Stay Alive. escrita por Primrose


Capítulo 12
Não há inocentes


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora pra postar esse capitulo ~e ele nem ficou lá muuuuuuito bom, mas enfim ta ai :D ~ espero que gostem



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Um dia, ali, naquela árvore. Teria sido o suficiente para sugar todas as minhas esperanças? Teria sido o suficiente para tirar de mim o medo da morte? Ou teria sido o suficiente para me dar coragem para matar?

Corajosos não matam, Maysilee. Corajosos são aqueles que em vez de matar, aceitam a morte sem medo. Dizia uma voz fria no meu coração.

O que é mais fácil? Matar ou morrer?

Matar. Sim, é fácil, quando começa a bater um segundo coração no seu peito, frio como a arma que você carrega. Um pouco de ódio e fúria, alguns dias de medo e raiva desamparada, e ele já cresce em você. É ele que marca o compasso quando se trata de matar, selvagem e rápido. E somente depois você volta a sentir o seu outro coração, tão suave e quente. Ele se apavora com aquilo que você fez sob as batidas do outro. Dói e treme... mas isso vem depois... Respondia a voz fria, ou seria o meu segundo coração? O frio, tão frio quanto o veneno que eu carrego?

Não, dizia meu coração real. Não, Maysilee, você não seria capaz de criar um coração tão frio assim!..Ou seria?

E assim eu passei um dia naquela árvore. Apenas observando e tentando pensar como eu iria sobreviver dali em diante. Mas essa guerra dentro de mim estava me matando, pouco a pouco, a culpa estava me devastando e eu ia enlouquecendo cada vez mais, e mais.

A morte parece tão fácil, tão calma... E tão perto. Às vezes me pergunto o porquê de ainda estar ali. Era só uma faca ou um pouco de veneno e tudo acabaria. Sem mais culpa, sem mais luta. Mas isso seria fácil demais, além disso há o medo. Eu não quero morrer, não quero deixar minha vida para trás. A vida que é tão boa, tão bonita e tão frágil... Morrer parece tão fácil... Viver não é fácil, mas é bom... Morrer, bom, morrer só parece fácil.

Eu tinha vontade de chorar, de gritar! O que está acontecendo comigo? Quem sou eu? Porque eu estou fazendo isso? Em alguns momentos você deseja ser fria, fria como os carreiristas. Assim, pelo menos, você não seria comida pela culpa. Mas eu não estava sendo devastada só pela culpa, mas também pela dúvida.

Teria Ayse sobrevivido? Ou ela morreu por minha causa?

E Katri?

Essas talvez fossem questões das quais eu nunca descobriria a resposta. Não mesmo se você continuar aqui, Maysilee! Penso. É, preciso sair daqui, já está escurecendo e eu não quero receber outra visita dos esquilos fofinhos, dourados e carnívoros.

Começo a descer a árvore lentamente. O corte – mesmo depois de seis dias- não dói tanto, mais ainda incomoda. Me arranho várias vezes e nem estou na metade do caminho, essa é realmente uma árvore enorme. Com isso, tento não olhar para baixo, não porque tenho medo de altura, mas para não desanimar e continuar a descer, e descer...

Passos, barulho de passos.

Não pode ser! Passo um dia inteiro nessa árvore e ninguém passa por aqui, mas é só eu resolver descer que já vem gente. Malditos idealizadores! Sim, a culpa é deles. Minha sorte não pode ser tão ruim assim.

Me agarro ao tronco da árvore e fico parada, fingindo que não existo. Mas a curiosidade é um coisa insaciável e acabo olhando para baixo. No meio de tantos galhos e folhas foi difícil identificar o menino, mas ele estava lá. Parado e desorientado, escolhendo um caminho... Que sorte a minha! Penso sarcasticamente, quando o menino finalmente resolve subir a árvore, a minha árvore. Um dia pensando na morte e ela já vem me buscar!, digo a mim mesma. Não que o menino seja grande e ameaçador, ele é magricela e parece cansado, mas o caso é que eu não estou muito melhor.

Continuo lá parada, desejando desesperadamente que a minha vida não acabe agora. Sinto um close-up em mim e na minha cara de desespero, nesses momentos em que você deve ter um ato heroico para sobreviver e impressionar a todos, não me ocorre nada, nem um único plano. Então fico lá parada.

O menino vai chegando mais perto, e mais perto, até que eu não aguento e fecho os olhos. Agora sinto mesmo a câmera em mim e até escuto as vozes dos comentaristas relatando a minha morte.

Vou morrer! , é exatamente o que penso quando a mão do menino toca o meu tornozelo. Ele devia estar extremante cansado para não ter me notado até esse momento. Ele leva o mesmo susto que eu e nós iríamos cair... Se o meu coração frio não tivesse começado a bater.

É tarde demais, eu não tenho mais o controle da situação. Sinto o ódio ferver dentro de mim. Eu quero ver sangue, sim é isso que eu quero ver! Sussurra uma voz dentro de mim. Então eu me livro com violência da mão que agarra o meu pé e consigo me segurar antes de desequilibrar, aproveito o susto do garoto e começo a chutá-lo. Por mais que ele se agarre, um dos meus chutes acaba acertando a sua cabeça. Ele se desequilibra e no desespero agarra meu outro pé. O galho que eu seguro se quebra.

Eu grito. Agora estou pendurada por uma mão e com um menino agarrado no meu pé. Começo a chutá-lo novamente. Não sou forte o suficiente para segurar nós dois. Sinto seus dedos irem se soltando um a um das minhas botas. Meus dedos também não estão aguentando mais, eles querem soltar. Eles precisam se soltar! Então consigo desesperadamente achar um galho para apoiar meu outro pé e quando faço isso, o menino se solta. Eu olho para baixo só a tempo de ver o seu corpo se estatelando no chão. E seu grito, que corta meus ouvidos... E o meu coração. O que eu fiz?

Desço da árvore o mais rápido possível, preciso acabar de vez com o que comecei. Pelo menos morto ele não vai sentir mais dor. Eu acho. Então por fim e depois de vários arranhões, meu pé toca o solo. Era bom sentir a grama sob meus pés novamente. Mas a sensação se quebra com mais um gemido de dor do garoto. Eu e meu coração mole.

Antes que eu mude de ideia, pego meu dardo e miro bem no coração dele. Era mais fácil eu me ajoelhar ao seu lado e enterrar o dardo em seu coração, mas não tenho coragem. Ainda não. Então eu miro, mas bem na hora do tiro ele solta um gemido que me faz tremer, isso faz com que o dardo atinja não o seu coração, mas o seu pulmão.

O veneno, eu tinha esquecido do veneno! A dor talvez seja tanta que ele desistiu de gemer. Mas eu sei que ela ainda estava lá, queimando as suas estranhas. Eu ainda me lembro bem da sensação. Olho para os dardos restantes na minha mão. Todos sujos de sangue de esquilo. E tomo coragem, me aproximo dele.

Toco em sua pele gelada e sinto o seu tremor. Ele não pode ser salvo.

Me ajoelho do seu lado e sigo o seu olhar que se concentra no céu. Meu coração não aguentava. Aquela culpa toda em cima de mim, eu acabaria morrendo... Eu vou acabar morrendo de qualquer jeito!

–Me desculpe – sussurro para ele, em seu ouvido. Não me importo com as câmeras, nem com toda Panem me observando. Eu só posso ter enlouquecido de vez, estou conversando com o menino que tentou me matar.

Sento do lado dele e abraço meus joelhos. As estrelas já estavam surgindo no céu.

– Não...não quero mais. Não consigo mais! – resmungo. Não sei mais se estou falando com o menino ou comigo mesma. É, estou louca - Matar, matar, matar. Não posso mais fazer isso. Devia ter deixado você me matar. Seria bem mais fácil.

–Obrigado – eu ouço. Uma voz, quase um sussurro ou menos que isso. Olho para o menino, sem acreditar. Ele tinha me agradecido.

–Eu estou te matando – digo, mas minha voz soa ausente – Não me agradeça por matar pessoas inocentes, como você!

–Qualquer lugar – era incrível o esforço que ele fazia para falar. Lógico, com um dardo perfurando seu pulmão não deve ser fácil. – Qualquer lugar é melhor do que aqui.

Eu encaro o menino. Seu rosto desfigurado de dor. Sinto as lágrimas virem.

– Mais uma coisa...- ele tentou respirar – Não há inocentes nesse jogo...

Lágrimas desciam no meu rosto. Não há inocentes.

Um canhão.

Olho para o menino, me aproximo dele. Seus olhos estão vazios. Ele está morto.

Volto para a árvore. Passo ainda várias horas encolhida e chorando como uma criança. O aerodeslizador passa e pega o corpo do menino. A foto dele e de uma menina aparecem no céu.

O dia amanhece. Eu me levanto logo cedo, e desço da árvore. Está na hora de agir, preciso me mexer. Olho para os eu dardos antes de seguir em frente. Sujos de sangue, como sempre...

Não há inocentes nesse jogo, lembro a mim mesma.


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