A Vida de Uma Garota Nada Popular escrita por Lu Carvalho


Capítulo 3
Conheça Clarrie McDonson




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Finalmente, havia chegado em casa. Depois de um estranho encontro com o desconhecido... Bem, fiquei um pouco mais “reservada”. Sério. Entenda-me: uma garota que não está nem um pouco acostumada a interagir com outras pessoas, a não ser por seu melhor amigo e sua mãe, fica bem envergonhada quando acontece um tipo de contato visual com um astronauta.

É. Mais ou menos isso.

Entrei, em casa, tentando fazer o mínimo de barulho possível, porque se minha mãe soubesse que faltei ao resto das aulas... A coisa fica feia.

Com passos leves, subi a escada. No primeiro degrau ouvi um barulho de secador caindo. Será que minha mãe estava aqui em casa?

Droga.

Já disse que odeio minha vida?

Decidi arriscar. Era óbvio que o barulho veio do banheiro, então... lá estava eu, prestes a abrir a porta.

Sim. Sou tão idiota a esse ponto.

Antes que perdesse a coragem, virei a maçaneta.

–Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! – gritou Bruna, minha irmãzinha.

Ufa. Não era minha mãe.

–Ufa. – disse. – Pensei que você fosse mamãe.

–Ahn... Então tá! – disse Bruna, fechando a porta de novo.

Percebeu o amor?

Então, tudo estava perfeitamente bem outra vez! Agora poderia ir ao meu quarto, relaxar no meu quarto, com a casa só para mim e Brun... Ei! Espera um pouquinho...

–Bruna! – voltei. – O que faz aqui?!

–Ahn... He-he... Mari! – fez cara de inocente, abrindo um sorrisinho falso e piscando os olhos.

–Não acredito. – semicerrei os olhos. – Matou aula?

–Não é bem isso... É mais para um... é... mais para uma preparação de encontro.

–Traduza, por favor.

–Hoje vou sair com um cara do terceiro colegial... – animou-se toda, então começou a tagarelar um monte. – Eu bem que poderia ter te contado e blá blá blá, só que acontece que ele é realmente... ah... lindo. E, também, porque sei que você sente alguma coisinha por ele... – murmurou.

O quê?

–Olha, é o seguinte...

O único cara por quem eu sinto algo é...

Bem...

–...apareceu uma oportunidade, e eu agarrei ela!

Será que ela estava falando do...

–Já que ele iria ao cinema, bem a essa hora...

–Ei! Você vai sair com Thiago?

O quê? Tá louca?! Eu vou sair com o Liam!

Meu Deus... que mico.

–Sei que o Thiago é só seu, não precisa ficar brava...

–Thiago não é meu. – contrariei.

–Tá, tá, tá. Diga o que quiser. Mas, sobre o encontr...

–Liam te convidou para sair? – finalmente processei direito.

–Bem... não diretamente.

Se conheço Bruna direito, ele no máximo deu uma piscada para ela e a garota pensou que aquilo fosse um pedido de casamento.

–Assim, o Johnny, melhor amigo de Liam, disse para mim que iria ao cinema, e se eu não queria ir junto. Aí eu pensei... e pensei... – até aí reconheço o esforço dela. – e finalmente, cheguei a essa conclusão: Johnny é o brother de Liam, então, ele viria junto! Não tinha como eu recusar.

–Bruna... – chamei. – Já parou para pensar que Johnny te convidou para sair porque ele quer sair e ficar à sós com você ?

–Ah, sim. Mas a minha hipótese é mais provável.

Bruna passava gloss nos lábios, enquanto secava seus cabelos lisos e pretos. Eu, ao contrário dela, já era mais feia. Meus cabelos eram castanhos e um pouco ondulados. Minha boca tem lábios desproporcionais e dentes pequenos. A única semelhança que tenho com Bruna são os olhos castanhos esverdeados.

–Bom... Tudo bem, então.

–Sim. – assentiu.

–Então...

–Então... – repetiu.

–Vou indo para meu quarto.

–Tudo bem. – sorriu, então, fechou a porta do banheiro com força.

Simpática, não?

Fui para meu quarto e me tranquei lá, para ficar a sós com meu caderno de desenho. Meu querido e precioso caderninho.

Duas coisas que adoro fazer no tempo livre; comer donuts e desenhar. Mas comer donuts só conta quando se está na Bill Rocks, e desenhar... bom, é meio que meu hobby.

Então, junte donuts com um papel e um lápis. Sabe qual é o resultado? Minha felicidade.

Minha casa tem as famosas escadas de incêndio (típico de Nova York) em que os filhos podem fugir sem serem percebidos. Uma de minhas especialidades. E sempre que não encontrava nada de bom para fazer em casa (a não ser desenhar e ouvir música), eu vou a Bill Rocks. Bill Rocks fica na Times Square, e é tipo uma dasmelhores lanchonetes do continente. Sério. Já foi em alguma lanchonete que servissem desde donuts até tacos? Bom, é uma maravilha. Apenas porque são minhas comidas favoritas.

E foi o que fiz; peguei meu caderno de folhas brancas, meus diversos lápis artísticos, uns 20 dólares e, lógico, o IPod.


As buzinas e todo o barulho de Nova York é realmente irritante. Sério. Tente sobreviver por pelo menos uma semana com um barulho constante debaixo de sua janela. É impossível. Mas, tudo bem. Continua sendo Nova York. A Nova York.

Entrei na Bill Rocks, e o cheiro de caramelo me pegou de surpresa. Meu estomago roncou alto, e todos que estavam na loja viraram os olhares para mim.

Que vergonha...

–He-he – disse. – Tem alguém me ligando!

Minha mãe teria vergonha dessa desculpa improvisada, mas foi tudo o que consegui.

As pessoas decidiram que tinham mais o que fazer, e voltaram a conversar normalmente.

Uma das coisas mais fantásticas da Bill Rocks (além do donuts e os tacos) é a decoração. Decoração moda anos 50. Não temcomo não amar.

O piso é quadriculado de preto e branco, as paredes vermelhas, as mesas rosas claras com Juke Boxs no centro. Para você que não sabe; Juke Box é aquele aparelho de som que se colocava moedas, tocava música. Isso era para estar extinto, mas na Bill Rocks tem. Há também motos antigas espalhadas pela lanchonete. É perfeito!

Sentei em um lugar qualquer e pedi o de sempre; uma rosquinha de chocolate com doce de leite e granulados coloridos e um café sem cafeína.

Logo botei os fones de ouvido e peguei meu caderno de desenho. Meu precioso...

Peguei o lápis 4b e comecei a desenhar.

Quando estou fazendo minhas coisas favoritas parece que o tempo cessa ao meu favor. A cada palavra da música é um traço sendo feito, e depois de uma música inteira, uma forma se aparece. É tão gratificante você ver seu desenho depois de pronto, porque, afinal, desenho é uma coisa trabalhosa. Não saí na hora. Tem de dar todo seu esforço, suor e sang...

–Isso daí é perfeito! – disse uma mulher no meu ombro.

Pulei do lugar.

–Ahhhhhhhhhhhhhh! – gritei. – Que susto! Desde quando está aí?

–Bem... faz uns 20 minutos...

O quê?!

–Você estava tão quieta, e tão... concentrada.

–Sim, mas isso não é motivo pra ficar no meu ombro. – reclamei.

–Sou Clarrie McDonson– ignorou-me totalmente. – Professora de desenho. – estendeu a mão para mim.

Com um pouco de desconfiança, estendi a mão também. Ela aparentava ter uns 45 anos de idade, com cabelos cacheados castanhos claros e óculos redondos verdes. Na verdade... ela parecia meio maluca. Tinha um sorriso travesso no canto da boca, e roupas um tanto... curiosas.

–Eu sou Mariana. Mariana Sward. Mas pode me chamar de Mari.

–Eu tive um peixinho chamado Marrie uma vez. Ele morreu.

–Ahn...

–Pobre peixe. Mas isso não vem ao caso. Quero que venha a minha escola desenho, para treinar.

–Olha, obrigada, mesmo. Mas estou sem tempo para... nada.

Na verdade, eu não fazia nada o dia inteiro.

–Vamos lá! Vai adorar.

–É realmente muito legal que você queira que eu faça suas aulas e tal, mas não dá.

Acho que Clarrie sentiu-se meio ofendida por eu não querer ir a sua aula, então para animar um pouquinho ela comecei a tagarelar:

–Não é que eu não queira, é só que minha agenda é terrivelmente cheia. – ela fez cara de mais ofendida ainda. – Menos as quartas! As quartas eu fico de bobeira em casa. Às vezes cantando... dançando... rabiscando...

–Então você começa na quarta, às 17h30. – abriu um sorriso satisfeito e pegou de seu bolso um cartão. – Te vejo lá, Marrie.

–É-é Mari! Com i no final! – gritei. Mas Clarrie já estava saindo da lanchonete.

Como será que ela tirou diploma?

Droga. Peguei o cartão de uma professora bipolar.

Foi tudo tão rápido... que nem vi meu donuts de chocolate com doce de leite e granulados coloridos e o café sem cafeína chegarem. Tasquei uma mordida no donuts e fiquei pensando um pouquinho...

...nunca mais vou ver aquela mulher na minha vida de novo.



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