Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 29
Espinhos


Notas iniciais do capítulo

Guys, me desculpem mesmo pela demora D: Eu estava de mudança e as coisas estavam um pouco complicadas. Mas agora já está tudo certo e espero não demorar tanto.
Uma triste notícia: a fic está chegando ao fim Ç.Ç
Então espere que aproveitem os últimos capítulos que eu venho escrevendo com tanto carinho.



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Cansada. Essa é a palavra que havia se tornado a principal do meu vocabulário depois do pequeno incidente que me fez quebrar dois dedos. Me sinto cansada de tantas coisas. Algumas delas: lutar, andar, fazer xixi no mato, ficar em silêncio, sentir fome, ter pesadelos. E algumas ainda piores: ignorar a dor, fingir que Haymitch é apenas meu aliado e nada mais e desejar que as palavras eu que tinha dito na última luta nunca tivessem existido. Essas eram as coisas que mais estavam me esgotando ultimamente. Meus dedos não param de latejar e Hay caminha silenciosamente na minha frente. O silêncio está me irritando e só faz com que a dor pareça cada vez mais forte. Quero algum barulho para me distrair, se eu pudesse escolher algum, escolheria o barulho da chuva. Talvez esse pensamento seja apenas a sede me afetando, ou não. Barulho de chuva é bom, apesar da chuva encharcar e gelar nossos ossos. Uma chuva também seria bem útil para retirar as manchas de sangue da última luta, coisa que eu não tinha conseguido fazer na última chuva, que na verdade havia sido apenas uma garoa, mas tão gelada que me fez lembrar da neve enchendo o telhado de casa no distrito 12. Mais uma coisa: estou cansada de sentir saudade. Quero e não quero voltar para casa. Quero voltar para casa porque sinto saudade, mas não quero voltar porque sei que se eu voltar nada vai ser igual por um simples motivo: eu vou ser uma assassina. Já sou uma, na verdade.

Perdida em pensamentos, não percebo que Haymitch havia parado e acabo esbarrando nele com tanta força que quase derrubo nós dois. Ele me olha com uma cara feia, eu o lanço um olhar de desculpas, ele revira os olhos.

-Por que paramos? - pergunto.

Em resposta ele dá um passo para o lado, liberando a minha visão da área. Meu coração dá um pulo e eu sinto uma emoção que não consigo identificar, uma mistura de alívio, animação, decepção e curiosidade.

- É o fim - minha voz é apenas um sussurro. É mesmo o fim. Estamos de frente para uma cerca viva e espinhosa. É o fim da arena, o fim da nossa caminhada. Não ganhamos nada em troca. O fim é feito de espinhos. - É o fim, Haymitch. - repito, sem conseguir acreditar. Ele apenas fita a cerca com uma expressão indecifrável. - Não tem nada aqui, vamos voltar. - não posso evitar a decepção de transbordar um pouco na minha voz. Esperava que depois de tanta caminhada, houvesse algo no fim. Mas não há nada, o fim é feito de cerca e espinhos. 

- Esse não é o fim - é tudo o que Hay diz depois de ficar um bom tempo em silêncio. - Não pode ser o fim, Maysilee.

Sinto meu coração se apertar. Como posso explicar para ele que o nosso plano não tinha funcionado? Nós falhamos. Respiro fundo, encarando o chão e girando o bastão-lança-chamas, que eu estava segurando apenas por precaução, em minha mão boa. 

- Vamos - digo finalmente, com a minha decisão tomada. Espero um segundo e depois me viro e começo andar. Haymitch não me segue, ando mais alguns passos antes de parar e ver que ele continua no mesmo lugar, encarando meus dedos quebrados, ou o lança-chamas, não tenho certeza. - Vamos - chamo novamente.

Dessa vez ele veio. Andando vagarosamente, quase se arrastando, mas veio.Tudo bem, disse mentalmente para mim mesma, vamos arranjar algum outro plano. Falta tão pouco para o jogo acabar, nunca achei que chegaria tão longe.  Agora somos apenas cinco. Cinco. Mal posso acreditar. Fazia três dias desda última vez que havia lutado. Três dias decisivos. Não ser atacado não quer dizer que tivemos dias fáceis. Mas nesses três dias o número de mortes voltou a aumentar consideravelmente. No mínimo, uma morte por dia. Sinto o peso da vitória cada vez mais perto e isso faz com que uma única pergunta invada a minha mente: eu ou Haymitch? Somos dois e apenas um pode ganhar. Tento não pensar muito nisso e recomeço a andar.

Mas Haymitch não me segue, continua parado no mesmo lugar. Começo a me irritar. Volto até ele. - Chega, Haymitch. Vamos. - digo com uma voz firme. Por um segundo achei que ele iria me obedecer, claro que isso foi engano meu. 

- Não - ele respondeu, arrancando o lança-chamas da minha mão.

- Ei! - reclamo.

- Você desiste muito fácil, garota. - ele diz. Sinto meu rosto queimar de raiva. Mas antes que eu possa falar qualquer coisa, ele se volta par a cerca e ativa as chamas. Mesmo estando distante, tenho minha visão cegada e o calor me atinge como uma onda, fazendo o suor escorrer no meu rosto.

Quando consigo enxergar novamente, há um grande buraco na cerca. Um líquido verde escorre em volta do buraco derretido, deve ser algum tipo de veneno. Tudo é venenoso por aqui. O barulho metálico do lança-chamas caindo no chão enche os meus ouvidos, automaticamente olho para Haymitch. Ele havia derrubado o objeto que continua fumegando no chão e massageia os dedos, provavelmente queimados. Ele cerra os dentes, mas um mínimo uivo de dor ainda escapa. Olho pasma para a cerca agora destruída. Haymitch, recuperado da dor da queimadura, sorri.

- Tem certeza que é seguro? - pergunto.

- Não, mas não temos outra escolha. Vou na frente - responde, sem deixar espeço para as minha reclamações. Ele passa pelo o buraco e se posta do outro lado com um olhar triunfante no rosto. Respiro fundo. É a minha vez. Não devíamos estar fazendo isso. Mas não temos escolha. Passo pelo buraco e quase estou chegando do outro lado quando um dor terrível surge na minha nuca. Um grito agoniante sai da minha garganta e eu me jogo para longe do buraco, caindo de joelhos no chão e me encolhendo de dor. Meus olhos lacrimejam. Uma mão toca o meu ombro. Eu não me assusto, conheço aquela mão, é a mão de Haymitch. 

- Está tudo bem - ele tenta soar calmo - Foi apenas o veneno que pingou em você.

- Veneno? - minha voz sai mais desesperada do que eu gostaria.

- Como eu disse, está tudo bem, Maysilee. Não é um veneno letal, é apenas um ácido.

Um arquejo sai pelos meu lábios. Ácido. Por isso a dor tão insuportável. Tomo fôlego antes de me levantar novamente. Seguimos em frente. Eu um pouco mais devagar, pois a dor do ácido ainda não passou completamente. Mal andamos cinco minutos quando o desanimo volta a tomar conta de mim, por completo, dessa vez. A terra em que pisamos é firme e em nossa frente se encontra um penhasco. Um penhasco que parece infinito, mas a curiosidade me faz aproximar alguns passos e eu consigo enxergar pedras afiadas no fim. Não seria uma morte muito agradável, penso. 

- Isso é tudo, Haymitch - digo com uma voz desapontada, mas firme. - Vamos voltar.

Ele fica em silêncio, observando o penhasco - Não, vou ficar aqui.

Dessa vez, resolvo não argumentar, a decisão na voz dele é clara. Bem clara. Eu também tomo uma rápida decisão, que faz o meu coração se quebrar ao meio, como cacos de vidro. 

- Tudo bem. Só restam cinco de nós. Acho que vou me despedir de você agora. Não quero que sejamos os próximos - digo, mal podendo acreditar que consegui dizê-las. Meu coração se quebra de vez. Minha expressão continua intacta. Mas Haymitch sabe o que eu quero dizer. Ele sabe que isso está errado. Ele sabe que vão nos matar, agora que descobrimos o fim. Talvez ele tenha mais chances de sobreviver se estiver sozinho, penso sem conseguir evitar um pequeno alívio de surgir lá no fundo. Ainda há alguma esperança mesmo que minúscula. Haymitch tem condições de vencer. E eu também tenho. 

- Tudo bem - é o que Haymitch fala por fim, me lançando um rápido olhar e depois se voltando para o penhasco. 

E é isso. Nenhum adeus, nenhum desejo de boa sorte, nenhum aperto de mãos, nada. Respiro fundo, tentando evitar as lágrimas de caírem. Me afasto o mais rápido que minhas pernas conseguem, voltando para a arena através do buraco, antes que possa pensar em mudar de ideia. Quando atravesso o buraco na cerca, chuto sem querer o lança-chamas abandonado.  Eu me ajoelho e o pego, ainda está morno. Sinto meus olhos se encherem de água e escondo meu rosto nas mãos. Não posso deixar as câmeras flagrarem minha fraqueza, não agora. Este é o final. O final de um show tão grandioso. Limpo as lágrimas rapidamente e me obrigo a me por de pé. Encho os meus pulmões de ar e sinto minha nuca latejar.

Estou pronta, seja lá qual for o fim.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?