A chuva investia com força nas janelas de vidro da casa e o barulho dos trovões dava um ar sombrio para o lento amanhecer que se formava do lado de fora.

O relógio que estava na mesinha de cabeceira da cama, me informava que eram apenas cinco e meia da manhã e eu não conseguia entender porque eu havia acordado tão cedo e porque eu estava com uma sensação tão ruim.

Provavelmente algum pesadelo do qual eu não conseguia me lembrar e me deixava com os sentidos em alerta.

Rolei na cama e me levantei, enfim.

Mordi meu lábio inferior, abrindo a porta do meu quarto com bastante cuidado para evitar ruídos, pois um James dormia tranquilamente do lado oposto ao qual eu estava deitada.

Eu desci as escadas na ponta dos pés, pois ainda era muito cedo e eu não queria acordar mais ninguém. Finalmente encontrei a porta da casa e a abri, encarando a chuva que caia sem piedade. Eu adoro chuvas, elas sempre me deixam mais calma.

"Sem sono?"

A voz, que veio de de trás de mim, me sobressaltou por um instante. Porém, era apenas Sirius com um ar despreocupado e uma xícara nas mãos.

"Um pouco provável, não?"

"Obviamente, redhair." Ele riu. "Hum, mas o que veio fazer aqui?"

"Eu pergunto o mesmo." Repliquei petulante, com um sorrisinho.

"Nem vem, Lily, eu perguntei primeiro! Quer chocolate quente?"

"Nada disso, e você está me enrolando, Sr. Sirius."

Ele rolou os olhos diante da minha resposta e antes que eu pudesse dar um passo para a varanda, ele fechou a porta. Depois, caminhou tranquilamente, se sentando no sofá alvíssimo da sala.

Um suspiro derrotado saiu de meus lábios e peguei a xícara que ele havia me oferecido, aconchegando-me em uma das poltronas que faziam conjunto com o sofá.

Alguns minutos de silêncio e Sirius tornou a abrir os olhos, encarando-me dos pés à cabeça, como se quisesse me examinar.

"O quê?"

"Ah, nada, Lilica!" disse balançado a cabeça. "Apenas procurando o que o Prongs viu de especial em você."

"Me poupe, Sirius! Não é como se eu precisasse ser aprovada por você!"

"Relaxa, redhair, estou só brincando."

"Argh, suas brincadeiras são chatas, cachorro!"

Ambos riram, porém ficaram alertas ao ouvir alguns passos pesados vindos do corredor de cima.

"Hum, o que é chato?" Ouvi uma voz, rouca por ter acabado de acordar, vir do topo da escada.

Pisquei para Sirius e subi as escadas, conduzindo-o de volta para o quarto com um ligeiro empurrão. Tentando evitar, assim, perguntas extremamente desnecessárias sobre o que diabo eu estava fazendo sozinha com o Sirius na sala enquanto ele estava dormindo.

James é um pouco (lê-se: muito) ciumento e fica desconfiado muito rápido, tanto que suas sobrancelhas estavam erguidas em um olhar inquisidor, atrás de respostas.

Eu me joguei na cama, sentindo minhas costas reclamarem um pouco.

James continuava com aquele olhar, me fazendo erguer as minhas próprias sobrancelhas.

Alguns minutos depois, ele finalmente se acercou da cama, sentando-se na beirada e, depois, pegando a minha mão entre a sua, brincando com os meus dedos.

"James?"

"O quê?" disse vagamente.

"Por que você está assim?"

"Ah, nada de mais. Estou apenas esperando você me contar os detalhes que levaram você à ficar sozinha com o Sirius."

O que foi que eu disse?

Abaixei o olhar, dando uma risadinha sem graça.

"Eu acordei, não consegui dormir mais e fui para o terraço, ele estava lá e nós acabamos ficando na sala e conversando. Só isso!"

Ele fechou os lábios em um biquinho fofo, pensando se admitiria a minha resposta ou discutiria mais um pouco sobre o assunto. Acabou por ficar com a primeira opção, que era a mais lógica para tudo aquilo.

"Eu te amo, James Potter!" Sussurrei ao seu ouvido.

Ele me abraçou, comprimindo-me em seus braços, como se não quisesse me deixar sair nunca.

Eu também o apertei forte, também não queria deixar que ele saísse de perto de mim.

"Eu também te amo, Lily Evans!"

Eu escondi meu rosto no vão de seu pescoço, sentindo aquele perfume intoxicante invadir os meus pulmões. Seu corpo estava na temperatura certa e eu me dei conta de que era apenas daquilo que eu precisava para obter calma e adormecer novamente.

Em alguns minutos eu já estava com os pensamentos distantes e meus olhos cada vez mais pesados, de repente, fui acolhida por um sono profundo e sem sonhos nos braços dele.

~~

Um longo e inteiro mês havia se passado.

Parece incrível como o tempo consegue passar extraordinariamente rápido quando nós estávamos felizes e eu, bem, posso me autodenominar a pessoa mais feliz do mundo!

Ao meu lado se encontrava a criatura mais doce, carinhosa e atenciosa que eu conhecia: minha mãe; tinha também os trapalhões dos meus amigos, que, como sempre, e como gosto de frisar quando posso, são os melhores do mundo e, por fim, o namorado mais meloso, babão, perfeito e romântico que qualquer leitora assídua de romances poderia desejar. Embora ele me desse nos nervos quando resolvia me fazer "ciúmes".

Urgh!

Porém, nem tudo era vida boa e brincadeiras, eu tive que separar uma grande parte do meu tempo para estudar as provas anuais, e os NIEMs, que eu tive de fazer à uma semana atrás.

Sem querer passar de sabe-tudo, eu acho que me dei bem em todas, mas, infelizmente, isso não aquietava a minha ansiedade. Ou seja, eu estava andando de um lado para o outro e beliscando a pele do dorso da minha mão a cada cinco minutos.

A cada barulho de penas batendo, eu corria para saber se as minhas notas havia chegado.

"Lily, quer fazer o favor de ficar calma? Está me deixando nervosa!"

"Se eu não passar nessas provas vou ter que fazer um ano todinho sozinha. Me deixe surtar!"

"Vá enfrente, mas abrir um buraco no chão de nervosismo não vai ajudar."

Leth rolou os olhos ao me ver continuar com os meus tiques nervosos e murmurou algo como "meu quarto" e "trocar de roupa", subindo para o mesmo em seguida.

Ouvi passos de alguém descendo as escadas e, a julgar pelo desleixo, ou seria James ou Sirius. Ergui meu olhar, encontrando o de James. Em seu rosto estava um sorriso que eu conhecia muito bem: O maroto e ele sempre o usava quando ia aprontar alguma e a Lethícia havia acabado de subir... O que é que esses dois estão aprontando para mim?

Infelizmente, eu só me dei conta quando James me colocou no ombro feito um saco de batatas e carregou até a piscina.

"Hum, você não vai fazer isso comigo, vai?" Disse utilizando artimanhas pesadas como a minha carinha fofa.

"Hã..."

"AH! SEU DESGRAÇADO, ME COLOCA NO CHÃO!" Ouvi gritos vindo de dentro e uma Leth socando as costas de Sirius com violência.

Aquilo deveria estar doendo.

"SEU FILHO DA PUTA, ME PÕE NO CHÃO!" Gritou, dessa vez mais próxima de mim, que me encontrava no mesmo estado.

"Hã... Não!" Ele finalmente respondeu e me jogou.

Isso mesmo! Ele teve a audácia de me jogar na piscina mesmo com a minha carinha fofa de apaixonada e os meus olhinhos brilhantes!

"MEU CABELO!" Gritou desesperada.

"Ah, por favor, Leth! Não me venha com essa de cabelo..." E atirou ela na piscina também.

"VOCÊ É UM MAROTO MUITO MORTO SIRIUS BLACK!"

Eu mordi meu lábio inferior, colocando a minha mão na boca para que ela não visse o meu sorriso e tentasse me assassinar.

Nadei até uma das bordas da piscina e fiquei lá, remoendo as várias ideias que vinha na minha cabeça para me vingar daquele maldito maroto.

Ele vai ver porquê é que ninguém mexe com as ruivas.

O encarei, esperando não estar com um olhar que entregasse as minhas segundas intenções.

"Hã, James... Me ajuda a sair, por favorzinho?"

"Oh, claro que sim, sweetheart." E estendeu a mão.

Bobão.

Assim que a sua mão entrelaçou na minha, empreguei toda força que eu tinha e ele acabou escorregando, caindo de cara dentro d'água.

Eu comecei a rir ainda mais, sem conseguir me segurar. Acontecia com mais frequência do que eu pudia evitar.

Logo eu ouvi outro baque e um Sirius estava dentro da piscina também, com uma Lethícia nas costas e uma grande discussão entre ambos.

James se aproximou de mim com um sorriso malicioso.

"Espertinha você, hein, Evans?"

Eu sorri, envolvendo minhas pernas em sua cintura e nos aproximando ainda mais. Nossos olhares se conectaram, me puxando para outro universo em que só existia eu e ele e, ao que parecia, ele estava no mesmo estado que eu. Abaixei meu olhar e, nesse meio tempo, ele ergueu meu queixo e me envolveu em um beijo, diferente de todos os outros, não sei explicar como, mas sentia que era diferente.

"Argh, arrumem um quarto e parem de se comer em público!"

"E você poderia parar de ser empata-foda, querida irmãzinha!" James retrucou.

"Desculpa, James, mas é que eu queria avisar que, enquanto vocês estavam ai, se secando com olhar e se comendo com a boca, as notas da Lily chegaram."

"PUTA MERDA! E POR QUE NÃO DISSE ANTES?!"

"Além de eu estar chamando vocês há décadas, elas acabaram de chegar, vaquinha linda da minha vida."

Eu soltei um sorrisinho para James e me soltei dele, saindo da piscina e alcançando as toalhas brancas e felpudas. Vi que James fez o mesmo. Retirei a pesada calça jeans e me enrolei, finalmente.

Adentrei a casa e assim que cheguei à sala, pude avistar um rolo de pergaminho em cima da mesa de vidro da sala, minhas mãos estavam tremendo quando eu o peguei em mãos.

Engoli a seco.

"Dude, abre logo isso!"

"Pode ter calma? Eu estou me preparando psicologicamente."

"Psicologicamente o caralho, Lily! Me passa logo essa 'bagaça'."

Ela puxou o pergaminho das minhas mãos e o abriu, finalmente examinando minhas notas. Primeiro, ela abriu um sorriso, o que só poderia ser um bom sinal, ou não, já que era a Leth, e por fim, ela me entregou o pergaminho, com uma falsa irritação.

"Doze NIEMs." Ela disse claramente indignada. "Por favor."

"Ah, sua vadia! Já disse que te amo?"

Abracei a Lely, o James, o Sirius, a mamãe, a Tia Dorea e o Tio Charlus, até a Nanny, que era uma dos Elfos domésticos da cada dos Potter, eu abracei. Problem with that?

Depois daquilo, todo o resto do dia foi um mar de rosas.

A noite chegou com em um piscar de olhos e, logo depois do jantar, eu subi para o meu quarto, tomei um banho e fiz todos os trê-le-lês básicos que todo mundo faz antes de ir dormir. Quando retornei ao meu quarto, pude ver uma figura largada na minha cama.

James ergueu o rosto para mim, sorrindo.

Estava virando uma rotina ele vir dormir aqui.

Ele se levantou da cama, se aproximando de mim e encostando apenas de leve seus lábios nos meus, me fazendo, inconscientemente, tomar a iniciativa e aprofundar o nosso beijo.

"Estava com saudades de você..." disse entre pausas, dando selinhos em mim.

"Nós passamos o dia inteiro juntos!"

"É diferente."

"Diferente?"

"É, diferente. Porque eu não estou sozinho com você, porque eu não posso te beijar sem que aquela pentelha da minha irmã atrapalhe..."

"Nisso você tem razão." disse com um sorriso de lado.

James me beijou novamente, mordendo o meu lábio inferior em uma carícia provocante. Eu sorri, antes de atacar seus lábios e sentir ele soltar a toalha que estava prendida meu corpo. Suas mãos apertaram minha cintura com um pouco mais de força e seus beijos desceram para o meu pescoço.

Eu tinha certeza absoluta para o que aquela noite nos estava levando, mas, incrivelmente, eu não estava nervosa e muito menos com medo. Estava apenas... Preparada.

Quando as ondas de prazer finalmente atingiram meu corpo e eu cai cansada sobre o peito do James, pensei somente em como tudo aquilo parecia certo, como deveria ter sido desde o começo.