Carvão Em Pérolas escrita por Milady


Capítulo 13
"Can't you see I'm still left here"*


Notas iniciais do capítulo

Nossa, gente... Foi tão lindo!
Tantos reviews no capítulo passado. Fiquei tão encantada quando tive que clicar na segunda página para poder ver todos!
Vocês me deixaram mal acostumada, viu? Quero mtos e mtos mais =D
Beijos e obrigada!
P.S. Mudei meu nome de usuário. Que acharam?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/222475/chapter/13

Caminho rapido e entro pela porta dos fundos, jogando o pacote que Grease me entregou em cima da mesa. Coloco água para ferver e vou procurar algo que eu possa cozinhar para o almoço.


Encontro batatas, arroz, algumas ervilhas e há ainda alguns pedaços de carne salgada. Começo a preparar tudo, sabendo que Peeta trará alguns pães doces para a sobremesa. Ouço a água ferver e separo algumas folhas. Farei apenas um pouco do chá agora, à tarde, quando Peeta voltar para a padaria, preparo o resto.


Estou lavando as folhas quando Haymitch invade minha cozinha com Buttercup em seu colo. Incrível como aquele gato estúpido se deu bem com meu antigo mentor, a ponto de preferir sua casa a minha. E eu agradeço por isso.


Haymitch boceja, acariciando o gato e percebo que seus olhos se fixam nas folhas. Tenho o impulso de escondê-las, mas ouço a voz grave, séria, sem uma gota de ironia.


– Então estamos prevenidos quanto à pequenos tordos e leões?

Eu o encaro, morta de vergonha, mas tento manter minha voz firme.

– Não é da sua conta. E seria bom se você avisasse de sua chegada de vez em quando.

– Peeta sabe que você está tomando isso? - ele continua sério.

– Não! Nem vou contar. O corpo é meu, afinal.

Por que todas as pessoas se preocupavam apenas com o que Peeta iria achar? E minha opinião? E meus sentimentos?

– Ok. Isso não é um assunto meu.

– Não. Não é.

Haymitch puxa uma cadeira e se senta, ainda com Buttercup em seu colo. Eu me movimento o mais rápido que consigo, preparando chá e comida. Haymitch apenas continua em silêncio, alisando o pelo do gato. Às vezes sinto seu olhar sobre mim, às vezes olho para ele e percebo-o fitando o pelo escuro de Buttercup.

Quando o chá fica pronto, despejo um pouco em uma xícara. Haymitch me olha eu devolvo o olhar em desafio e engulo tudo. Está quente e sinto que queimei minha língua. É amargo, muito, na verdade, mas não me permito fazer uma careta sequer. Depois coloco a xícara e a panela em que fervi as folhals de qualquer jeito sobre a pia. Cuido disso quando for lavar a louça do almoço. Ele não diz nada, apenas dá um risinho pelo nariz e volta a encarar o gato Eu já não me seguro mais.

“O que você quer aqui? Não tem nenhuma garrafa de bebida esperando você em casa não?”

“Chegou a hora de me manter um pouco sóbrio de novo, docinho.”

Ouço o barulho de Peeta dando a volta na casa e corro para esconder a sacola com as folhas do lado do armário, pouco me importando com o que Haymitch vai achar ou não. Na verdade, o que me preocupa é se ele vai ou não soltar alguma indireta sobre isso.

“Haymitch!”

Peeta sorri para nosso mentor e vem até mim, depositando um beijo em meu rosto.

“Eu pensei em trazer algo de chocolate para sobremesa, mas resolvi ser saudável” - ele mostra uma sacola com alguns morangos, virando-se para colocá-las sobre a pia. Faz isso com cidado e vira-se devagar encarando Haymitch. - “Vamos precisar de treinamento novamente. Real ou não real?”

Haymitch encara Peeta muito sério. - “Real.”

“Podemos comer antes de conversar sobre isso?” - eu interrompo.

“Ora docinho, uma excelente ideia.”

Arrumo a mesa e nos servimos. Haymitch parece estar faminto e eu... Bem, eu gosto de comer. Mas Peeta apenas brinca com a comida em seu prato. Me preocupa o quanto essa ida à Capital está mexendo com ele.

“Então é isso... De volta aos jogos?” - Haymitch fala quando termino de guardar os pratos.

“Effie disse que as coisas mudaram... Elas tem que ter mudado.” - eu falo encarando Peeta, que permanece em silêncio. - “Você não confia em Paylor?”

“Oh, eu confio em Paylor.” - Haymmitch responde - “Eu não confio é nessas relações de poder. Ou, talvez nós apenas estejamos ficando paranóicos.”

Um silêncio sufocante cai sobre nós. Eu não sei o que pensar dessa viagem. Eu tenho medo de perder todo esse mínimo sossego que conseguimos reconstruir.

“A questão é prática.” - A voz dePeeta me assusta - “Nós vamos lá, fazemos nosso papel e voltamos. Não haverá mais luta ou matança... é só sorrir, mesmo sem vontade, já fizemos antes, podemos fazer novamente.”

“É, você está certo garoto... Certo como sempre.” - Haymitch se levanta - “Precisamos começar a nos preparar para a viagem... Hoje a noite conversamos com Effie para acertar tudo, ok?” - Ele caminha para a porta - “Até a noite.”

Por um momento pensei que Buttercup iria segui-lo, mas ele apenas sobe as escadas. Provavelmente indo para o quarto que era de Prim.

Eu acompanho o gato com o olhar e percebo Peeta se levantando e caminhando para a cozinha. Ele se serve de um copo com água e volta para a sala.

“Vou voltar para a Padaria.”

“Mas, já?”

“É melhor eu não demorar, já que amanhá é minha folga e tenho que estar aqui cedo hoje para falarmos com a Effie.”

Ele apenas se virou e saiu. Não me olhou, não tentou me beijar... Senti um frio que atingiu os meus ossos.

O restante da tarde se passou lentamente. Tive mais uma sessão por telefone com Dr. Aurelius, que ficou muito satisfeito em saber quepoderia realizar um exame presencial em mim.

Já estava escurecendo quando Peeta voltou, não trocamos muitas palavras e ele subiu para tormar um banho. Eu já estava ficando preocupada com ele. Vivíamos em uma expectativa constante, pois a qualquer momento ele podia ter um novo surto com memórias do telessequestro.

Antes que ele pudesse chegar ao fim das escadas já senti seu perfume. Eu estava de costas para a porta da cozinha, cortando alguns tomates para o jantar e esperei seus braços frios do banho e um beijo suave em meu pescoço... Mas isso não aconteceu. Ele apenas ficou do meu lado, pegou a faca das minhas mãos e disse:

“Deixe, eu termino por aqui.”

Eu quis argumentar que ele havia passado o dia trabalhando, mas Peeta não quis me ouvir, dizendo que na verdade, o seu dia havia sido mais em supervisionar os rapazes, então ele não tinha se cansado muito.

Subi e fui tomar meu banho. Por alguma razão que eu não me permitia pensar, eu queria que Peeta me achasse bonita, então escovei meus cabelos com cuidado, vesti um vestido verde mais solto e curto que o costume, no lugar das calças largas de algodão de sempre, e perfumei minha nuca. Era estranho, mas eu queria chegar até a cozinha e abraçá-lo, beijar seu pescoço e dizer que era exatamente aquilo que eu esperava que ele fizesse comigo. Desisti quando cheguei na cozinha e vi toda a sua atenção voltada para o trabalho de cozinhar.

“Por que você não vai no Haymitch e os chama? Quanto mais cedo resolvemos tudo, melhor.”

Eu apenas afirmo com a cabeça e saio. Sinto a brisa tocar minha pele e me arrepio inteira.

Atravesso o jardim mal cuidado de Haymitch e bato na porta. Ele vem me atender com um sorriso irônico, como sempre.

“Hey, Katniss”

Entro sem olhar direito para ele.

“O que aconteceu com o ‘docinho’?”

“É que acho que chegou a hora de parar com isso. Você é adulta agora. Já está até se prevenindo contra bebês...”

Eu me viro tão rápido na direção dele que até fico um pouco tonta. Ele ainda me sorri. Meu Deus, eu quero dar um soco no nariz de Haymitch, mas me contenho.

“Cadê a Effie?”

“Tomando banho” - Então ele emenda, sério - “Você precisa falar sobre isso com o Peeta. Não é a minha conta, eu sei... Droga, Katniss! O garoto quer ter uma família, ele merece isso! Lembre-se que ele não é igual a nós... Ele é melhor que isso. Por que você não tenta melhorar também?" - ele suspira e posso sentir uma nota de tristeza em sua voz - "Não siga meus passos, docinho....”

As palavras dele me atingem como um tapa e meus olhos começam a marejar. Haymitch está certo. Ele quer o bem de Peeta, claro. Peeta sempre foi seu preferido... Droga! Eu quero o bem de Peeta, mais do que e o meu mesmo!

“Eu não consigo lidar com isso agora... Por favor, não me peça para lidar com isso agora... Ele nem está pensando nisso! Vamos para a Capital primeiro, então eu posso pensar sobre como conversar com ele...”

Ouço o barulho dos saltos de Effie descendo as escadas e seco meus olhos c om as mãos. Haymitch ainda está sério, mas não me encara mais, apenas levanta o olhar para Effie, que vinha carregando uma pasta amarela nas mãos.

“Está tudo bem aqui?” - ela pergunta.

“Claro, querida. Estamos todos bem agora...”

Ela não parece acreditar muito, mas não discute. Saímos para a noite e em poucos segundos já estamos entrando na minha casa. Effie se adianta para falar com Peeta e ele sorri para ela. Mas é um sorriso sem brilho, que não alcança os olhos.

Comemos com calma, falando amenidades sobre o distrito. Effie faz questão de enfatizar o crescimento que tivemos em tão pouco tempo, no quanto acredita neste prefeito novo - que foi indicado pela Capital - e nas grandes inovações que ele poderia trazer para o D12.

Após o jantar, Peeta fez café e sentamos ao redor da mesa novamente. Vi quando Haymitch e Peeta trocaram um olhar e a voz tranquila e fria do último afirmou para Effie.

“Nós vamos à Capital.”

Effie abriu um largo sorriso e bateu palminhas, enquanto dizia repetidas vezes “Maravilha, maravilha!”

Vi quando Haymitch revirou os olhos com aquela demonstração de entusiasmo e foi tão espontâneo que não pude deixar de rir, assim como Peeta. Ver este pequeno sorriso acalmou um pouco meu coração.

Effie foi até a sala e trouxe sua pasta amarela. Ali havia algumas informações sobre a programação do anivesário da rebelião. Ao que me pareceu, estava tudo mais ou menos arquitetado, só faltando mesmo a nossa confirmação para os arranjos finais.

“Como falei, o aniversário será daqui a um mês, assim ficamos com umas três semanas para vocês acertarem tudo por aqui. Depois, embarcamos e os preparativos se iniciam.”

“Três semanas...” - Haymitch repetiu.

Na programação constava alguns eventos sociais, como festas e aparições públicas, assim como reuniões para discussão das novas leis e preparação de eleições. Todos os tibutos vencedores vivos eram esperados, e participariam dessas discussões expondo pontos de vista, argumentando. Pelo que pude perceber, essa era uma exigência de Paylor. Ao fim quando tudo estivesse estruturado haveria uma apresentação para a população, onde tudo seria explicado e finalmente, poderíamos dizer que vivemos em uma Panem completamente nova e democrática.

Dentre as aparições públicas que estavam previstas, estava um programa de TV totalmente dedicado aos tributos vencedores sobreviventes, obviamente, com um destaque maior em mim e Peeta.

Sinto Peeta remexer-se na cadeira e compreendo perfeitamente, porque eu também estou incomodada.

“E quem vai produzir esse programa?” - Haymitch pergunta.

“Plutarch.”


Effie responde e eu sinto algo ruim dentro de mim. Não gostaria de trabalha novamente com ele.

“O que aconteceu com Caesar?”


Eu encaro Peeta, sem entender o motivo da pergunta. A expressão de Effie também é confusa quando ela responde.

“Bom, ele não era diretamente envolvido nos Games... Apenas um empregado de todo aquele circo. Então Paylor não achou justo prendê-lo, mas uma boa parte de seu patrimônio foi confiscada. Agora ele mora em uma parte mais afastada da Capital com sua família. Me parece que ele cria cachorros, e dá aulas de música, ou algo assim.” - Effie respondeu bebericando de seu café.

“Eu exijo que ele apresente esse programa.”

Então todos nós olhamos para Peeta, surpresos. Eu não acredito que ele estava pedindo isso. Tudo o que eu queria era deixar tudo aquilo menos parecido com os Games e ele faz aquela exigência?”

Haymitch me olha. Ele sabe como estou me sentindo.

“Peeta” - ele tenta falar, mas Peeta o interrompe.

“É minha única exigência para voltar para o centro do circo. Como a própria Effie falou, aquilo tudo não era culpa dele. Caesar era somente mais uma peça... Se formos culpá-lo, devemos culpar a Effie também, ou não?”

Haymitch se inclinou um pouco para a frente e encarou Peeta com olhos estreitos. Já Effie estava com olhos arregalados, confusa, mas segurou a mão de Haymitch sobre a mesa, como se pedindo para ele se acalmar.

“Escuta aqui, garoto... Uma exigência dessas é maluquice! Nós não sabemos até que ponto ele estava realmente envolvido com tudo aquilo...”

“Presta atenção Haymitch” - a voz de Peeta estava exaltada, mas não zangada - “Quer maneira melhor de mostrar pra todos o quanto saímos vencedores, do que utilizar uma ferramenta que foi da Capital? Ele pode até ter tido uma participação maior do que imaginamos, o que eu duvido, mas trazer ele de volta, para reafirmar nossa vitória...”

“Ele está certo.” - finalmente Effie se pronunciou, ela parecia um pouco triste, pela insinuação de Peeta - “Ele está muito, muito certo. Vou argumentar com Paylor sobre isso. Agora, são três semanas, o que é um tempo ótimo, mas vocês vão ter que se preparar de verdade para tudo.”

“Como assim?”

“O quanto você sabe sobre o que aconteceu nesse último ano em Panem, Katniss?”

Effie estava certa. Eu não sabia nada. Havia me isolado completamente de toda aquela loucura da Capital.

“Vocês são os salvadores de Panem, o que você acha que toda a população irá pensar quando perceberem que os nossos heróis simplesmente viraram as costas para tudo o que aconteceu após a rebelião?”

“Quanto tempo você vai ficar conosco, Effie?” - Haymitch perguntou encarando-a. Sem ironias, estava sério e profissional.

“O tempo que vocês precisarem. Dentro de três semanas, obviamente.”

Haymitch se recostou na cadeira dando um suspiro. Peeta apenas encarava o tampo da mesa e eu... Eu apenas queria que tudo aquilo acabasse o mais rápido possível. Eu olho para o lado e Peeta finalmente retribui meu olhar. Está sério mais uma vez e eu quero tanto abraçá-lo. Ele traz sua mão para perto da minha e entrelaçamos nossos dedos.

Percebo Haymitch se inclinando para dizer algo no ouvido de Effie, e ela responde baixo, mas severa. Ainda assim consigo ouvir:

“Eu não confio em você.”

“Eu prometo.” - é a resposta de Haymitch, e não parece que ele esteja brincando. Então ela relaxa e eles se levantam.

“Estamos indo.” - ele anuncia.

“Amanhã podemos iniciar a preparação para a viagem, sim?” - ela nos diz sorrindo. Haymitch acena com a cabeça e eles saem.

Não percebo o momento em que nossas mãos se separam. Ouço a cadeira ao meu lado raspar no chão e percebo que Peeta está se levantando. Ele me encara e estende a mão pra mim. Eu me levanto e o abraço, os braços dele ao redor de mim, mas não tão apertado como de costume.

“Vamos subir? Estou cansado.”

Eu me afasto um pouco dele e lembro que preciso tomar o chá.

“Pode ir, eu já vou.”

Ele me responde: “Ok.” e se encaminha para a escada. Me viro rapidamente, buscando a garrafa de chá que fiz hoje de tarde, no canto do armário, onde guardo meus objetos de caça. Encho uma xícara e quando vou levá-la á boca, sinto Buttercup roçando em minha perta.

“Gato estúpido.”

Sei que ele está com fome. Busco sua comida e coloco em uma vasilha perto da pia. Não entendo como ele não vira uma bola, pois come aqui e na casa do Haymitch... Eu devia deixar de alimentá-lo para ver se ele não ficava lá de vez. Percebo que ele também não tem água e coloco um pouco do lado da sua comida.

Pego a xícara mais uma v ez e levo aos lábios, fechando os olhos em uma careta. Aquilo era muito ruim!

“Você pode adoçar, se quiser.”

Abro os olhos surpresa e deixo a xícara cair, se espatifando em vários pedaços de vidro pelo chão. Buttercup mia, como se reclamando da bagunça.

“Algumas mulheres dizem que não pode adoçar, mas não é verdade. Se você colocar um pouco de açúcar, ou até mesmo mel, não influencia no efeito.”

Peeta está ali, parado na porta da cozinha. Suas palavras saem tranquilas e frias. Congelantes na verdade. Eu sinto como se o chão tivesse sumido dos meus pés.

Ele se vira rápido e começa a andar para a sala, com seus passos pesados. Como eu não o ouvi?

Então eu descongelo de corro atrás dele.

“Peeta, do que você está falando?”

Ele se vira para mim, suas íris azuis transformadas em cubos de gelo, mas sua voz está alterada. Ele não grita. Ele está com raiva.

“Eu sei o que são aquelas folhas, Katniss!”

“Folhas?”

“É. O que você acha que eu sou, um menino? Você não foi muito cuidadosa deixando a panela sobre a pia essa tarde!”

Oh, meu Deus.

Eu tento me aproximar dele, mas ele se afasta. Respira fundo, e quando volta a falar sua voz já voltou ao tom normal.

“Quando você ia falar comigo sobre isso?”

Eu não consigo falar. Eu não sei o que dizer...

“Você ia falar comigo sobre isso?” - eu ainda não respondo e ele dá uma risada irônica, como quando estávamos no D13.

É então que eu finalmente acordo... E me desespero.

“Peeta, por favor... Não faz assim... Eu não fiz por mal... É qeu eu... Eu... Eu nunca quis... Eu não quero filhos...”

“Pelo amor de Deus, Katniss! Nós ainda não conseguimos cuidar nem de nós mesmos, você acha realmente que eu ia te pedir filhos?”

Então eu começo a sentir paz me invadindo. Ele não ia me pedir, talvez ele se sinta realmente como eu... Talvez eu estivesse fantasiando por ele, em sua vontade de ser pai...

“Claro que não podemos fazer isso agora. Somos muito novos, estamos nos recuperando de tudo ainda...”

Então eu percebo o rumo que a conversa está tomando e volto a me desesperar. Ele acha que podemos ter filhos no futuro? Mas eu não quero... nunca!

“Peeta... eu...”

“Não. Não fala. Não precisamos falar disso agora, ok?" - ele passa a mão pelos cabelos, bagunçando-os - "Na verdade não é nem isso que está me deixando com raiva nesse momento.”

Eu estava com medo. Estava com medo de perdê-lo e demonstro toda a minha covardia. Não o enfrento. Não agora, preciso do seu abraço, depois conversaremos sobre isso e eu o convencerei do meu ponto de vista...

“Sabe, minha vida agora é um monte de lembranças loucas! Tem tanta coisa que eu não sei se é real ou não... Eu só quero construir o que pode vir a ser uma vida normal, Katniss... Ainda tem muita bagunça aqui" - ele aponta para sua têmpora - "Eu preciso de certezas, eu preciso saber que posso confiar.”


Só então percebo que estou chorando. Ele está certo. Seus olhos azuis estão marejados também e eu vejo dor ali. Uma dor que eu estou causando. Eu quero dizer a ele que tudo vai ficar bem, porque estamos juntos agora. Mas antes que eu possa abrir a boca para falar, ele faz um gesto para me impedir de falar. Duas lágrimas rolando pelo seu rosto bonito.

“Eu estou quebrado, Kat... Nós dois estamos. Não dá pra colar os pedaços baseados em segredos e mentiras. Não dá pra tentar construir felicidade desse jeito...”

Eu vou até ele e antes que ele se afaste eu o abraço, ele não me abraça de volta e isso dói. Eu deixo que minhas lágrimas molhem seu pescoço e sei que ele está chorando também. Então sinto suas mãos em minhas costas, um toque leve.

“Desculpa” - é tudo o que eu consigo murmurar - “Desculpa. Desculpa. Desculpa...”

Eu nem sei direito pelo que estou pedindo perdão. Se pelo fato de não querer filhos, ou de enganá-lo fazendo-o acreditar que posso mudar de ideia depois, ou mesmo por não ser boa para ele, mas ser egoísta o suficiente para não deixá-lo ir.

Ele se afasta devagar e enxuga minhas lágrimas. Eu espero por um beijo que não vem. Então ele caminha para a porta da frente.

“Onde você vai?” - minha voz tem um tom agudo histérico.

“É melhor que eu durma na minha casa hoje.” - ele fala sem se virar em minha direção - “Até amanhã, Katniss.”

Eu fico ali, encarando a porta se fechar atrás dele. Deixando o gelo do seu olhar me envolver.


*-*-*-*


*Maybe - Janis Joplin



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aê? Gostaram? Achei que tava na hora de colocar um pouco de drama nessa história. Alguém sacou de primeira o motivo da mudança de comportamento do Peeta? Sim? Não? Mais ou menos?
Bom, desculpem o meu drama da semana passada. Eu tava meio carente... E ainda sou meio analfabeta nesse site... Ah, outra coisa, recebi um comentário falando que tinha um erro de português no capítulo passado. Vamos fazer um acordo? Se vocês acharem algum, me avisem tá? Eu revisei, mas às vezes é possível que alguma coisa tenha passado.
Gente, aguardo comentários... E recomendações tb (será que mereço alguma rsrs). Beijos!!!!