A plataforma que me levaria para a arena começa a subir , passo a mão nos meus cabelos dourados, que estão trançados em duas tranças uma para cada lado, o medo é tão grande que olho para cima afim de evitar que as lágrimas desçam...

Eu tenho que ser forte...prometi a minha família...é só mais um show, bom eu sou o show agora e...não, eu tenho que ser forte...Falo mentalmente para mim mesma.

Cruzo meus braços sobre a barriga, para ter certeza de que meu estomago não virou o buraco negro que parece ter virado. É uma sensação terrível, uma mistura de terror, desespero, nervosismo e , o pior de todos, medo... medo de morrer, medo de matar, medo da dor, medo da arena, dos tributos, dos idealizadores dos jogos e, então, finalmente vem a raiva tão grande que faz minhas mãos apertarem as costelas da barriga que eu estava segurando. A culpa de tudo é da Capital, só de ouvir esse nome e me lembrar das pessoas ridículas em suas roupas coloridas, pessoas que não tem a mínima noção do que eu estou passando, pessoas que só querem um bom show...

Já consigo ver os raios de sol e , agora, a arena...Um cheiro estranhamente doce infesta meu nariz e...

Sessenta segundos...se concentre, você precisa sair o mais rápido possível desse banho de sangue...E...Como esse cheiro é bom...Ah! As flores, que lindas elas são...Eu penso.

Ouço um gongo, mas continuo pensando nas flores, afinal elas são maravilhosas! E os pássaros então? Os lindos pássaros que cantarolam musicas felizes...Não, minha mente começa a perceber as poucos que o chifre dourado na minha frente não tem nada de feliz, e sim de...Descruzo meu braço da barriga e preciso de um único segundo para relembrar que sou Maysilee Donner e estou representando o distrito 12 no segundo massacre-quartenário. Olho para a cornucópia, já  se passaram os sessenta segundos e Haymitch já está no topo do chifre escolhendo a dedo quais objetos levar, ele, com certeza, foi o único não afetado pelo cheiro.

Pulo da minha plataforma e começo a correr desesperadamente, minha vida depende disso, mas – assim como na Colheita - hoje não é meu dia de sorte , o tributo da plataforma ao meu lado –um menino enorme do distrito 10 - também sai correndo e , por algum motivo, me escolhe como sua primeira vitima.

Sinto um puxão no meu cabelo, ele me alcançou. Sou derrubada no chão, mas nem tenho tempo para sentir o impacto, pois ele já me puxa do chão com a mão apertando meu pescoço. Então vai ser assim? Vou morrer no banho de sangue enforcada pelo menino do distrito 10...

Não somos os únicos dos 48 tributos a sair do efeito do cheiro, vários já deixaram deixado suas plataformas e correm a procura de armas, inclusive alguns dos carreiristas, mas eu não tenho muito tempo para me importar com isso, o menino aperta meu pescoço com mais força a cada segundo e eu sinto a terrível agonia de estar sem ar, balançando desesperadamente minhas pernas tentando chutá-lo para longe, mas sem nenhum avanço,e tentando, inutilmente, arrancar as mão dele do meu pescoço...Eu não sobreviverei além disso, já vejo a cornucópia distorcida e borrões que provavelmente são pessoas lutando, olho para o rosto do meu assassino, não posso culpa-lo, ele só quer sobreviver como todos nós...Mas então vejo um tufo de cabelo marrom-escuro subir e desaparecer pelas costas do menino e, antes que ele pudesse perceber, vejo um borrão vermelho-escuro saindo do seu pescoço e  também devo estar certa pois sinto sua mão soltar o meu pescoço, me atirando para o lado. Caio no chão, aproveitando por alguns segundos o maravilhoso ato de respirar, sentir o oxigênio se espalhar pelos meus pulmões...mas não tenho mais tempo que isso.

Mesmo ofegante, me levanto rapidamente e começo a correr o mais rápido que as minhas pernas aguentam, mas acabo tropeçando em alguma coisa realmente dura...Sinto a dor, minha canela direita não gosta nem um pouquinho desse tombo, só então realmente reparo na arena: ao redor da cornucópia há uma bela floresta. Um lado a floresta dá em uma alta montanha e do outro a floresta só acaba no horizonte. Eu teria escolhido a floresta que terminava ao horizonte em vez da montanha, é claro, mas para isso teria que atravessar o banho de sangue inteiro, então decido ir para a montanha mesmo. Olho onde eu tropecei e pela primeira vez um sorriso ilumina meu rosto, eu havia tropeçado em uma bolsa preta, não muito grande, mas era bem pesada e dura, devia provavelmente por estar guardando alguma arma mortífera. Ainda sorrindo, puxo a bolsa e a agarro antes de sair correndo de perto da cornucópia para o lado floresta com a montanha.

Meu sorriso se desfaz quando o mesmo cabelo que eu vira no tributo do dsitrito 10 aparece na minha frente, é de uma menina do distrito 3, ela parece ter 11 anos, mas eu sei que tem 13. Ela corre graciosamente segurando uma bolsa verde-escura e na outra mão uma espécie de faca-machado, suja de sangue e terra, tem um corte nas costas e um no rosto, fora isso parecia muito bem para uma menininha de 13 anos que passou pelo banho de sangue. Ela passa por mim e desaparece entre as árvores.

Sigo correndo na mesma direção por algum tempo, que para mim parece ser horas. Paro ao ver uma caverna ao lado de um rochedo e analiso minha posição... Devo estar à uns 15 quilômetros da montanha ou talvez até mais, pois ela ainda parece estar bem distante. Penso em continuar a correr, mas sei que não é uma boa ideia, pois minhas pernas estão doloridas e meus pulmões mal conseguem se encher de ar direito. Chego a conclusão que a caverna é um alvo muito fácil, mas resolvo entrar nela por alguns minutos só para descansar.

Tiro a mochila das costas, ela parece estar muito mais pesada agora, abro o zíper e enfio minha mão lá dentro, fechando os olhos e desejando algo útil e não me decepciono ao ver um pacote de carne desidratada e uma zarabatana com uma dúzia de dardos mortíferos que refletem a luz do sol em meu rosto sorridente.