Por que tinha que ser tão obvio? Fiquei parada por um tempo, olhando nos enormes olhos azuis ciano da pequena que estava a minha frente. Me perdi em pensamentos. Ela havia me visto chorar... Me visto da minha maneira mais frágil. Só percebi que ela havia entrado, quando escutei a sua voz vindo da minha sala.

– Quando eu vim aqui a primeira vez, estava tão bagunçado.

Suspirei, fechando a porta e me virando. Por alguma razão, ainda não acreditava naquela história.

– Como você entrou?

– A chave no seu bolso, o Gakupo me ajudou a trazer você.

Apenas encolhi os ombros e voltei para a geladeira. Peguei uma jarra de suco e servi para ela, depois guardei e peguei o meu sake, é claro. Sentamos uma à frente da outra, bebia meu sake enquanto a observava. Miku estava com a face corada e a cabeça baixa, diferente da Miku que conhecia nos sets de gravação. Ficamos em silêncio por algum tempo, até que ela comentar.

– Vai ao baile?

Novamente a história daquele baile.

– Para que serve esse baile?

– Não sabemos ainda, a Crypton disse que será uma surpresa. – Ela sorriu e me olhou, quando a olhei nos olhos, ela virou a face. – Vamos, vai ser divertido.

– Vai ter bebida?

– Sim.

– Ok, eu vou.

Os olhos da outra brilharam... Bebi mais um gole do sake, apenas ignorando. Aquele momento estava sendo muito estranho. Tinha algo no ar que ainda não me convencia que era a Miku naquele dia. Mas ela não teria razão para mentir... e muito menos de ir atrás de mim... Logo de quem? Da bêbada e egocêntrica da equipe. Suspirei novamente e bebi o ultimo gole da garrafa. Por que essas bebidas acabavam tão rápido?

– Sabe a roupa que você vai? – Novamente a menina quebrou o silêncio.

– Não.

– Posso escolher?

– Pode.

Ela levantou, na verdade, ela saltitou até o meu guarda-roupa, abrindo-o. Larguei a garrafa vazia sobre a mesinha e fui para a cama, jogando-me e apenas olhando ela mexer e remexer nas minhas roupas.

– Você não é muito de conversar neh, Meiko-chan?

– Uhum. – A voz dela era um pouco irritante, preferia quando estava cantando.

– Sempre assisto seus clips. – Reparei que ela estava separando um vestido preto que havia ganhado do meu falecido pai. – Usa esse, é tão lindo!!!

Fiquei em silêncio. Aquele vestido era nostálgico. Encolhi os ombros e sorri de canto, meio cansada.

– É pode ser esse.

Fechei os olhos, deixando as mãos sobre a nuca...

– Vou separar as jóias também!!!

É, ela estava empolgada. Abri apenas um dos olhos, a menina saltitava de um lado para o outro, arrumando tudo sobre uma cadeira. Assim que terminou, a mesma sentou ao meu lado.

– Meiko-chan, posso trazer o almoço para cá?

– Pode.

Ele ficaria o dia todo? Pelo visto sim. Suspirei, virando para o lado. Por alguns segundos esqueci da mesma e acabei cochilando. Meu coração ainda doía e a voz do Dono-sama ainda ecoava na minha mente... se esquecida novamente...

– MEIKOOOOOOOOO!!!!

Assustei-me, sentindo um enorme peso sobre o meu corpo. Era a Rin.

– MAS QUE PORRA... – Virei. Na porta estava o Gakupo com uma garrafa de Coca-cola, a Gumi com alguns pratos e a Miku com uma bandeja.

– Trouxemos comida. – Disse o Gakupo, já entrando... Quem havia dado essa intimidade toda?

– Você vai gostar da bebida, Meiko-dono!

– Levanta daí, sua preguiçosa!!! – Era a Rin fazendo cócegas. Para a infelicidade da mesma, eu não sentia. Ri um pouco, levantando e carregando a pequena no colo, colocando sobre o ombro.

– Quem deu a permissão para essa bagunça barulhenta do cacete aqui? – É. Era minha casa, meu território e podia expulsar todo mundo.

– Fica quieta ai e vem comer logo. – Era o Gakupo.

Não podia reclamar. Estava com fome... desci a pequena loirinha, que saiu saltitando para a mesa e a acompanhei. Caminhando. Sentei, e em silencio, esperei que começassem a se servir. Como eles podiam ri e conversar com tanta normalidade? Fiquei apenas observando, como sempre fazia. Servi a coca para todos e logo comecei a comer a lasanha que a Miku havia trazido do restaurante que havia aqui perto.

Passaram a tarde lá em casa, eu deixei todos conversando e fui dormi. Estava precisando... apesar da bagunça ser até divertida, estava cansada. Adormeci não sei por quanto tempo, até ser acordada por alguém que mexia em meus cabelos.

– Anh?... – Bocejei. Sentei e abri os olhos por completo. Era a Miku... e estava próxima demais.

Ia indagar sobre a aproximação, mas ela levou as duas mãos até a lateral da minha face, puxando de leve e me dando selinho. Senti aqueles lábios finos e macios sobre os meus... Já havia ficado com uma garota e todos Vocaloid`s sabiam que eu era Bi. Mas... nunca iria imaginar que algo como aquele estava acontecendo... Ainda mais com a Miku. Apenas deixei ver até onde iria dar.

– Desculpe, Meiko-chan... Mas... desde do dia em que lhe vi chorando no meu colo, eu penso em você... Queria poder lhe falar antes, e iria... no baile. Mas aproveitei o momento da fita e acabei falando... me desculpe.

Encolhi a sobrancelha. Não sabia muito bem o que dizer... Apenas suspirei e sorri.

– Ta ok. Mas não traga mais aquele bando de gente para cá.

– Ta bom.... – Ela levantou e eu também. Caminhamos até a porta. Só naquele momento percebi o quanto eu era mais alta que ela.

Mas... porque meu coração continuava calmo? Senti que aquele beijo não foi tão especial e ainda havia duvidas sobre a veracidade daquela historia.

Abri a porta e esperei a menina sair... Apesar dela ter voltado e ter me dado outro selinho. Apenar sorri e acariciei o topo da cabeça da mesma.

– Posso voltar amanhã?

– Aham.

Poderia me arrepender depois, ou não. Gostando ou não, sendo especial ou não... Pelo menos esqueceria daquelas palavras. E quem sabe meus dias não fossem tão solitários. Ela se foi, fechei a porta e fui ver algum filme, ou quem sabe compor uma música. Não iria conseguir dormir mais, então ocuparia minha madrugada, com música e filmes... E bebida é claro. O dia seguinte seria cheio e cansativo... Odiava bailes. Mas minha curiosidade era maior que meu ódio. Por isso, eu iria.