A Vida de Uma Garota Nada Popular escrita por Lu Carvalho


Capítulo 13
O Espaguete de Uma Garota Nada Popular


Notas iniciais do capítulo

NÃO EU NÃO MORRI!!!!!!!!!!!! Demoro, pq é o primeirissímo de quase 5.000 palavras, só para vcs!!!! Demoro, mas recompensei nas palavras, kkkk
Capt dedicado a Thamily, esperrro que goste, belezurras!



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Então, ali estava eu. Segurando com as duas mãos a porta que cheirava carvalho velho banhado de sopa, com uma lagosta mordiscada em meu jeans  branco, um bigode colado em minha bochecha e a camisa proibida empapada de molho vermelho (do que mancha pra valer). E,como isso já não bastasse, estava olhando boquiaberta para os olhos cor azul-super-mega-sensual de Liam Pettyfer. Sim. Liam Pettyfer. Uma sensação de tontura começou a invadir todo meu ser outra vez. Senti meu interior queimar como se fosse a torrada que fiz hoje de manhã, e depois, senti a torrada voltando. Respirei fundo na tentativa de fazer a torrada voltar para seu devido lugar, porém tudo o que consegui foi gemer um “Droga de molho de alcachofra” e sair correndo para o vaso sanitário, empurrando o Sr. Cachinhos e deixando a porta velha bater com força. TUUUM! Barulhos de chutes se sobressaíram em meio ao meu vomito, o que me deixou um pouco preocupada, mas eu tinha problemas maiores (como... você sabe o que). Depois, a voz cansada de Matheus disse a temida frase:

-Estamos ferrados.

E na hora soube; estávamos realmente ferrados.

Bom, er... você não deve ter entendido absolutamente nada, então vou voltar algumas horas atrás, quando ainda não estava quase enfartando, trancada dentro de 12m²:

Sexta-feira, 24 de outubro. 18:06.

-Então... como estou?! – perguntei esperançosa para Bruna, que me aguardava tediosamente em seu quarto.

Quando ela tirou os olhos de seu Black Berry sua expressão mudou de moderadamente irritada para raiva numa mistura de susto.

-MARIANA! Você me fez esperar em torno de meia hora para me mostrar isso? – exclamou, se levantando do pufe rosa que tinha em seu quarto.

-Não esta tão ruim assim!

-Tão?  Irmã, você me vem com esse seu jeans rasgado, sandália de couro e a camisa da mamãe. Sim. Está tão, mas tããããããão ruim assim.

Pois é, Bruna consegue ser malvada quando o assunto é Roupa Que Não Combina.

-Por que não tenta um sapato diferente e, Pela-Mor-De-Deus, uma camisa  diferente?

-Porque você magoou meus sentimentos!

Ela revirou os olhos e me empurrou para o banheiro outra vez. Enquanto me trocava e tentava descobrir o que havia de errado com a camisa de mamãe, Bruna começou a tagarelar:

-É uma benção que mamãe não está aqui, senão te convenceria de que essa roupa ficou legal em você...

-BRUNA! – gritei do banheiro.

-Desculpa! Mas é a verdade! – do nada ela se calou. -Falando em verdade... tenho que te confessar algo.

Instantaneamente, coloquei a cabeça para fora da porta de vidro verde.

-Mamãe ligou ontem à noite avisando que talvez demore mais, ahn, er... – Bruna baixou a cabeça, e por um momento pensei que ela se sentia culpada por continuar a frase. – Bem... uma semana para voltar de viagem.

Voltei para o mini W.C.

-Sem problemas – respondi. – Mas por que tanta demora?

-Ah, você sabe. Faz uns três meses que papai não paga pensão para mamãe, então como ela estava perto de Chicago decidiu fazer uma visitinha para cobrar dele.

Ah, a tal da pensão. E... papai. Relembrando, parece que foi ontem que Bruna e eu tivemos a maravilhosa notícia de que nossos pais, o que era nossa base de casal perfeito, iriam se divorciar. Embora isso já faça cinco anos e eu nem me lembre mais das feições de papai, ainda me lembro de como é frustrante uma garotinha de 11 anos (quase 12) ver a irmã de 9 chorar metade do Oceano Atlântico. E também como é doloroso não saber o que dizer para ajudar.

-Ah – foi o que disse no final.

Saí dos 10m² de azulejo branco e apareci na frente de Bruna com outra troca de roupa.

-Tadaaaa! O que achou?

-Humm... – me olhou cautelosamente de baixo para cima. – sandália aprovada, troque esse jeans pelo branco e... MEU DEUS! O QUE ACHA QUE ESTÁ FAZENDO COM ESSA CAMISA?!

Olhei para a batinha azul petróleo e rodada que achara no banheiro de Bruna.

-O que tem de errado com ela? É legal.

-Eu sei que é legal! – disse. – Porque Johnny me deu.

Bruna veio até minha pessoa com o indicador apontado para o banheiro.

-Se essa roupa estragar ou qualquer outra coisa minha alma estraga junto com ela! Então, por favor troque-se já!

-Me poupe, Bruna. Sou mais velha que você, e bem mais  responsável. Acha que vou estragá-la?

-Foi isso que você disse da ultima vez que emprestei meu jeans para você – ela estendeu um jeans cortado profissionalmente em forma de shorts por mim. – E olhe o desastre!

-Estava calor! – protestei. – E ficou bonitinho!

-Tem fiapos saindo dele até hoje. Mas, tanto faz! Se troca!

Fui brutalmente empurrada de volta para os 10m². Ugh. Se eu soubesse que pedir para minha irmã ajudar no que vestir resultaria em trocar de roupa várias vezes, teria pensado uma segunda vez. Havia trocado a calça, mas ainda precisaria de algo para a parte superior. Aquela bata caiu tão bem em mim... Hmmm... E eu não tenho ideia do que vestir... E a camisa já está em mim... E talvez a camisa da mamãe seja mesmo horrenda... O que me deixa sem opção... Hmmm... Então...

Engoli ar. O que estava prestes a fazer era incrivelmente arriscado, pois Bruna é extremamente atenciosa com suas roupas, ainda mais se é uma de “Johnny”. A relação entre eles parece bem mais séria agora, e se eu estragasse a camisa...

Peguei meu casaco vermelho e cobri a bata. Ela nem repararia que a blusa estava em mim. Ou sim...

Vá logo antes que perca a coragem! ordenei a mim mesma.

Saí apressadamente do quarto.

-Ah-há! – gritou minha irmã mais nova, apontando para minha costas.

Ahhh! Sabia que não daria certo!

Cautelosamente, virei meu tronco para ela.

-E-eu posso explicar...

-Explicar o que?! Sabia que esse jeans ficaria bem melhor! E o casaco? Está tudo incrível! E olha que nem fui eu quem escolheu.

Ufa.

-Ah, he-he. Que ótimo que gostou. Bem, agora... eu tenho que ir!

-Antes, - Bruna abriu os braços e correu em minha direção. – me dê um abraço!

Fui esmagada por uma adolescente que nem fazia ideia que foi roubada.

-Ok, Bruna. Já deu! Thiago está me esperando...

-Ah, e não se esqueça da técnica com o cabelo que te ensinei! Isso faz qualquer um cair em seus pés.

-Beleza! – falei já saindo. – Não me esqueço!

-E em relação ao filho do presidente...

-Ele tem namorada!

-Detalhe. Mas não se esqueça do cabelo!

-Argh!

Finalmente, saí de casa.

Próximo passo; humilhação pública.

...

Sexta-feira, 24 de outubro. 19:13.

Thiago se comportou, outra vez, como se tudo aquilo fosse completamente norma. O que me deixou com muita  raiva dele. Qual é? Que tipo de problema ele tinha? De qualquer jeito, já havíamos chegado à Espagork, e eu rezava pelo amor de Deus para que Matheus e Jessie tivessem tido algum probleminha grave, como errar o caminho e ir para o Canadá sem querer ou algo assim, e por esse motivo não pudessem vir.

Porém, assim que coloquei o pé dentro do estabelecimento avistei a cabeleira cacheada e os olhos verdes do filho do presidente, ao seu lado a cabeleira loura de uma britânica.

Praguejei todos os palavrões possíveis ao perceber que Matheus pareceu nos ver também, o que significava que era tarde demais para voltar para casa.

Matheus focalizou os olhos em mim, e por um instante nossos olhares se cruzaram.  E no mesmo instante meus dedos se entrelaçaram nos de Thiago.

Meu melhor amigo olhou confuso para os nós brancos de meus dedos.

Pensei que quando ele abriu a boca diria algo que colocasse minha mentira em risco, porém tudo o que desembuchou foi:

-Eu sei que você me ama, mas não precisa apertar tanto.

Nossa. Tomara que Matheus tenha ouvido.

Forcei uma risada para Thiago, e Matheus bufou.

Chegamos à mesa redonda avermelhada que o casal Sr. Cachinhos e Sra. Sotaque Legal estavam, e lancei um sorriso apaixonado para meu “parceiro”.

Um sorriso falso, valeu?

-Oi, Mari! – se manifestou Jess. - E... ahn, qual é mesmo o nome de seu na...?

-T-thiago – me apressei, antes que ela terminasse a última palavra. – Ahn, Thiago, Jessica. Jessica, Thiago. E... – essa seria a melhor parte. – Thiago, Matheus. Matheus... – abracei com força o corpo de meu melhor amigo. - ... este é Thiago.

Matheus lançou um sorrisinho sem graça para Thiago e apertou sua mão.

Sentei e logo já conferi o cardápio. Espaguete com molho vermelho... Espaguete com molho branco... Espaguete com molho de alcachofra... Espaguete e frango... Espaguete com jujuba (o quê?)... Espaguete a lá macarrão (não me pergunte) ... Espaguete, espaguete, espaguete, e espaguete.

Cara, não é a toa que isso se chama Espagork.

-Nossa – murmurou Thiago ao meu lado. Encostei minha cabeça em seu ombro e olhei para seu cardápio. Ele me encarou por dois segundos, o que me pareceu uma eternidade, até que finalmente disse: - Nunca vi espaguete ser servido com lagosta e molho de alcachofra.

-Ah, esse é o especial do dia! – exclamou Jess à nossa frente.

-Se é especial, é bom... certo? – perguntei.

-Sei lá – se intrometeu Matheus. – Acho que devia experimentar, especialmente o molho de alcachofra. Na foto ele parece bem atraente.

Tradução: Sei lá. Acho que devia experimentar, porque se não for bom pelo menos não será eu ou minha namorada que iremos passar mal e ser vítima de humilhação pública. A propósito, o molho de alcachofra parece bem ruim, com todos esses pedacinhos marrons flutuantes no liquido verde musgo que parece vencido. Por que não come esse também?

-Não, valeu. O espaguete com frango parece melhor.

O filho do presidente se recostou em sua cadeira e suspirou. Não... ele bufou. Só aí é que percebi que continuava grudada em Thiago.

E peguei sua mão.

E na mesma hora me arrependi.

-Meu Deus – fingi estar surpresa. – S-sua mão está... limpa! Isso não é coisa que se vê todo dia.

Jess e Thiago soltaram uma risadinha.

Um garçom de bigode engraçado veio até nós, e com o sotaque mais forçado do mundo perguntou “O que querrrem?”.

Quero que você tire seu bigode, pois suponho que é falso também, pensei.

Jess pediu o “Espaguete de dois molhos”, Thiago “Espaguete de soja”, eu “Espaguete e frango” e... meu caro amigo Sr. Cachinhos:

-Eu quero o especial do dia, com duas lagostas grandes e dois potes de molho de alcachofra. Um para mim e outro para minha amiguinha.

Isso é o que chamo de veado.

-Com cerrrteza. Irrrei trrrazerr seus pêdidos logo. Salut.

Até eu sei que salut  é olá  em francês. Sinceramente, nunca presenciei cópia tão fajuta de francês. De qualquer jeito, o garçom se afastou e lancei um olhar apertado para Matheus.

-Então... diga-nos mais sobre você e Mari, Thiago – começou ele, colocando o braço por volta dos ombros de Jess. – Quando se conheceram?

-No colégio, há sete anos atrás.

-E desde lá já eram apai...?

-Amigos! – cortei-o. – Isso mesmo! Desde sempre! E-e você e Matheus, Jess? – me apressei antes que o filho do presidente abrisse a matraca de novo.

-Bom... quando fui visitar minha tia Clarrie, que é nova-iorquina. Ela me levou para sua escola de artes e, tadá! O conheci.

Há-há, engraçado, pensei, Clarrie tipo a McLoucaDonson.

-Sua tia tem o mesmo nome que nossa professora de desenho – comentei, e depois comecei a rir. – Só que a diferença deve ser que sua tia não é extremamente alienada  igual nossa profes...

-Hmm, Mari – interrompeu-me Matheus. – A tia de Jessie é  nossa professora.

-O QUÊ?!

Caí o tronco para frente em um movimento desengonçado que fez com que a mesa de vidro verde-oliva tremesse. Por sorte, Thiago segurou meu ombro esquerdo, me fazendo não bater testa com testa no Sr. Cachinhos.

-É... – assentiu Matheus, escondendo os olhos com a mão. – A McDemais.

-O-olha, Jess, meudeusopaieunãoquisdizerissodasuatia!

Ela poderia não ter me olhado mais na cara, ter me ignorado, ter cuspido em minha face ou qualquer coisa do tipo por ter chamado sua tia louca de alienada. Porém, não. Ela apenas riu. Isso mesmo. Riu. E foi uma risada sincera, entende? Tipo, não foi uma risada “háháeuteodeio”. Foi mais para “háhátudobemterchamadominhatiadealienada”.

E é essa mais uma de minhas pistas de que Jess na verdade é um robô, não uma adolescente normal.

-Ser professora de artes te deixa meio “louca” mesmo – concordou. – E ainda mais, ela tem todo um estilo próprio.

Matheus tirou a mão dos olhos e abriu um sorrisinho.

-E tem um peixinho chamado Marrie 2, já que o primeiro morreu.

Os três (Jess, Matheus e Thiago) começaram a rir, menos eu. Porque me lembrei de ser assimilada a um peixe defunto no meu primeiro encontro (imprevisto e nada agradável) com Clarrie McDemais.

-Então... – fiz uma pausa para raciocinar direito. – é por isso que Clarrie sempre te elogia?! – mandei, apontando para Matheus.

-Ei, qual é! – replicou. – Isso é porque sou bom.

-Há-há. – ri sem emoção, e depois murmurei: – Aquela sua caixa de leite não chegava aos pés da minha.

De repente, um homem bateu com força as portas do banheiro e, batendo os pés, foi em direção ao garçom de bigode falso. “ONDE ESTÁ O GERENTE DESSA ESPELUNCA?” gritou o cara. Nem preciso mencionar que ele estava bravo. O francês fajuto apontou cautelosamente para sua esquerda, onde o cara enfezado seguiu praguejando até o gerente. “ACHO QUE COM TODO O DINHEIRO QUE GANHAM AQUI, PARTE PODERIA SER DESVIADA PARA ARRUMAR A piiiiiiiiiiii DA PORTA DO BANHEIRO! QUASE QUE FICO PRESO DENTRO DAQUELA piiiiiiiii! NUNCA MAIS VOLTO PARA ESSA piiiiiiiiii! E NÃO VOU PAGAR MEU JANTAR! ADEUS, SEUS piiiiiiiiiiiii, piiiiiiiiiiii, piiiiiiiii!”.

Batendo os pés, outra vez, foi até a porta de saída e a bateu com força.

O garçom de bigode colado á fita durex  correu até a porta e mandou um “VOLTE SIÊMPRRRE!”.

Em resposta teve um “VÁ SE piiiiiiiii!”.

Olhamos uns para os outros.

-Nossa – soltou Thiago. – Ele não estava em um bom dia.

Nosso garçom voltou para nós, agora com as comidas no braço. Os quatro olhavam curiosos para ele, esperando alguma resposta, porém ele só disse:

-Dia rrruím.

-Péssimo – concordou Thiago.

Enquanto o Bigódão colocava nosso pedido na mesa, dei um chute na canela de meu melhor amigo.

-Ai.

-Pardon, o que aconteceu? – perguntou Jess.

O garçom olhou nervoso para o banheiro e depois voltou o olhar para Jess:

-O prrrédio é velho, e a porrrta do toalete está falhando.

-Ou seja... – Thiago o encorajou a terminar.

-Ou seja, - continuou. – a trrranca da porrrta deve estarrr querrrbada!

(Nota mental: oferecer ao garçom o telefone de alguma professora de francês e não entrar no banheirrro de jeito algum)

Jess agradeceu ao garçom pela comida e então ficamos os quatro a sós. Ou melhor, nós quatro e mais duas lagostas gigantes que me encaravam seriamente.

-Ahn... Thiago - chamei, ainda encarando assustada a lagosta.

-O quê?

-É impressão minha ou as duas estão nos observando?

Em um suspiro, Thiago se virou para o prato de espaguete.

-Elas estão mortas, tá tudo bem.

Essa seria a hora perfeita para ele pousar seu braço sobre meus ombros e dizer “E eu estou aqui, nada vai te acontecer” para ficar claro ao filho do presidente que meu status é “NAMORANDO” não “APAIXONADA PELO NAMORADO DA GAROTA MAIS MALVADA DO MUNDO E AINDA POR CIMA MENTINDO SOBRE SEU MELHOR AMIGO SER SEU PARCEIRO”.

O segundo status pega mal.

-Hummm, o molho de alcachofra está tão bom! – fez Matheus, bebendo uma colherada do líquido verde cheio de cubículos bege escuro. – Quer uma colher?

Olhei melhor para dentro do pote, com uma sobrancelha levantada. E posso jurar que um daqueles pedacinhos estava vivo.

-Parece mesmo bem, mas bem  atraente. Atraente para um pelicano – murmurei.

-Mari! – chamou Thiago, sorrindo. – Experimenta o espaguete – ele fez uma pausa, provavelmente esperando alguma reação minha - ...de soja! Você vai gostar.

Para ele, tudo o que se é de lactose que pode ser de soja também é simplesmente um máximo.Não que ele seja alérgico a lactose nem nada (na verdade, ele AMA queijo), apenas gosta pelo fato do governo americano se importar em fornecer alimentos de soja para quem tem alergia à leite.

Thiago me estendeu um garfo com o espaguete e aceitei. E então tive uma ótima ideia.

Com os dentes, peguei uma das pontas do espaguete e ofereci o mesmo para Thiago, que de primeira negou. “Vamos lá!” encorajei, falando com o espaguete na boca. “Como nos velhos tempos! Vai ser divertido!”.

E não estava mentindo. Nossa relação é antiga, ou seja, quando éramos crianças. Sempre quando meu pai fazia espaguete imitávamos a Dama e o Vagabundo (meu filme favorito da Disney), e na hora do beijo nos afastávamos e riamos.

Mas, qual é? Estamos mais velhos agora... hehe.

Thiago acabou cedendo, e então... voilá!

Jess nos olhava como se fosse ter a qualquer momento um “ataque de fofura”, enquanto Matheus virava a cabeça inúmeras vezes na tentativa de não olhar.

Hehe.

Primeiro: se acha que o que estou fazendo é “provocar ciúmes” você está redondamente errado. Afinal, não tenho absolutamente nada com Matheus e, dãh, ele tem namorada. “Então por quê faz isso com Thiago, Mari?” Segundo: De novo implica no ciúmes, o que não tem NADA A VER. Eu estou apenas aplicando meu papel criado pela minha mentira, o que é totalmente aceitável, pois assim Matheus não tenha de vir de me julgar. Não que eu acha que ele é esse tipo de cara. Não, nem pensar. É só que... sei lá. Como se Matheus fosse Liam Pettyfer (o que sei que não é, pois Matheus pelo menos se lembra de mim): Cara legal, engraçado, desafiante e de aparência bem, mas bem boa. Tipo do cara popular, certo? (e não estou falando pelo fato de ser filho do presidente). E, tipo, a soma é simples: CARAS POPULARES + EU = nunca. Embora ainda tenha esperanças com Liam, porque sei que nossa soma é AMOR INCONDÍCIONAL E PERFEITAMENTE FOFO. Ou seja, o simples fato dele ser popular não se encaixa comigo, porque eu NUNCA SUPORTEI SER O CENTRO DAS ATENÇÕES! Então, só para deixar claro: EU + MATHEUS = Never ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever ever. Obrigada.

Num piscar de olhos, Thiago e eu estávamos na mesma distancia em que estávamos terça, ou seja… MUITO PRÓXIMOS.

“Calma, não é hora de entrar em pânico!” disse a mim mesma. “Apenas, vá fundo!”.

Fechei os olhos e... plim.

Isso.

Sinceramente, acho que tamanha descrição não dá para descrever o que senti na hora, porque, desta vez, pensei que iria derreter.

Eu não estava tensa por pensar que Thiago poderia confundir as coisas, pois na verdade, encarei-o como o encarava pela primeira vez em dias; um cara legal, meu melhor amigo. Assim, de verdade.

Quando nossos lábios se tocaram senti um tremor pelo corpo inteiro. O beijo foi na boca, nada de “impróprio”. Foi firme e “quente”, no bom sentido, me deixando um desejo no fundo da alma de “quero mais”.

Digo que ele foi cruel fazendo isso.

-Awwwwwwwwwwwn – fez Jess.

Abri os olhos, e automaticamente, eles se encontraram com os de Thiago. Verdade? Minha vontade era de pular nele e beijá-lo. Tipo, para me aprofundar no estudo de línguas.

Contrai o pulmão para disfarçar minha respiração ofegante, porém sabia que enquanto continuasse olhando para Thiago continuaria desse jeito.

Me virei. E meu estomago borbulhou.

“Ai” gemi baixinho. O que estava acontecendo?

-Então - mandou Matheus, caindo o tronco pesadamente para minha pessoa, com o garfo e faca nas mãos. – Agora  tem tempo para o molho de alcachofra?

-Matheus... – falei tentando manter a calma, minha respiração, e a dor pungente de minha barriga. – Por que não dá para Jess?... sua namorada. – acrescentei.

-Ah, eu já experimentei! – disse ela, de boca cheia. – E está uma maravilha!

-Ouviiiiiiiiiiiiu? – disse, voltando o olhar para mim.

-Eu estou ótima. Não preciso de alcachofra.

-Sabia que ela é ótima para a saúde e ajuda na perda de glicose?

-Matheus, não.

-É lógico que não.

-O que?

-É lógico que você não quer.

-Como assim?

-Não aceita opiniões.

-É lógico que aceito.

-Então por que não quer o molho?

-Porque não estou a fim! Consegue entender isso?

-E eu consigo. Consigo entender que não aceita opiniões, igual quando disse que Jessie era legal demais em meu apartamento.

-Espera... você foi no apartamento dele? – perguntou Thiago, entrando na conversa.

-Disse que sou legal demais? – fez Jess.

-AGORA NÃO! – gritamos Matheus e eu juntos.

Do nada, no silêncio desconfortável que havia se formado depois, Fingerprints de Katy Perry começou a soar de meu bolso. Na tela de meu smartphone aparecia a foto de minha irmã mostrando-me a língua, com as sobrancelhas arqueadas.

-O molho parece bem, ahn... tentador. Mas, agora tenho que atender – fiz um sorrisinho sem graça e depois saí correndo da mesa. – O QUÊ É?

-Nossa, esse é jeito de atender o telefone? Tenho certeza de que mamãe não te ensinou ass...

-Bruna, estou no meio de uma discussão muito decisiva com Matheus, então quer desembuchar logo?

-Ok, então... a técnica do cabelo funcionou com o filho do pres...

-NÃO!

De repente todos do Espagork me olharam.

-Ahn, er... não coloque o barbecue junto do frango! – apontei para a mulher a minha frente, que me olhava espantosa. – Fica horrível. Então, er... tchau!

Corri de lá e me escondi sorrateiramente atrás de um vaso de planta.

-Ahn... não, Bruna. O que mais tem para contar?

-Bom, Johnny me convidou para sair, de novo!, junto de... tâ, tâ, tâ, tââââ!... Liam!

-Ah. Me ligou para esfregar na cara que vai ir à um encontro à três com Liam?

-Não! Liguei para dizer que o encontro é hoje! Agora! Aí!

-O quê?

-É!

-Não!

-O que?

-Não pode ser aqui! Não agora!

-Por quê?

-Porque estou com Matheus e Thiago aqui! Como posso falar com meu futuro namorado enquanto estou com o meu de mentirinha aqui e um que não larga meu pé!

-Relaxa! Tudo vai dar certo. Ah, e quando eu chegar aí...

Não tinha me tocado, mas ainda estava com a bata de Bruna! Quando ela viesse para cá veria que a peguei!

-... você poderia usar a técnica do cabelo com Liam! Seria perfeito!

-B-bruna...

-Alias, se lembra onde colocou a minha bata? Não consigo achá-la...

-SHHHHHHHHHH, CHAAAAAAA, TCHUTCHCTCHCT, Oh meu Deus! A ligação está falhando! TTCHCTCTCHTCH, SHHHHHHHH, tenho que desligar! Tchau!

-M-mas...

-ADEUS!

Pesarosamente, levantei de meu forte. Deus, eles não podiam  vir para cá!

Voltei até nossa mesa com passos pesados.

-O que foi? – perguntou Jess.

Peguei uma das lagostas gigantes e apontei seus olhos para a cabeleira loura.

-Hoje não é um dia muito bom – falei como se fosse a lagosta. – Minha amiguinha precisa de um chá de camomila.

-Ou... apenas molho de alcachofra – mandou Matheus.

Respirei fundo e bufei.

-BELEZA. Já que é tão importante para você, me dá esse pote.

Ele soltou um sorrisinho agradecido e me deu o pote.

Desconfiada, peguei a colher cautelosamente e a mergulhei dentro do líquido verde esquaroso.

Velocidade 0.2 por hora fui movendo o braço, até ficar cara a cara com aquela colher fedida.

-Ahn... quando você quiser – disse Matheus.

Mostrei a língua à ele, então voltei para a colher da minha frente.

Respirei fundo (por volta de 5 minutos) e engoli aquilo com cara de sofrimento.

Que logo foi se mudando para uma cara confortável.

-Nossa! – exclamei, surpresa. – Esse trosso é ótimo!

-Eu disse – fez Matheus, com um sorriso satisfeito no rosto.

De repente, a sensação de borbulho invadiu-me outra vez.

-Oh-oh.

Saí correndo de meu assento para o banheiro. A jornada foi horrível, pois acabei tropeçando francês fajuto, deixando-o sem bigode, derrubando alguns espaguetes e, a pior das coisas, derrubei molho na camisa proibida.

A camisa de Bruna.

A camisa que se estragasse levava sua alma junto.

AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! Droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga.

Fui direto para a pia do toalete, respirando fundo inúmeras vezes para tentar melhorar. Por sorte, não vomitei. Levantei a cabeça e dei de cara com uma garota descabelada, com um bigode colado na bochecha, uma lagosta em seu jeans e uma bata azul petróleo muito legal com uma mancha horrível bem no centro.

Apenas depois de uns dois minutos que processei que aquele era meu reflexo.

EU ESTAVA HORRÍVEL! AHHHHHHHHHHH! Droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga, droga.

-Ei, Mari! – chamou Matheus. – Posso entrar?

-NÃO!

-To entrando!

O filho do presidente entrou no banheiro e quando me avistou olhou-me como se fosse uma mendiga que tomou banho de manteiga, foi para a Índia conversar com vacas e que voltou. De tanto não aguentar minha horribilidade gritou feito garotinha e saiu correndo.

Tá, tudo bem. Talvez isso não tenha acontecido. Na verdade, quando Matheus entrou não demonstrou nenhum tipo de susto ao me ver. Ficou normal, ou melhor, veio correndo até mim e limpou o canto de minha boca.

-O que aconteceu? – perguntou, sem tirar os olhos de minha boca.

Para limpá-la.

-Sei lá, - falei, com a visão meio turva e estomago revirando. – eu só... to passando muito mal.

Quando o Sr. Cachinhos parou de limpar minha boca, um contato visual enorme começou entre nós.

Tipo, enorme mesmo.

-Está melhor? – mandou.

-Ahn... eu... er...

-JOHNNY! QUE LINDO!

Droga.

A voz de Bruna ecoou nos meus ouvidos como se fossem aquelas penas de travesseiro, que te fazem tremer no fundo da alma.

Corri para a porta do banheiro e, então... abri.

Essa parte você já sabe. Porém, se esqueceu-se, aqui vai:

Segurando com as duas mãos a porta do W.C, com uma lagosta mordiscada em meu jeans  branco, um bigode colado em minha bochecha e a camisa proibida empapada de molho vermelho (do que mancha pra valer). E,como isso já não bastasse, minha irmã olhava para minha cara com espanto, segurando um anel. Jess e Thiago olhavam confusos para as portas e, por fim, eu estava olhando boquiaberta para os olhos cor azul-super-mega-sensual de Liam Pettyfer. Sim. Liam Pettyfer. Ele estava mesmo aqui. Ou seja, minha vida tinha mesmo mudado o status de: APAIXONADA PELO NAMORADO DA GAROTA MAIS MALVADA DO MUNDO E AINDA POR CIMA MENTINDO SOBRE SEU MELHOR AMIGO SER SEU PARCEIRO para DESEJANDO ESTAR MORTA. Uma sensação de tontura começou a invadir todo meu ser outra vez. Senti meu interior queimar. Respirei fundo na tentativa de melhorar, porém tudo o que consegui foi gemer um “Droga de molho de alcachofra” e sair correndo para o vaso sanitário, empurrando o Sr. Cachinhos e deixando a porta velha bater com força.

Barulhos de chutes se sobressaíram em meio ao meu vomito, o que me deixou MUITO preocupada.  Depois, a voz cansada de Matheus disse a temida frase:

-Estamos ferrados.

E na hora soube; estávamos realmente bem mais do que ferrados.

Fomos trancados no banheiro.


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