Passei as últimas duas semanas dentro do hotel, exercitando minhas “cópias de poderes”. Conseguia “ligar” e “desligar” sem problemas. Também não senti mais dores de cabeça. Cheguei a conclusão de que estava controlando as “cópias”. Ouvia o que alguém pensava no café no salão do hotel, sentia as  emoções de alguém as vezes, e um dia resolvi tentar adivinhar o número de um bilhete de loteria. Ganhei cem mil nessa brincadeira.

Estava de uma maneira me sentindo especial. Eu era bonita, desejada – vi isso em algumas cabeças - e rica. Peguei os pensamentos de alguns empresários me observando e imaginando se eu era filha de algum poderoso para viver num andar só meu no hotel mais caro de Chicago. Sempre que alguém tinha coragem suficiente para perguntar ao Martin, ele desconversava e dizia que eu era uma jovem ajuizada.

Gostava como todos no hotel cuidavam de mim, e me sentia realmente em família ali. Isso não fazia eu me esquecer de Charlie, e sempre ligava e mandava postais para ele. Também ligava e mandava e-mails para minha mãe.Continuava a me corresponder com Alice e lhe informar dos meus progressos. Também mandava algumas fotos e noticias para Rose não ficar com ciumes.

Tinha muitos dias que não saia para “curtir” a noite. Ben hoje não podia, era quinta-feira e ele tinha prova na faculdade. Resolvi sair assim mesmo. Escolhi um vestido rosa pálido com as costas em renda e uma sandália caramelo. Prendi meus cabelos num coque bagunçado, e fiz uma maquiagem escura nos olhos, um gloss transparente nos lábios e estava ótimo. Caprichei no perfurme.

O Petit estava até badalado para uma quinta feira, subi para a área vip e o rapaz do moicano sorriu lembrando de mim.

– ei! Você sumiu gatinha!

–É verdade! Sorri de volta para ele.

– Sou Max! Qual seu nome?

–Oi Max! Sou Isabella!

–Hummm, posse te chamar de Bells? - ele disse com uma cara divertida.

– Pode – respondi rindo do seu jeito.

–Tenho algo que você vai gostar de provar.

Max me entregou uma taça com um drinque colorido, e provei. Tinha gosto de maçã verde, com um toque cítrico. Me apaixonei pela bebida.

– o que é isso?

– É uma mistura especial que faço, grapefruit, maçã verde e vodca.

Ficamos conversando por um tempo, e ele me contou que estudava publicidade. Tinha uma namorada que era designer. Disse a ele que tinha terminado o colegial, não tinha namorado e estava passando um tempo em Chicago antes de viajar para Londres. Tomei uns quatro drinques “especial da Bells” enquanto conversávamos. Um garoto bonitinho chamou Max e pediu que dissesse que queria me pagar uma bebida. Achei muito divertido e acabei conversando com o garoto. Ele era meio mauricinho e logo perdi o interesse nele. Ele falava sobre o carro dele, sobre morar num apartamento perto do centro e sobre ser filho de em empresário.

Resolvi me mostrar e contei que morava no Rouge Royal, e que estava de partida para um tour pela Europa. Disse que preferia andar por Chicago com motorista porque não achava lugares para estacionar com facilidade, mas que providenciaria um carro quando chegasse em Londres, ou talvez Paris. Resolvi “ligar meu botão de ler mentes” e vi que o mauricinho se arrependeu de ter tentado dar um de riquinho e não sabia como sair dali. Me diverti com isso.
Deixei ele sem jeito mais um tempo, sendo um pouco malvada e tagarelando sobre minha vida no hotel até que pedi licença e fui ao banheiro. Se ele fosse esperto daria um jeito de sair dali.

Encontrei uma garota no banheiro que elogiou incansavelmente meu vestido, e disse que ele era um dos preferidos dela do ultimo desfile da Burberry. Saimos do banheiro conversando e ela me apresentou a seu grupinho de amigos.

Lizi estava com o namorado, um garoto moreno chamado Thor, uma prima chamada Mel e um amigo do namorado chamado Filipe. Conversamos por alguns momentos trocamos telefone e resolvi voltar para meu banquinho no bar.

–olha quem eu encontro de novo...

Olhei e vi Damon, com uma camiseta de mangas comprida e capuz preta, e seus cabelos pretos jogados para trás como sempre.

– olha quem entrou na área vip de penetra de novo! Precisam melhorar a segurança desse lugar! - disse caçoando.

Puxa como ele estava bonito hoje. E a expressão misteriosa misturada com sarcasmo dele me deixava arrebatada.

– então, não está tomando tequila ou mojito hoje? Algo mais suave?

Por mais gostoso que o drinque fosse ele não era nada suave, era bem forte devido a vodca.
Empurrei minha taça para Damon e o olhei desafiando a provar. Ele pegou sem desviar o olhar do meu e tomou, fez cara de surpresa quando viu que não era nada “suave” como ele imaginava. Recuperei minha bebida e terminei fazendo um sinal para Max me preparar outra. Damon fez sinal pedindo uma para ele também.

– você sumiu Isabella! Por onde esteve esse tempo todo?

– acho que não temos intimidade suficiente para te contar o que andei fazendo por ai Damon...

– pelo menos lembra o meu nome. Isso é bom!

Lizi apareceu e disse que estavam indo para uma festa no apartamento de Thor, me convidou e disse que Damon era bem vindo também. Concordei em ir, me despedi de Max e Damon me seguiu até a saída.

– você está de carro ou quer uma carona Isa? - Lizi perguntou.

– você pode vir comigo se quiser! - Damon ofereceu.

– Tenho meu motorista esperando, obrigada... - disse mexendo em minha bolsa procurando meu celular para chamar Peter.

– ah por favor, não é como se eu fosse um louco que você nunca viu! Nós já bebemos juntos! Duas vezes!

Pensei a respeito, tentei “ver” se isso seria uma escolha arriscada e me vi rindo na festa e depois dormindo na minha cama.

– combinado então.

O manobrista entregou a chave para Damon e ele abriu a porta do passageiro para mim. O carro era um Pajero, preto, com vidros escuros, bancos de couro. Dentro do carro o perfume de Damon estava mais concentrado, era um cheiro amadeirado, misturado com especiarias. Um perfume muito bom. Ele não me obrigou a colocar o cinto e achei isso bom, detestava ser vista como frágil.

Thor parou ao nosso lado na esquina e pediu que a gente o acompanhasse, e fez uma piadinha sobre se conseguirmos. Acho que Damon só não o ultrapassou por que não sabia o caminho mas ficamos lado a lado com o carro deles. Achei divertido esse mini racha entre os garotos.

– Acho que consegui acompanhar! - Damon disse para Thor enquanto descíamos do carro.

Ele desceu com seu casaco e o colocou sobre os meus ombros com um sorriso malicioso...Ia fazer menção de recusar mas ele me interrompeu colocando o dedo nos meus lábios me calando.

– Está frio aqui fora.

Fomos para o apartamento de Thor, e nos instalamos na varanda, nesse momento fiquei agradecida pelo casaco de Damon porque aqui em cima  realmente fazia frio.

As garotas colocaram música e trouxeram copos, e os garotos trouxeram garrafas de tequila. Damon me deu um sorriso de quem aprontaria e disse

– competição de tequila! Vamos ver quem aguenta mais doses!

– Eu topo! - Lizi gritou muito empolgada!

– Estou dentro - Filipe disse ao mesmo tempo que Thor.

– Acho que já estou muito tonta – reclamou Mel e Damon revirou os olhos.

– O que estamos esperando então! - eu disse me ajoelhando perto da mesa e pegando meu copo.

Damon olhou satisfeito que aceitei seu desafio, provavelmente imaginando que eu terminaria bêbada e o beijando....tsc tsc...

Os outros garotos me olharam um pouco duvidosos se eu realmente não iria vomitar nos pés deles.

Servimos a primeira rodada e eu e Damon fomos os primeiros a bater o copo na mesa. Lizi foi a segunda e os garotos os últimos. Na quarta rodada Filipe desistiu e foi para o banheiro. Na sexta Lizi resolveu parar e terminamos na oitava rodada só eu e Damon, porque A garrafa só deu para os nossos copos. Thor disse que quem batesse o copo primeiro ganhava e podia pedir algo.

Perdi, terminei de virar a minha dose assim que escutei o copo de Damon batendo na mesa.

Todos deram gritinhos e aposto que imaginavam que Damon iria pedir que eu o beijasse. Até eu já imaginava que ele pediria isso.

– amanhã a noite, nós temos um encontro! - ele disse para a surpresa de todos ali na sala. Inclusive a minha.

– Combinado! - entrei no clima do jogo.

Continuamos todos conversando e rindo e Lizi de repente tirou um saquinho da bolsa com um pozinho branco e começou a balançar dizendo:

– bem quem vai querer um pouquinho?

– O que é isso? - não resisti e perguntei.

– É LSD Isa! Você vai gostar.

Ela me estendeu o saquinho e Damon o pegou antes de mim.

– Acho que hoje não é o melhor dia para você experimentar isso, você bebeu demais na boate e aqui.

Olhei para ele não acreditando que ele estava me dando sermão na frente se todos.

– eu experimento se eu quiser! - disse tentando alcançar o saquinho e caindo em cima dele.

– Na verdade Isa, acho que ele tem razão, nem Lizi deveria usar isso hoje, tá todo mundo muito bêbado para isso – Thor disse e Damon lhe jogou o saquinho.

Lizi fez biquinho e Damon me levantou e disse que me levaria para casa. Eu disse que não que chamaria Peter. Ele pegou meu celular e mudou a sms que estava escrevendo para “pode ir para casa, vou embora com um amigo” e enviou.

– você não podia ter feito isso! Bati o pé fazendo biquinho.

– Não era justo fazer ele atravessar a cidade se eu posso te deixar em casa. E preciso saber onde te pegar amanhã!

Resolvi concordar com ele que não era justo fazer Peter atravessar a cidade aquela hora.Fui me despedir das garotas e Lizi colocou um saquinho com LSD na minha mão e piscou para mim. Guardei despistada na bolsa, me despedi dos garotos e entramos no elevador.

– eu vi o que ela te deu e acho melhor você não usar isso hoje.

– O quê? - perguntei me fazendo de desentendida.

– Só não use isso hoje...

Ele abriu a porta para mim e assumiu o volante, ligou o carro e me perguntou para onde. Disse o nome do hotel, e ele dirigiu até o hotel, não foi rápido como na ida, era mais como se ele quisesse se demorar no trajeto. Senti um espécie de cutucão na minha mente, não era uma dor, mas cada vez que sentia isso Damon franzia a testa e fazia uma cara de surpresa misturada com frustração. Me distrai pensando nisso e não notei quando chegamos ao hotel e ele segurava minha porta aberta e estendia a mão para me ajudar a descer.

O porteiro noturno me cumprimentou e Damon perguntou se poderia me acompanhar até minha porta e concordei.

Ele não me parecia o bom moço que tentava ser.
Ele parecia muito mais o tipo malvado e problema, aquele bad boy por quem a mocinha do filme se apaixona. Entramos no elevador e chegamos no meu andar. Retirei o casaco e o entreguei a Damon que cheirou a gola e o jogou por cima do ombro.

– amanhã te busco as oito da noite! - ele disse, se inclinou, colocou uma mecha do meu cabelo atras da orelha e me deu um beijo na bochecha, deslizou a mão pelo meu pescoço e se virou em direção ao elevador.

Entrei em meu quarto e já eram quase cinco da manhã, tirei os sapatos na sala, larguei minha bolsa, abri a porta da sacada e fui para o banheiro tomar um banho. Vesti uma camisola preta curta e de alcinhas, fui até a cozinha pegar água e voltei para o meu quarto.

Quase tive um troço quando vi um corvo preto grasnando para mim de cima da minha cama.
Com o susto deixei o copo cair e o corvo passou por mim voando em direção a porta da varanda...