Minha respiração começou a aumentar e eu comecei a arfar. O meu coração parecia que sairia pela boca a qualquer momento ou explodiria nas minhas costelas de tanta intensidade com que batia.

Eu estava com medo. Muito medo!

Mordi os lábios para não gritar, porque a vontade estava muito irresistível. Remus uivou, correndo na direção contrária a minha e eu pude, finalmente, respirar aliviada.

Eu me deitei no chão. A grama picava minhas costas, mas não importava. Eu simplesmente queria ficar e olhar para as estrelas e a lua, pensar um pouquinho.

Eu não conseguia acreditar. Remus John Lupin era um lobisomem! E nem passara pela cabeça dele que poderia me contar aquilo? Que eu reagiria perfeitamente bem? Tudo bem, eu ficaria um pouco assustada, mas não iria rejeitá-lo por causa disso. Ele era meu amigo!

Então era por isso que ele disse que não o aceitariam aqui em Hogwarts!

Tudo fez sentido, então.

Meus olhos pesaram. Eu os esfreguei, enviando comandos para que eles ficassem abertos, mas foi inútil. A brisa fresca e a sensação de liberdade me deram um sono tão bom...

Eu não sei ao certo quando eu adormeci, apenas senti meus olhos se fecharem lentamente e me rendi ao mundo dos sonhos, que me acolhia tão pacificamente.

[...]

“Lily!” Ouvi uma voz abafada me chamar, ao longe. “Lily Evans!”

“O que é?” Resmunguei.

“Não acorda ela, idiota!” Ouvi uma segunda voz, mais grossa que primeira, ralhar.

“Idiota é a sua avó.”

“Argh! Parem de brigar.” Disse abrindo uma pequena fresta dos meus olhos.

O Sol estava começando a nascer no horizonte, bocejei me sentando, ainda na grama. Eu ainda não acredito que eu acabei adormecendo na grama. E porque diabos ninguém veio me tirar daqui mesmo?

“Merlim! Que horas são?”

"Eu acho que são umas cinco, cinco e meia." Leth estendeu a mão, me ajudando a levantar, por algum motivo, que eu desconhecia, claro!, ela estava vestindo a camiseta de James e tinha alguns arranhões pelo corpo. "Por que dormiu aqui, Lily?"

"Eu não sei."

Eles estavam me encarando preocupadamente.

James também estava com alguns machucados pelos braços e, inclusive, no rosto. Sirius se encontrava no mesmo estado que os outros dois. Já Remus me olhava tristemente e com ar abatido, seus olhos apresentavam olheiras profundas, como se não tivesse dormido por um século.

"O que aconteceu com vocês?" Perguntei, inocentemente, passando a mão pelo rosto de James e o ombro de Leth.

"Não foi nada."

Suspirei, cansada.

"Remus, eu sei... Sei que você é um lobisomem."

Três dos quatro Marotos presentes me olharam sem surpresa e quanto a Remus, vi seus olhos se arregalarem, assustados com o que eu havia dito. Era, supostamente, um segredo muito bem guardado e ele não queria que ninguém soubesse.

"Er, Lily quem te contou isso?"

“Eu vi! Vi você se transformar.”

"Lily!" James ralhou comigo. Estava começando a me surpreender com a sua calma. "Nunca mais faça isso, ouviu? Nunca mais! É muito perigoso."

Eu dei de ombros, displicentemente.

Eu esfreguei meus braços, me abraçando, meu corpo estava como um cubo de gelo desde os meus pés até a ponta do meu nariz. Tudo gelado.

James colocou seus braços ao meu redor, me abraçando protetoramente. Ele estava quente e eu comecei a me sentir um pouco mais aquecida e mais segura do que estava antes. Me aconcheguei um pouco mais nele, que sorriu de lado.

Nós caminhamos silenciosamente pelos corredores de Hogwarts que, como era muito cedo, estava completamente vazio e ainda um pouco escuro. Ninguém comentando nada nos cantos. Fofocando sobre as vidas alheias. Conversando sobre provas, festas ou garotos.

Era tão estranho!

Quando nós finalmente chegamos ao sétimo andar, a Mulher Gorda dormia tranquilamente e não ficou nem um pouco animada quando nós a acordamos tão cedo. Nos olhou com uma careta tão feia que eu quis correr de medo.

Sério!

Ela nem quis bater o nosso papo usual. Não que eu batesse papo com um quadro. Você sabe.

Nós demos a senha para ela e entramos.

Todos estávamos muito cansados para notar qualquer coisa. Sirius, Remus e Lethícia subiram direto e nem esperaram por nós dois. James encostou seus lábios contra os meus, num simples selinho.

"Eu vou dormir agora, vê se não te mete em mais problemas." James sorriu.

"Hum, eu acho que posso ficar bem." Eu retribui com um sorriso meu.

Ele sorriu uma última vez e, antes de subir, finalmente, deu um beijo na minha testa, como de praxe. Suspirei extasiada e me dirigi para o meu dormitório.

Dorcas, Alice e Maria dormiam despreocupadas em suas devidas cama. Dorcas até babava um pouquinho no travesseiro. Eu sorri enquanto ia tirando aquela roupa suja de grama e um pouco suada. Leth também estava trocando de roupa.

“James estava preocupado com você.”

“Sei disso.”

“Nós ficamos todos machucados para afastar o Moony dali.”

“Sei disso.”

“Eu sei que você sabe Lily. Mas que merda! Eu me preocupo com você, ok?”

“Ok. Eu também me preocupo com você. Agora, vá dormir.”

Lethícia rolou os olhos, se deitando na cama, puxando o grosso cobertor até o pescoço e em questão de minutos, caiu em um sono tranquilo. Deveria estar mesmo cansada, afinal de contas.

E eu deveria ser a garota mais sortuda que existe. Adiciona na minha lista: Um namorado lindo, inteligente e que me ama, mais amigos que sempre me apoiam e me protegem, eu não poderia arranjar melhores para colocar nesses postos.

E, sem motivo algum, pensei neles. Pensei em todos os momentos especiais que passamos juntos e na forma maluca que nós nos conhecemos e que nos tornamos amigos.

Cheguei a conclusão que realmente não poderia haver ninguém melhor para preencher estes lugares.

[...]

Quando eu acordei novamente, já passava das onze da manhã.

Suspirei cansada, me lembrando de que eu havia marcado de ensinar Poções para alguns alunos do quinto ano. Eu acho que terei de marcar outra data, porque hoje eu não estou com ânimo para enfrentar algum tempo estudando Poções. E olha que era a minha matéria preferida.

Me levantei da cama, finalmente.

Não havia ninguém nas camas do dormitório, o que me deixou surpresa, esperava que Leth fosse dormir até, não sei, umas cinco horas da tarde. Como de costume, sabe? Depois perguntaria o que a tirara da cama tão cedo.

Eu não gostava de ficar sozinha. Para falar a verdade, eu detestava ficar sozinha. Me deixava tão nostálgica e melancólica...

Eu tomei um banho demorado, massageando meu corpo suavemente. Logo após me enxugar e vestir as minhas roupas íntimas, procurei algo simples e confortável para passar o dia. Era um domingo. Domingos são sempre chatos.

Suspirei, depois de terminar de me vestir e calçar uma sapatilha bonitinha. Me encarei diante do espelho. A garota ruiva que estava minha frente tinha cabelos ruivos flamejantes e olhos verdes bonitos, um nariz normal e uma boca até que bonita. E a sua barriga estava um pouco proeminente. Não por ela estar gorda, sabe? Ela estava gravida de dois bebezinhos.

Dois bebês.

Ah, como eles mudaram a minha vida, minha percepção e meus sentimentos...

Se alguém, no passado, me dissesse que eu estaria noiva de James Potter e, ainda por cima, grávida dele, eu berraria que ele só poderia estar perdendo o juízo porque eu nunca iria ficar com James Potter, ainda por cima noivar ou ficar grávida.

Só poderia ser uma brincadeira de mal gosto.

Mas agora era a minha realidade e eu nunca ficaria tão satisfeita como eu estou agora. Acariciei minha barriga uma última vez e desci as escadas, encontrando todos conversando animadamente entre si.

"Ih, olhem! A dorminhoca finalmente acordou."

"São os seus sobrinhos, querida." Disse, entrando na brincadeira.

"Hey! Não venha colocar a culpa nos HHP."

“HHP?”

“É! De Harry e Henry Potter.”

E ela já havia escolhido os nomes dos meus filhos. Eu a encarei incrédula. Mas que garota intrometida e petulante! Rolei meus olhos e gargalhei.

"Garota, você é tão irritante!"

“Eu sei que você me ama, ruiva."

Gargalhei uma última vez antes de todos nós ficarmos em silêncio. Que foi quebrado assim que Remus começou a conversar, animadamente, com Sirius. Algo sobre Quadribol ou algo do gênero. Como sempre, eu não estava prestando atenção.

Onde diabos estava James?

"Lily Evans?" Uma garotinha do primeiro ano indagou, olhando entre mim e Leth.

"Sou eu."

"Ah, me pediram para entregar esse bilhete para você."

"E quem foi?" Perguntei enquanto pegava o papelzinho de suas mãozinhas.

"Eu não posso dizer, Lily! Disseram que eu não podia."

“Ah, eu entendo, Anna. Obrigada.”

Eu franzi o cenho.

Por que alguém me mandaria um bilhete?

E por que Anna não pode me dizer de quem era?

Eu o desdobrei e comecei a lê-lo.

"Olá, Lily Evans.

Sinto por todo esse mistério, mas se eu te disse quem eu sou, você nunca acreditaria em mim.

De qualquer forma, eu quero apenas lhe avisar que o seu "querido" James está com a Selena.

E em bons momentos, se me permite dizer.

As lágrimas começaram a descer pelo meu rosto em abundância, Leth começou a ficar preocupada e quase arrancou minha mão tentando tomar o bilhete da minha mão.

Se você não quiser acreditar em mim, é simples!

Vá até a torre mais alta e você verá."

Eu larguei o pedaço de pergaminho no chão e sai correndo, deixando Lethícia com a interrogação no rosto e apanhando rapidamente o bilhete que estava jogado de qualquer jeito e começando a ler.

Sabia perfeitamente que eu estava sendo imatura e que eu deveria confiar nele. Mas como não ter dúvida? Eu quero dizer, James sempre foi um dos caras mais galinhas de Hogwarts. Eu só precisava saber.

E eu apressei meus passos, chegando a torre mais alta. E bem, ele estava mesmo lá.

James estava beijando ela.

As lágrimas caíram com mais força. Por dor. Por vergonha. Por estupidez. Tudo junto.

Como eu pude ser ser tão estúpida? Acreditar mesmo que James tinha mudado e que era mesmo só meu. Claro que não! Ele nunca deixaria o seu lindo título de pegador de lado.

James empurrou-a para longe de si e quando ia começar a falar com ela, me avistou.

“Lily, eu posso explicar!”

“Não tem nada para ser explicado." Tirei a aliança que estava no meu dedo direito e coloquei em sua mão. "Pegue isso e dê para quem você quiser."

“Lily, me escuta!”

Eu o ignorei e sai correndo dali. Meu coração estava além de quebrado, parecia moído e sem chance de se recuperar de novo, as lágrimas não pareciam nem um pouco cansadas de cair. E eu não estava disposta, pelo menos não agora, a pará-las.

“Lily!” Ouvi uma voz berrar.

Severus?

“O que é que você quer?” Disse ríspida.

“Nós precisamos conversar.”

“Não. Nós não precisamos. Eu preciso ficar sozinha.”

“Olha... Me desculpa. Eu nunca quis te chamar de sangue ruim.”

“Não quis me chamar assim... Mas você chama assim todas as pessoas que são como eu.” Disse rude e sem paciência. “Eu sinto nojo de você. Nojo daquilo que você se tornou.”

“Lily, por favor...”

"Agora você vai me escutar. Eu realmente gosto de você. É uma pessoa importante para mim." Comecei, medindo as palavras. "Mas depois que você começou a andar com aqueles garotos ficou diferente, estava me tratando diferente e depois que você me chamou daquilo, bem, foi a gota d'água. E enquanto você continuar andando com eles e agindo dessa maneira nós nunca poderemos ser amigos novamente."

Estava aliviada de ter desabafado todas aquelas coisas que estava sentindo. Severus sempre teria um papel importante na minha vida, mas eu não conseguia perdoá-lo por aquilo que ele se tornou. Era demais para mim.

Ele me encarou, tristonho.

“Lily, eu não me orgulho do que me tornei. Mas infelizmente, não posso voltar atrás. Ninguém nunca pode."

“Por quê?”

"Me desculpe, eu não posso explicar." Ele continuava me encarando tristonho. "Só me prometa que não vai derramar estas lágrimas preciosas por alguém que não te merece."

Eu o abracei uma último abraço, de despedida. Para minha sorte, olhe como sou sortuda, James estava virando o corredor no exato momento em que eu o fiz.

Eu vi uma pontada de dor e raiva aparecer em seus olhos. Mas por que eu estava me importando? Fora ele quem me traíra! E ainda por cima com aquela vadia da Selena.

Mas que grande merda! Eu me importo com esse idiota.

“AH! ENTÃO QUER DIZER QUE VOCÊ ESTÁ ME TROCANDO POR ELE?” Berrou, enquanto me arrancava dos braços de Severus.

“NÃO ESTOU TE TROCANDO POR NINGUÉM!” Berrei de volta para ele “VOCÊ QUE ME TRAIU, NÃO SE LEMBRA?”

“EU NÃO TE TRAI, EVANS!”

Ele realmente me chamou de "Evans"? Certo, a coisa estava realmente séria. Porque ele nunca me chamava de "Evans" por livre e espontânea vontade.

“NÃO!” Berrei, sarcástica. “FOI O MEU PAI NÉ, POTTER?”

“COMO VOCÊ É IRRITANTE!”

“IDIOTA!”

“IMBECIL!”

“OTÁRIO!”

“BOBA!”

“EU TE ODEIO!”

“ÓTIMO, EU TAMBÉM!” Ele cruzou os braços.

Todos que passavam naquele momento no corredor começaram a cochichar sobre nós e nos olhar assustados. Ficamos de costas um para o outro por algum tempo. Argh! O antigo James estava dominando a situação e fazendo daquilo um completo escândalo.

Então, de repente, ele me virou. E, em seguida, me beijou.

Certo! Eu admito, nós dois somos dois malucos.

Mas malucos um pelo outro.