Tomei uma boa ducha e depois coloquei uma calça jeans e uma blusa vermelha. Amarrei um pouco meus cabelos para trás e encaixei algumas presilhas, protegendo as franjas. Coloquei meu celular no bolso de trás e a minha carteira também. Odiava bolsas e sempre as perdia, por isso sempre que podia guardava tudo nos bolsos. Sai do banheiro e o Kaito estava deitado.

— Vai andar pela rua?

— Sim, ainda é cedo e dá para explorar os lugares... que dia é o show?

— Amanhã. Ou depois, ainda não tive certeza. Vou ligar para o Len e pedir informações dele.

— Você sabe que ele vai ficar puto com isso neh? — Caminhei, deixando os braços cruzados a frente do meu corpo.

— Sim, eu sei... mas ele vai nos ajudar. Estou planejando umas coisas.

— Você quem sabe... Mas, vê se na proxima me fala o que é, caralho...

Ele se levantou. Fiquei observando o outro vir até a mim, desfazendo os meus braços e me abraçando. Fiquei surpresa, mas não retribui o abraço.

— O que foi caralho?

— Meiko... eu queria lhe perguntar uma coisa...

Ah, lá vem merda. É sempre assim... Suspirei, esperando o que já previa desde da festa. Ele ficou calado por um tempo, acho que estava esperando que eu dissesse algo...

— Fala logo porra.

— Não precisa falar assim comigo... — Ele choramingou.

— Chora nenem. — Ri um pouco, empurrando-o e o mirando nos olhos. Ele estava com aquela cara boba de homem quando está apaixonado. Ah, fudeu.

— Meiko... é que desde daquela noite... eu não paro de pensar em...

— Ah, Kaito. Não faz isso...

— Mas Meiko... Eu realmente am...

— Não! Não estraga nossa amizade... — Porque ein? Porque? Afastei-me dele, ficando de costas e fechando os olhos. Droga! Eu deveria ter parado quando pude.

— Meiko... eu não posso mas segurar esse sentimento...

— AHH, pode sim Kaito, engole ele ai e fica quieto! Você sabe da minha resposta! Lembra que você tentou isso quando ainda eramos novos e viu a merda que deu! Eu não quero perder a sua amizade...

— Mas não vai perder... — Ele começou a se exautar, virei-me para olhá-lo. — Vamos apenar subir mais um patamar na nossa relação, por favor Meiko, seja minha namorada!

Arrggh! Que ódio! Ele já havia feito isso umas duas vezes e sempre foi a mesma resposta. Não, não e não! Eu gosto do Kaito sabe, mas não para namorar! Não sei... não é isso que eu quero. Não é isso que o meu coração — do qual eu sempre tento seguir — pede. Não é isso! E eu não vou me deixar levar pelo momento. Fiquei em silêncio, olhando-o com raiva.

— Kaito... minha resposta sera sempre não.

— Então me usou para seus desejos! SÓ PORQUE ESTAVA TRISTE E CARENTE, ACHA QUE PODE ME USAR??

— Usar você? — Mantive a calma... se ele falar mais uma merda, minha mão vai em cheio nessa cara branquinha de pirralho mimado.

— Se quer apenas um escravo sexual, me avise, porque nessa eu não vo...

O barulho abafado da minha mão na cara dele ecoou pelo quarto.

— PARA DE FALAR MERDA, SEU IDIOTA! E SAIA DAQUI, AGORA! Antes que eu lhe bata mais ainda!

Kaito me olhou perplexo e saiu do quarto correndo e batendo a porta. Ótimo! Pelo menos ele era obdiente. Que ódio! Fui até a varanda, vê-lo sair correndo...

— FILHO DA PUTA! — Berrei, gritando em seguida de ódio. Juro que se ele ficasse mais tempo no quarto, espacaria ele.

— Oe, minha senhora, não berra na varanda! — Era um mendigo na rua abaixo.

— AVÁ TOMAR NO CU! — Mandei um cotoco para ele e entrei no quarto, puta da vida.

O Kaito falava cada merda... cada idiotice. Infantil, isso sim que ele era. Ele sempre soube que eu não sinto nada mais que uma amizade um pouco mais intima... mas, precisava dar aquele showzinho depois da minha resposta? Porra. Me joguei na cama, puxando um travesseiro e o abraçando.

Pensei, pensei e acabei não raciocinando em nada... Apenas enxendo minha mente de merda e por fim acabei dormindo.

“ A primeira Alice era uma valete de espadas

Segurando uma espada na mão no País das Maravilhas

Cortando tudo em seu caminho . . . “

Estava correndo por um bosque, nas minhas mãos havia uma espada... Olhei por alguns segundos para baixo, trajava um vestido vermelho com uma faixa branca na barriga... estava completamente suja de sangue... Não podia me distrair! Ele estava atrás de mim, corria, abrindo caminho e cortando as plantas...

“... Ela era acompanhada por um rastro vermelho

Essa nova Alice foi profundamente pelos bosques

Em castigo por seus pecados presa permaneceu ... “

... a única coisa que podia ouvir eram seus passos, misturados com os Dele e a minha respiração ofegante... De quem eu estava correndo? Queria olhar para trás, mas aquele sufoco era tão intenso e tão forte que resolvi apenas seguir em frente, cortando as flores e deixando um rasto vermelho... que logo descobrir ser da minha mão, que estava cortada... De quem? De quem estava correndo daquela forma? Senti uma mão em meu ombro... ele havia me alcançado.

“ ... Árvores cobriram toda forma de escapar

Ninguém pensaria que ela sequer existiu. “

Quando me virei, o cenário havia mudado, estava em um show... Meu vestido agora estava limpo, todos sorriam e apladiam... Era minha vez de brilhar? Sorri, sentindo aquele extase domar a minha alma... Aproximei-me do microfone, mas algo transpassou o meu corpo. Era a Miku... Ela pegou no microfone no meu lugar e começou a cantar... Todos estavam sorrindo e aplaudindo para ela... Dei alguns passos para trás... Ela era a estrela... Onde eu estava era escuro, vi os outros passarem a minha frente... os gêmeos, a Gumi e o Gakupo... Meu coração apertou tão forte, que acabei caindo de joelhos... que dor era aquela? Queria respirar, mais estava sufocada... As lagrimas escorriam mais e mais, caindo algumas gotas no chão... Soluçava. Porque? Senti uma mão sobre a minha, me levantando, olhei para cima... Estava branco.... claro demais, alguma luz me ofuscava... mas eu pude ver... Sim, lá estava. Uma linda princesa com os cabelos rosas... quem era?

. . .

— Meiko? MEIKO!

Acordei aos poucos, estava suada e minha face molhada... deveria estar chorando. Enxuguei com as costas das mãos, o Kaito estava sentado do meu lado, com os olhos assustados.

— Que é porra?

— Você estava tremendo e chorando... fiquei preocupado. Vir buscar dinheiro... que tinha esquecido.

— Hm. Pegue e vá embora, não quero ver essa sua cara de mariquinha triste.

— Desculpa...

Levantei da cama, indo até o banheiro e enxugando a minha cara. Que merda de sonho era aquele? Respirei fundo, indo até a porta do quarto... Não havia mais ninguém ali... E a porta estava aberta.

— Kaito? — Bom, ele deveria ter ido embora depois que o enxotei. Caminhei em direção a porta para fecha-la.

A porta fechou com força e as janelas também. Fiquei parada, olhando... Perfeito, além de hotel velho e caido, era mau assombrado. Ri um pouco, sentindo um frio na espinha. Meu maior medo estava ali, fantasmas.