Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 15
Confiança


Notas iniciais do capítulo

Espero não ter demorado muito com esse capitulo G.G
Mas aqui está, espero que gostem ^^



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A lua prateada parece me encarar no céu escuro, parece ser a mesma lua que eu observava da janela do meu quarto. É difícil acreditar que é a mesma lua, quando nem eu mesma sou mais eu. Eu certamente não sou a mesma Maysilee de antes. Deixei a menininha meiga e alegre para trás, na esperança de encontrar uma eu mais fria e forte, mas talvez eu só tenha enlouquecido e mais nada.

Observo Haymicth dormindo, é a segunda noite em que nós estamos juntos. Me sinto bem melhor não estando mais sozinha, mesmo que as vezes seja doloroso encarar os olhos cinzas dele e lembrar que, provavelmente, nunca voltarei para casa. Sinto que só agora que Haymitch começou a confiar em mim, na primeira noite, por mais que eu insistisse, ele não me deixou ficar de guarda para que ele dormisse um pouco. O motivo era óbvio: ele tinha medo de que eu cortasse sua garganta durante a noite. Isso já aconteceu várias vezes nos Jogos, mesmo com os aliados sendo do mesmo distrito, como nós. Mesmo eu tendo salvado sua vida, ele não confiava em mim o suficiente na primeira noite, mas agora já conseguimos confiar um no outro sem medo. Isso tem sido ótimo para mim, sinto que estou voltando ao meu normal aos poucos, talvez a Maysilee de antes não esteja tão perdida assim e a Maysilee de agora também não esteja tão enlouquecida assim. É um alivio enorme ter alguém em quem confiar, mesmo que limitadamente e apenas por alguns dias.

Volto a encarar a lua, não estou com sono, descansei bem noite passada. Também não estou mais com fome, eu e Haymitch recolhemos as mochilas dos carreiristas e agora temos muitos suprimentos e armas que nem sabemos para que servem direito. Por algum motivo, me lembro de Katri. Dou um suspiro triste, eu já tinha perguntado algumas vezes se ele tinha visto a foto de uma menina pequena do distrito 3 no céu, mas ele só me respondeu que não se lembrava, mas que só restava um sobrevivente do distrito 3.

É muito diferente estar aliada com Katri e com Haymitch. Katri era animada, estava sempre sorrindo, como se nada tivesse acontecido; já ele sempre está com a mesma carranca de sempre, não dá um único sorriso e não esboça nenhuma emoção. Além disso, eu me sentia responsável pela Katri, talvez por causa da idade dela, mas Haymitch é um ano mais velho que eu, é como se tivéssemos invertido os papéis. A menininha sorridente agora sou eu... Sim, a Maysilee antiga ainda está aqui dentro.

Levanto um pedaço da minha camisa e examino o corte na minha barriga. O curativo que Katri fez já está tão velho, que fico enjoada ao observar. Preciso trocar isso antes que infeccione. Vou até as mochilas e começo a procurar qualquer coisa que possa servir como curativo. Faço isso com muito cuidado, para não acordar Haymitch. Então depois de algum tempo, acho uma gase e álcool. Eu realmente não sei se tenho coragem suficiente para fazer isso, mas também sei que é necessário que isso seja feito.

Fecho os olhos e cerro os dentes. Coragem, penso enquanto agarro a garrafa da álcool e percebo que minhas mãos tremem. Abro os olhos só o suficiente para enxergar e derramo algumas poucas gotas de álcool no corte. As gotas escorregam e quando passam pelos locais mal cicatrizados ardem como fogo. Tenho vontade de gritar, mas me contenho e dou um pequeno gemido, que faz Haymitch se remexer. Lágrimas surgem nos meus olhos quando eu derramo um pouco mais de álcool, mas aprendo a controlar a dor e aos poucos ela vai passando. Depois do dolorido processo de limpeza eu coloco o novo curativo e dou um sorriso orgulhoso.

O sol já está nascendo e eu tenho que me esforçar para não acabar dormindo. Murmuro baixinho algumas músicas que eu costumava cantar com minha irmã lá no distrito 12, ignorando completamente o fato de que isso deveria me deixar triste.

Haymitch acorda quase junto com o primeiro raio de sol, eu dou um sorriso para ele, mas ele só me observa carrancudo. Por sorte, já me acostumei com essa atitude dele, não é fácil sorrir quando sua vida se trata de um jogo mortal. Ele se levanta sem falar uma única palavra, pega algumas mochilas e olha para o sol nascente:

–Vamos? – pergunta já dando o primeiro passo

Dou um longo suspiro, tentando arranjar coragem. Por algum motivo, Haymitch continuava firme em sua longa caminhada, mantendo sempre o vulcão atrás de nós. Balanço a cabeça concordando, mesmo não vendo vantagem nenhuma em continuar avançando, não reclamo; até porque não há vantagem nenhuma em recuar. Assim seguimos por um longo tempo, não sei dizer quanto, é difícil contar minutos ou até mesmo horas na arena. Sem conversas e sempre em frente, assim são as coisas com Haymitch. Realmente não sei onde ele espera chegar, mas tomara que ele tenha um plano. Pelo que ele me contou, só restam nós dois do distrito 12. Ainda restam mais o menos vinte tributos no jogo. Ou seja, pelo menos vinte e quatro de nós estão mortos. Tento não pensar nisso.

Quando estamos perto do meio do dia, ele resolve fazer uma parada. Ainda bem, pois meus pés estão latejando, mas eu não comento nada. Não quero que ele ache que sou fraca.

–Para onde estamos indo? – pergunto

– Em frente – ele responde sério.

Claro que estamos indo em frente, penso sarcasticamente. Mesmo assim continuo calada. Nós improvisamos um lanche com as comidas que temos nas mochilas. Enquanto comemos eu pergunto a Haymitch quantas pessoas ele tinha matado. Talvez essa não fosse a pergunta certa, até porque matar é perturbador, e eu sei bem disso. Mas como não consigo mais ficar calada, acabo perguntando.

–Não sei exatamente, na verdade, prefiro não pensar nisso – ele responde depois de um certo tempo .

– Eu me sinto terrível, se eu pudesse, iria apagar cada morte da minha mente – digo dando um suspiro – Achei que eu iria enlouquecer de culpa, até encontrar você – comento encarando ele nos olhos. Eu realmente não sei por que resolvi falar disso agora, mas me sinto bem melhor. E como resposta ele dá um sorriso, pela primeira vez vejo sua carranca se desfazer. Isso me faz sorrir. É tão estranha a sensação de sorrir...

Arrumamos as coisas e continuamos nossa caminhada. Estou me sentindo um pouco mais leve e mais a vontade de estar com Haymitch também. Olho para o vulcão há muitos quilômetros de distância e, por um instante, desejo que Katri estivesse comigo e Haymtch.

Tentamos caminhar o mais silenciosamente possível, pois com o outro lado da arena completamente destruído, todos os tributos sobreviventes estão na floresta. Ele é bem mais rápido e silenciosos que eu, parece um fantasma se movendo. Eu me esforço para acompanhar a agilidade de seus movimentos. Mesmo assim ele sempre está caminhando um pouco a frente. Às vezes para e me lança um olhar impaciente para eu me apressar.

Estou um pouco atrás dessa vez, mas não me preocupo. Observo Haymitch na minha frente com seus movimentos fantasmas e acabo me distraindo. Bato o ombro no tronco de uma árvore e antes que eu posso emitir um gemido de dor. Uma mão tampa a minha boca e outra puxa o meu cabelo. Estou perdida, penso enquanto observo Haymitch seguir em frente sem perceber o que aconteceu.


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Notas finais do capítulo

Esse ficou bem compridinho, mas fazer o que né? kkkkkkk ~sejam legais e deixem reviews se gostarem =) ~