O quarto da Miku me dava medo... Era muito colorido e cheio de trecos, pelúcias e flores. Por um momento senti minha vista doer de tantas coisas fofas e coloridas... e quando me acostumei com o lugar, fui até a mesa, afastei uma cadeira e sem cerimônias sentei.

— Senta aqui, Miku... precisamos conversar.

— AHH, Meiko! Estou tão empolgada que você tá aqui no meu quarto... e desculpa a bagunça. — Porra, que bagunça tinha ali? Pelúcias no chão? Fitas coloridas penduradas? Ela havia se sentado, suspirei.

Ficamos em silêncio por um tempo... queria fumar. Fechei os olhos e mordi o lábio inferior. Precisava mesmo me livrar daquele vício... estava começando a me consumir mais e mais e o desejo aumentava. Acabei me perdendo em pensamentos fúteis até ouvir a voz da Miku.

— Meiko?

— Ah, oi. Enfim... — Abri os olhos e a mirei. Como iria falar? Não havia planejado nada... porra. Respirei fundo, tentando criar coragem. Porque tinha que ser tão covarde naqueles momentos. Mas antes que pudesse dizer algo mais sério, me lembrei do sake. — Foi você que me mandou o sake?

Por um momento vi os olhos dela se perderem e depois veio a resposta... não foi algo que me convenceu.

— Ah, sim, sim! Fui eu! Meiko, eu faço tudo isso porque eu realmente gosto de você.

— Por que?

— O que?

— Porque você gosta de mim, Miku.

Ela corou e abaixou a cabeça ficando em silêncio. Sério, o que havia com aquela menina? O que ela havia visto em MIM? Tantos homens e mulheres em Crypton a fim de ficar com ela, e ela resolve ficar logo comigo? Ah, porra. Era para fuder mesmo com minha vida... Não queria ter que passar por aquele momento, ainda mais com a queridinha da Crypton. Ótimo, se aquela história cair na boca do povo, serei a vilã da história. Já que todos amam aquela menina. Suspirei, colocando o cotovelo sobre a mesa e a mirando. Ela não me respondia.

— Miku... Sei que ás vezes expressar sentimento é dificil, também sou assim... Mas precisamos ser maduras o suficiente para percebemos que há algo errado nessa história. Você gosta realmente a ponto de querer ficar comigo? Sabe tudo que enfrentaria para ficar ao meu lado? E estaria disposta a lutar por tudo isso? Sou completamente o oposto de você... — Eita, Meiko, está falando demais... mas ela precisava ouvir. — Somos muito diferentes Miku, você tem suas responsabilidades perante a empresa, és a queridinha e ficando comigo, vai sofrer muito. E sabe que não seriamos aceita pela Crypton... — Suspirei, erguendo o corpo e encostando as costas na cadeira, cruzando os braços. — Vamos Miku, desembucha, você realmente quer ficar comigo? Você realmente me ama a ponto de lutar?

O que mais me irritava é que ela ficou em silêncio, de cabeça baixa, em nenhum momento me interrompeu... em nenhum. E olha que eu falei bastante. Suspirei mais uma vez, me levantando. Até sentir a mão dela sobre a minha... ela me olhava, havia lagrimas... Encolhi o cenho. Eu realmente não entendia por que eu não acreditava naquela cena da menina. Eu realmente queria entender o porque de não confiar nos sentimentos dela. Sabe quando você sente que tem algo podre naquela história? Pois é. Acreditava nos sentimentos do Kaito... nos sentimentos do Gakupo pela Gumi, no dos gêmeos... mas da Miku para comigo? Não. Era algo estranho... era algo possessivo e momentâneo, do que algo realmente verdadeiro. Pelo menos era o que eu estava imaginando.

Larguei minha mão da dela e antes de sair do quarto, virei, mirando a menina que estava sentada de joelhos no chão. Fiquei em silêncio, esperando que ela dissesse algo. E quando passou o tempo suficiente para ela dizer ou questionar alguma coisa, falei.

— Desculpa Miku, mas acho melhor continuarmos amigas. E obrigada pelo sake.

Antes de fechar a porta, ouvi ela falar.

— Fica comigo!!!

— Você não lutou por isso Miku... Agora, seremos apenas amigas.

Fechei a porta, suspirando em seguida. Desci as escadas e voltei para a borda do córrego, sentando-me na grama. Retirei um cigarro do bolso, fumando novamente... Sei que havia sido dura com a menina, que não havia se passado tantos dias para que ela pudesse demonstrar o sentimento... Mas, houve tanta chance. E mesmo assim, depois daquele anúncio, ela não havia ido me ver. Por que tudo tinha ser tão errado? Porque a Miku não ficava com o Kaito e os dois me deixavam em paz? É. Viver sozinha, com minhas bebidas... em paz. Apenas eu e minhas músicas... Traguei mais uma vez o cigarro, jogando a fumaça para cima.

— Meiko?

Virei-me, era a Gumi. Esta sentou do meu lado, estava triste.

— Faz tempo que não conversamos neh, Gumi? — Falei, apagando o cigarro no bico da minha bota e colocando de lado, depois jogaria fora.

— Sim... Desculpa, andei meio deprimida com algumas coisas.

— Gakupo?

— Ele mesmo... Estamos em uma crise... Estou com medo de sermos expulsos de Crypton. E estou com ciúmes também.

— Bom, ser expulsos por causa de um namoro, acho que não seriam... mas, porque o ciúmes? Quem é a vadia?? Quebro ela em pedaços!

— ... ele anda de muita conversa com a Miku... e ás vezes com a Luka. Eu perguntei o que era, e ele ficou em silêncio.. E disse que estava tentando consertar umas coisas.

Miku? Luka? O que será que estava acontecendo? Fiquei em silêncio por um tempo, meio pensativa...

— Ah, Gumi. Ele ama você, deve ser algo entre eles e logo saberá. Não fique triste com isso...

— Ok. — Ele supirou triste, se encolhendo.

Abracei-a. Gumi era uma das poucas que podia contar como amiga de verdade. Ficamos ali, quietinhas em silêncio... até ouvir o traste me gritando da janela.

— MEEEEEEEEEEEEEEEEEEIKOOOO.

— Ele adora fazer isso... Ah, Kaito. Gumi, vou lá ver o que aquele traste quer...

— Vai lá... — Ela sorriu.

Levantei, peguei o resto do cigarro e fui para o prédio. O Kaito estava todo feliz na porta do meu quarto, parecia uma virgem. Ri do pensamento, levando a mão até a testa e abaixando a face.

— O que é caralho? Precisa mesmo berrar que nem uma bicha na janela???

— Mas... mas... é que eu... — Ele se aproximou e sussurrou. — Consegui as passagens para viajarmos no mesmo avião que os outros. MAS, vamos de terceira classe.

Meu coração acelerou.

— Pensei que fossem com o avião da empresa....

— Não, não... o avião esta em manutenção, e só mês que vem. Eles iram de avião normal mesmo... aeroporto e tudo mais... Estaremos lá Meiko! E vamos mostrar para a Crypton que nossos fãs ainda nos amam!

Fiquei ansiosa, pegando as passagens e lendo. Empurrei ele para dentro do quarto, fechando a porta e o mirando nos olhos depois.

— Quando vamos?

— Amanhã!

Fui puxada por ele pela cintura e depois recebi um beijo nos lábios. Retribui por um tempo, afastando-me em seguida.

— Vamos terminar de arrumar coisas, ainda preciso ver como vou levar bebidas!

— Meiikoo... Não pode.

— Eu já sei caralho! Me deixa, vou arrumar um jeito... e vai se fuder se reclamar de novo.

Ri. Estava muito empolgada. Kaito e eu passamos a noite arrumando a mala.