Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 14
Uma nova aliança


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ^^



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Eu tenho vontade de gritar. Gritar para Haymitch correr, se esconder! Mas no segundo em que a luta começa, fico paralisada. Não de medo, mas de espanto. Haymitch luta com uma ferocidade irreconhecível. Ouço um canhão. Pisco várias vezes para conseguir acreditar no que vejo. Ele já matou um carreirista em menos de um minuto de luta, sendo que são cinco contra um.

Observo com tanta convicção que até esqueço de respirar, só então que me lembro de me mexer. Desço a árvore sem me preocupar em fazer barulho, pois com uma luta daquelas acontecendo, ninguém iria prestar atenção em mim. Sinto uma virada no estomago no instante em que penso em aproveitar para fugir correndo sem ser notada, iria parecer que eu me aproveitei da luta do Haymitch para isso. O que iriam pensar de mim no distrito 12?

Um dos meus pés toca o solo, eu estou pegando prática de tanto descer e subir nas árvores. Termino de descer, e um canhão avisa a morte definitiva do menino que Haymitch tinha derrubado, agora já tem mais um sangrando no chão e outro com uma faca na cabeça. Outro canhão. Dou um passo para trás, assustada. Ele não é mais o menino que eu conheci, ele virou um tributo, exatamente como a Capital queria. Agora eu penso seriamente em fugir, Haymitch é bem capaz de matar todos os carreiristas e depois me matar. Meu estomago se revolta com essa hipótese. Não, ele não iria ser capaz de matar alguém do próprio distrito... Ou seria?

Me viro de costas para a luta e começo a dar passos hesitantes para longe dali. Será que essa é a escolha certa? Deixar ele, a única pessoa que tem reais chances de ser meu aliado, morrendo – e matando - sozinho? Outro canhão. Só faltam dois... Eu paro. Não consigo fugir desse jeito...

Aquela é a sua carruagem – diz meu estilista me empurrando para que eu siga em frente. O que é quase impossível com aqueles sapatos, o salto deles é tão alto que mal consigo andar sem tropeçar e cair. O estilista continua me empurrando até a carruagem. Quando chego lá, Haymicth já está em seu posto, sério como sempre. Fico nervosa.

–Se comportem! – diz ele me empurrando para cima da carruagem e me colocando do lado de Haymitch. Esse ano, são duas carruagens por distrito. A carruagem começa a andar. Olho desesperada para trás, mas meu estilista dá um sorriso encorajador. Eu olho para frente, já posso ouvir o público gritando. Meu coração começar a bater tão rápido que escorrego. Vou cair da carruagem! Mas um braço me segura. Olho assustada para meu parceiro. Ele tinha me salvado, dou um sorriso. Ele retribui dizendo: - Tome mais cuidado, queridinha.”

Um grito me traz de volta à realidade. Não um grito qualquer, um grito do garoto do meu distrito. Ouço o som de um canhão, meu coração congela. Começo a correr de volta, até que para passos hesitantes, eu tinha ido bem longe. Corro de volta e quase dou de cara na árvore com a pressa.

Haymitch estava lá, vivo. O alívio percorre meu corpo. Mas ele tinha um corte terrível no nariz e muitos outros arranhões. E tinha mais um detalhe: o último carreirista – o mais alto- estava com uma faca há centímetros do pescoço dele. Agarro minha bolsa num reflexo. Não tenho tempo para pensar. Pego um dardo, não tenho mais veneno, então tenho que acertar de primeira. Pela vida dele, prometo a mim mesma antes de mirar.

Meus dedos tremem, tenho medo de errar e acabar acertando o Haymitch. Mas então nós dois vamos morrer. Será que vale a pena correr esse risco? Tomara que sim. A faca já está praticamente no pescoço dele. Respiro fundo e lanço o dardo.

Fecho os olhos, não quero ver onde acertei. Fico parada no mesmo lugar, só me mexo quando escuto o canhão. Meu tiro tinha sido certeiro. Abro os olhos devagar... Dou um sorriso.

O carreirista loiro estava ali, morto, aos pés de Haymitch. Ele ainda não havia me percebido do lado da árvore. Olho para as minhas mãos que ainda tremem bastante e ando devagar para perto dele. Agora eu entendi porque ele não me percebeu ali: seu nariz estava sangrando muito, devia ser difícil enxergar com todo aquele sangue no rosto.

No fundo minha vontade é dar um abraço nele. Como é bom ter alguém conhecido nessa confusão toda! Mas pelo jeito como ele me olha, deve estar decidindo se me agradece ou se me mata... ou talvez os dois. Entendo a confusão que ele sente por dentro, e dou um suspiro.

–Nós viveríamos mais se cooperássemos um com o outro – sugiro

– Acho que você acabou de comprovar essa tese – ele responde esfregando o pescoço – Aliados?

Sou pega de surpresa. Pelo jeito como ele lutou, eu achei que ele tinha mudado completamente, mas vejo que me enganei. Balanço a cabeça, concordando. Estou quase sorrindo novamente, mas me lembro da minha ultima aliança. Minha vontade de sorrir desaparece instantaneamente.

Eu e Haymitch recolhemos as mochilas dos carreiristas mortos, que vão ser bem úteis. Tenho vontade de fazer uma pergunta para ele, mas tenho medo da resposta. Então fico quieta. Limpo o corte feio que Haymitch tem em seu nariz e alguns outros ferimentos. Resolvo não contar para ele sobre meu corte. Então nós seguimos o caminho que ele escolheu, deixando o vulcão sempre atrás de nós.


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