergulhava em seriados aleatórios. Steeven trazia a pipoca e sentava junto.

Eu fazia muitos bicos, porque pelo jeito quando você não aparece todos os dias no lugar eles não te querem e não te pagam. Um dia era garçonete, outro dia; secretária de Hotel. Ao passo que eu tentava liderar algo com os desenhos que faço. Mas nada alavancava. Eu tinha trabalhos esporádicos de freelancer, que pagavam um belo almoço pelo mês inteiro, mas não eram constantes. Esse ritmo levou-me a uma mini depressão. E graças ao apoio que tive dos três, fui encorajada a assumir de vez pro mundo minha vocação; arte. Larguei tudo o que fazia e me trazia sustento para dedicar-me em 100% ao meu novo estilo de vida. Eu e Steeven abrimos um "estúdio" há meia hora de casa, perto de Thiago e Audrey para podermos almoçar juntos. Nesse estúdio nós produzíamos massificadamente para depois anunciar e ver no que dava. Lógico que passamos por muitos apertos - houve tempos em que devemos três meses de aluguel - mas o prazer e paixão que nos movia na hora da arte compensava o tranco. Isso tudo deu-se no nosso primeiro e segundo ano morando sozinhos.

Thiago tinha ciúmes. Ciúmes, assim, de louco. O que eu não esperava, para ser sincera, porque lembro de um cara uma vez, de quem eu era bem amiga, e Thiago não demonstrou uma gota de ciúmes. Mas agora ele tinha. Do Steeven. Ele reclamava que passávamos horas e horas juntos e ele se sentia muito por fora do meu trabalho. Eu dizia a mesma coisa em relação a Audrey e sua vida em Harvard, embora Audrey frequentasse outro curso e fosse muito santa para trair-me. Mas esta foi nossa maior briga.
Dela, nós terminamos.

Foi a pior época de todas as épocas. Se você crê que a época da escravidão foi ruim, bem, você está certo mas essa época foi pior. Digo, não. Não foi pior, pior. Mas foi ruim.

Eu fazia de tudo para não cruzar com ele no café da manhã e no jantar. No almoço, quando os quatro se reuniam, eu tive de inventar "horas extras". Mesmo se não havia nenhum trabalho para produzir, eu produzia. Minhas obras eram sombrias, tão mais sem vida do que na minha depressão. E foi depois do primeiro mês que assustei. Pensei "Pronto! Agora é de vez, nós acabamos.". Demorou para processar. Porque eu nunca pensei que fossemos acabar. Parecia que era de ferro ou coisa assim. Mas nenhum de nós aparecia de pidão no quarto do outro. Teve vezes que fui, mas ele não estava lá.

Dessa, começamos a namorar outras pessoas. Eu tive dois namoradinhos nesses seis meses. Um deles era o Tyler, um cliente meu. Saímos durante um mês e pouco. Tyler sempre dara em cima de mim, e foi após constatar Thiago com sua "primeira pós-Mari" (assim que eu a chamo até hoje) dei uma chance a ele. Tyler era legal. Pena que era muito chato. Digo, adorava ele. Mas também o odiava. Ele é super bem-humorado. Mas extremamente narcisista. Por isso durou pouco. Só durou o que durou porque a "pós-Mari" não caía fora. Nossos almoços eram um ringue de competição de quem estava mais feliz do que o outro. Eu exibia Tyler enquanto Thiago exibia a "pós-Mari", enquanto Tyler fazia suas piadas egocêntricas e a "pós-Mari" usava seu decote exagerado, enquanto eu ria das piadas de Tyler e Thiago olhava pro decote exagerado, enquanto eu e Thiago nos atacávamos indiretamente e Audrey e Steeven ficavam de saco cheio. Steeven dizia que o que estávamos fazendo era super infantil e sem sentido. Audrey achava que eu deveria terminar com Tyler de uma vez, e voltar ao foco de antes.

O que, num dado instante, foi o que aconteceu. Eu detestava o Tyler, não tem como camuflar. E quando acabou foi um alívio danado - embora ele tenha terminado as coisas, alegando que ele "merecia mais". Ah, Tyler. Ah, Tyler. Pena que perdi um cliente, mas ganhei tempo livre. Novamente, mergulhei com tudo no trabalho.

Dentro deste período recebi uma ligação de George. George, lembra dele? Duma viagem à Miami? Enfim, ele ligara dizendo que estava em Nova York, e como sabia que eu morava lá, queria me visitar. Fiquei feliz pela ligação, e por sua boa memória. E foi um pouco chato ter de notificá-lo que havia um tempinho que eu não morava em Nova York. Ele perguntou onde eu me meti, e eu respondi. Depois perguntou como eu estava, e eu respondi. Daí perguntei também, e ele respondeu. Então colocamos o papo em dia.

Eu perguntei sobre o estágio com o E-Loren, e ele respondeu que acabou há tempos mas que agora trabalhavam juntos, de verdade. Ele perguntou se eu não me interessava em visitar o estúdio deles, e eu respondi que lógico que sim. No próximo mês embarquei a Miami.

/////////////////////////

Nem preciso dizer a nostálgica sensação que me envadia. Portanto, não direi. Mas direi que foi incrível conhecer o estúdio deles, e reencontrar o E-Loren. Ai, ai. E-Loren. Como fiquei por lá um mês, frequentei o lugar por um mês. Lá aprendi inúmeras coisas novas e construtivas. Pedi a autorização deles para um amigo meu (Steeven) poder trabalhar conosco também. Eles deixaram, e foi legal. Steeven ficou louco. No dia seguinte veio para cá. Parte de mim esperava que Thiago viesse junto, já que eu estava com muitas saudades e queria reverter nossa situação. Antes de ir pra Miami nós já haviamos voltado a conversar, sabe? E durante a viagem nós também conversávamos. Dessas de amanhecer o dia dizendo "saudades!" e ao anoitecer dizer "ainda mais saudades!". Por isso, humanamente, presumi que ele viria.

Coisa de louca, afinal era época de exames importantes. Enfim, ele não veio.

Nos primeiros dias fiquei bem chocada. Eu tinha criado uma expectativa tão grande de uma possível reatação, que tal evento surtiu como uma reafirmação do nosso término. Pela segunda vez. Os "negócios" estavam deslanchando mais que nunca; meu traço desenvolveu drasticamente, vendi muito mais, conheci muitas pessoas influentes e inspiradoras, aprendi bem mais de arte e estava bem feliz. Então, como não tinha mais "nada que me prendesse" em Boston, decidi ficar mais alguns meses em Miami. E George e eu começamos a namorar.
Depois que Steeven veio e - Thiago não- fiquei um tempo sem responder suas mensagens. Não porquê eu adiquiri mágoa ou coisa do gênero, mas porque eu não tinha mais "tempo". O estúdio era revigorante. Sabe um lugar onde se respira criatividade? As cadeiras são lábios vermelhos carnudos, as luzes são sorvetões, as paredes são grafitadas por nós mesmos. Conseguiu ver? Um lugar incrível. E eram tantas horas passadas lá que quando eu chegava em casa (na casa de George, na verdade) não queria ficar na internet. Eu preferia conversar com George. Sei lá, mas ele é tão legal. Digo, legal mesmo. Super bem humorado, inteligente, bonitinho. Não tinha muito como não se interessar. Começamos algo.
Mas não deu.
Sei lá, parecia errado. Ele me lembrava muito um amigo meu, por quem eu era bem apaixonada uma época, mas não sabia. Enfim, estar com ele pareceu errado, porque era como se eu estivesse com esse outro, e eu gostava do outro pra valer. Ainda mais, eu havia voltado novamente a conversar com Thiago. E eu sentia muitas saudades dele. Assim, muitas saudades. Tanto que pedi para E-Loren umas férias (de uma semana) para voltar à Boston.
Aquela semana coincidia com o "Spring Break" de Thiago, portanto podíamos passar 168 horas juntos sem nenhum compromisso.
Ele buscou-me no aeroporto acompanhado de um buquê de lavandas. No mesmo instante reatamos.
//////
Foi um pouco chato ter de voltar à Miami, pegar minhas coisas, convencer Steeven de vir junto e deixar para trás o melhor momento da minha carreira. Eu não conseguiria descrever tudo o que aconteceu ao longo daquele ano de tão incrível. Estreitei os laços com E-Loren e um bando de outros artistas incríveis. Quais também reconheceram-me logo de cara como "a menina que salvou o presidente e que trabalha com o E-Loren". Todos convidaram-me a trabalhar com eles. E, sabe, que honra. O que mais insistiu foi o próprio E-Loren. Ele estava louco para trabalhar comigo e inscrever-me numa faculdade de Artes Visuais. Ele implorava para eu considerar a possibilidade, porque "isso me faria ser uma artista ainda melhor".
Ai, esse E-Loren.
Admito que falta um pouco mais de coragem minha para fazer uma faculdade, mas quem sabe num futuro próximo.
Enfim, foi terrível ter de deixar minha vida em Miami.
Mas foi necessário. Digo, eu não podia continuar vivendo de graça na casa de George, que por sinal é ex-namorado. E toda minha conquistada mobília estava em Boston. Eu tinha de voltar.
Isso deu-se no meu terceiro e quarto ano morando sozinha.
////////
Eu voltava para Nova York de vez em quando, nos momentos mais cruciais de homesick e saudade. Minha família visitava-me a cada três ou cinco meses, enquanto minha mãe ligava de cinco em cinco minutos. Ela acompanhou na pele todas as minhas mudanças e altos e baixos da vida. Falando na minha mãe, ela arranjou um namorado. Bem legal, inclusive. Ele é advogado também, então acho que se completam. Pelo menos, ela está feliz.
E meu pai mudou para Nova York, para ficar mais perto de parte da família. Ele está bem feliz. Conseguiu se ajeitar na vida. E visita-me bem frequentemente. O que eu gosto. De verdade. É bom ter meu pai de volta. Afinal qualquer ser humano, até mesmo os adultos, são passíveis de erro e merecem segunda chance.
Enfim, Bruna achava um máximo ter os dois pais morando na mesma cidade, porque tinha dois quartos só para ela. Mas também achava um saco, porque tinha dois quartos só para ela. Aliás, Bruna manda uma mensagem fofa todo dia, notificando-me das mais novas. A coisa mais estranha de mudar de casa, sem dúvida alguma, foi não dividir mais o quarto com a Bruna. Eu sinto muita falta dela. Assim, muita falta mesmo. Mas o bom é que sempre que meus pais vêm (ou seja, quando meu pai vem só, e minha mãe após) ela aproveita para visitar. As vezes eles combinam de vir juntos.
Uma das visitas, onde os três conciliaram as passagens, foi nesse último Thanksgiving. Nesse feriado, em particular, quisemos juntar todas as famílias. Então, as mães de Thiago, o avô de Audrey e o melhor amigo de Steeven juntaram-se no nosso cafofo para agradecer o nosso presente, passado e futuro e desfrutar da comida de graça.
Foi uma novela para arrumar o jantar da gratidão.
Nosso apartamento é relativamente grande. Mas como é dividido entre quatro inviduos, sendo dois deles extremamente desorganizados (e um deles ser vergonhosamente eu), o espaço fraciona de tamanho. Tivemos de alugar um dia inteiro na nossa agenda para arrumar tudo aquilo.
E aaaarrrrggghhhhh. Eu sei que sou uma bagunceira de plantão, mas não é preciso que o Thiago diga isso a cada dois segundos e setenta e cinco milésimos! A cada poeira fora de lugar, Thiago fazia questão de parar o que estava fazendo, observá-la em desaprovação e dizer "Ê Mari, você é mesmo muito bagunceira". Ele pode até dizer isso, mas se eu for comparada ao Steeven eu sou o anjo da limpeza. Audrey foi a grande organizadora: Era ordem pra lá e pra cá; "Steeven, já lavou as roupas sujas?" "Mari, não se esquece de acender o incenso!" "Thiago, pode assar o frango para mim?" (Já que fomos atrasados demais à mercearia comprar o bendito do peru, quando chegamos não havia mais nem um grão na geladeira.) "Mari, afofa as almofadas do sofá?" "Steeven, sai do sofá?" a tarde inteira. Eu amo a Audrey, mas odeio limpeza.
Enfim, quando a bagunça se desalastrou da parte visível às visitas, conseguimos os quatro fazer um acordo: Não causar. Nesse pronunciamento, Thiago fez, novamente, questão de olhar para minha pessoa com a sobrancelha arqueada.
Quebrei o juramento logo em seguida:
–Mas antes de tudo temos que trancar o Thiago no quarto para ele NÃO IRRITAR NINGUÉM.
–Eu nem sei mais onde fica o quarto de TANTA BAGUNÇA PELO CAMINHO.
Quando eu abri a boca para soltar o melhor argumento da discussão, a campanhia soou.
Audrey olhou feroz à nós:
Sem causar.
E foi atender a porta.
O primeiro a chegar foi o amigo de Steeven; Corbin.
–Aeeeeee! -disparou Steeven, estendendo a mão em direção ao amigo.
–Aeeeeeeeee! -repetiu Corbin, estapeando a palma do meu amigo e partindo prum cumprimento longo e complicado de mãos. -Partiu comer uns camarões?
Thiago, Audrey e eu ficamos por um instante atônitos, até a campanhia tocar novamente. Audrey atendeu. Eram as mães de Thiago:
–Thiago! -Rachel estendeu os braços e o sufocou numa espécie de abraço, enquanto Khlóe largou as bolsas e casacos no chão para juntar-se.
–Own- soltei.
Olhei para Audrey, esperando uma onomatopéia de afeição, porém encontrei uma expressâo de aflição.
–Quê foi?
–Meu avô. -falou. -Ele disse que seria o primeiro a chegar. Onde ele está?
Antes que eu pudesse responder, a campanhia tocou novamente. Audrey correu para atender; minha família.
–MARIANA! - gritaram.
–FAMÍLIA! -gritei e fui abraça-los.
–Quesaudadeseuestavadevocêfilhinjaqueridaminha -minha mãe.
–Equesaudadeeuestavadevocêmãequeridaminha.
Sem pausa, todos pararam para cumprimentar-se. Corbin, Rachel, Khlóe, papai, mamãe, Bruna, Steeven, Thiago, Audrey e eu. Quando a esperança havia deixado Audrey, a campanhia tocou. Ela recusou-se a atender. Então fui eu.
–Já serviram a comida? -disse esse homem de meia-idade, robusto e alto.
–Vovô! -caiu Audrey sobre seus braços.
Começou então o jantar.
///////////
Entre conversas paralelas e risadas mútuas, estavamos todos se divertindo. Digo, estava indo tudo muito bem. Eu fiz essa pequena comparação na minha cabeça entre um Natal de cinco anos atrás com o Thanksgiving de agora. E uau.
Quanta coisa mudara.
Coisas que você nem sonha.
E coisas que eu nem sonho.
Dado momento, começaram a falar sobre as faculdades. Perguntaram até se eu pretendia fazer uma.
Foi a primeira vez que eu demorei para responder a questão:
–Se eu pretendo fazer? Hmmmmmmmm... Se você me perguntasse isso cinco anos atrás eu diria que não logo de cara. Mas, cara, hoje... Sim. Pretendo.
Os olhos de todos arregalaram-se à minha pessoa.
–Você nunca me disse isso. -"reclamou" Thiago. -Desde quando você quer fazer faculdade?
–Ah... Depois de Miami, sei lá...
–Nossa -interveu Steeven. -Vocês tinham de ver como o E-Lori e o George-(Steeven teima em dizer seu nome errado) -implorava pra Mari fazer essa tal Rollins College, de artes visuais. Eles chegaram até a visitar o campus!
–Isso é incrível! -assentiu meu pai. -Rollins é o melhor colégio da Florida!
–Mas pera -Thiago, com a testa franzida:- essa Rollins não é em Orlando?
–Sim -assenti, envergonhada, pois talveeez talvez eu tenha omitido esse fato de Thiago.
–Você foi para a Disney com o E-Loren e o George?
Os dias insanos de parque reviraram minha memória.
–Hmmm... talvez.
–E comigo! -interveu Steeven. -E foi TRIINSANO!
–Você nunca foi para a Disney comigo. -murmurou Thiago.
–Talvez porque você nunca tenha ido para a Flórida comigo. -retruquei.
Audrey lançou seu olhar lazer da fúria para nós:
Sem causar.
–Você deveria fazer, Mari. -disse meu pai. -Te fará crescer muito. A época da faculdade é uma das melhores da vida. Thiago bem sabe. -soltou.
–Ah... -olhei para Thiago. -Mas você já está no fim. E se eu começasse agora nos veríamos muito pouco. E... sei lá. Isso é algo para discutirmos depois.
Thiago assentiu.
–Como vocês se sentem? -o avô de Audrey indagou. -Concluindo o curso... prestes a decidir emprego...?
Uma expressão de eu-nunca-pensei-nisso-e-meus-Deus-agora-que-você-falou-eu-percebi-o-quão-atrasado-e-despreparado-para-a-vida-estou! passou pela face de ambos.
–Bom...Eu não sei. Mas nessa época do ano eles oferecem diversos workshops pelo país para te dar um auxílio, sabe? -Thiago.
–Sim! -concordou Audrey. -Há alguns interessantes aqui em Boston e cidades perto, mas o mais fascinante, de longe, é o da Casa Branca.
Arregalei os olhos.
Um único nome aparece na mimja cabeça.
–Ah, sim! O de econômia mundial. Eu estava querendo participar desse també...
–Quê? -instantâneamente mandei. A sala inteira olhou para mim. -Washington? - olhei para Thiago: -Thiago?
–É... -assentiu sem graça, ao resto da sala que estava de olhos colados agora nele. - tem esse workshop em Washington, que... eu me interessei um pouco.
–E você vai? - perguntei, tremendo.
–Ah... -olhou para Audrey, depois para mim. - Eu não se...
–Porque devia. - eu completei.
Os olhos de nossos espectadores rondavam entre mim e Thiago, a cada pronunciamento.
–Sério? - Thiago e Bruna proferiram em uníssonio.
–É. - soltei os ombros, na tentativa de transparecer descompromisso. -Por que não?
Bruna deixou o queixo cair: -Por quê?
Chutei a perna dela.
Ela sabia. Eu contei para ela tudo. Tudo, tudo, tudinho. Toda a história. Até mesmo a história de depois que ele foi para Washington.
–Ah... -Thiago. -É que você acabou de voltar de Miami, e nós acabamos de vol...
–Eu vou com você. -logo o interferi. Todos se assustaram com minha rapidez, tanto que eu tive de forçar outro balançar de ombro de descompromisso. -Sabe, se você realmente quiser ir.
Os olhos voltaram ao Thiago:
–Hm... ok. -assentiu. -É semana que vem. Eu tenho milhas guardadas. Fazemos as malas amanhã.
Gritei internamente em euforia.
–Pode ser. - e balancei os ombros novamente. Só para amenizar.
//////////
Eu ainda estava deitada na cama, olhando para o teto. Um teto que deve ser urgentemente pintado caso eu e Thiago escolhamos continuar por aqui. Olhando para o teto, e pensando em todos esses eventos que se deram após meus 18 anos.
Olhando para o teto e pensando no Thanksgiving da semana passada. Olhando para o teto, e esperando Thiago chegar para podermos ir até o aeroporto.
Direto à Washington.


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