A Vida de Uma Garota Nada Popular escrita por Lu Carvalho


Capítulo 12
A Arvore de Cabelo Fedido


Notas iniciais do capítulo

Vejam o traiiler!!!! Este é o link => http://www.youtube.com/watch?v=2lz0qd1d3ds&



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Fiquei sem reação. Havia umas quarenta câmeras apontadas para minha cara. Sabe qual fora a única vez em que isso aconteceu? Quando eu tinha 12 anos numa apresentação de teatro de O Mágico de Oz! E os flashes não eram todos meus, já que fazia o papel de árvore!

-Ah... Er... Qual foi a pergunta?

Todos começaram a rir, provavelmente pensando que era uma piada ou coisa do tipo.

Mas... era só o despero falando.

-Mari, eu te amo! – gritou alguém no meio da multidão.

-Ah, er, valeu.

-Me dá um autógrafo? – gritou histericamente um cara de uns quarenta anos a minha frente, (na camisa uma foto da minha carteirinha de estudante estampada), me estendendo uma caneta.

-O que é tudo isso?

-Dê uma olhada na manchete! – exclamou Bruna, estendendo-me um jornal da The New York Times.

Na mesma hora em que li meu queixo caiu:

NOVO ORGULHO DO PAÍS! GAROTA DE DEZESSEIS ANOS SALVA PRESIDENTE DE UMA LADRA DE QUEIJO!

E havia outra manchete na revista Seventeen, essa mais chocante:

A MESMA QUE SALVOU O PRESIDENTE FOI VISTA SAINDO COM O PRIMEIRO-FILHO!

E, não bastando só essa, tinham várias outras! Algumas tipo O PRIMEIRO-FILHO ESTÁ NAMORANDO A GAROTA QUE SALVOU SEU PAI! ou SERÁ QUE O PRIMEIRO-FILHO ESTÁ DE NAMORADA NOVA? e coisas do tipo.

Ótimo. Nem completei 17 e minha vida já começou a acabar.

-Então, Mariana! Como foi salvar o presidente? Ou melhor, isso não importa, como está seu namorado?

Uma vermelhidão começou a se formar em meu rosto. Queria que houvesse um buraco bem debaixo de mim para colocar a cabeça, então esse buraco chegasse na China, e lá eu usasse um documento falso com o nome Rebecca Nortigham Kong e diria que tenho descendência alemã e por isso não posso namorar ninguém!

Ótima ideia. Mas segundo os engenheiros não é possível que um buraco dê para a China, então preciso pensar em outra saída.

-Ah... É... Uh... Hã?

-Ela quis dizer que não pode dar entrevistas agora, - interferiu Bruna. – ela precisa ir assistir à aula de matemática. A não ser que vocês conversassem com a diretora...

-Bruna!

-É... deixa. Só desinfetem daqui! Vamos! Xô, xô! – fez Bruna, os afastando com as mãos.

-Só queremos uma palavrinha com a nova sensação da América! – protestou a repórter.

Nossa, que honra! Eu sou a nova sensação da América, yupi!

-Mas não vão ter! Vai, xô!

Quando me dei conta, havia mais de duzentas pessoas na entrada da escola ou querendo me ver ou querendo entrar logo no colégio.

Ou aquelas que nem sabiam direito o que estava acontecendo e queriam logo sua mãe. Eu era uma delas.

Mesmo com todo o esforço de Bruna ninguém ia embora. Uma hora ela olhou para mim e fez um sinal de “Foge” com a cabeça, então, sorrateiramente, fui desaparecendo da multidão. Quando finalmente cheguei dentro do colégio estava tudo vazio. Provavelmente ninguém conseguiu entrar já que, você sabe, aconteceu um engarrafamento no portão por minha causa.

Fui direto ao meu armário e o abri. Peguei minha bombinha reserva e comecei a respirar desesperadamente. AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! EU SOU UMA GAROTA DE QUASE 17 MORTA! Sabe, é bem legal que me tenham como A GAROTA QUE SALVOU O PRESIDENTE, porque isso é uma coisa legal. Entende? É patriótico. Mas, agora, ser conhecida como A NAMORADA DO FILHO DO PRESIDENTE é outra coisa. O que a Jessica vai pensar quando ver a capa da revista Seventeen? Acho que ela vai deixar a gentileza de lado e mostrar quem é que manda, e eu sinceramente não quero que isso aconteça. AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!

-Mari!

Droga.

Cautelosamente fui virando até ficar cara a cara com Thiago.

-O-oi.

-Por que não me contou...?

-Olha, foi tudo muito rápido! Quando eu menos percebi era quinta e eu estava matando aula! Dei um passeio na Times Square, acabei sendo presa, depois meio que salvei o presidente, então fui pro hospital, e aí...

...fui para a casa de Matheus e descobri que ele tinha namorada, e talvez tenha acabado citando que eu e você estamos juntos. Agora, estou na capa de umas quinhentas revistas como A NAMORADA DO FILHO DO PRESIDENTE. A propósito, temos um jantar para ir hoje à noite. CARA, EU TO PIRANDO!

Eu quase soltei isso. Mas, acho que esse não seria o modo mais adequado para dizer isso a ele.

-E aí você voltou para casa e agora deu de cara com vários repórteres – chutou Thiago.

-É. Sim, sim – concordei. – Isso mesmo.

-Bem... Você deve estar pirando.

-Mais ou menos isso.

-Deve estar querendo fugir para a China

-E usar um documento falso – assenti.

-Pois é... seu caso é complicado.

-Thiago, – chorei. – preciso de sua ajuda! O que eu faço?

-E-eu não sei! Por que não usa um disfarce? Assim ninguém te percebe, então você vai ter um tempinho para pensar no que fazer com as câmeras.

Na verdade, eu não estava perguntando sobre a atenção da America focada em mim, eu estava perguntando sobre o fato de Matheus e eu sermos dados como namorados e ainda ter que convidar o Thiago para jantar.

Pensando assim, é. A China não parece mais ideia ruim.

-Ta, onde eu acho um disfarce? – perguntei.

Ele me olhou com um sorriso divertido, que acho que pela primeira vez me pareceu tão bonito quanto o de Liam.

Uma peruca loira, a camisa rosa mais estranha do mundo e uma jaqueta branca. É essa a ideia de disfarce que Thiago tinha. Ele havia pego toda essa tralha no camarim do teatro, o que eu fui super contra, até quando ele me deu um pirulito. Então eu decidi aceitar.

-Você ta irreconhecível – garantiu Thiago.

-Valeu, mas acho que isso não ajuda muito.

-Como não?

-Thiago... – estava pensando seriamente em contar para ele sobre o jantar, que ele tinha que agir como meu namorado e tal. Mas, e se de repente ele confundisse as coisas? Sabe, eu ainda quero que sejamos apenas bons amigos porque eu ainda sou apaixonada pelo Liam. Então entrei nesse dilema; conto ou não conto? Ou... – você é meu melhor amigo, não é?

Ele fez que sim com a cabeça.

-E... vai entender o que vou te falar agora, certo?

Assentiu com a cabeça de novo.

-Beleza... então... é... quer ir no Espagork hoje a noite comigo? – falei incrivelmente rápido.

-Ah, ta bom – disse. – Te pego que horas?

Ok... Isso foi fácil demais.

-Sete.

-Certo.

-Ah, e... dois amigos meus vão também, beleza?

-Sim.

-E...

-O que?

Quase que eu digo “Não se esqueça de fingir ser meu namorado, beleza, camarada?”, mas então disse:

-Vá com aquele seu jeans rasgado. Ele é legal.

Ele deu um sorriso e disse:

-Ok. Te vejo no final da aula, agora eu tenho que dissecar um sapo.

-Arrebenta.

Ele riu um pouco, então saiu do quarto do faxineiro, onde estávamos escondidos.

Beleza. O que foi isso? Isso foi meio que um convite para um encontro, e ele se comporta tão bem perante a isso? Oficialmente, Thiago tem um problema. Tudo bem que já o convidei para muitos lugares muitas vezes... mas, qual é? Dessa vez foi diferente! Dessa vez era como parceiros, tipo, mais do que amigos! Tudo bem que é de mentira e só por uma noite, mas... mas... é diferente do mesmo jeito! Eu não estava o convidando em mente que era apenas o Thiago, o meu melhor amigo desde sempre, meu amigo e só isso. Nada mais. Quando eu disse sobre a Espagork minha mente processava que eu estava falando com Thiago, um garoto, o mesmo que me beijou uma vez, o que percebi que é legal demais e que talvez eu tenha algum sentimento. Por isso é que ele tinha de se comportar como se aquele convite não fosse só mais um entre nós. Mas, tudo bem. Pelo menos eu o convidei. Isso mesmo, convidei ele para minha provável humilhação pública e totalmente comprometedora na frente do nada mais nada menos que o filho do presidente. E sua namorada. MEU. DEUS. Eu ainda não tinha me tocado. Matheus estaria com Thiago no mesmo recinto. Ele vai saber na hora que ele não é meu namorado!

Droga, droga, droga, droga. Thiago não sabe atuar, eu havia me esquecido disso. Quando tínhamos doze anos ele recebeu o papel de O Homem de Lata, e quando foi apresentar, vomitou no palco. Cujo lugar era na folha de uma árvore, ou seja, NO MEU CABELO!

Droga, droga, droga. Matheus. Droga, droga, droga. Thiago. Droga, droga, droga. Eu. Droga. Meu cabelo. Meu pobre cabelo. 


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