Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 22
Petrificada


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora de novo :c
Espero que gostem ~apesar de estar pequeno e não tão bom como deveria, na minha opinião~
Agora vou te deixar ler ^u^



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Não me lembro de quanto tempo depois deixamos o corpo de Katri. Só lembro que a quantidade de lágrimas que eu derramei foram incontáveis, assim como as vezes em que Haymitch tentou me consolar até , finalmente, desistir. A dor parecia grande demais para ser suportada. Talvez fosse mesmo assim, insuportável. Ver a foto dela passando junto com aquele hino tocando, foi como enfiar uma faca no peito. Mas eu não tenho escolha, a não ser engolir essa dor e seguir em frente, apenas esperando a vez da minha foto aparecer.    

Haymitch me obriga a dormir, por mais que eu me recuse. Não quero ter mais pesadelos. Porém assim que encosto a cabeça e fecho os olhos, sou tomada pelo cansaço e caio em um sono profundo, sem sonhos ruins ou bons.  Acordo no dia seguinte, mas demoro para abrir os olhos. Me sinto pesada, como se a dor tivesse se solidificado no meu corpo. Finalmente, consigo abrir os olhos e me sentar, depois de muito esforço. Mas depois disso volto à estaca zero.

Não sei quanto tempo fico parada, encarando o nada. A cena do dia anterior passa repetidas vezes na minha mente. Haymitch some e volta várias vezes para o meu campo de visão. Ele se senta do meu lado e me encara, esperando eu me mexer ou dizer alguma coisa. Mas parece impossível fazer isso, é como se eu fosse apenas uma espectadora do meu próprio corpo e ao mesmo tempo da cena do dia anterior.

-May – ele me chama pacientemente pela milésima vez - Você tem que falar alguma coisa... Só uma palavra.

Dessa vez consigo abrir a boca, mas a voz continua travada na minha garganta.  Haymitch se senta mais perto de mim e coloca sua mão por debaixo da minha.

- May – tenta mais uma vez e depois fica em silêncio novamente. Sinto sua mão se mexer, fazendo cosquinhas na palma da minha. – Sinto muito – é tudo o que ele diz dessa vez. Tento responder, mas minha voz se recusa a sair. Finalmente consigo apertar sua mão. Ele dá um meio sorriso, irônico, como sempre. – É difícil eu sei, mas não podemos ficar aqui para sempre. –me avisa tirando a sua mão de perto da minha e sumindo do meu campo de visão novamente.

Está doendo. Sinto o meu coração latejar e se partir, de novo e de novo. Dói, dói muito. Me sinto petrificada. Eu não devia ter me apegado tanto. Fui idiota. Mesmo sabendo que uma de nós, ou talvez nós duas, morreríamos, me aproximei dela, cuidei dela, assim como ela cuidou de mim. Fui atrás dela, salvei ela... assim como ela me salvou. Isso só fazia meu coração doer mais.

E perdida atrás de toda essa dor, todos esses pensamentos e toda essa culpa, estou eu. Minha boca abre e fecha, mas não consigo falar uma palavra. Sinto os minutos passarem, o sol tocar o meu rosto e a paciência de Haymitch se esgotar aos poucos.

- Eu sinto muito – consigo repetir com uma voz rouca depois de um bom tempo. Então mudo de posição e observo meus dedos. Dois deles, na mão direita, estão enfaixados. Uma tentativa de curativo de Haymitch, suspeito. Os queimei ao acertar Jazzy com o fogo. Balanço a cabeça negativamente e tento me concentrar no barulhos dos pássaros e no cheiro da grama. Não quero lembrar do dia anterior. Não posso voltar à estaca zero novamente.

Me levanto com um pouco de esforço. Meu corpo está todo dolorido, meus joelhos e cotovelos ralados, minha garganta está ardendo e meu nariz entupido, além de alguns cortes não profundos – tudo isso um prêmio pela maravilhosa luta de ontem e a fria chuva de luto.

Haymitch está comendo alguma coisa e me oferece, mas não sinto vontade nenhuma de comer. Não sinto nada além de dor, para falar a verdade.  Sento e o espero acabar de comer, fechando os olhos para aproveitar a estranha calma que nos envolve. Apesar de ter dormido antes do pôr-do-sol de ontem e acordado bem depois do nascer deste, ainda estou me sentindo cansada. 

 - Para onde vamos? – pergunto.

- Em frente – ele responde terminando de comer e já se levantado para partir.

- Ainda sempre em frente?

- Exatamente – ele pega duas mochilas, deixando a terceira para mim. A quarta está vazia e vamos deixá-la para trás, escondida entre as raízes da árvore.

Então nós partimos, sempre em frente, com o vulcão atrás. Tento deixar a minha dor para trás também, mas ela insiste em me acompanhar. Haymitch continua silencioso como um fantasma e sua expressão carrancuda ainda ocupa seu rosto noventa e nove por cento do tempo. Noto que eu também estou mais silenciosa. Eu não sinto que eu sou a mesma Maysilee de dois dias atrás. Aqui cada dia parece anos. A dor te obriga amadurecer cem anos a cada luta. Começo a me perguntar se sair com vida daqui é um prêmio ou uma maldição.


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Notas finais do capítulo

Então, o que você achou?
^-^