Carvão Em Pérolas escrita por Milady


Capítulo 12
"All we need is just a little patience"*


Notas iniciais do capítulo

Nossa, gente... vou confessar uma coisa pra vocês. Fiquei muito triste essa semana. Fiquei ansiosa, esperando reviews e elas praticamente não vieram... Sério, estou achando que o capítulo anterior ficou uma droga. =/
Resolvi postar esse capítulo hoje em homenagem à NielliCris; ReGina Potter e Luana Santiago.
Muito obrigada, flores!



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O capítulo inicia-se exatamente após o capítulo 10

*-*-*-*

 

Ainda é cedo. Muito cedo. Tenho certeza que nem amanheceu direito, mas sinto Peeta se mexer do meu lado. Todos os dias ele levanta cedo, porque afinal, ele é um padeiro e todos os padeiros acordam muito cedo. Já conversamos algumas vezes sobre ele ter funcionários para que pudesse decansar mais, e é por isso que ele está treinando pessoalmente dois de seus ajudantes. Mas naquele dia eu não quero que ele vá, por isso, forço meu corpo para ficar um pouco mais pesado sobre o dele.

 

“Hey... Eu preciso ir...”

 

“Não. Você quer ficar.”

“Sim eu quero” - ele retira minha mão de cima do peito dele e beija devagar meus dedos - “Mas não posso. Ainda não.”

Peeta vai saindo da cama e eu abraço o travesseiro dele. A visão ainda um pouco nublada do sono. . Vejo quando ele se senta na cama e passa a mão sobre os cabelos... Quando se levanta tranquilamente...

Sem  roupas.

“Peeta! Pelo amor de Deus, vista alguma coisa” - Eu falo, mortificada de vergonha enterrando meu rosto no travesseiro.

Ele apenas ri e entra no banheiro.

Eu devo ter cochilado, porque desperto com o perfume dele, que está sentado ao meu lado. Já vestido,  penteado e com o olhar brincalhão que me irrita, mas também espalha algo bom sobre meu peito.

“Hey... Você não acha que deve se acostumar? Nós já atingimos um nível de intimidade que... Sabe... Nudez já não é mais uma barreira não é?

Ele tem razão. Ele sempre tem razão. E eu faço como sempre faço quando não tenho argumentos. Rolo os olhos de maneira adulta e madura. Ele sempre ri.

“Eu volto pro almoço... E vamos conversar sobre essa ida a capital, ok?”
  

Eu   afirmo com a cabeça e ele se abaixa para me dar um beijo. Já está sainda pela porta quando eu o chamo.

“Nós não vamos mais brigar por causa disso, não é?”

Ele volta e se senta do meu lado. Aquele olhar que me tranquiliza.

“Não... Não vamos.” - eu o puxo para outro beijo - “Agora, tente dormir novamente... É cedo ainda.”

Eu obedeço. Mesmo sem perceber, porque mal escuto a porta da frente se fechando.
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*-*-*-*-*

Antes mesmo de abrir os olhos, sinto o vento que entra pela janela tocando minha pele. Me estico preguiçosa. Acho que foi a primeira vez que dormi realmente bem sem Peeta do lado desde o início de tudo.  Meu corpo está mole e eu ainda estou agarrada ao travesseiro em que Peeta dormiu. Abro os olhos me acostumando com a luz e uma onda de lembranças da noite passada me invade.  Sorrio e afundo meu rosto no travesseiro. Sinto um calor no peito, vergonha em meu rosto e uma sensação de saciedade deliciosa.

Embaixo de tudo isso, acho que sinto fome também.

É tudo tão bom, que por um minuto questiono a realidade a minha volta:

“Meu nome é Katniss Everdeen. Tenho 19 anos, quase vinte.  Me voluntariei pela minha irmã nos 74ª jogos Vorazes. Conheci Peeta Mellark. Ele me amava. Ele é o meu garoto com o pão. Vencemos. Tivemos que fingir ser os amantes desafortunados do Distrito 12. Voltamos para a arena. Fui resgatada. Ele foi telessequestrado pelo Capitol. Nos reencontramos. Cuidamos um do outro. Vencemos a rebelião.  Perdi Prim. Peeta me salvou do fogo. Gale foi embora. Minha mãe também.  Peeta ficou comigo, assim como Haymitch. Peeta voltou a me amar. Peeta cresceu dentro de mim e eu o amo.  Estamos juntos... Fizemos amor. Eu sou dele. Ele é meu.”

Levantei, cobri meu corpo com um lençol e caminhei para o banheiro. Enchi a banheira e deixei a água receber meu corpo ainda cheio de cicatrizes. Peeta tem menos, pois vem se tratando há mais tempo que eu.  

Saio do banho e espalho o creme da Capital pelo meu corpo. Entro no quarto ainda enxugando o cabelo com uma toalha, no momento em que ouço duas batidas na porta e Greasy entra. Eu tinha esquecido que nos sábados pela manhã, ela vem e ajudar a limpar a casa. Percebo que ela segura duas peças de roupa e sorri marota... Meu rosto começa a esquentar na hora.

“Desculpe, se pareço intrometida... Mas... Bom, roupas espalhadas pela casa” - ela olha ao redor, o resto de nossasroupas no chão - “pelo quarto... são um pouco reveladoras. - ela me sorri novamente, tentando me tranquilizar - "Você já conversou sobre isso com alguém? Digo, com sua mãe...” - eu balanço a cabeça negando - “Quer  conversar? Tem alguma dúvida?”

Bom, após tudo o que passamos, não foi possível manter a farsa sobre os amantes desafortunados para Grease. Ela é muito esperta e tem nos ajudado muito nesse período.

Mas, ainda assim, estou mortificada... Só consigo dizer:

“Eu o amo.”

“Claro que ama, querida..." - ela faz um gesto com a mão - "E isso é lindo. Mas essas coisas não envolvem apenas amor, você sabe.”
  

Não eu não sei.

“Foi sua primeira vez? Eu sei  o quanto Peeta é atencioso  e  vai utilizar tudo que sabe para te guiar nisso. Mas é diferente conversar com outra mulher.”

Como assim, MINHA primeira vez?  Houveram duas pessoas envolvidas aqui. E como assim, Peeta vai usar tudo o que sabe? Estou confusa aqui, mas também estou com tanta vergonha que só afirmo.

“Certo.   Vamos arrumar isso aqui sim. Pegue as roupas no chão enquanto eu troco esses lençóis...”

Ela vai tocar nos lençóis onde eu e Peeta...?

“Não! Deixe que eu troco.”

Ela parece entender. Então, enquanto  procura um conjunto limpo de roupasde cama no guarda roupas, vai me falando.

“Vocês sempre foram um casal, mas agora, mais  do que nunca devem ter ideia das reponsabilidade que vocês tem aqui.”

Eu devo estar muito atarantada para pensar, porque não consigo alcançar as palavras dela. Diante do meu silêncio, ela apenas se vira para mim e sorri.

“Vocês são uma família. Isso é fato. A questão é: vocês dois querem que esta família aumente agora?”

Algo gelado e viscoso escorre pelo meu estômago e de repente me vejo fraca. Caio sentada na cama com uma trouxa de lençóis no meu colo.

Filhos.

Greasy quer saber se estamos preparados para ter filhos...

Ela vem para mim preocupada.

“Não! Eu não quero ter filhos... Eu não posso... Não suportaria...”

“Shhhh, shhh... Querida. Calma. Vocês não tem que pensar nisso agora...”

“Não. Eu não quero... Nunca vou querer filhos.”

Greasy me olha com... piedade?

“Peeta sabe dessa sua decisão?”

“Não conversamos... Ele não precisa...” - então me viro para ela - “Eu posso evitar, não posso? Existe uma maneira...”

“Sim, existe. Temos um chá aqui no Distrito... que as mulheres tomam antes de dormir e ao acordar... Mas eu ainda acho que você e Peeta devem conversar sobre...”

Eu não quero conversar com ele agora. Temos a ida à Capital... Não  posso lidar com isso agora...

“Eu vou. Prometo. Mas não agora... Querem que voltemos à Capital para comemorar o aniversário da rebelião e isso já está nos afetando...” - eu confio em Greasy, sei que ela não sairá por aí contando tudo - “Eu só não posso pensar nisso, agora...”

“Tudo bem, querida. Vou te dar as folhas para o chá, ok? Se você não quiser que ele saiba, apenas faça o chá escondido e deixe uma garrafa no armário. Você não precisa dizer a Peeta sobre o que é. Basta tomar como um chá normal. Se ele pedir um pouco... Bom, não afeta aos homens de maneira nenhuma...”

Olho para ela agradecida.

“Por favor, Greasy, não fale para ninguém sobre a ida à Capital...”
   

“Claro que não. Pode ficar tranquila. Haymitch vai com vocês?” - eu afirmo, claro uqe ele vai, jamais iria sem ele - “Então eu tenho certeza que tudo dará certo... Só o afaste por tempo  suficiente das garrafas de licor.” - Nós rimos. Ela respira - “Eu sei que eles tem uma pílula para  evitar  grafidez no Capitol. Como você está indo para lá...”

“O chá funciona?”

“sim.”

“Então é ele que eu vou tomar. Não quero mais nenhum remédio do Capitol.”

“Se você tiver qualquer dúvida e quiser conversar... Estou aqui viu?”

Ela me sorri.  E eu me sinto bem.

“Obrigada, Grease.”

 

Como sempre fazemos uma limpeza no quarto. Pensei ter dormido demais, mas não passam das 9 horas, descemos e ela nos elogia, por manter a casa em ordem. Não há muito o que fazer por ali, pois ela já tinha organizado boa parte das coisas quando chegou.   Depois que eu devoro o café da manhã, ela me olha.

“Precisamos ir”

Eu fico confusa com sua frase, e ela completa.

“Quanto mais rápido você tomar o chá, melhor”

Me apronto em 10 minutos e saímos pela porta da frente. Caminhamos poucos passos e ouço a voz de Effie em nossas costas. Ela vem correndo de um jeito engraçado com seus saltos gigantescos, um tailleur rosa bebê e seu longos cabelos vermelhos esvoaçando ao seu redor. Engraçado, que com todo esse calor, ela ainda consegue manter um lenço branco enrolado em seu pescoço. Definitivamente, jamais entenderei esse senso de moda desconfortável da Capital.

“Oh, querida... Tenho uma reunião com o prefeito agora.”

“Cadê o Haymitch?”

“Aquele bêbado inconveniente?” - há um sentimento diferente na voz dela, uma revolta que eu ainda não tinha visto - “Não sei. Deve estar morrendo de alcoolismo.”

Caminhamos em silêncio, Grease e eu. Enquanto Effie tagarela em sua voz aguda sobre o quanto o D12 está crescendo das cinzas.

Perto da casa do prefeito, nos separamos e sigo com Grease até sua casa.  Ela vai até um quartinho, que penso ser uma dispensa, e volta com alguns galhos.  

“Sempre tenho algumas ervas comigo. Hábitos de quem frequentou o Hobb.” - ela me entrega as folhas - “Ouça, coloque as folhas limpas para ferver, vai virar um chá amarelado e um pouco amargo. Não adoce, ok? Beba antes de dormir e ao acordar. Você pode ferver tudo de uma  vez e deixar em uma garrafa. Não precisa tomar muito, só uma xícara é suficiente.”

“Muito obrigada, Grease.” - eu olho em seus olhos - “Por tudo.”

 

Eu vejo seus olhos marejarem e ela me puxa para um abraço.

“Oh, querida... Eu só quero que vocês sejam felizes... Por favor, não se feche para possibilidades... “

Ela falava sobre filhos meus e de Peeta. Eu sei que ele seria um  bom pai e eu queria tanto que ele tivesse um bebê em seus braços. Mas eu não estava pronta... Talvez nunca estivesse.

“Eu prometo que vou pensar.”

Ela se afasta e me sorri. Então pega uma sacola preta e me entrega.  

“Vamos, coloque-as aqui. Não é bom que ninguém te veja com elas por aí, sim? Venha, pegue alguns temperos também.”

Eu as guardo bem, me despesso de Grease e volto pelo Distrito para minha casa na Vila dos Vitoriosos. É estranho que ela não tenha sido completamente habitada. A casa do prefeito foi reconstruída, mas ninguém mais reside na Vila além de Peeta, Haymitch e eu.

Meus pés me levam na direção da Padaria de Peeta. Eu quero vê-lo. Não sei se isso é normal, mas eu preciso vê-lo. Eu me sinto uma idiota por me sentir assim.  Não é ruim, apenas é... bobo, sei lá. E a cada passo, um calor bom se instala no meu peito, até o momento em que avisto o local e na entrada há três pessoas. O calor bom dá lugar a um rugido.

Peeta está do lado de fora. O sol reflete em seus cabelos. Ele está sem o tradicional avental e sorri para duas mulheres. Uma delas tem uma criança pela mão que devora um pãozinho doce. As mulheres tem sorrisos afetados e eu simplesmente quero arranhar seus rostos bonitos com minhas unhas.

Meu. Meu. Meu.

Meu Peeta.

Eu me sinto tão idiota. Tão irracionalmente idiota, mas caminho até lá. Expressão fechada. Deus, eles não estão fazendo nada demais! Então porque elas sorriem tanto?

Ele me vê e sorri ainda mais. As mulheres se viram em minha direção e vejo  um encantamento em seus olhares.

“Hey!” - ele me diz  e caminha para mim, me abraçando. - “Senti sua falta.” - ele sussurra em meu ouvido e solto uma risadinha afeminada e irritante, enquanto aperto ainda mais meus braços ao seu redor.

As duas mulheres me olham e de repente uma delas vem até mim e me abraça. Eu não sei o que fazer, então retribuo.

“Obrigada.” - ela diz em meu ouvido.

A outra sorri para mim e as duas acenam se despedindo. Peeta se abaixa e diz para o menino que sempre pode vir pegar pãezinhos doces. O menino sorri, tão lindo e sua mãe pede para que Peeta não o deixe mal acostumado. Então elas se vão.

“Freguesas.” - ele diz antes que eu pergunte. - “Estavam no 13 durante a rebelião... E você, o que faz aqui?”

Eu ergo a sacola. “Fui pegar algumas ervas e temperos com a Grease.”

Pego sua mão que está estendida para mim e deixo ele me levar para dentro da padaria. Cumprimento os funcionários e vou com Peeta até os fundos do lugar. Existe um quarto ali, mobiliado, para quando algum empregado da padaria precisar passar a noite.

Mal a porta se fecha, Peeta já me puxa para um beijo intenso e eu me agarro a ele como se minha vida dependesse disso. No fim das contas, eu acho que depende sim.

Quando nos afastamos, olho para ele com a sobrancelha levantada. Ele apenas dá de ombros.

“Eu realmente senti sua falta.”

Acho que nunca vou me acostumar com essas falas açucaradas (e deliciosas) de Peeta. Pego sua mão entre as minhas e fico alguns segundos olhando essa união.

“Katniss? E que cara ela aquela quando você chegou aqui?”

“Quê?” - não entendi o que ele estava me dizendo.

“Katniss? Você estava com ciúmes?”

“Eu?!” - Ok. Eu não estava preparada para aquela pergunta. - “Claro que não!” - ele riu - “Só achei estranho tanta simpatia...”

“Mas a simpatia não era comigo... era com o ‘símbolo’. Você viu isso.”

Era verdade. Eu pude sentir no abraço que recebi. Eram o Tordo e o Leão os alvos dos sorrisos daquelas mulheres. Fiquei sem graça por ter sentido raiva delas.

“Preciso ir.”

“E eu preciso voltar para a padaria... Desculpa não ir te ajudar...”

Minha mão corre por seu rosto. “Hey... Deixa eu cuidar de você. Afinal, preciso fazer alguma coisa né?”

“Não se cobre tanto. Vamos descobrir algo que você realmente ame fazer, ok?”

Eu sorrio e beijo seus lábios de leve. Saímos de mãos dadas pela padaria, e se existia alguma dúvida de que estávamos realmente juntos, ela foi extinta, ao menos para os cidadãos do D12.

*-*-*-*-*-*

 

*Patience - Gun's N'Roses


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