Não consigo me mover. Estou inclinada para frente. Está tudo escuro, mas ao mesmo tempo enxergo tudo. A voz de Paylor ecoa em minha mente dizendo “E que a sorte sempre esteja a seu favor”. Sinto uma mão em meu ombro, isso relaxa meus músculos e permite que eu olhe para o lado. A mão é de Haymitch, e ele faz o mesmo com Peeta, que está na mesma posição que eu. Peeta também parece relaxar.

– Por que aceitaríamos fazer isso? Eles são minoria. – Digo.

– Não sabemos quantos eles são. Se dermos um passo em falso, podemos começar outra guerra. – Responde Paylor ao se encaminha para sua mesa.

Todos ficam em silencio, pensativos.

– Presidenta Paylor! Soltem-me! Presidenta Paylor! Soltem-me! Preciso falar com a Presidenta! – Dizia com desespero Lesie, que lutava contra os pacificadores. Paylor faz um movimento com a mão, dando sinal de basta. Lesie continua – Eu e a avox Sollie andando pela mansão com as crianças, até que chegamos à porta de um quarto onde aquele menino, o Adam, estava. Tinha uma janela pequena com grades na porta, e ele me chamou. Eu fui e...

– Quem é Adam? Não quis dizer Lohann? – Interrompe Paylor.

– O nome dele é Lohann? Então porque aquela menina estava o chamando de Adam? – Todos ficaram em silencio por alguns segundos.

– Deve ter usado um nome falso para nos enganar, não esperavam passar por um momento similar a tortura. – Concluiu Haymitch. Todos permaneceram em silencio, mas muitos balançavam a cabeça sinalizando ter acreditado nessa conclusão. Então Lesie prossegue.

– Lohann me disse que há bombas em todos os distritos, mas não há nenhuma na nova Capital. Elas explodiriam aos poucos conforme o apertar de um botão que está com o líder deles. Seriam explosões a cada dois dias durante oito dias. – Paylor parece preocupar-se. – Isso se recusarmos a sugestão deles. Depois ele sussurrou em meu ouvido “A cada aperto no botão, uma explosão em algum distrito”.

– Como assim em algum distrito? Eles não escolhem o distrito? É aleatório? O líder aperta o botão e uma bomba simplesmente explode em qualquer distrito? – Diz Peeta elevando a voz, indignado.

– Então 26 tributos arriscariam suas vidas pelos 13 distritos. – Afirmou Haymitch.

Um silêncio de alguns segundos tomou o lugar. Todos assustados com essa estratégia.

– Ou aceitamos a sugestão, ou deixamos distritos inteiros serem explodidos aos poucos. Se ao menos soubéssemos onde estão as bombas. – Disse Paylor pensativa.

– Teremos que aceitar. – Afirmou Gale. Ele só diz isso porque não precisou ir para a arena. Observo o papel na mão de Paylor e vejo algo escrito em seu verso.

– Há algo escrito no verso da folha. – Digo, e quase que imediatamente, Paylor vira a folha e começa a ler em voz alta:

“Não queremos algo complicado. Queremos apenas que façam uma última edição dos Jogos Vorazes. Sendo que se um tributo de qualquer um dos 13 distritos vencer, nós nos renderemos e seguiremos o rumo que decidirem. Caso algum de nossos dois tributos vencer, nosso líder apertará o botão diversas vezes, destruindo os distritos, causando caos. Ou aceitam, ou explodem”.

– Carta ameaçadora, não? – Comenta Haymitch.

– Ainda estou desconfiado. – Diz Gale se levantando e se direcionando para a janela atrás da mesa de Paylor.

– Vocês se lembram que no início da carta, eles falam que Karrett não ‘funciona’ sob pressão? – Pergunta Peeta pensativo. Todos afirmam com a cabeça. – Por que não a interrogamos?

– Blesier, chame os pacificadores. Vamos visitar a srta. Karrett. Lesie, fique com as crianças e com Sollie. – Blesier então sai de sala com Blesier. Percebo que Gale afastou um pouco a cortina de tecido fino para poder olhar a paisagem oculta. Alguns minutos em silencio, então Blesier volta à sala e nos chama para irmos com ela. Preciso de Haymitch para me ajudar a levantar, pois minhas juntas estão rígidas. Peeta já está de pé, mas parece estar lutando contra seus pesadelos, é possível ver isso em seus olhos.

Dentre vários corredores, entramos em um com pouca iluminação e empoeirado. Espero encontrar celas, mas apenas encontro portas como todas as outras da mansão. Há uma aberta, e ao entrar, encontro Blesier, Gale, Paylor e Greasy Sae com Karrett sentada em um banco com as mãos e as pernas amarradas.

– Sei que vocês gostariam de se divertir. Mas assim que chegamos, ela nos contou tudo. – Afirmou Paylor com feições preocupadas – Ela afirmou ter bombas espalhadas por todos os distritos. A bombas foram espalhadas no subterrâneo e podem destruir tudo em cerca de 50 quilômetros de distância. Vocês devem saber que há passagens subterrâneas em todos os distritos que tem como destino a Capital. Mas estavam abandonadas. Por serem filhos de Snow, sabiam de tudo isso. – Quero gritar. Não vou suportar mais uma edição dos Jogos Vorazes. Não vou. Mesmo sabendo que é impossível eu entrar nos Jogos novamente, eu não quero. Mas ou aceitamos, ou explodimos.

Os cinco dias se passaram. A última edição foi divulgada. Os adolescentes dos Distritos 1, 2 e 4, já estão treinando. Já estamos no sexto dia. O dia que encontraremos os tributos e o mentor dos Rebeldes Mesquinhos. Já estou em um aerodeslizador junto a Haymitch, Peeta, Gale e Paylor. Effie também está aqui, mas não há motivos.

Chegamos ao destino. Encontramos duas meninas quase idênticas. Apenas direção da franja pode diferenciar as duas. E com elas está um menino um pouco mais baixo que as duas. Os três são de cabelos negros com olhos claros. Não parecem moradores da antiga Capital. Estão tão... Normais.

– Olá. – Diz a menina com a franja para o lado esquerdo. – Me chamo Merylie, sou a mentora. Esta ao meu lado é Lerylie, que será o tributo feminino e o tributo masculino é o Lanter.

– Vejo que divulgaram bastante a notícia. – Diz Lerylie.

– Bom, vamos logo. Amanhã temos que estar no Distrito 1 para a primeira Colheita. Fiquei sabendo que o palco de lá está muito bem feito. – Afirma Lanter que desde que chegamos, me observa atentamente. – Ainda precisamos pensar nas exigências de cada Distrito.

– Exigências? – Pergunto.

– Sim. Nós temos exigências para o sorteio dos tributos de cada Distrito. Por exemplo, no Distrito 1, exigiremos que os tributos tenham 15 anos. No 2, os tributos não poderão ser carreristas. Quer mais exemplos? – Um silencio perturbador reina até chegarmos todos à nova Capital.