Outubro chegou e tempos bons se abrangeram sobre nossas vidas. Os seguidores de Voldemort estavam em números cada vez menores e a proporção era acabar tudo de uma vez. Estava se tornando arriscado ficar do lado dele, sendo que o nosso lado estava tão fortalecido.

Nada poderia estar melhor.

Eu sorri encarando o meu marido, que dormia serenamente ao meu lado na cama. Nós havíamos nos mudado para uma casa maior e com mais estrutura para nos abrigar do que a que nós estávamos há alguns meses atrás.

Fomos morar no pequeno vilarejo de Godric's Hollow.

Eu encarei o teto branco.

Não conseguia compreender o rumo que a minha vida havia tomado. Primeiro eu passo nove meses desacordada, vivendo em um mudo paralelo do meu subconsciente, então eu acordo e encaro a realidade nem um pouco amigável. Me apaixono, se é que é possível, ainda mais por James. Nós começamos a namorar e tudo parece estar bem, então, algum tempo depois, uma catástrofe, a perda dos nossos pais, nos atinge. Passamos meses sem rumo. Então vem bonança. Eu sorri novamente.

Aquele ditado trouxa "Depois de tempestade vem a calmaria" explicava perfeitamente o que eu vinha vivendo.

Sorri.

Considerando quem vivia nela, aquela casa estava muito silenciosa, mas podia ser explicado pelo fato de ser muito cedo. Após muitas discussões, resolvemos morar todos juntos, como uma familia: Eu, James, Lethícia e Sirius. E, até agora pelo menos, tudo estava dando certo entre nós.

Respirei fundo sentindo o cheiro do orvalho fresco me invadir e um sopro de vida me fazer levantar da cama. Vesti meu robe e desci as escadas, pronta para preparar o café da manhã. Me surpreendi por encontrar a porta do banheiro social semi-aberta e Leth encostada contra a parede.

"O que aconteceu?"

"Não é nada, deve ter sido algo que eu comi." Disse limpando a boca com a costa da mão. "E quanto a... Você sabe, sua menstruação?'

"Nada ainda."

"Será que vem por ai uns Harryzinhos?"

"Cala a boca!" Disse rindo. "Não sou eu que vive vomitando."

Ela levantou as sobrancelhas.

A verdade é que eu vinha tendo sintomas estranhos durante, mais ou menos, duas semanas. Minha barriga estava mais redonda e durinha e minhas calças skinny, o que me deixava mais triste, não fechavam mais no meu quadril, já havia virado rotina vomitar todas as manhãs logo depois de acordar (graças a Deus que hoje isso não aconteceu) e bem... A minha... Ah, vocês sabem o que, já estava atrasada mais ou menos umas três semanas e eu nunca atrasava nenhum dia sequer.

Eu estava simplesmente radiante com a possibilidade de estar grávida. Grávida! Eu sorri radiante para ela.

"Leth..."

"O que você acha de você fazer testes para termos certeza?"

"O quê?!"

"Digo, tem uma farmácia bem pertinho daqui e os meninos ainda estão dormindo."

"Só se você fizer comigo."

"Eu não estou grávida!" afirmou rolando os olhos.

"Me dê um apoio, então."

Ela concordou com a cabeça e subiu para o quarto, eu repeti seus passos e segui para o meu quarto. James ainda dormia na cama, na mesma posição. Eu vesti um vestido de algodão branco soltinho que ia até os meus joelhos. Leth estava me esperando na porta com um vestido quase idêntico ao meu, só que sendo de um tom azul e mais colado ao corpo. Nós pegamos as chaves do carro e rumamos para a farmácia.

Não era uma farmácia convencional. Era uma totalmente de bruxos e os testes, portanto, eram completamente diferentes. Eles apontavam o sexo, quantos meses e quantos bebês você estava esperando. Era bem avançado e não havia chance para erro algum. Novamente senti como se não pudesse acreditar. Quem grávida, eu? Não é possível! Eu ri da minha ironia, fazendo ela me olhar com a testa enrugada. E ri novamente, hoje eu havia acordado com um bom humor maravilhoso.

A farmácia ficava a apenas trinta de minutos de casa, mas parecia uma eternidade enquanto não chegávamos; Os minutos se arrastavam lentamente.

Finalmente chegamos! Eu suspirei aliviada, soltando o ar, que até então eu não tinha notado que estava preso. Como precaução, trouxe minha varinha bem apertada na minha mão, deixando os nós dela aparentes, um nervosismo me tomou. E se eu estivesse grávida? James aceitaria numa boa? Ou recusaria o bebê? Eu duvidava da última opção, porém tinha que ser considerada.

James havia amadurecido muito durante esse tempo, seu passado já era algo distante. Obviamente que ele vivia de gracinhas e tentando arrancar sorrisos de todo mundo, mas isso era uma característica dele. Além de que estava ficando entediado por ficar preso dentro de casa por muito tempo, eu confesso que eu também estava pirando por causa de tudo isso. Quer dizer, mesmo que os Comensais estivessem quase sumindo, ainda tinha riscos.

Nós entramos na farmácia, a atendente nem sequer levantou os olhos. Continuou mirando suas enormes unhas vermelhas. Nós seguimos para ala feminina e procuramos por diversos testes diferentes. Saímos pegando qualquer um que nós víssemos.

Chegamos ao caixa para pagar e a mulher nos olhou incrédula. Como se pensasse: "Estão desesperadas ou o quê?" Eu ri internamente.

"Cinco galeões." Eu joguei as moedas douradas, saímos dali, jogamos as sacolas no banco traseiro e dirigimos para casa.

Mais de cem quilômetros e a adrenalina tomava conta do meu corpo. Soltei um gritinho histérico, fazia algum tempo que eu não me sentia em tanto êxtase como agora. Nós chegamos em casa e corremos direto para o quarto de hóspedes. Jogamos todos os testes em cima da cama, e ela me entregou o primeiro, e o segundo, e o terceiro. Até que ela experimentou o primeiro. E depois o segundo. Até que esvaziamos todos os sacos, restando apenas dois.

Acho que nunca fiz tanto xixi na minha vida. E todos deram o mesmo resultado: Positivo.

"Me. Fodi." Sussurrou ao pegar um dos testes que fez.

"Você..."

"Eu grávida? O quê? Não! Não pode ser!"

"Esses testes nunca erram."

Ela ficou em silêncio por um tempo, digerindo a informação. Até sorrir para mim e nós começarmos a nos abraçar, pular e gritar de alegria, estávamos felizes e era só isso que importava. Os gritos provavelmente devem ter acordado os meninos que correram para ver o que tinha acontecido, arregalaram os olhos ao ver as quantidades de testes de gravidez espalhados pelo quarto. Nós os expulsamos sem demais explicações e, por fim, fizemos os testes que diriam os meses, o sexo e quantos bebês.

Eu esperava que fosse só um dessa vez, não sei se aguento dois outra vez. E nós esperamos os malditos cinco minutos. Eu senti uma espécie de dejá-vu ao esperar por eles, a única diferença era que era a Leth que andava de um lado para o outro. Eu ri de seu nervosismo assim como ela riu do meu. A morena me encarou cética e ouvimos uma nova batida, violenta, diga-se de passagem, na porta.

"Podem nos explicar que porra é essa?" Sirius berrou do outro lado da porta.

"Cala a boca, Black!" Rebateu em mesmo tom, Leth.

Eu mordi o lábio, para evitar uma risada do biquinho de raiva que se formou nos lábios dela. Agora faltavam quatro minutos e a espera parecia inacabável. Eu me levantei do chão e me dirigi para a cama, afastei alguns testes e me joguei relaxadamente na cama macia e fofa.

"Sabe... Eu nunca nos imaginei aqui."

"Como assim?" Indagou, sem entender.

"Eu quero dizer, quando eu poderia me imaginar casada com James e ainda... Bem, esperando um bebê dele?" Sussurrei baixinho. "Quando você se imaginaria casada com Sirius?"

"Odeio quando você está certa, redhair." ela murmurou com um sorriso de lado. "Quando você disse que eu ficaria com o Sirius..."

"Ué, você também disse que mais cedo ou mais tarde eu faria "bebezinhos" com o James."

Ambas rimos.

Novamente o silêncio cobriu o quarto, fazendo um zumbido passar pelos meus ouvidos. Eu olhei para o relógio no meu pulso. Apenas um minutinho e nós descobriríamos a "verdade".

Entretanto, a verdade era que eu ainda não conseguia acreditar naquilo que estava acontecendo comigo.

Uma família se reconstruindo aos poucos de uma perda.

"Adoro o fato de nós morarmos juntas." Ela sorriu.

"Eu também." Suspirou "Você sabe que eu te amo não, redhair?"

"Eu sei, e eu te amo mais."

"Ah, não, sou eu!"

"Não, não. Sou EU!!"

"Ok, vamos parar." Leth falou franzindo a testa. "Isso vai ficar chato e estamos parecendo um daqueles casais de namorados gays."

"Você é que é chata, garota."

Nós rimos.

E, pela ultima vez, olhei no relógio. Cinco minutos passaram e nós corremos para o banheiro em disparada. Ela pegou o meu e eu o dela, nós ficamos de costas uma pra outra. E então eu olhei o teste dela, tinha um, um e a coloração estava de um azul muito escuro. Interpretei como que ela estava com um mês, apenas, e estava grávida de um menino.

"Como está o meu?"

"Bem... Tem um "um" no primeiro, um dois no segundo e tá muito azul." Ela se virou para mim. "O que isso quer dizer?"

"Quer dizer que eu estou grávida de dois meninos!" exclamei, arregalando os olhos.

"Novamente."

Eu ri.

"Acho que vamos ter meninos demais nessa casa."

"Marotos nunca são demais." Falou sorrindo travessa.

"Meus filhos nem nasceram e você já quer transformar eles em pestes?"

"Aceite a verdade." Ela maneou a cabeça em um gesto como se dissesse: 'Isso é obvio.'

"Você estão ai dentro ou fugiram pela janela?" Berrou James preocupado.

"Estamos bem aqui."

Eu destranquei a porta e permiti a entrada deles no quarto, ainda meio abismados com a quantidade de testes espalhados pelo quarto, e eles se sentaram na cama. Eu sorri cúmplice para James, que estava com uma cara fofinha de confusão. Eu abri minha boca para tentar explicar, mas ele me interrompeu.

"Você está grávida?" Ele indagou com pressa."Ou melhor, vocês estão grávidas?"

"É, estamos." Sussurrei.

"Então... Vou ser tio? E pai?" Ele continuou.

"É." Lethícia, dessa vez, falou baixinho.

Sirius a encarou descrente e ela retribuiu o olhar temerosa. James ainda estava tentando absorver a nova informação dada por nós, afinal, ninguém estava preparado para estas duas gravidezes repentinas.

Ele olhou para mim desolado, mas com um esboço de sorriso.

"Menino ou menina?"

"Meninos."

"Meninos?"

"Dois."

"Oh! Meu! Deus!" Disse, começou a rir e me girar nos braços. Eu sorri satisfeita ao ver que Sirius estava igualmente feliz, ai dele se magoar a minha amiga.

Eu ri novamente.

"Ai Pontas, fez "o" trabalho hein?" Sirius comentou malicioso, enquanto enlaçava a cintura de Leth.

"Vê se você cala a boca, Black!"

"Outch"

James me colocou no chão, contudo, eu não desconectei nossos olhares e eles ficaram cada minuto um pouco mais intenso. Então eu soltei um sorriso para James e esperei para que ele, finalmente, selasse nossos lábios para felicidade iminente. E James o fez, então, pela primeira vez, tive certeza de que nada poderia estragar nossa felicidade.

Tudo estava bem agora.