Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 21
O raio e a dor


Notas iniciais do capítulo

Gente, espero que me desculpem -novamente- pelo demora, mas é que foi muito difícil escrever esse capítulo. Espero que entendam e gostem ~se gostarem por favor avisem, se não gostarem também avisem, não me importo~. O cap. ficou meio grandinho, mas tive meus motivos para fazer isso.
Agora vou deixar vocês lerem.



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Não.

Eu devia estar fora de todas as minhas faculdades mentais. Ele não podia estar ali. Ele não podia ter me salvado. Qual seria o sentido nisso? Não foi ele quem tinha me abandonado em troca da própria sobrevivência? Não, não podia ser que ele estivesse ali agora...

Mas não era só eu que não conseguia acreditar nisso. Jazzy também tinha levado um grande susto.

– Não! Essa luta não é sua! – rosnava para Haymitch entre os ataques. Literalmente rosnava. Eles pareciam dois animais selvagens e não duas pessoas racionais. Na verdade, racional era a última coisa que alguém iria ser nesse jogo. Todos acabamos perdendo a cabeça, mais dia, menos dia.

Meu braço não para de sangrar, assim como o de Jazzy. Minha cabeça começa a latejar novamente, mas dessa vez eu consigo me levantar de primeira. Olho novamente para a árvore. É, eu tinha razão: aquele parecia ser um ótimo esconderijo. E Haymitch também pensara a mesma coisa, pelo jeito. Katri foi a única esperta o bastante para perceber isso...

Katri. Onde ela está? Meu coração que já está disparado consegue bater mais depressa ainda. Sinto que ele vai quebrar minhas costelas nesse ritmo. Quero gritar por ela, mas tenho medo de voltar a atenção de Jazzy para ela novamente. Começo a andar sem rumo pelas raízes, olhando em baixo de cada uma a procura de algum rastro, mas Katri é apenas boa demais para deixar qualquer rastro que possa ser seguido.

Só então percebo como está frio e quando olho para o céu para encarar o sol, tudo o que vejo são grandes nuvens negras. Fico boquiaberta, provavelmente a tempestade está se formando apenas em torno de nós. Para deixar as coisas mais interessantes, imagino eu. Sinto a raiva ecoar dentro de mim. Estou cansada de ser só mais um brinquedinho na arena. Estou cansada deles fazendo o que bem quiserem comigo, ou com o que restou de mim. Escuto as folhas da árvore balançarem violentamente e dou um suspiro.

De repente um pedaço de pano rasgado envolve meu braço na altura do meu corte e eu sinto dedos miúdos e rápidos trabalharem num curativo improvisado. Teria tido um ataque cardíaco se não conhecesse aqueles dedinhos tão bem.

–Como você sabia que ele estava aqui? – pergunto baixinho.

–Como você não sabia que ele estava aqui? – Katri me encara com seus olhos espertos e dá um meio sorriso, que desaparece logo em seguida, quando ela olha para o céu – O tempo está acabando. Não tenho muito tempo, May... Mas me prometa um coisa, você vai continuar com ele. – pede susurrando, enquanto termina o curativo no meu braço.

–Tempo? Do que você está falando? Com Haymitch? Não sei se posso confiar nele, Katri...

–Mas eu sei! Confie nele, confie em mim. Confie no seu coração, já que não pode mais confiar na sua mente. Por mim, por favor, me prometa isso – pediu novamente e eu, com meu coração mole, assenti com a cabeça, apesar de não entender todas as palavras dela. – Temos que ajudar, a carreirista é muito forte, vai matá-lo... – avisou apontando para a briga com a cabeça.

Começamos e correr na direção de Jazzy e Haymitch que lutavam tão rápido que pareciam lentos borrões no ar. Ele está com uma faca, que infelizmente, não é párea para o machado da carreirista. Ela o maneja com tanta naturalidade, que parece uma extensão do seu braço e não uma arma a parte. Tento em pensar em algum plano, qualquer coisa, mas meu cérebro simplesmente não quer cooperar. Busco um solução desesperada entre as raízes , até que me lembro das bolsas com armas que roubamos dos carreiristas e que ficaram com Haymitch. Elas devem estar lá em cima da árvore. Preciso buscá-las, com certeza deve ter algo útil lá.

–Katri...eu preciso de tempo. Se as coisas ficarem muito ruins por aqui, preciso que chame a atenção dela, é só até eu voltar. Eu não queria te pedir isso, mas é que...

–Tudo bem, eu... – a cor do seu rosto sumiu. Ela não queria ser o centro das atenções de Jazzy novamente. Mas eu não tinha outra escolha – Eu consigo. Só quero que você saiba que... Eu ainda posso ver as estrelas, e sentir o vento soprando. Agora eu sei, amanha será um dia melhor – falou dando um sorriso triste em seguida e continuando seu caminho. Olhei para ela, tentando entender o por quê dela agir desse jeito tão estranho . Mas eu não conseguia entender nem a mim mesma, quanto mais os outros. Então mudei meu curso para o tronco da árvore e em poucos minutos já estava escalando. Já tinha pegado a prática da escalada e o tronco era grosso e fácil de achar apoio, por isso não tive nenhum problema. Como a árvore era bem grande, demorei um pouco para chegar ao buraco onde Haymitch tinha escondido as coisas, e como tinha que me concentrar na escalada, não pude prestar atenção na luta que acontecia lá embaixo, o que me deixava com o coração na boca. Tentava não pensar em hipóteses, o que parecia impossível. O cheiro de chuva e o vento aumentavam a cada minuto e isso também me deixava preocupada. Procuro nas bolsas qualquer coisa grande, afiada e ameaçadora. Acho um grande bastão de metal, mas que não é do mesmo tipo daquele que eu tinha matado aquele garoto, pois não tem nenhum botão e não é tão comprido. E também pego um vidrinho, que espero ser de veneno. Isso vai ser muito útil para os meus dardos. Pego mais uma faca e prendo no meu cinto. Penso em pegar mais coisas, porém preciso estar leve para ter mais facilidade em descer da árvore, então não levo mais nada. Desço bem mais rápido do que subo e chego no chão em alguns minutos, apenas com as mãos arranhadas, coisa que eu nem ligo mais.

Mal chego e um enorme estrondo faz o chão tremer e me derruba. Não foi um canhão, não foi um explosão. Foi um raio. O começo da tempestade. Exatamente o que eu receava. Me levanto ainda tonta do chão, mas logo localizo Katri e Haymitch, que agora lutam em conjunto contra Jazzy, que parece nunca enfraquecer. Haymitch está com a boca sangrando, além de outros ferimentos, mas nada grave pelo que eu possa ver. Katri ainda estava ralada da queda nas raízes, mas além disso eu posso ver seu ombro sangrar. Ela deve estar dando cobertura para Haymitch recuperar as forças. Me aproximo e preparo para me juntar a luta.

Pego o bastão, pois estou com poucos dardos e não posso me dar ao luxo de gastá-los assim. Dou um grito, chamando a atenção dos três para mim. Jazzy logo se esquece dos outros dois e se volta para mim. Respiro fundo e corro em sua direção, em preparando para o que vem a seguir. Não sei descrever exatamente a nossa luta, parecia mais uma série de borrões, mordidas, lâminas e arranhões no meu ponto de vista. Haymitch e Katri não me deixam lutar sozinha.Mas a luta parecia interminável além de desagradável e dolorosa. Não sei dizer se lutamos alguns minutos ou algumas horas. Só sei que eu estava acabada. Todos nós estávamos. Até Jazzy. Ela podia ser boa, mas não iria aguentar nós três por muito tempo, assim como nós não iríamos aguentá-la por muito mais.

Em certo momento Jazzy deu uma rasteira em Haymitch e girou seu machado tentando acertar Katri, que abaixou no momento certo. Infelizmente, eu estava próxima demais e o cabo do machado acerta o meu nariz. A dor é nauseante e meus olhos lacrimejam. Levo a mão ao nariz e percebo que ele está sangrando. Maldita carreirista. Seguro o bastão com mais força e espero o momento certo para atacar. Não sei de onde surgiu tanta força e precisão em mim, mas acerto o bastão no meio do seu rosto. Ela cai no chão e cospe sangue, já se levantando novamente. Outro raio faz o chão tremer. Sinto Katri ficar cada vez mais nervosa. Ela olha para o céu a cada cinco segundos. Haymitch também não parece muito feliz com a previsão do tempo. Jazzy não dá nenhum sinal de se importar com isso, o que me preocupa. De repente sou jogada no chão por Jazzy. Ela pula em cima de mim e nós saímos rolando entre as raízes. O mundo começa a girar, enquanto meu bastão luta contra o machado. Finalmente consigo empurrá-la para longe com as pernas e me levanto.

Nem tive tempo de me colocar de pé, quando escuto um grito e um novo estrondo de raio, no mesmo instante algo me atinge,me empurrando e me fazendo rolar para longe. Nesse segundo escuto um novo barulho. Quando consigo parar de rolar, olho para onde eu estava e lá está um enorme galho, do tamanho de um tronco de uma árvore normal. Exatamente no lugar em que eu estava a segundos. Alguém tinha me empurrado, alguém tinha me salvado. Olho para o outro lado e vejo Jazzy, encarando a cena atônita.

– NÃO! – meu grito desesperado ecoa assim que um canhão é acionado. Alguém morreu. Quem me salvou morreu. E eu sabia quem tinha me salvado: Haymitch. Ele tinha me salvado de novo, mas a troco da própria vida.

Começo a tremer. O ódio me invade como nunca antes. Eu perco completamente a cabeça e no minuto seguinte estou correndo atrás da carreirista. A culpa é toda dela! Eu avanço, meus olhos queimando de ódio. Pela primeira vez, ela me encara com os olhos arregalados, mas mesmo assim não recua. Eu parto para o ataque e enfio aquele bastão no rosto dela mais algumas vezes e na última delas, acontece algo estranho. Eu o aperto com tanta força que uma parte entra para dentro e ele fica extremamente quente e de repente uma enorme chama de fogo sai do outro lado do bastão. No segundo seguinte, Jazzy saiu correndo e gritando. Seus cabelos estavam pegando fogo, assim como suas sobrancelhas. Deixo ela fugir, estou esgotada. Só então sento e começo a chorar, esperando Katri aparecer a qualquer minuto para me consolar.

–Maysilee! – um grito de um desespero igual ao meu ecoa. Meu coração dá um pulo. Eu me levanto e saio correndo na direção do grito. Contorno o enorme galho caído e vejo Haymitch. Não consigo acreditar. Corro em sua direção e dou um abraço forte nele, sem conseguir parar de chorar e tremer.

– E-eu achei que você estivesse m-morto... – digo entre os soluços e o abraçando com toda a minha força.

– Eu também, May. Achei que você tivesse morrido – diz me abraçando de volta. Posso estar enganada, mas juro que ele também tinha lágrimas nos olhos.

De repente eu congelo. Me afasto um pouco de Haymitch e o lanço um olhar desesperado. Se não era ele quem tinha morrido, nem eu e nem Jazzy. A única pessoa que podia estar ali, morta, debaixo do tronco era... Katri.

– Não, não, não... Não! – começo a falar baixinho mas logo estou gritando. A dor é simplesmente muito grande para que eu possa suportar. Era como se eu pudesse ouvir o som de meu coração se partindo em estilhaços. Katri...

Corro até o galho e começo a empurrá-lo desesperadamente e Haymitch vem me ajudar. Depois de algum esforço nós conseguimos removê-lo e lá está: o corpo esmagado da corajosa e esperta menininha do distrito 3. Eu grito mais uma vez, me encolhendo do lado do pequeno corpo sem vida e chorando desesperadamente. Haymitch segura minha mão e eu escondo meu rosto em seu peito, tentando sufocar meus soluços de dor. Não era a dor dos cortes, nem dos arranhões ou ralados. Era uma dor muito pior, uma dor insuportável. A dor da morte. A dor da saudade de alguém que se foi e nos deixou sem sequer dizer adeus. Nunca esperei que Katri morreria assim. Nunca achei que ela morreria para me salvar, nos meus sonhos sempre acontecia ao contrário. Eu era quem morria. Lágrimas escorrem dos meus olhos sem parar e eu me encolho como se fosse uma criancinha. Haymitch também chora, é verdade. Ele mal conhecia Katri. Mas aquela era Katri, ela cativava a todos. Ela era tão esperta e corajosa, ela era a única com um pouco de sanidade ali. E agora estava morta. Agora iria ser só mais uma estrela no céu. A mais brilhante de todas, ao lado do sol. Então começa chover. Eu não sou a única, o céu também está chorando. Junto os três dedos do meio e coloco na testa do que um dia fora Katri. Não podia mostrar aquele símbolo mais alto,é arriscado demais, eles podem me matar com um raio por causa daquilo.

Eu ainda posso ver as estrelas, e sentir o vento soprando. Agora eu sei, amanha será um dia melhor – canto em um sussurro. Então logo me encolho e começo a chorar novamente. Não existiria um novo amanhã para Katri.


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Notas finais do capítulo

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