A Vida de Uma Garota Nada Popular escrita por Lu Carvalho


Capítulo 28
Último dia em Miami


Notas iniciais do capítulo

Ola! Saudades infinitas de vocês! Espero que gostem! Acompanhem pelo Wattpad! Beijos Lu



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Você já ouviu isso, com certeza, zilhões de vezes. Mas não há nada mais verdadeiro. O tempo passa ráaaapido. E ô se passa! Num piscar de olhos, já era o dia da exposição. Eu, com toda minha capacidade, tive a proeza de acordar atrasada. Tinhamos de estar lá porvolta das 3 p.m e estava abrindo os olhos 3:30 p.m. Entretanto, cheguei. Vesti, desta vez, uma expressão feliz e não acabada. Estava animada para reencontrar E-Loren e escutar seus sábios conselhos. Estava animada para ver o talento de meus amigos. E estava animada para falar com Matheus.

Porque ele tinha razão. Em tudo. Só não sabia se ele estava animado. Mas eu estava. E muito.

Sabe, é estranho quando alguém calha gostar de você. Não acha? Sabe, toda uma existência, cheia de furos e imperfeições, acaba sendo o complemento para outra existência. E isso é muito louco.

Eu nunca soube como reagir a esse tipo de sentimento, mas agora era diferente. Porque eu não me sentia mais a mesma Mari que começou a contar sua história com "Era uma vez". Hoje eu teria começado com outras frases. Não tenho complexo de perfeccionismo e confio nas minhas palavras antigas. Mas eu mudei. Porque sou outra Mari.

Nosso eu sofre mudanças constantemente após cada experiência; cada riso, cada amigo novo, cada leitura... Eu só não esperava ter desenvolvido tanto no ultimo ano.

Afinal, nunca esperamos, certo?

Percebi que, se continuasse fazendo tempestade no copo d'água, a situação realmente seria furacão na Terra! Depois de ter cruzado com E-Loren, subi para meu quarto e passei a noite em claro. Pensando. Pensando. Repensando. E era certo. Eu devia parar de ser tão dramática e enfrentar receios. Porque eu tinha meus receios. Meus grandes tormentos de receio.

Estava no carro, direção ao balcão da exposição de Arte Moderna, quando esses pensamentos formularam-se.

Quando desci, deparei-me com um salão todo requintado! Não parecia-se em nada com a ultima vez que o visitei. O espaço estava farto de quadros coloridos e instalações complexas. Estava realmente magnífico! Topei com os rapazes- Ringo, Paul, John e George. Parabenizei George por ter ganho aquele estágio, e o convidei para mostrar seu desenho. Nisso, nós dois saímos trilhando por entre a exposição.

–Eu que tenho que te dar os parabéns! Eu vi seu desenho - exclamou George para mim. - e, sabe, uau.

Fiquei surpresa.

–Nossa, valeu. - tentei manter a postura, mas a verdade era que eu queria abraça-lo e todo mundo também. Adoro elogios!

–Uma bonita flor. Muito bonita.

Sorri.

–George, por um acaso, quando você estiver com o E-Loren trabalhando e tal... você não gostaria de me apresentar formalmente a ele? De preferência, falando muito bem de mim? Para que talvez ele me contrate também?

George caiu na risada. Mas eu não sei porquê. Eu não estava brincando.

–Apresento sim, embora eu ache que ele vá te contratar de qualquer jeito.

Congelei sob o pé direito.

–Por quê?

–Acho que a tua flor era a favorita dele, ou coisa assim.

Então... ONTEM NÃO FOI UM SONHO, REALMENTE! UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAU!

–Meu Deus, que honra. - tentei manter, novamente, a postura, escondendo o sorriso largo.

UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAU!!!

Ao chegarmos no desenho de George fiquei maravilhada. Era um beija-flor, colhendo num ambiente de prédios e cinza. Ele tinha um dos melhores traços que eu já vi! Extremamente minimalista, mas trabalhoso. Lindo!

Parabenizei-o outra vez. Logo em seguida, captei os olhos no desenho ao lado.

Eu.

Literalmente. O desenho ao lado era eu!

Perguntei quem era o autor para George, e ele respondeu que era Matheus. Então me lembrei. Na verdade não era eu. Era a psicótica do queijo!

Aproximei-me mais da folha de papel canson, com brilho nos olhos. Era lógico que era de Matheus. Lembrei de quando parei em seu apartamento, conheci o Thor, vi meu retrato, tive ataque de asma e conheci Jess.

Meu Deeeeeeeeeeeeeus, como as coisas mudaram.

–George... - disse, ainda hipnotizada pelos traços de Matheus. - você sabe onde ele tá?

George pensou um pouco até abrir a boca e dizer: - Não. Mas, se eu fosse o Matheus, e me conhecesse bem, eu estaria na praia. - piscou o olho direito - Provavelmente, naquela em que vocês foram no primeiro dia.

Agradeci imensamente meu novo amigo e tratei de voltar a pegar o carro. Era óbvio que Matheus não queria que o achasse, mas eu não poderia ficar estendida em pé, sem mover-me, depois de ver o desenho que mandou!

Em cinco minutos, já estava fronte aquele mesmo banco do primeiro dia. E avistava Matheus, de costas, com fones de ouvido. Estacionei o carro, derrubei dois cones, e saí como se não fosse comigo. Finalmente, ao chegar próximo das costas dele, desabei:

–Matheus, euseiquevocêdevestarsuperchateadoagoracomigomaseuqueroquevocêsaibaquevocêésimespecialpramimequeJessestavaerradaevocênãosedeumal,ok?

Matheus virou pra mim, e se mostrou não ser Matheus. Na verdade era apenas um garoto de cabelo semelhante. Prendi a respiração de tanta vergonha.

–Ahn, é, hmm, é, pelo jeito você não é Matheus.

O estranho ainda olhava confuso para mim.

Resolvi tapar o lado direito do rosto, e continuar andando.

Vinte e cinco passos à frente, encontrei um Matheus, sem camisa, deitado na areia e olhando pro céu.

–Matheus. - borrei sua visão com meus cabelos desengonçados.

–Mari. - preensou os olhos durante uns muitos segundos até recompor sua postura e portar-se sentado de coluna ereta. - Oi.

–Oi - sorri, afagada em meio ao meu desespero de falar com Matheus. Lembra quando disse que estava animada? Esquece. Estou suando mais que nunca.

Desci o corpo até a areia a fim de sentar perto de meu amigo.

–Tudo bem? - interrompi o silêncio amordaçador de corações.

–Sim. - disse. Distante, para variar. Ele apoiava-se em seus cotovelos e apreciava a paisagem. Enquanto eu tremia em tique nervoso. - E você?

–Sim, sim.

Uns dois minutos se passaram.

–E com você? - perguntei.

Ele riu.

Eu ri em alívio.

–Temos que conversar - dissemos em uníssono.

–Você primeiro. - ofereci.

–As damas primeiro. - Matheus, arqueando a sobrancelha para uma andorinha que sobrevoava-nos.

Por um momento senti-me mal. Assim, muito mal. Aquele mesmo cara que me apanhou de joelho ralado numa travessa, aprendeu a tomar café comigo, foi preso comigo, viu-me ter ataque de asma, ficou preso junto a mim em um banheiro, foi a uma festa de halloween comigo e levara-me para diversos passeios na cidade, agora não tinha a decência de olhar para mim.

Embora soubesse que o peso não estivesse apenas sobre seus ombros.

Eu provocara isso, de um jeito ou de outro. Mas ele não tinha o direito de ficar chateado nessa porproção.

Ou tinha?

E eu?

Será que eu tinha? Direito de estar chateada, por ele estar chateado, por eu não ter tido reação quando assumiu que gostava de mim?

Sorri para afastar o devaneio.

–Prefiro que você diga.

Matheus suspirou. Voltou à seu casulo em distâncias quilométricas.

–Eu... vou para Washington.

–Que legal! Visitar sua mãe e seu pai? - indaguei em inocência.

–É... sim. Por um longo período.

Meu coração apertou.

–Por uma semana? - esperancei.

Matheus olhou direto para mim.

–Não. Eu vou fazer faculdade lá. Eu vou me mudar.

E eu explodi.

–Quê? Por quê? Como? Quando? Onde? Por quê? - despejei, esbaforida, sobre Matheus.

Ele abriu a boca para dizer, mas o interrompi.

–Você vai simplesmente deixar Nova York? E seu apartamento? E seu buldog, Thor? E as aulas de desenho? E todos seus amigos?

–Mari. - entreveu, firmemente, de olhos fixos nos meus. - Nova York não é mais para mim.

–POR QUÊ?! - mandei, tremendo de tanta raiva e temendo já saber a resposta.

Ele apenas olhou para mim. E não disse nada.

Joguei o mundo pro alto. Ele dizia que eu era a confusa, a dramática, e o escambau, certo? Enquanto ele repetia exatamente os mesmos adjetivos, e de forma ainda mais radical!

–Olha, era isso o que eu tinha que falar: - tagarelei, antes que ele atrevesse-se a mais um piu - sobre esse negócio de ontem. E se for por causa de nós...

–Quê?! - contrapôs-se. Rindo frio e cínico. - Por causa de você? - ele estancou o olhar para o horizonte ao mar, de forma distante, mas cortante. - Você não teve influência nenhuma sobre minha decisão. - afirmou.

Flamejei de tanta incredulidade.

–Ah, não? - fiz, grossa.

E ele, em seu olhar distante, mas voz presente, confirmou baixinho:

–Não.

Levantei abruptamente da areia.

E ele não olhava. Apenas ajustava sua pose confortável ao Sol.

Esquece tudo o que eu ia dizer antes. Eu fervecia por dentro, de tanto sentimento borbulhando. Eu queria gritar, dizer que ele era injusto por fazer uma coisa dessas e que esse não era um jeito sensato de resolver relações. Principalmente quando fica há mais de 3 horas de distância.

Ele estava agindo justamente como um FILHINHO DE PAPAI.

Entretanto, apenas bufei. E perguntei baixo:

–Quando?

–Antes do Natal.

Suspirei.

–Você, pelo menos, vai visitar a tal exposição?

Depois de um longo tempo, disse, calmo: -Não.

Travei a mandíbula para frente, farta, e de olhos fixos nele.

Quando ele também pousou os olhos em mim.

E sem trocar nenhuma palavra, dissemos:

–Eu realmente não vou conseguir ficar em Nova York. Desculpa. Gostaria que não fosse desse jeito.

–E eu gostaria de ter te conhecido antes. Você me é muito especial. Mas agora você está estragando tudo.

Ele desviou o olhar.

Avistei, então, o horizonte do mar pela última vez.

**********************************************************************************

O resto do dia foi um saco. Ao voltar para a exposição, tive tédio. Tinha muita gente, e nenhum Matheus. Na tentativa de melhorar o dia tentei falar com o E-Loren, mas falhei. Ele era o mel das abelhas. Estava infestado de tantas cabeças histéricas. Eu não tinha pique ou vontade de enfrentá-los.

Tudo era um saco. Um tédio. Um pesar.

George e os rapazes toparam comigo e me convidaram para uns drinks. Agradeci e recusei. Porque mesmo com tédio, eu tinha ciência. Depois, para melhorar, Lauren-conselhos-amorosos-e-ironia chegou com um monte de indagações sobre nós. Tédio.

Minha solução foi morrer de tédio fazendo algo já tedioso por si só; arrumar a mala. Só que, vejamos, como eu estava com tédio, com raiva, e tudo o mais, minha mala, ao fim, era mais assemelhada a um cesto de roupa suja. A cada peça de vestimenta, eu esbanjava em força minha raiva interior. Camisa? Joga! Sapatilha? Joga! Shorts? Vestidos? Calça? Bikini? JOGA!

Um tédio.

Certa altura do campeonato, quando faltava apenas uma unica peça a ser guardada, desarmei-me. Desabei. Gritei.

Abafei o rosto com essa camiseta e berrei. Berrei. Berrei muito. E não berrei mais.

Porque não tinha motivos para berrar. A decisão era dele. Não minha. E eu tinha meu Thiago.

Berrei uma ultima vez, joguei a camiseta na mala e atirei-me na cama.

E esse foi o resto do meu dia. Um tédio.

*****************************************

Já noutro dia, as 7 da matina, recompunhamos para enfrentar algumas muitas horas de avião.

Como eu tinha pavor de avião, eu era a mais animada do grupo para sair do meu casulo confortável na cama de Miami. Mas, como a passagem já estava paga e blá blá blá, saí.

E foi péssimo. Não vou mentir. Matheus não veio sentar comigo. E eu não conseguia dormir, porque aquele mesmo bebê abençoado que não parava de chorar da ida, estava conosco na volta. Quase fiz xixi nas calças de tanto medo, outra vez. Mas dessa vez eu não tinha um Matheus para ser paciente ao meu lado. Eu tinha apenas o bebê.

Afinal de contas, o bebê tinha toda a razão em chorar feito insano. Tive tremenda vontade de acompanhá-lo. Mas por conta da ética, deixei passar.

Antes de embarcar liguei para Thiago, deixando claro que era estritamente importante que estivesse no aeroporto quando eu desembarcasse, para que eu não ter que encarar mais a tensão entre eu e o filhinho do papai.

Porque eu sou infantil como ele.

Mas, lógico, que não mencionei a parte relacionada a ele.

Quando Thiago tentou abranger indagações sobre a ligação de ontem, fingi estar com falha na rede com o saco de Doritos que tinha na mão e desliguei.

Porque eu sou infantil como o Matheus.

E esse bebê.

Notei, durante minhas horas aflitas e estáticas no banco da aeronave, que embarcamos comigo "p" da vida com Matheus, e pousaremos com ele "p" da vida comigo.

Uau, né?

E o mais louco foi que nesse meio tempo nós; dançamos no jardim, fomos a seu restaurante romântico favorito, patinamos no gelo, fomos a praia sozinhos, nos beijamos e ele assumiu que gostava de mim.

Há-há. A vida é engraçadississíma, não?

Como não vale a pena entrar em detalhes de aflição e medo dentro do avião, pularei para a parte em que enfrentamos a burocracia de aeroporto e desembarcamos, finalmente.

Assim que pisei em terra nova yorkina, iniciei minha procura por Thiago.

Ele que, por sua vez, como um bom garoto, estava prontamente na cadeira esperando-me. Pousando os olhos nele, aquele sentimento de não-sei-o-que-mas-aliviante desabou sobre meu ser. Soltei a mala para o chão e corri a seu encontro. "THIAGO!" berrei. Ele abriu seus braços magrelos. Impulsei-me para pular em abraço o meu tão amado.

Aquele foi de longe o mais intenso e demorado abraço que já testemunhei.

Abraço.

Palavra gostosa de esbanjar, não?

Eu o abraçei e muito, muito, muito. Não queria, não conseguia e não iria soltá-lo nunca mais.

Mas eventualmente soltei-o, porque todos precisamos de espaço pessoal.

–Thiago, menino, que saudade sua! - dizia, enchendo-o de beijos.

Eu estava tão feliz em revê-lo! Fora a luz das minhas ultimas 48 horas. Esperava que nada estragasse o momento.

Até quando isso aconteceu:

–Mari - desvencilhou-me de teus braços. - como eu te conheço e tudo mais, sei bem qual seria sua reação ao telefone. Por isso eu resolvi te contar isso agora. Pelo seu bem. Ok? - anunciou.

Tive receio de que ele fosse explodir uma outra bomba, como "Estou grávido" ou "Vou assaltar este aeroporto agora mesmo". Tropecei para trás, afastando-me do pior.

–Sua mãe voltou há uns dias, e, com ela trouxe...

Fomos interrrompidos, justamente, por minha mãe. Eu não a esperava aqui, vindo buscar-me. Pensava que estivesse em Chicago, ainda. Surpreendi-me alegremente.

–MÃE! - abracei-a super forte e fechei os olhos, a fim de curtir o momento. Há quanto eu não abraçava minha mãe? Estava sem as recargas de energia do amor que só ela me dá. Eu precisava curtir o momento. - QUE SAUDADE!

–Filha... - disse, mais emocionada que eu. - Tenho uma surpresa para você! - afastou seu rosto para olhar meus globos oculares.

–Ah, não... -minhou Thiago.

Arqueei as sobrancelhas para meu namorado.

Aí, então, simples assim, avistei um cara de 50 anos de idade, cabelos cinzas, barriga salientada numa camisa Polo e olhos caídos, iguais a de meu pai.

Simples assim, avistei meu pai.


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