Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 3
O início de uma caçada




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Uma das únicas coisas boas de ser um tributo do distrito 12 é que você não precisa se importar com o que as pessoas da capital vão pensar de você para arranjar patrocinadores. Somos o distrito mais pobre, temos os piores tributos e, em 50 anos, ninguém do 12 ganhou. Não resta duvidas do porquê do distrito 12 nunca receber patrocinadores.

Talvez essa fosse a explicação de eu não ligar para as lágrimas que surgiram ao ouvir os quinze – treze só do banho de sangue- canhões hoje. Eu não precisava provar nada pra ninguém. Nenhum patrocinador iria me ajudar, já deviam estar impressionados de alguém do 12 ter saído vivo do banho de sangue. Posso até imaginar nitidamente minha irmã acompanhando o meu sorriso na caverna, quando eu peguei os dardos, e seu alívio de eu não ter morrido envenenada com a água pela mais pura sorte.

Mais um tributo havia morrido em algum outro lugar de arena enquanto eu andava. Ainda não saí da árvore que eu havia escalado, ela era um ótimo esconderijo, pois suas folhas eram espessas e ela era alta, além disso toda a atenção se desviava para o riacho. Minha sede ainda estava implacável, minha garganta parece uma fornalha, principalmente agora com a tortura do som da água do riacho. Fecho meus olhos e por um instante me imagino no meu quarto, ele não era muito grande, mas o suficiente para mim e Dorothy. Abro os olhos, estou sendo idiota, penso, não morri no banho de sangue, já vai escurecer e eu estou viva, talvez até tenha uma chance de ganhar os jogos...

Então meus pensamentos são interrompidos por uma dor intensa no meu braço esquerdo, eu olho, é uma borboleta, com certeza bestante, pois borboletas normais não picam pessoas. Mato ela com uma única batida, mas ela já havia me picado e meu braço começa a inchar rapidamente, a dor não é pior que minha sede. Volto a pensar, mas minha esperança de ganhar os jogos desaparece quando me lembro do enorme grupo de carreiristas que iriam sair para me caçar essa noite, e não demoraria muito para escurecer. Preciso de um esconderijo melhor... Diferente do que as pessoas do meu distrito podem estar pensando agora, eu nunca fui corajosa. Sempre me escondi com medo do perigo e agora não seria diferente, eu sou inteligente o bastante para saber que não tenho chance contra os carreiristas.

Quando termino de descer a árvore, o céu já está no crepúsculo. O hino da capital deve começar logo. Então eu sinto algo gelado no meu rosto, olho desesperadamente para o céu, minha única esperança havia aparecido. É a chuva, uma chuva gelada e deliciosa. Encaro o céu com um sorriso gigante no rosto e abro a boca, os pingos de água descendo minha garganta, é um alivio imenso. Pego rapidamente minha tigela da bolsa para guardar um pouco de água, pois a chuva é sem duvida minha única fonte de água segura. O que era chuva agora já pode ser chamado de temporal, mas eu continuo lá. Estou certa quando acho que a chuva é forte porque não vai durar muito, ela acaba uns quinze minutos depois de começar e ninguém saberia dizer quando vai ser a próxima.

Depois de me camuflar com lama – já que cabelos dourados e pele clara não combinam muito com as árvores - vou procurar outro local para passar a noite. Ando uma meia-hora , até que o hino da capital começa e são anunciados os 15 mortos do dia. Paro e cruzo os braços sobre a barriga para acalmar a minha náusea. 15 crianças inocentes, escolhidas pela maldita capital, e que foram mortas pelas outras próprias crianças que agora lutam para sobreviver friamente. Um minuto depois me esforço para não vomitar, acabo me lembrando que faço parte dessas crianças.

Continuo a andar, até que escuto um barulho desconhecido para meus ouvidos. Olho para a árvore e vejo um pássaro minúsculo, um pica-pau talvez, bicando a árvore. Aproximo-me, o barulho que aquela árvore faz não é normal, chego à conclusão de que estou sorrindo demais para uma tributo, mas ignoro meu pensamento e continuo a sorrir quando descubro que estou certa. A árvore é oca e o tronco é enorme, ou seja, achei meu esconderijo.

Bato com um dardo na árvore até fazer um buraco suficiente para eu poder entrar em seu tronco, o que leva um bom tempo já que eu nunca fui muito forte, mas ninguém nunca me acharia ali. Já está escuro quando termino com o buraco, tenho sorte de ser pequena, porque depois dos primeiros dez minutos não estou mais sorrindo com a ideia e sim exausta com o esforço, mas tenho que me acostumar, estou nos jogos vorazes. Enfio minha perna no buraco e faço a menção de escorregar, quando uma flecha se crava no troco, há alguns centímetros da minha cabeça. Fico paralisada de terror

–Seu idiota! Eu disse pra você esperar, você sabe que não temos muitas flechas e você ainda fica atirando elas pra todo lado e depois reclama! – disse uma voz feminina e raivosa

–Olha ali, Jazzye, é aquela menininha loirinha do 12! – uma voz masculina respondeu com raiva, apontando para mim

Eram os carreiristas, pelo menos oito deles estavam ali, me encarando como se eu fosse um café da manhã fugitivo.


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