A Vida de Uma Garota Nada Popular escrita por Lu Carvalho


Capítulo 16
A Vida De Uma Garota Agora Com Namorado


Notas iniciais do capítulo

Dedicado à dona da pagina I Wish One Direction (Bora lá e dá 2.500 likes pra ela!!) link: http://www.facebook.com/iwish1Dpage?ref=stream
Espero do fuuuuundo do coração que gostem, pq demorou para escrever, hehe. Ah! E dêem uma olhada na capa da revista que deu tilti em alguém nesse capitulo (http://25.media.tumblr.com/3b5d3b1dcc1036d5a3abfd931810a825/tumblr_mi4cbmMysG1qm2t57o1_500.png) hausdhaus



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Sabe aquela sensação de vazio e deprimente que normalmente atinge 88% de todos os adolescentes do mundo? Então, eu descobri a cura disso: Ter um namorado.

Quer dizer, um antidepressivo seria o mais aconselhado nesse caso, mas você entendeu o que quero dizer!

Parece que nas duas semanas que se seguiram depois, tudo ficou mais colorido! O universo estava finalmente em sintonia comigo! Prova disso: quando Thiago e eu fomos sair oficialmente como namorados ao planeta M&M no fim de semana, eu ganhei 100 gramas extras de M&M! O caixa havia piscado para mim e murmurado um “Parabéns”.

Cara, só podia ser Deus ele! Imagina! Desceu aqui apenas para dizer parabéns, que essa seria a MELHOR fase de TODA A MINHA VIDA!

Ele pode não ter dito exatamente a última frase, mas creio que o Parabéns tenha tido esse significado.

Além das 100 gramas extras de M&M vermelho (cor da paixão, hehe), a escola também estava diferente:

TODOS diziam oi para mim. Tipo, todos que antes que me olhavam torto agora passam e me cumprimentam.

Por livre e espontânea vontade.

Olhavam para mim com admiração e sussurravam “Ela é minha inspiração!”.

Pois é, nada que tomar a iniciativa.

Uma garota até pediu para mexer no meu cabelo, e tirar uma foto.

Não me pergunte por quê, já que as morenas nunca foram bem aceitas na St. Morriz.

É lógico que Anne não se adaptou à nova estação. Apenas me encarava como se o vestido da renascença ainda estivesse em meu corpo, enquanto Thiago me segurava para não bater naquele cabelo tingido.  Ou seja, me encarava com expressão de desdém.

Porém, Danielle, uma de suas seguidoras, disse oi. No lanche, quando estávamos bem afastados de Anne. Foi mais ou menos assim:

-Oi, Mari!

-Ah, oi, Danielle.

-Tudo bem com você, linda?!

-É... sim. Estou ótima. Valeu.

-Então, eu vou dar uma festa de Halloween sexta que vem, né?! Você pode ir lá se quiser!

-Ahn, vou pensar.

-Se você estivesse lá, minha festa seria um máximo!

-Brigad...

-E se você não aparecesse lá, SERIA A P-I-O-R FESTA DE TODOS OS TEMPOS!

-O-ok, Daniell...

-E toda a decoração que eu demorei TAANTO para comprar seria um NADA!

-Danielle, tá me assustando...

-POR FAVOR, POR FAVOR, POR FAVOOOR, VEM NA MINHA FEST...

-OK! EU VOU NA SUA FESTA!

-Eba! Aqui tá meu endereço, e meu número. Me liga! A gente poderia ir no shopping, comprar roupas, ver meninos....

-Eu tenho que ir, tá? Tchau! A gente se vê.

-É! Na minha casa sexta! Você poderia aproveitar e trazer seu amiguinho gatinh... Opa! Íntimo, o filho do presiden...

-Ele tem namorada! E EU TAMBÉM TENHO UM NAMORADO! Agora, TCHAAAU.

Pois bem. Foi mais ou menos assim.

E o pior, é que não foi só essa festa que me convidaram para ir. Tenho por volta de quinze festas para esse fim de semana, sem contar os vinte e nove números que brotaram no meu armário. Uns escritos “Ei, gata, por que não saímos hoje à noite? Eu poderia te mostrar o caminho para o paraíso. Hehe.”, e outros bem mais nojentos, que prefiro nem lembrar.

Outro caso que me aconteceu no mesmo dia foi na minha nota A. DÁ PARA ACREDITAR?! A! Eu pensava que não tinha me dado bem nessa prova. Respondi coisas como “Quem descobriu a América?, George Washington?. Em que ano os Estados Unidos se tornou independente?, Ahn... 1600 a.C?”. Tremia na hora de receber a nota. F? D-? C+? Shania, a professora de história, entregava todas as folhas de papel com notas vermelhas grafadas e uma carinha brava desenhada aos alunos. Fuzilava-os com seu olhar à catarata, e então voltava a outro adolescente. Quando chegou minha vez quase me afundei na carteira. Ela abriu um pequeno sorrisinho e me estendeu as folhas grampeadas com um A+ verde como a grama. DISSE QUE O MUNDO ESTAVA MAIS COLORIDO!

-Oh. Meu. Deus. OH MEU DEUS!

Shania deu dois tapinhas leves em minhas costas e depois sussurrou em meu ouvido “Parabéns, pequena corajosa”.

-THIAGO! VOCÊ VIU ISSO?! – virei para meu namorado logo em seguida.

-Vi! – disse perplexo. – Ela burlou sua nota!

-Não isso. EU TIREI A+!

Meu namorado (namorado! Hehe) dizia que todos estavam sendo legais conosco porque eu salvei a vida do presidente. Inclusive os professores, que de vez em quando diziam “Para quem não salvou o presidente sexta passada, quem fez a tarefa?” e coisas do tipo.

Sabia que isso era bobagem dele. Havia passado mais de 48 horas, a escola já devia estar em outra. Ele estava apenas MORRENDO de ciúmes por causa de toda essa atenção. Embora nada era assimilado ao fato de uma pequena corajosa (cuja sou euzinha! Como disse o presidente), ter salvado a vida de alguém importantíssimo. Pffft. Bobagem.

Foi então que eu comecei a cabular a aula de Educação Física:

-GAROTAS, VAMOS TODAS À QUADR...

-Professora... – gemi com a mão no braço, interrompendo seu berro.

-Diga, querida. – É impressionante que mesmo com a ideia de falar normalmente, os professores de educação física tenham o habito de berrar em seu ouvido.

-Eu estou com uma super dor no braço...

-Ah, é lógico! Como não pensei nisso? – se lamentou. – Afinal, seu braço deve estar muito dolorido! Salvar a vida do presidente não é para todos os bíceps! – A professora riu igual à mim, quando soube que o nome de um policial era Jessie. As garotas a acompanharam, como se a piada fosse ótima. Mas foi péssima. Fazer o quê?! Tive de rir também.

-AHAHAHAHAHAHA – ri forçadamente. –Quer dizer, Ai!

-Pode descansar, pequena corajosa.

-ÓTIMO! TÔ INDO!

Saí antes que qualquer um pudesse me ver de shorts azul de ginástica e camisa amarela pelos corredores. Atravessei meia escola até encontrar a placa “VESTIARIO MASCULINO”.

Cautelosamente, bisbilhotei por dentro. Felizmente, Thiago ainda era o último a estar pronto para jogar basquete. Só sobrara ele lá. Abri sem fazer nenhum ruído a porta. Com passos silenciosos, cheguei até as costas de meu namorado. Ele ainda colocava o tênis. Cara, que lerdeza. Tapei seus olhos.

-Oi coisinha fofa e lerda da mamã...

-AHHHHHH! – gritou, tirando minha mão de sua cara e virando apressada e assustadoramente para minha pessoa. Oh-oh. Esse não era Thiago.

-Desculpa, desculpa, desculpa! Eu nã...

-GAROTA LOUCA! QUE DIABOS ESTÁ FAZENDO?

Não sei como o confundi com Thiago. Suas costas eram idênticas e o cabelo do garoto era o mesmo, mas ele tinha dente de coelho, usava óculos casca-de-tartaruga e dois papéis vermelhos em cada narina.

Oops. Isso era papel higiênico com sangue.

Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuugh!

Saiu correndo praguejando os piores palavrões possíveis para o corredor. Oops. De novo.

-O que aconteceu aqu... MARI! – disse Thiago, ao me ver, saindo do banheiro.

-THIAGO VERDADEIRO!

Derrubei-o após correr em disparada à sua direção.

O enchi de beijinhos enquanto ele ainda tentava terminar a frase “O que faz aqui?”.

-Vim para ficarmos juntos! –expliquei. – Já que você anda tão chato.

-EEEI!

-É verdade, você não pode negar.

-Você tem de admitir que esteja recebendo, sim, tratamento especial.

-Tá, tá. Que seja! Podemos pelo menos aproveitar a aula de Educação Física?

Sorri pedante. Ele acabou cedendo, e me deu um beijo.

Caham, desculpe-me pela petulância. Corrigindo: e me deu um BEIJO DE VERDADE, daqueles de filme.

Depois aconteceu toda aquela coisa de namorados e blá, blá, blá.

Fiz isso durante as duas semanas de Educação Física, e a professora nem parecia ligar. Um dia dizia que era cólica, depois dor de cabeça, hemorroida e assim vai. Pelo que Thiago me contava, seu professor também nem percebia sua falta de presença na quadra, já que mesmo estando lá  ele não jogava nada. Ele dizia que não achava uma boa ideia ficarmos no vestiário masculino namorando, afinal a qualquer instante poderiam nos pegar. Pfft, pfft, PFFFT. Isso foi no mesmo dia em que reclamou outra vez sobre toda a cena que faziam sobre mim.

IMAGINAÇÃO DELE, OK? SÓ PARA VOCÊ SABER! Acabou que quando estávamos no lanche, a tia da cantina que odeia tudo e todos me deu comida a mais, e disse parabéns. Desta vez, ela deixou explicito que se referia ao caso do presidente, pois me pediu para discutir com o senhor de terno e gravata sobre um salário mais generoso aos que trabalham na área de comida.

E nos próximos dias esses “agrados” ficaram mais frequentes. Eu negava ainda ao Thiago sobre. Era meio difícil de capturar que as pessoas só eram legais comigo porque sou heroína nacional. Primeiro: eu nunca fiz algo assim. Segundo: nunca percebi o quanto as pessoas são interesseiras. Se, é claro, isso fosse verdade...

Chegando em casa um dia fiz um relato das coisas que estavam me acontecendo, e consegui essa lista:

“Todos os atletas e líderes de torcidas se juntam à você nos corredores e depois conversavam normalmente entre si, tentando te puxar para a conversa alheia e rindo do mesmo. Além do privilégio de não passar despercebida (se é que isso é um privilégio), um cara meio que “diferenciado” passou a conversar contigo todo santo dia: Liam.

Você não tem mais nenhum sentimento por ele, óbvio, mas isso não dizia que não te surpreendia com o fato dele dialogar com você.

Isso era um tanto louvável.

Do mesmo jeito, estranho. Quando você não estava com seu namorado, ele parecia brotar do nada para dizer oi e continuar um lindo papo até o sinal tocar. Havia momentos em que você gostaria de ir achar seu namorado e ficar de bobeira (tradução: namorando), mas ficava tão sem graça em sair desse jeito que não tinha escolha a não ser pedir licença ao banheiro e cair fora.

O grupo de nerds da sua classe agora já não te subestima mais, e te pedem ajuda para resolver tal conta: X²” + a (y-w³.z) = Y : a + b” . y² (£).

E é quando você se pergunta: CADÊ OS NÚMEROS?!

Você não sabe responder, e então te oferecem o dever de casa para a próxima aula.

As mortas-vivas, que detestam cores escuras e cabelo escuro, agora trocaram seu guarda roupa de rosa para cores escuras, e pintam o cabelo de moreno. Menos, é lógico, a líder delas. Que agora parece estar sendo deposta do cargo...

No final de cada dia de aula, tem uma FILA de repórteres à sua espera, para saber o que você comeu hoje, ou como vai sua vida amorosa com o filho do presidente.

Você tente ignorar a última pergunta.

O porteiro gordão e fedido do seu colégio tem uma camisa com seu rosto estampado escrito “PEQUENA CORAJOSA!”.

E, a última de todas as coisas que te fazem crer com toda a fé do mundo que talvez seu namorado esteja certo:

O diretor te chama para a “Sala da Expulsão”, com aquela sua expressão carrancuda e mal-humorada de sempre. Faz com que se sente na cadeira à sua frente, te faz esperar uns cinco minutos de puro medo até ele abundar aquela couraça velha de diretor na cadeira estofada, e, no fim, apenas entrelaça os dedos e diz:

-Filha, como sua relação com o presidente é considerável aos olhos de todos, por que não pede para que ele promova nossa escola em Nova York para eu comprar uma nova cadeira?”.

Algo me dizia que Thiago poderia estar mesmo certo. Num sei. Algo dizia.

***

A aula de desenho virou uma zona só. Era do tipo IMPOSSÍVEL EXTREMO você entrar na escola. Sabe aquela multidão toda de repórteres que antes estavam na escola? Então, eles pareciam ter se transportado para minha aula de desenho. Quando finalmente entrei pela porta de vidro, me deparei com Nathally.

-Oi...

-Sabe, eu não torcia para o partido do presidente. Se eu fosse você, deixava ele morrer.

-Estávamos dentro de uma delegacia junto de uma psicótica com uma arma na mão. Era tudo, ou nada.

-Ou nada.

Revirei os olhos.

-Hoje minha irmã decidiu fazer uma aula, sabia? –contou Nathally, olhando para a tela de seu computador. – Eu disse para ela que ninguém saía famoso daqui – fez uma pausa para tirar uma mecha de seu cabelo preto intenso dos olhos azuis. – mas hoje mudei de ideia.

-Por causa de mim? – perguntei entusiasmada.

-O quê? Ah, não! Nem. Eu estava falando de Matheus. Ele é filho do presidente, sabia?

-Eu? Sabia. Vocês não sabiam?

-Não. Pelo jeito nem eu, nem a Clarrie, nem a sobrinha da Clarrie...

De repente um choque me atingiu em cheio.

Entendi tudo o que Nathally falava. E juntei com o que Matheus disse para mim no banheiro... “Não contei a ninguém”...“Deu certo, até agora”... Ele dizia no sentido literal, não contara para ninguém sobre seu pai. Nem para sua namorada. Nem para sua namorada. NEM PARA SUA NAMORADA!

-Ah meu Deus.

Atravessei o corredor todo e pousei a mão na maçaneta da porta branca escrita Clarrie McDemais.

Clarrie McDoidaDaConta agora, só podia.

Ela devia estar uma fera com Matheus por ter escondido algo tão importante da sobrinha. Eu  ficaria doida. Imagine ela, que já é meio cuckoo.

Entrei na sala de aula.

A terceira guerra mundial estava acontecendo.

-MENTIU PARA MIM, MENTIU PARA ELA, MENTIU PARA O MUNDO, MATHEUS! – berrou Clarrie tacando um pincel grosso com tinta roxa para o outro lado da sala.

-Me desculpe! – disse Matheus, debaixo de uma das mesas. – Eu devia ter contado!

-DEVIA MESMO! – exclamou, jogando outro pote de tinta amarela.

Acho que Clarrie agora era McDemente.

Os outros alunos ou estavam debaixo das mesas também, ou estavam gravando vídeos com os celulares para depois postar no youtube. Só havia outra garota de uns 17 anos, cabelos pretos, roupas pretas, maquiagem pesada e olhos azuis encostada na parede ouvindo música indiferentemente, mexendo no celular.

-HEY! – gritei para Clarrie. – CLARRIE, CALMA! EI, NÃÃO! ABAIXA ESSA CAIXA DE LÁPIS AÍ! EI, NÃO PEGA O COMPASSO! ELE É PERGOSO!

Clarrie me ignorava completamente. Não havia nada que eu pudesse fazer para ajudar Matheus! A menos que eu tentasse segurar os dois braços de Clarrie e, sei lá, fazer com que ela prosseguisse a aula normalmente. Dessa vez sem objetos pontiagudos. Como essa tesoura que ela tacou em Matheus agorinha mesmo.

Ela estava pior que Jenny Lewis no dia em que fui presa! Precisava de alguém a mais para tentar detê-la...

...Hmmm.

-Ei, você! – fui até a direção da garota de fones de ouvidos. Ela não me ouvia. A música estava alta demais. –EEEI VOCÊ! – Não teve outro jeito, tirei um de seus fones de ouvido. Péssima ideia.

A garota virou tão perplexa para mim que até meu pâncreas recuou.

-O que você quer? – disse com a voz e os olhos apertados.

-Pode me dar uma ajudinha?

-Do que?

Apontei para Clarrie jogando um quadro verde na direção de Matheus.

-Pode me ajudar a segurar ela?

A garota tirou o fone direito de seu ouvido e pousou seu celular em minha mão.

-Deixa comigo.

Seguiu em passos pesados até Clarrie e depois:

-IÁ!

Em um movimento sobrenatural, pegou seus dois braços e os trouxe para trás, enquanto apoiava seu pé nas costas da professora para que ela não pudesse se movimentar.

-Prontinho – anunciou, com falsa inocência.

-Clarrie, - chamei. – o que você fez?!

-Lauren, me larga!

-Eu estou sendo paga para isso.

-Não esta não! – repliquei.

-Eu não faço nada de graça, querida.

-De qualquer jeito, Clarrie, tem que entender que Matheus não fez isso por mal...

-Você TAMBÉM estava nisso?!

-M-mais ou menos...

-QUER SABER? VOCÊS DOIS, FORA DA MINHA AULA!

-O quê?!

-Você ouviu bem, Marrie Swan! Matheus e você estão BANIDOS desse estabelecimento!

-Não! M-mas Clarrie!

Matheus finalmente saiu de seu forte e com passos cautelosos veio até mim.

-Clarrie, não pode tirar ela da aula só porque eu...

Clarrie lançou um olhar fulminante ao filho do presidente. Ele se escondeu atrás de mim como se eu fosse um escudo.

-Só porque eu escondi um pequeno detalhe para vocês – continuou.

-PEQUENO? PEQUENO DO TAMANHO DO PAÍS, CERTO?

-Então, vou ter que assistir a briga de vocês ou posso sair fora? – indagou Lauren, entediada.

-Não terá que assistir a nada, já que os TRÊS VÃO SAIR AGORA MESMO!

-Mas essa é a minha primeira aula! – replicou.

McDonson conseguiu se livrar das mãos de Lauren, pegou um pincel fino com tinta vermelha e estendeu em nossa direção.

- A AULA ESTA CANCELADA HOJE PARA VOCÊS TRÊS, ENTÃO CAIAM FORA!

Antes que ela formasse outra mancha  na minha blusa, saí fora.

Os dois me acompanhar correndo em seguida, quando o barulho pesado da porta batendo se fez atrás de nós.

-Minha segunda semana aqui, e sou mandada para fora – reclamei.

-Eu nem tive uma aula direito! – replicou a garota de olhos azuis ao meu lado.

-Desculpa... – murmurou Matheus, atrás de mim. – Eu não queria...

-Quando você disse que não contara para ninguém sobre isso, você estava incluindo sua namorada nesse quesito? – girei o corpo para ele.

-Ahn, é... sim. Literalmente, ninguém.

Massageei minha têmpora lentamente.

-Bom, acho que fui expulsa. Então, adeu...

-Talvez eu possa tentar falar com ela – ofereceu Matheus.

-Cara, quer mesmo  tentar falar com ela naquele estado? – se manifestou Lauren.

-Er, acho que não.

Tudo bem que Clarrie poderia estar exagerando a situação por mil vezes, mas nem eu poderia deixar de negar que isso foi péssimo.

-Ela é sua namorada! – me aborreci, afastando Matheus comigo de Lauren. – Como não contou isso para a sua parceira?

-Não seria a mesma coisa. Nunca é.

-Mas você nem tentou!

-Mari, - disse calmamente, pegando minhas mãos. Tirei-as rapidamente. Elas estavam suadas. – é... ok. Mari, desculpa. É sério. Eu vou conversar com Clarrie, mas tem que entender por que não vou falar com Jessie sobre isso.

Impossível. Impossível. Qual era a dele?! Agora mesmo a garota devia estar se sentindo traída, e o cara nem para falar com ela?!

-Ela merece pelo menos uma satisfaç...!

-Eu já falei com ela.

-Ahn... Ah, é?

-Então, obrigada pelo ótimo primeiro dia  na escola de desenho – interrompeu Lauren, sarcástica. – Eu já vou.

Lauren saiu andando para a porta da saída. Quando abriu, sons de flashes estalaram no mesmo instante.

-Ainda estão aqui?! – reclamei.

-Você que os trouxe? – indagou Lauren, apontando para a multidão a fora.

-Er... Mais ou menos.

Ela revirou os olhos cheios de maquiagem pesada, e foi abrindo espaço entre o povo.

-Vamos? – sugeriu Matheus, tomando a frente.

-Não antes de você me explicar tudo sobre... Ah!

O grito final foi totalmente involuntário, que saiu quando Matheus agarrou minha mão e saiu da escola.

E todos de fora, sem exceção nenhuma, ficaram eufóricos.

Repórteres gritando para respondermos suas perguntas e fotógrafos enlouquecidos por uma foto enquanto eu gritava alto para Matheus “VOCÊ É LOUCO!”.

Em tal altura do campeonato ficou impossível de andar com tanta gente amontoada em cima de nós.

-SEU CARRO ESTÁ AQUI PERTO? – berrei para o filho do presidente.

-AQUI NA FRENTE! SÓ PRECISAMOS CHEGAR  ATÉ LÁ!

-SEI QUE VOU ME ARREPENDER TE PEDIR ISSO, MAS ME CARREGA ATÉ O SEU CARRO!

-O QUÊ?!

-TEM UM CARA AQUI PRENDENDO O MEU PÉ! EU PRECISO DE AJUDA!

Matheus me pegou pela cintura e tentou correr entre todos.

Felizmente, chegamos ao carro. Infelizmente, deviam ter tirado muitas fotos de nós.

Matheus entrou no carro. A porta se fechou. O fulminei com o olhar.

-Antes de qualquer coisa, eu já tinha falado com ela sexta, antes da Espagork. Só que ela não acreditou. E eu acabei deixando por isso mesmo. Até que segunda ela me ligou enfurecida e pediu para explicar sobre a nova capa da “Seventeen”. Eu tive que explicar que a gente não tinha nada a ver, e que eu era mesmo  o filho do presidente. Depois disso ela falou que teria de repensar toda nossa relação e até agora não me responde. Mari, por favor, você tem que me ajudar.

Demorei um pouco para respondê-lo (do tipo, cinco minutos) até que finalmente processei e repeti:

-A gente não tem nada a ver?

-Ah, você sabe. Você tem namorado, e eu também tenho uma namorada... e...

-Beleza. Não precisa ficar falando.

-O-olha eu não quis dizer assim...

-Não, que isso. Tá tudo bem – tava tudo péssimo.

-Mari.., - ele abriu a boca, indo iniciar uma loooonga discussão.

-Eu vou pensar no que posso fazer por vocês. Até qualquer hora – saí do carro, e fui tentar chegar até dois metros a frente.

-Ei, Mari! – gritou Matheus. Apoiando o quadril na janela para que seu tronco saísse do carro.

-Diga, Matheus – vir-me-ei para ele, junto de uns 48 flashes.

-Eu queria ter conversado com você antes...

-Eu não consigo pensar aqui fora, eu preciso estar em casa para achar alguma solução, ok?

-Mari! – girei o corpo uma última vez. Ele não via um bando de doidos nos observando? – Recebeu minha mensagem sexta à noite?

Sobre Ma Rieva perceber se Liam valia a pena. É lógico que recebi, graças a ele tenho um namorado agora.

-Sim. Valeu, mesmo. Agora tchau.

E saí correndo antes que ele me alcançasse.

Te contei uma semana e quatro dias de minha vida em 3.500 palavras, pode me agradecer. (Ou não, se você não quiser). Hoje já era quinta-feira, um dia antes do Halloween, e minha animação era zero.

Embora eu deveria estar feliz, afinal meu aniversário já estava em contagem regressiva! 1 mês e vinte e cinco dias para DEZESSETE ANOS SE COMPLETAREM!

Mamãe havia ligado para casa hoje de manhã, e eu que atendera. Deu um chilique quando se lembrou do caso presidente. Me puniu por duas semanas (via telefone) e depois diminuiu uma semana, por lembrar quem eu salvei. Acrescentou que estava orgulhosa de mim, mas da próxima vez era para deixar ele morrer. Disse que estava morreeeeendo de saudades. Ela pediu perdão pela demora, só que logo disse que demoraria um pouco mais ainda. Perguntou se ficaríamos bem durante mais um período, e eu confirmei. Se eu negasse eu estaria dizendo a verdade, mas temo que ela não gostasse de saber. Depois, não sei por quê, ela começou a perguntar sobre Bruna e Johnny. E, lógico, eu disse que parecia estar ficando sério. No embalo da conversa, eu acabei desembuchando que Thiago e eu nos tornamos mais, ahn, próximos. E, dica? Nunca faça isso por telefone. Fiquei durante MEIA HORA, repito: MEIA HORA explicando para ela sobre meus sentimentos e os dele. Uma hora ela pareceu se conformar. Mentira! Ela me deu mais uma semana de castigo. Quer dizer que voltei a minha punição inicial. E depois pensou que ele era mesmo um bom garoto, e que era uma benção meu primeiro namorado ser ele. Me tirou novamente uma semana. Antes de qualquer mais semana de castigo, alertei que estava na hora de ir para a escola, e nos despedimos.

Agora era aula de Educação Física, e já estava no vestiário masculino com Thiago.

-Mari, não tinha me dito que seu amigo era o FILHO DO PRESIDENTE! – Foi assim que começamos a conversa.

-Ele pediu para guardar segredo.

-Isso é impossível! Como é que o cara pode ser ele?!

-É, sei lá. Destino?

-E eu pensava que os dois estivessem saindo.

-O quê?

-É. Quarta na Bill Rocks tinha visto vocês dois juntos.

Uau. E ele tinha pensado que eu Thiago estávamos saindo, enquanto Thiago pensava que Matheus e eu estávamos saindo. E eu ainda estava solteira! Que confusão!

-Bom, agora eu estou saindo com você – disse com um sorrisinho.

-Tá, tá. Mas pode acreditar o quanto é legal seu amigo ser o filho do pres...

-Caramba Thiago! Na real, não se sente ameaçado por ele?

Foi totalmente impulsivo, em minha defesa.

-Ahn... – ele congelou. – Não. Por que eu deveria?

-A revista Seventeen dizia que estávamos namorando, e saiu uma FOTO NOSSA lá.

-Mas por que eu me sentiria ameaçado com isso se eu sei que você está me  namorando?

O pior era que ele estava certo.

Arrrgh! Ele sempre está certo!

-É verdade... É que... a namorada dele esta brava.

-Pela revista? – perguntou.

-É. – Mesmo sendo difícil de acreditar que Jessie ficasse brava por algo, por isso ela ficou.

-Quando você chamou a tia dela de alienada ela não ficou brava.

-Situações diferentes, certo?

-Bom, ela parecia ser muito legal – observou.

Não que eu estivesse com ciúmes, mas o fulminei com o olhar até ele ficar sem graça.

-Mas você é mais, é lógico – acrescentou, pegando-me pela cintura e me aproximando dele.

Era impossível não sorrir.

Entrelacei os braços por volta de seu pescoço e enrosquei nossos narizes.

-Eu te amo, sabia? – sussurrou no meu ouvido.

-Eu sei – respondi, sorrindo.

E o beijo de verdade se deu inicio outra vez.

Como eu era muito baixinha tinha de ficar de ponta do pé. Humilhação, eu sei.

Estava tudo ocorrendo bem, até eu ficar com câimbra no pé. Ele deve ter percebido que diminui uns vinte centímetros instantaneamente, porque uma hora me pegou pela cintura. O que era bem melhor do que estar de ponta de pé. Isso tudo sem parar o beijo.

Já estava esquecendo-me que estávamos no sistema solar, consequentemente planeta terra, consequentemente continente americano, consequentemente Estados Unidos, consequentemente Nova York, consequentemente Manhattan, consequentemente Escola St. Morriz, consequentemente vestiário masculino, consequentemente com outras pessoas entrando dentro, consequentemente enquanto eu estava BEIJANDO MEU NAMORADO.

-Ah, meu Deus – eu estava mais vermelha do que o capeta lá embaixo.

Dentre todos os garotos que voltaram da quadra, lá estava Liam, assumindo a frente.

-Ahn... Desculpa – disse ele, congelado. – Er... – ele fez uma longa pausa – Hmm... Acho que é melhor irmos.

Eu não conseguia dizer nada. Nada passava na minha mente a não ser “Droga”.

Todos estavam deixando o vestiario, porém antes de Liam sair ele parou e girou para nós:

-Então estão mesmo namorando?

Os dois assentimos, ainda perplexos.

-Ah – ele esboçou um pequeno sorriso no rosto, e disse: - Que pena.

Meu queixo caiu. Não que eu me importasse.

E ele saiu do vestiário.

Não que eu me importasse, também.

***

-MARI! – acenou Danielle, como se fossemos muito amigas. – Não te vi hoje!

-Ainda bem – murmurei.

Danielle era uma das únicas que havia prevalecido com a cor natural do cabelo, ruivo, mas as vestes pareciam velhas, mal combinadas e sujas. Acho que estava tentando me copiar. Veio com pulinhos de alegria até mim:

-Adivinha que dia é hoje!

-Quinta-feira, 30 de outubro.

-NÃÃO sua bobinha! – ela bateu de leve em meu ombro esquerdo.

-Não bate em mim – repliquei, com a voz aguda.

-Hoje é um dia antes da minha festa de HALLOWEEN!

-Ah, é! Então, sobre isso...

-Você vai, não é?

-Eu não sei. É que eu tinha outros planos... – como ficar assistindo TV e comendo doce.

Danielle começou a chorar.

-Mas você me prometeu!... E m-minha festa vai s-ser um lixo!

-Awn, Danielle, não que eu não queira ir...

-Então por que não vai? – se recuperou rapidamente.

-É que... ahn... é... – de repente uma ótima ideia me veio a cabeça. – É que o filho do president...

-Ahh! – me interrompeu para dar um gritinho. –Aquele gato.

-É, é. Aqueeele gato. Continuando, ele disse que só iria se a namorada dele fosse, e...

-Mas você vai. Tá convidada.

-Ele não é meu namorado! – me irritei.

-Bom, então isso não é problema. Diga à ele que pode trazer ela também.

-Jura?

-É lógico! – disse, estendendo o braço por meus ombros. – Afinal, é isso que amigas fazem.

Amigas. Ela tava falando sério?

Dei um sorrisinho sem graça.

-Brigada, Danielle. Sério. Muito obrigada mesmo. Mas agora, - disse afastando-me. – preciso fazer uma ligação, ok?

Ela assentiu com um sorriso branco. Disquei o número gravado no meu histórico de ligações:

-Alô? Matheus? Tive uma ideia de como fazer Jess falar com você. Primeiro você chama ela e depois vamos á noite... Quem sou eu? Mari, seu idiota! Ahn, não me conhece? Ah, e você é casado? Matheus, para de gracinh... Ahn, você não é o Matheus? Cachinhos? Uh... não? Desculpa! Engano!

Disquei outra vez o número, trocara o seis pelo nove.

-Alô? Matheus? Você é casado? Não?! Ótimo, então estou falando com o cara certo. É a Mari! Acho que descobri uma solução para o seu problema...


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Notas finais do capítulo

E aí? Comentem!