Eliza nem teve coragem de ir buscar suas coisas na Torre Stark, deixou para lá, comprou tudo novamente. Ela foi morar no último andar de um pequeno prédio que sua mãe deixou de herança, era no centro de Nova York, mas era rústico. O terraço era um grande jardim, com algumas cadeiras de descanso e no meio um balanço. O único problema é que bem no canto esquerdo dava pra ver o edifício Stark, isso acabava com Liz.

Depois que ela se mudou, começou a sair frequentemente com Steve e aos poucos foi se adaptando ao seu novo caso de “amor”. Uns 3 ou 4 meses depois, ele a pediu em namoro, enquanto conversavam no terraço do apartamento dela. Foi lindo, ele chegou com um buquê de margaridas, a flor preferida dela, e tirou do bolso uma caixinha com um anel. Como o bom moço que é, ele ajoelhou e pediu para namorar com ela. O cenário era perfeito, se não fosse aquele imenso prédio no fundo esquerdo. Liz aceitou o pedido, ele colocou a aliança de compromisso no dedo dela e ela chorou, aparentemente de alegria, mas no fundo se sabe que foi de tristeza e tristeza profunda.

O tempo passou.

Liz aceitou o convite para ser pesquisadora da Shield, contrariando o que queria inicialmente que era trabalhar por contra própria. Na verdade, o que ela queria antes era trabalhar ao lado de Tony, mas agora nada a impedia de pesquisar para a organização. Ela também se tornou a professora maus requisitada de Colúmbia e abriu um grupo de estudos para os alunos buscarem a cura do câncer, isso lhe rendeu alguns prêmios. Eram tantas pesquisas que Eliza não tinha tempo para nada, muito menos para namorar. O trabalho era na verdade uma fuga, uma fuga da infelicidade, uma fuga de Steve, uma fuga de Tony...

– Que remédios são esses? – Perguntou Steve, quando abriu a gaveta do criado-mudo, na hora de dormir.

– Não é nada! – Liz exclamou e fechou rapidamente a gaveta.

– Você anda com algum problema? – Steve perguntou preocupado.

– Não. – respondeu Liz – Só são remédios para dor de cabeça.

– Eu digo que trabalhar muito só traz dor de cabeça. – Steve abraça Liz por trás – Você nunca me ouve.

– Vamos dormir. – Liz dá um beijinho sem graça em Steve, espera ele deitar, pega os remédios e toma.

Liz passou a tomar antidepressivos e calmantes, ela estava muito infeliz. Tony não ficou muito atrás, só que remédio não era a solução para os problemas dele. Stark gostava mesmo era de afogar suas mágoas em álcool e assim fez. Uma garrafa de Uísque por madrugada era isso que aliviava a dor. Ele estava umas dez vezes pior do que na vez que Pepper o deixou. Pensando que substituir Eliza fosse uma solução, Stark contratou uma nova assistente. Uma não, várias, pois toda vez que uma fazia algo errado, ele mandava embora e contratava outra. Ao todo foram oito assistentes, até que ele desistiu. “Ninguém pode substituir alguém tão especial”. Na tentativa de manter viva a presença de Liz, Tony deu continuidade no projeto do laboratório dela. O espaço era lindo, todos os vidros – desde janelas, até tubos de ensaio – eram em tom rosa, as paredes também. Quando ele queria ficar sozinho e se lembrar dela, até dormia ali. Era bem estranha a relação dele com aquele laboratório, ninguém podia entrar, uma das assistentes tentou entrar e acabou no olho da rua. Ele tinha a esperança de que ela fosse voltar. Durante algum tempo a única mulher que entrava naquele apartamento era a empregada de Tony e, mesmo assim, ela não falava uma palavra em inglês.

Por duas vezes Liz tentou depositar o dinheiro de sua armadura na conta de Tony, mas ele sempre recusava. “Dinheiro nenhum compra a criação de uma heroína, Dama da Força tem um valor inestimável” Esse era o pensamento de Tony e foi essa a última frase que ela ouviu dele, quando ligou para perguntar o porquê dele não aceitar o dinheiro. O orgulho de Tony era tão grande que ele nem conseguiu dizer que sentia saudade, foi logo desligando.

***

Era aniversário de Anthony, ele completava 40 anos. Jarvis o acordou de uma forma diferente.

– Bom dia, senhor Stark. – Jarvis abriu as janelas – Hoje é dia 23 de Novembro de 2012. O céu está azul e as folhas caem, pois é outono no hemisfério norte.

– O que está acontecendo? – Tony resmungou, ainda deitado na cama, e tentou abafar o som de Jarvis com o travesseiro na cabeça.

– Hoje é dia 23 de Novembro! – Jarvis repetiu.

– Eu te programei pra ser simpático? – Tony perguntou ironicamente – Cala a boca, Jarvis e fecha a porra da janela.

– O senhor não costuma falar palavras de baixo calão.

– Está querendo mandar até nas palavras que digo? – Tony se senta na cama – O que estou fazendo, estou brigando com um robô?

Ele levanta e vai lavar o rosto.

– Hoje você faz 40 aninhos, coroa. – Tony diz a si mesmo, olhando no espelho – Sozinho, sem filhos e sem o amor da sua vida. – Ele pega uma gilete e começa a fazer a barba – Em menos de dois anos você perdeu as duas mulheres que amou. Você é um idiota, Tony Stark.

***

Um pouco perto dali, na universidade Colúmbia, Liz acabava de dar uma fiscalizada nos alunos do Projeto Cura (projeto que ela criou).

– Isso! Gostei desse resultado. – Liz diz olhando no microscópio – Coloca mais um pouco na estufa. Acho que podemos chegar a algum lugar, partindo desse principio. –

Liz tira os óculos e o jaleco – Meninos e meninas,estou saindo mais cedo hoje. Qualquer dúvida liguem para o meu celular. Beijos.

Eliza saiu toda feliz e foi direto para, Levain Bakery, a maior confeitaria de Nova York.

– Olá, eu fiz uma encomenda hoje pela manhã. É um bolo meio chocolate branco e meio chocolate preto. – Liz disse sorridente como nunca mais esteve.

– Já está pronto, vou só colocá-lo na caixa para senhora. – Disse a feliz atendente.

– Obrigada. – Liz pegou a caixa e saiu da confeitaria.

***

Tony andava de um lado para o outro em sua sala, estava totalmente entediado e chateado por sua vida ser tão diferente dos outros caras de 40 anos. Até que Jarvis detecta a presença de alguém no elevador principal, que subia direto para a cobertura.

– Senhor Stark, sei que não posso falar com o senhor, mas acabo de detectar uma pessoa subindo no elevador principal.

– Quem é? – Tony para de andar – Liga a câmera do elevador, Jarvis. Deve ser alguém conhecido, para passar pelos seguranças.

Jarvis liga a câmera e Tony percebe que é o sobretudo e o chapéu de Liz.

– É ela. – Tony sorri.

– É a senhorita Márquez.

– Eu sei. – Tony corre para o espelho e ajeita o cabelo – Como estou Jarvis?

– Não tenho autorização para comentar sobre essas coisas. – Parecia de Jarvis estava sendo irônico com Tony.

– Eu te autorizo.

– Pouco Apresentável.

Tony está vestindo sua clássica regata branca, uma calça de moletom cinza e meias nos pés. Ele abre a porta antes mesmo dela tocar a campainha.

– Oi! – Ele diz sorridente.

– Oi! – Liz ficou meio assustada e encolheu a mão que ainda estava estendida para tocar a campainha.

– Pode entrar. – Tony parecia meio bobo, diferente do que ele era normalmente.

– Isso aqui é para você. – Liz entregou a caixa na mão dele.

– É uma bomba? – Tony pegou a caixa e colocou sobre a bancada da cozinha.

– Abre, se explodir... é. – Liz sorriu.

Tony abria a caixa, enquanto Liz tirava seu chapéu e seu sobretudo. Quando ele acaba de abrir, olha novamente para ela e se espanta:

– Nossa! Eu não lembrava mais o quanto era gostosa.

– Tony! – Liz disse alto.

Ela estava mesmo muito bonita. Usava um vestido rosa claro, justo até a cintura e rodado na parte de baixo.

– Muito obrigado pelo bolo. Pensei que ninguém iria se lembrar do meu aniversário.

– Que aniversário? – Liz faz uma cara de confusa e Tony também faz. – Claro que foi pelo seu aniversário. – Liz ri – Acha que só você sabe fazer piadinhas?

– Rá, rá! – Tony finge que ri.

– Vamos comer logo isso? – Liz pega uma faca – Estou com fome. Toma. – Liz entrega a faca nas mãos de Tony – Corta ai.

– Você está feliz? – Tony pergunta ao mesmo tempo em que corta uma fatia.

– Agora, nesse momento, estou. – Liz tenta omitir os seus sentimentos.

– Não estou falando de agora... – Tony segura o pratinho com o bolo na frente dela –

Não se faça de desentendida.

– É complicado, semana passada ele me pediu em casamento. – Eliza conta para ele.

– E você aceitou? – Tony tentou transparecer calma e seriedade.

– Não! – As feições de Liz ficaram tristes – Não posso casar sem amor.

– Ué? Steve não é o seu “destino”. – Tony faz as aspas com as mãos.

– Destino não significa amor. – Eliza diz olhando nos olhos dele.

– Ahh! – Tony larga o prato na bancada e começa a se exaltar – Então seu “destino” não tem amor? Fala sério, Eliza.

Liz só olha assustada a reação de Tony.

– Você não vai falar nada? – Tony volta a andar de um lado para o outro. – A propósito, seu “destininho gelado” sabe que você está aqui hoje?

– Você é um grosso. – Liz também larga o prato com o bolo – É por isso que você está sozinho. Você não sabe conversar com ninguém.

– Não muda de assunto. – Tony aponta o dedo no rosto dela.

– Ei! – Liz empurra a mão dele. – Tira a sua mão do meu rosto. Eu venho aqui com todo meu carinho, te trago um bolo da Levain Bakery e você me destrata desse jeito?

– Você é uma... – Tony aproxima seu rosto do rosto dela – É uma...

– Sou uma o que? – Liz diminui o tom de voz e aproxima seus lábios dos lábios dele.

Tony segura o braço dela e quando vai beijá-la o celular dela toca e acaba com todo clima.

– Licença – Liz diz e tira o braço das mãos dele.

– Deve ser ele. – Tony resmunga.

– Xiiiii! – Liz pede silêncio.

– Eliza, aqui quem fala é Nick Fury.

– Olá. – Eliza aumenta o tom de voz – Nick Fury!

– Exijo a sua presença aqui agora.

– Aconteceu alguma coisa? – Liz fica preocupada.

– Sim. Nós já sabemos quem você é, senhorita Eliza Maria, não dá mais para esconder.

Eliza fica mais branca do que o normal e engole a própria saliva. Tony percebe a mudança de aparência e também fica preocupado.

– Liz, o que houve?

– Você está com Stark? – Fury reconhece a voz de Tony.

– Sim. – Liz responde ainda estática. – Ele vai comigo.

– A senhorita tem certeza disso?

– Sim, tenho. – Liz respira fundo – Se vocês sabem de alguma coisa, ele também merece saber.

– Como quiser. Esteja aqui o mais rápido possível, se ainda quiser ser uma Vingadora. – Fury desliga.

– O que ele queria? – Tony fica curioso – O que preciso saber?

– Calma! – Liz olha nos olhos dele e diz com firmeza – Venha comigo e você irá entender tudo.