A Princesa E O Alienígena escrita por Beto El


Capítulo 29
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal...
Pra quem ainda acompanha, peço perdão pela demora, mas... fiquei sem tempo e sem criatividade.
Bem, vamos lá?



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Sonhava com os verdes campos de Themyscira, o céu com um azul impossível de se ver nesta terra de homens, quando acordei repentinamente, com uma amarga sensação tilintando na parte de trás da minha cabeça.

Levantei-me, ainda tonta, e percebi que passei do horário que normalmente acordo.

Algo me impeliu a ligar a TV, então, tateei com minha mão direita até achar o controle remoto e ligar o aparelho.

Como de praxe, a TV ligou na CNN. Costumo deixar para saber o que acontece no mundo.

Na tela, uma repórter de cabelos loiros artificialmente lisos falava ao microfone, e ao fundo uma multidão se aglomerava. Parecia haver fumaça e destroços de algum tipo de veículo mais ao fundo. Um sentimento ruim serpenteou por minha espinha.

E aí veio a realização: nas informações que corriam no canto inferior da tela, li a frase “TRAGÉDIA EM METRÓPOLIS”.

Mais do que qualquer outra notícia, saber que algo errado havia ocorrido em Metrópolis me sensibilizou. Mas o que mais me chocou foi a imagem de Clark ajoelhado no meio dos destroços, aparentemente chorando.

Levantei-me e coloquei meu uniforme de forma quase instantânea.

Pulei pela janela e saí voando para Metrópolis. Cheguei lá em menos de 10 minutos.

Até então não sabia que aquela confusão fora causada por um atentado. Quando sobrevoei a região, quase pude sentir em minha pele o desespero das pessoas que perderam entes queridos naquela horrenda situação.

Entretanto, fiquei confusa, pois ao mesmo tempo havia muita gente feliz, adultos abraçando efusivamente crianças.

Só então soube que Clark evitou uma tragédia ainda maior, salvando diversas crianças antes que um ônibus explodisse. Inteirei-me do assunto com uma policial, que gentilmente me atendeu. Ela parecia feliz por eu estar ali. Talvez minha presença trouxesse algum conforto às pessoas.

Saber que Clark fora um verdadeiro herói, a despeito da tragédia, enchia meu coração de alegria. Infelizmente, algumas pessoas foram sacrificadas, mas meu amigo fizera o possível e salvara muitas pessoas. Isso era o importante.

Só não havia entendido por que Clark deixara o local.

O comunicador da LJA vibrou, e logo o atendi.

Uma voz sombria ressonou através do aparelho.

– Olá, Diana. Sou eu, Batman.

Causou-me tanta estranheza receber uma chamada do Batman que, como consequência, emudeci por alguns segundos. Em primeiro lugar, em teoria, ele não tinha acesso aos dispositivos de comunicação dos membros da LJA.

– Diana, você está na escuta?

Entretanto, dei-me conta que ele era “O” Batman. Era óbvio que ele saberia como invadir nossas comunicações.

– Sim. Estava apenas me questionando o que você, que nunca se importou com a Liga, está se dando ao trabalho de invadir nossa comunicação.

– Ora, eu tenho meus motivos. Que, obviamente, não vêm ao caso neste momento.

– E o que você deseja, Homem-Morcego?

– Estou preocupado com o Clark.

– Eu não entendo o motivo da sua preocupação. Ele salvou pessoas, é um herói, todos estão gratos a ele… Okay, algumas pessoas morreram, mas várias foram salvas.

– Não é bem assim. O assunto é mais grave… E temo pela saúde mental do Superman.

– Eu não entendo.

– Creio ser melhor que você converse com ele a respeito, em especial pessoalmente. Enviarei as coordenadas de sua provável localização em seu aparelho comunicador.

– Por que eu? Você é mais próximo dele!

– Mas ele a tem em alta conta. Ademais, conseguirá chegar a ele mais rápido, é melhor do que eu com as palavras e tem um belo… ahem… par de pernas. As coordenadas estão no seu comunicador.

– Batman?

Nada, a comunicação havia sido cortada. O aparelho em minha mão mostrava um local em um dos locais mais remotos do planeta, nos confins do Ártico. Mesmo com minha velocidade, levaria várias horas até lá chegar.

Quase me soquei na cara quando realizei que o QG da LJA tinha teletransporte, tecnologia trazida pelo Jordan de algum planeta de uma galáxia distante. Para acioná-lo, bastava digitar um código no nosso comunicador. Quanta diferença de Themyscira…

Poucos segundos após digitar o código, estava eu fora da órbita da Terra, na Lua. A despeito do local, sem delongas inseri as coordenadas na máquina, sendo quase imediatamente transportada até o Ártico.

O ar gelado chocou-se contra minha pele, fazendo-me arrepiar. Ainda que eu tenha uma resistência muito maior do que seres humanos ordinários, a congelante temperatura ártica me castigava de forma brutal.

Olhei ao redor e fitei uma grande edificação que aparentava ser constituída de cristais. Era muito alta, possivelmente tinha mais de 100 metros de altura. As pontas dos cristais pareciam querer espetar o céu, que se encontrava límpido, sem sequer um sinal de nuvem.

Se tivesse de descrever com uma palavra o ambiente no qual me encontrava, acharia fácil a resposta: branco.

Tudo ao meu redor era branco, tornando-se difícil até mesmo de diferenciar onde a terra terminava e o céu começava.

E o som ambiente. Apenas ouvia o sibilar do vento que movimentava as mechas do meu cabelo.

Até que um ruído mecânico, como o de que um míssil disparando, se fez ouvir vindo da edificação de cristais.

E, numa velocidade espantosa até mesmo para mim, em um instante me vi cercada por uma dúzia de homens-robô cujos semblantes lembravam-me levemente da face de Clark. Em seus peitos, o escudo característico da família El, conforme Clark me dissera uma vez.

Seus olhos vermelhos reluziam de forma agressiva. Suas vozes frias entoavam uma língua desconhecida para mim.

Posicionei-me defensivamente.

– Apenas quero falar com Kal-El.

Mais palavras alienígenas foram entoadas, daquela feita com mais agressividade.

Os robôs então me atacaram com ferocidade, entretanto, com surpreendente harmonia entre eles. Enquanto um atacou-me pelo flanco direito, outro arremeteu contra mim pelo meu fronte, e os demais lançaram seus raios vermelhos de calor em meu corpo.

Com um movimento rápido de minhas mãos, defleti os raios e consegui desviá-los de forma a acertar meus agressores, que caíram confusos. De pronto, avancei para os agressores que estavam em pé, derrubando vários deles, quando…

– Parem, servos!

Os autômatos cessaram suas ações agressivas quase que imediatamente, e, ao me virar, deparei-me com Clark.

Seu porte não mudara nada, mas… havia algo, imperceptível para quase todos, de diferente nele… Clark não aparentava a auto-confiança tão característica de sua pessoa, além de ser quase palpável a tristeza que emanava de sua aura. Era tão intensa, que fiquei perturbada.

– O que você quer, Diana? O morcego passou as coordenadas deste lugar, não?

Levantei-me.

– Sim. Mas sinto que foi necessário, sinto que você precisa de um… como vocês dizem…? Ombro amigo.

Superman virou sua face, fechou seus olhos, como se pensasse sobre o que fazer.

– Eu… vamos entrar.

Sem mais uma palavra trocada, Clark me direcionou à Fortaleza da Solidão. Tão logo ele se pôs à entrada da edificação, os cristais, como por magia, desapareceram, permitindo sua passagem; fui logo atrás dele.

Aquele lugar era espantoso.

De dentro, parecia maior, quase infinito, em comparação com seu exterior. Seu visual basicamente era composto por cristais. Em poucos segundos atravessamos um corredor, cujo fim dava para um amplo salão, que contava com inúmeras peças, em princípio decorativas, de origem alienígena.

– Bom, algum dia eu iria te mostrar isso mesmo… são artefatos dos planetas que já visitei. Se você quiser, posso mostrar o resto da F…

– Espere, Clark. - o interrompi - Agora, não é necessário. Gostaria apenas de conversar com você sobre o que o aflige tanto.

– Não. - ele me disse num tom baixo.

– Por favor, eu quero ajudá-lo… - eu disse, colocando minha mão sobre seu ombro.

Então, após vários segundos, cabisbaixo, Clark sussurou num tom tão suave que, se não fosse minha audição acima da média, nem eu conseguiria entendê-lo.

– Foi minha culpa…

– Não… não foi, você salvou as pessoas que podia! Você é um herói! Não é sua culpa se aquele homem maligno enlouqueceu!

– A raiva dele não foi por loucura. Eu provoquei sua ira, há muitos meses.

– C-como assim?, indaguei, incrédula.

– Foi em Central City, sua cidade… em uma noite, por acaso eu ouvi um alarme vindo dali. Como não tinha mais nada pra fazer, resolvi ir até lá, e vi aquele homem, o Winslow Schott, assaltando um banco. Eu… eu… quebrei todos os ossos de seus dois braços, ele implorou para que eu o matasse de uma vez…

Eu não acreditava no que estava ouvindo. Fiquei muda.

– E… por vingança, ele armou esse sequestro. Ele me atraiu até lá, e, tão logo entrei, me disse tudo. Sua intenção nunca foi matar todos os que estavam lá. Foi tentar me fazer parecer o herói, salvando o máximo de pessoas possível, sendo que somente eu - e agora você - saberia a verdade… que a culpa tinha sido minha.

Estava sem chão. De repente, todo o orgulho que sentia de Clark virou decepção. Pensei em sair dali naquele momento, socá-lo, gritar com ele, mas, sem eu entender direito, todos esses sentimentos negativos sumiram quando vi sua legítima tristeza. Refleti por uns instantes e, contrariando o princípio de minha arma mais poderosa, o laço da verdade, proferi o seguinte:

– Você cometeu um terrível erro, Clark. Humilhou desnecessariamente um homem que nada podia lhe fazer, tendo como resultado algo horrendo, que sem dúvidas afetará as vidas de muitas pessoas. Pais, irmãos, filhos, amigos que serão eternamente afetados com a perda de seus entes queridos. E, não há como negar, você foi responsável por isso.

Ele começou a chorar, meu coração apertou. Mas mantive minha fala dura.

– Porém… é inegável que você está legitimamente arrependido. - Nesse momento, peguei-o pelos ombros, e olhei profundamente em seus olhos - Clark, você tem tanto potencial para fazer o bem. Tanto poder…

Respirei fundo. As próximas palavras foram muito difíceis.

– Eu… considero que esta é uma oportunidade única para você expiar seus pecados, Clark. Pela primeira vez, o povo o tem como um herói. Mesmo que signifique omitir algo terrível de todos… acho que você deve aproveitar esta chance para fazer o bem, inspirar os habitantes deste planeta.

Então, o abracei.

– Para mim, é tão difícil compartilhar da vida deste povo, às vezes sinto-me alienada. Mas, ao mesmo tempo, sei que meu povo ainda está, que posso juntar-me a eles quando eu quiser. Então, não consigo imaginar quão difícil é saber ser o último da minha espécie. Mas eu tenho certeza que aí dentro também há uma profunda bondade, enterrada por todo o mal que lhe fizeram na sua vida. Acho que isso é uma forma de autodefesa desenvolvida por você para afastar a todos…

– Você… você já se sentiu só neste planeta? - Clark perguntou, olhando fixamente em meus olhos. Nunca estive tão perto dele.

– Eu… eu… sim. - respondi meio enfeitiçada por aqueles olhos azuis cristalinos, mais até do que os meus.

Olhamo-nos por segundos que pareceram uma eternidade. Então eu senti seu rosto se aproximar do meu... Para meu espanto, eu não me afastei, muito pelo contrário, aproximei-me mais, até nossos lábios se tocarem.

Perdi toda racionalidade, minhas mãos pareceram ganhar vida própria, uma vez que elas pousaram em seus braços, e eu pude sentir pela primeira seus poderosos músculos. Estar nos braços de um homem tão poderoso fez meu corpo tremer de uma forma que eu jamais sentira.

Alguns segundos depois voltei a mim, e separei-me de Clark.

– D-desculpe-me, eu, eu...

– Diana...

– Preciso ir, Clark.

Clark tentou agarrar meu braço, mas consegui me desvencilhar e parti pelo portal, que não ofereceu resistência.

Mal percebi o que aconteceu e já me vi no QG da LJA. Com passos lentos caminhei ao meu quarto, relembrando o que acontecera poucos minutos antes.

Tirei minhas botas e me deitei na cama. Toquei meus lábios com a ponta dos dedos. Tinha a impressão de que eles estavam dormentes.

Teria muito o que refletir naquela noite...


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Espero que esteja bom.
Vou tentar postar antes o próximo cap, belê?
Obrigado e até!



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