Harry Potter e o Estigma da Serpente escrita por JMFlamel


Capítulo 53
Encontro de Família


Notas iniciais do capítulo

Lucius recebe a visita de seus netos. Um inesperado desfecho.



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CAPÍTULO 52

 

REUNIÃO DE FAMÍLIA

Logo depois que Lucius Malfoy foi levado para a cela na qual ficaria detido até sua transferência para a Aldeia dos Caiporas, Harry saiu do Grande Anfiteatro acompanhado por Draco. No corredor, encontrou-se com Gina e os outros inclusive Claudiomir, que viera como segurança pessoal do Ministro da Magia do Brasil, Leonardo Mafra.

—Incrível, Harry. _ espantou-se Claudiomir _ Ninguém poderia imaginar que Lucius Malfoy tivesse forjado sua própria morte e retornado como o líder do Círculo Sombrio.

—Uma surpresa para o mundo inteiro. _ concordou Harry _ Só mesmo com o conhecimento de venenos de Valérie isso pôde acontecer.

—E o mais espantoso foi ela ter conseguido levar a cabo seu plano durante todos esses anos, com muita paciência e correndo enormes riscos de vida por todo esse tempo. _ disse Draco, pensando em como deveria ter sido difícil para sua prima.

—O pedido de seu pai é que foi meio estranho. Querer ver os netos, a essa altura dos acontecimentos. _ comentou Janine _ Ele pode ser quem é, mas também tem uns lampejos de honra e cavalheirismo.

—Como assim, Jan? _ perguntou Sirius.

—Quando estávamos no sexto ano, durante a batalha de Azkaban, Narcisa Malfoy foi estuporada. Eu a arrastei para uma sala, fora da área de combate, para que ela não fosse acidentalmente atingida por algum feitiço. Então o Sr. Malfoy me ajudou e depois nós dois saímos, cada um para um lado, sem nos atacarmos.

—Inusitado. Principalmente porque depois acabou sendo morta por ele, ainda que ela tivesse entrado na frente do feitiço que era para nós. _ disse Draco, abraçando a esposa _ Bem, amanhã veremos o que ele terá para dizer.

—E eu ainda terei outra tarefa. _ disse Harry _ Encontrar um meio de separar os três espíritos que coexistem no corpo do “Avatar das Trevas”.

—Estou certo de que, se alguém é capaz de encontrar uma maneira de desfazer essa maldição, esse alguém é você. _ disse o “Avatar”, que também estivera presente ao julgamento _ E conte com nossa ajuda.

—Obrigado. Creio que deverá haver algo no Necronomicon que poderemos usar. _ disse Harry _ Estou lhe devendo uma e vou começar a compensá-lo, logo que chegarmos a Hogwarts. Aliás, será bom ter ajuda, pois são sete volumes. Bem, vamos indo.

Os amigos desaparataram para Hogsmeade, a fim de buscar Adriano e Narcisa. No dia seguinte, as celas da carceragem do Ministério da Magia seriam testemunhas de um importante encontro de família e a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts testemunharia outro.

Infelizmente, alguns outros amigos que haviam vindo de longe para falar com Harry não o alcançaram a tempo.

Na manhã seguinte, um grupo descia até a carceragem do Ministério da Magia, sendo todos autorizados a terem o encontro com Lucius Malfoy. No caminho passaram pela cela de Valérie, que os cumprimentou.

—Que bom que vocês vieram. _ disse ela _ Depois que conversarem com Tio Lucius, passem aqui. Quero vê-los antes de ser levada para Azkaban.

—Passaremos, Valérie. Pode aguardar. _ disse Draco.

Entraram em uma das salas de entrevistas, na qual Lucius Malfoy já aguardava por eles, sentado em uma poltrona e tendo seus pulsos presos aos braços dela com algemas inibidoras de magia, além das sentinelas dentro e fora da sala. Podia parecer um exagero, mas o passado do líder do Círculo Sombrio falava por si. Estranhamente, Lucius estava tranquilo e sereno, em nada lembrando o vilão que passara a maior parte da vida sendo.

—Vocês vieram. _ disse Lucius _ Que bom. Não queria ir para a prisão antes de vê-los.

—Confesso que é um pouco estranho, Sr. Malfoy. Não esperávamos que o senhor quisesse nos ver. _ disse Janine _ Principalmente porque passamos a maior parte de nossas vidas lutando um contra o outro.

—Perdi tudo naquela batalha, lá no Ártico. Quaisquer sonhos de poder perderam o significado naquela fortaleza, Janine. Espero que não se importe de eu chamá-la assim.

—De forma alguma, Sr. Malfoy. _ disse Janine _ Só penso que tudo poderia ter sido diferente.

—Muita coisa poderia ser diferente para muitas pessoas no decorrer da História, se não existisse a sede de poder e o fanatismo pelas Trevas. _ disse Draco.

—Não estou atrás de perdão. Por tudo aquilo que fiz, já estou fora do alcance de qualquer redenção. O que me resta é pagar minha dívida para com a sociedade, tanto bruxa quanto trouxa._ disse Lucius _ Mas, de qualquer modo, uma vida não bastaria para me arrepender e o que fiz não pode ser desfeito, não há como retroceder o tempo. Terei que conviver com isso para o resto dos meus dias.

—Talvez após algumas reencarnações os resgates possam ser feitos, como eu cheguei a lhe dizer lá em Azkaban. _ disse Janine.

—Pode ser, pode ser. _ disse Lucius _ Mas o que eu queria mesmo era conhecer meus netos, conhecê-los de verdade. Não como daquela vez, em Teotihuacán, quando vocês me deram muito trabalho. Aliás, quase todas as crianças. Eu não esperava que fossem tão experientes.

—Tínhamos que fazer aquilo, vovô. _ disse Adriano _ Vocês haviam sequestrado nossos pais.

—Sim, é verdade. Sabe, Adriano, você lembra seu avô materno, que eu não conheci pessoalmente mas ouvi muito sobre ele. Quando a Ordem das Trevas estava mantendo sua mãe sob vigilância, tivemos várias informações, inclusive que ele era Oficial de Assuntos Bruxos da Inteligência Militar.

—Então a ligação dele com Douglas Collingwood e Liam O’Rourke não era somente amizade. _ comentou Janine _ Eles também trabalhavam juntos no meio bruxo e, graças a essa ligação, fiquei conhecendo e me tornei amiga de Lauren e Shanna, reencontrando-as depois, no ano em que conheci Draco. Só depois eu soube que estavam me vigiando, por causa da profecia da Quinta Pedra de Sankhara.

—Mas o que foi que levou o senhor a fazer tudo o que fez, vovô? Ordem das Trevas, Círculo Sombrio, tanto sangue e morte, por quê? _ perguntou Narcisa.

—Bem, eu já havia explicado para Draco, mas os motivos são relacionados às fraquezas humanas. _ respondeu Lucius _ Ambição desmedida, ganância, cobiça, sede de poder, até mesmo ciúme e inveja.

—Como assim? _ perguntou Narcisa e Lucius respondeu.

—Primeiramente, segui Lord Voldemort por medo e sob ameaça, temendo o que ele poderia fazer contra sua avó e Draco. Depois, as fraquezas que mencionei falaram mais alto e então fui cada vez mais entrando para o círculo interno de Lord Voldemort, até me tornar seu segundo em comando.

—E por que o ciúme e a inveja? _ perguntou Adriano.

—Primeiramente em relação a Severo Snape, que sempre havia sido o preferido de Voldemort a ponto de não ter sofrido retaliação por ter deixado de ser o Mestre-Envenenador. Depois o posto seria ocupado por Valérie. Creio que foi porque Lord Voldemort e o pai de Severo foram criados como irmãos, antes dele ir morar com o pai e depois ser mandado para o orfanato, quando os Riddle descobriram sua magia. Certa vez ele mesmo me contou.

—O Prof. Snape foi morto ao final da batalha de Hogwarts por ordem sua, vovô. _ disse Adriano _ Quando vi sua identidade revelada no julgamento, me recusei a acreditar que meu avô teria mandado matar o pai de minha namorada, seu amigo dos tempos de Hogwarts.

—Como eu disse não adianta me arrepender, principalmente porque eu fiz coisa pior. Criei as circunstâncias para que Severo acabasse matando a própria irmã. E também me senti preterido porque, mesmo eu tendo sido o braço direito de Lord Voldemort, ele queria que seu sucessor no comando da Ordem das Trevas fosse Draco e não eu. Então, fiz os acertos para uma fusão da Ordem das Trevas com o Círculo Sombrio, como já sabem, visando substituir o antigo líder.

—Mas nunca conseguiu me cooptar para as Trevas, da maneira que conseguiu fazer com minha mãe. _ disse Draco _ Diga-me, pai, quem minha mãe teve que matar para receber a Marca Negra?

—Ninguém.

—???

—Sua mãe foi a única pessoa que Lord Voldemort marcou sem exigir um cordeiro de sacrifício. Ele considerou um erro iniciá-la, mas ela insistiu e argumentou que com aquilo ela iria se sentir mais próxima da Ordem das Trevas e de mim. Ela me amava de verdade e eu a ela. Eu sofria em Azkaban, quando tomava conhecimento do que ela acabava tendo que fazer, os favores que acabava concedendo para conseguir direito a visitas mais frequentes ou mesmo para garantir minha segurança na prisão, pois havia quem me considerasse um potencial traidor de Voldemort, mesmo sendo seu segundo em comando. _ disse Lucius, uma furtiva lágrima descendo pelo seu rosto, para espanto de seu filho _ Eu creio que tudo aquilo pode ter contribuído para o desaparecimento da Marca Negra, depois que ela morreu.

—Sim, ela acabou sendo morta pelo seu feitiço. _ disse Narcisa.

—E não há um dia da minha vida que eu não me arrependa, mesmo tendo dito aquelas palavras logo em seguida. Naquela ocasião eu tive a certeza de que Draco jamais seria cooptado para a Ordem das Trevas de forma consciente. Por isso eu armei aquilo com Nitobe Suwo-san. _ disse Lucius.

—Como é? _ perguntou Janine.

—Surpresa, Janine? _ perguntou Lucius _ Não importa o que eu tenha dito a Mariana ou a Valérie. O que eu queria era Draco ao meu lado.

—Ao seu lado? _ perguntou Adriano.

—Sim. Pode ser uma afirmação egoísta, até meio infantil, mas é a verdade. Mesmo sabendo que seu pai estava tendo uma vida ótima com sua mãe e com vocês, eu o queria comigo porque... p-porque ele era o que eu ainda tinha. Nada mais restava para este velho bruxo se agarrar.

—Poderia ter sido diferente. _ disse Draco _ Sua pena em Azkaban não era perpétua.

—Eu sei, mas o orgulho e a cobiça falaram mais alto. Creio que Voldemort me “contaminou” com uma incansável sede de poder, que me impeliu a seguir em frente a qualquer preço. No final, acabei chegando aqui, derrotado e aprisionado. Mas não me arrependo, pelo menos não da maior parte. No mínimo, terei histórias para contar, coisas que não se diz em um tribunal, mas que se confessa em família pois, querendo ou não, vocês são a família que me restou, mais até do que meus irmãos e sobrinhos. E eu não teria coragem de lançar neles a última praga, mesmo se ela ainda estivesse no Necronomicon.

—Mesmo assim o senhor acabou por fazer o mal para todos, pai. A começar por sua própria família. _ disse Draco _ Não compreendo por que querer confessar coisas que não disse nem durante o julgamento.

—É que isso é particular, Draco. _ disse Lucius _ E eu não fiquei bonzinho de uma hora para outra. Sei que minha conta é alta, mas eu queria e precisava dizer tudo isso. Dizem que a confissão nos deixa mais leves, então estou procurando aliviar algum peso para o futuro. Mais cedo ou mais tarde, creio que mais cedo pois eu já não sou nenhuma criança, terei que acertar o meu débito pelo “Contrato de Seth e Anúbis” e sei que meu coração, ao ser colocado em um dos pratos da balança de Anúbis e confrontado com a pluma de avestruz de Maat, certamente estará mais pesado. O que pretendo é que ele não chegue ao ponto de ser imediatamente devorado por Ammit, que eu ainda possa purgar meus erros em alguma das moradas intermediárias.

—O senhor sempre tem um plano em mente. _ disse Janine, encarando Lucius com firmeza _ E é preciso muita coragem para querer tentar uma barganha com essas divindades poderosas.

—É impossível escapar da morte, mas eu passei quase toda a minha vida tentando retardar o meu encontro com a “Dama da Foice”, evitando chegar ao extremo de fazer Horcruxes como Lord Voldemort fez. Agora quero pagar meu débito nesta vida e, se preciso for, no além-vida. Engraçado como são as coisas. Eu sempre considerei os trouxas como gente de segunda classe e nutria um desprezo ainda maior por bruxos nascidos trouxas, os quais chamávamos de...

— “Sangue-Ruim”. _ completou Janine.

—Isso mesmo. Sabe, no início eu te detestava e realmente quis te matar em Azkaban, Janine, por acreditar que você havia virado a cabeça de Draco, fazendo com que ele abandonasse as tradições do sangue puro, rompesse com as Trevas e que seu relacionamento mancharia a linhagem Malfoy. Mas depois de ver vocês, bruxos poderosos mas que não se tornaram orgulhosos e nem arrogantes, constituindo uma família amorosa, aceita e bem posicionada na Bruxidade, reabilitando o nome “Malfoy”, vi o quanto estava errado, que você só fez e faz bem a Draco e que sua entrada tornou nossa família mais forte, uma “injeção de sangue novo”, como você me disse lá em Azkaban. Só que eu fui orgulhoso demais para admitir e agora já não adianta mais. Mal sabia que ele já não queria nada com as Trevas, mesmo antes de te conhecer.

—Vindo do senhor, é o maior dos elogios, pai. _ disse Draco, admirado ao ouvir aquelas palavras da boca de Lucius Malfoy _ Me enche de orgulho e me faz pensar que nem tudo está perdido. Ainda há esperança.

—Pode ser, meu filho. _ disse Lucius _ Só posso dizer que estou feliz por ver que você se tornou um homem muito diferente de mim. E estou certo de que passaram esses princípios para seus filhos. Narcisa e Adriano, meus netos, seu pai é muito melhor do que eu jamais poderia ter sido e tenho certeza de que vocês seguirão os seus passos. Ah, por favor, peçam para que o carcereiro traga outro frasco do meu medicamento antianginoso. Este aqui só tem mais um comprimido (e, olhando para Narcisa, disse em tom de brincadeira)... mas você, minha neta, tinha que namorar justamente o filho de Harry Potter?

Aquilo quebrou toda possível tensão do momento e nenhum deles conseguiu deixar de pelo menos sorrir.

Depois daquilo, Lucius despediu-se de seu filho, sua nora e seus netos, que foram atender seu pedido, avisando ao carcereiro para lhe levar um novo frasco do seu medicamento.

Embora aquela visita tivesse deixado Lucius Malfoy contente e relaxado, um crescente desconforto insistia em apertar seu peito. Algo que ele percebia que o seu último comprimido de antianginoso não seria suficiente para aliviar (“Melhor assim”, pensou ele pegando o comprimido, jogando-o no vaso sanitário e dando a descarga. “Não, esta não é uma saída covarde. Talvez meio infantil e egoísta, mas covarde, jamais. Não temo findar minha existência em uma prisão bruxa no meio da Amazônia Brasileira, mas a verdade é que já fiz tanta coisa a tanta gente, que eu estou certo de que este mundo estará melhor sem Lucius Abraxas DeGiscard Malfoy”).

Enquanto o desconforto ia se transformando em uma dor lancinante que irradiava para seu ombro e seu braço esquerdo, ele cobriu devagar a pequena distância entre o vaso sanitário e a cama, gotas de suor frio umedecendo sua testa. Deitou-se nela e cruzou as mãos sobre o peito, dando um sorriso e fechando seus olhos cinzentos. Pela última vez.

Assim que Lucius Malfoy exalou seu último suspiro, uma bela mulher saiu das sombras e se aproximou do seu leito. Tinha um corpo esbelto, cabelos negros arrepiados, pele pálida, praticamente branca e da pálpebra inferior do seu olho direito saía um sinal que parecia uma tatuagem representando uma linha curva que se afilava e terminava em uma pequena espiral. Vestia-se toda de preto, em estilo Punk, tendo no pescoço um cordão do qual pendia um pingente em forma de Cruz Ansata. Seu sorriso era simpático e ela curvou-se sobre o corpo de Lucius, beijando levemente seus lábios.

Imediatamente, a imagem translúcida do bruxo levantou-se e ficou ao lado do corpo deitado na cama.

—É assim que se realiza a passagem? _ perguntou o espírito de Lucius Malfoy, olhando para seu corpo físico _ com um beijo?

—É uma das maneiras, Lucius Malfoy. _ disse ela _ Podem vir. Ele é todo de vocês.

Lucius olhou para a entrada, mas o que ele viu não era o que esperava. Em vez de Seth e Anúbis virem buscá-lo para o julgamento, quem ele viu foi uma bela mulher alta e loira, com olhos azuis, tendo no colo um bebê, uma menina de cabelos pretos e olhos verdes.

—Não acredito. _ disse Lucius _ Vocês vieram me buscar?

—Sim. _ disse ela _ Sua custódia é nossa, isso foi garantido. Mas não pense que será fácil, Lucius. O Umbral lhe aguarda, para uma longa estadia.

Naquele momento, duas figuras masculinas apareceram na cela. Os dois eram altos e usavam trajes de nobres egípcios. Um deles tinha uma cabeça de serpente e o outro uma cabeça de chacal.

—Lucius Abraxas DeGiscard Malfoy, prepare-se para saldar o seu débito e cumprir a sua parte no Contrato de Seth e... _ ia dizendo o de cabeça de chacal, interrompendo sua frase ao ver que não estavam sozinhos _ ... Mas que (#$%&!!!) está havendo aqui? Eu e Seth viemos para levá-lo!

—Lamento, Lorde Anúbis, mas ele é meu. Eu cheguei primeiro, em ambos os sentidos. _ disse a loira.

—Isso nós vamos ver. _ disse o de cabeça de serpente, olhando para ela de uma maneira intimidadora _ Não desistiremos facilmente dele.

—Olha, Lorde Seth, eu acho que ela tem razão. Pelas Leis Universais, como ela chegou primeiro, Lucius é dela. A não ser que vocês dois queiram discutir isso com o Grande Arq... _ e a mulher de preto teve sua frase interrompida.

—... Não vamos envolver o Chefe nisso, OK? _ disse Anúbis, demonstrando não estar a fim de confusão.

—Sábia decisão, Lorde Anúbis. _ disse a mulher de preto.

—Eu sabia que não era à toa toda aquela conversa mole de Maat, Ísis, Néftis e Hátor lá no Tribunal. _ disse Seth, com uma voz sibilante, que lembrava um pouco Lord Voldemort _ Elas estavam nos atrasando e conseguiram enrolar direitinho até mesmo Osíris. Vocês todas armaram direitinho, para que ele não ficasse sob nossa custódia.

—Ora, Lorde Seth, o senhor não pode nos condenar. _ disse a loira com firmeza, enquanto Lucius olhava aquilo tudo sem entender por que estava sendo o centro de todas as atenções _ E não pense que foi fácil convencer Osíris. Se Lucius tivesse ficado sob a custódia de vocês, ele não teria chance, seu coração pesaria muito mais do que a pluma de Maat e então Ammit iria devorá-lo, não lhe dando oportunidade de reencarnar.

—Isso lá é bem verdade. _ disse Anúbis— O coração dele certamente pesaria bem mais do que a pluma de avestruz de Maat.

—Comigo ele ainda terá uma oportunidade, embora haja muitos resgates a realizar, não vai ter moleza. Sua passagem pelo Umbral será sofrida e prolongada, mas ele poderá sair de lá melhor, podendo prosseguir e reencarnar para evoluir e se tornar uma pessoa cada vez mais útil e necessária para o mundo, seja bruxo ou trouxa. Vamos, Lucius. Sua jornada de purificação e aperfeiçoamento está começando, mas eu estarei do seu lado quando precisar, como sempre estive, graças ao amor que nos uniu. _ disse a loira, dando o braço a Lucius Malfoy e mantendo a menina no seu colo, os três saindo em direção à porta da cela.

—Lucius Malfoy, eu lhe trago uma mensagem D’Aquele Que É, da Causa Primeira do Universo. Você está tendo uma chance não obtida por muitos com menos resgates a cumprir. Faça de tudo para não desperdiçar Sua confiança e capacidade de ver o melhor nas pessoas. _ disse o bebê, não com tom de voz infantil, mas com a voz suave e clara de uma jovem, enquanto os três caminhavam e desapareciam, rumo a outros planos.

Depois do espírito de Lucius Malfoy ter seguido seu caminho, sob a custódia da mulher e da criança, Seth e Anúbis se entreolharam com cara de crianças que perderam seu brinquedo mais novo e olharam feio para a mulher de preto.

—Ei, não me olhem assim. _ disse ela _ A ideia não foi minha, pelo menos não inteiramente.

—Certo, certo. Você venceu. _ disse Anúbis.

—Queridos, conformem-se. Eu venci, sim. Posso não ser um boleto de cobrança, mas eu sempre venço. _ disse ela, sorrindo _ Eu não posso evitar estar nos lugares onde as coisas acontecem. Afinal de contas todos, até mesmo os deuses, podem morrer.

—_Não adianta discutir, Anúbis. _ disse Seth— A senhora é terrível, Lady Thanatos. E assim como todas as mulheres, sempre nos levam para onde bem querem. Venha, meu amigo. Vamos assumir forma humana e ir para um Pub, afogar as mágoas do fracasso com algumas canecas de cerveja.

—Vou com vocês. Este trabalho acabou por me deixar com a garganta seca. _ disse ela _ Falando em levar, vou levá-los a um Pub muito bom que fica aqui perto e do qual meu irmão gosta bastante. Talvez ele até esteja lá, se estiver com tempo livre.

—Será bom tomar uns tragos com Lorde Morpheus, depois de tanto tempo. _ disse Seth.

Os dois assumiram formas humanas, deram o braço à Morte que sorria como uma adolescente. Então os três desapareceram rumo ao Pub, para descontraírem um pouco.

Quando o carcereiro entrou na cela com o medicamento e viu Lucius Malfoy deitado, com um sorriso nos lábios, soou o alarme e um grupo de Medi-Bruxos logo chegou e tentou reanimá-lo, mas já era tarde. O bruxo que durante tantos anos manteve o mundo sob um constante sobressalto, já não mais pertencia ao mundo dos vivos. A Causa mortis que constou da Declaração de Óbito foi Infarto Agudo do Miocárdio em uma forma fulminante, corroborada pelo sorriso do bruxo, que foi considerado como um Rictus sardonicus, uma contratura dos músculos faciais pela dor intensa.

Mal sabiam todos eles que o sorriso nada tinha a ver com o ataque cardíaco por ele sofrido.

A notícia da súbita morte de Lucius Malfoy, pouco tempo antes de ser transferido para a Aldeia dos Caiporas, pegou de surpresa toda a Bruxidade, bem como o mundo trouxa. Draco e sua família estavam na cela de Valérie na visita que haviam prometido, quando o alarme soou. Acompanharam a equipe de emergência, mas permaneceram do lado de fora da cela, até que o Medi-Bruxo saiu e disse o que havia acontecido.

—Sr. Malfoy, Sra. Malfoy, jovens, sinto muito. Quando chegamos com um novo frasco do medicamento, o Sr. Lucius Malfoy já estava além do alcance das manobras e feitiços para reanimação. Parece que o último comprimido que ele tinha não foi o bastante para resolver a crise. Lamentamos muito.

Mesmo que Lucius tivesse sido um terrível criminoso e que tivesse semeado o terror na Bruxidade e no mundo trouxa, que tivesse tentado matá-lo e à mulher que amava e que tivesse matado sua mãe, Draco não podia deixar de se sentir triste e de chorar pela perda de seu pai. E Janine, abraçada a ele juntamente com os filhos, também chorava, algo que poucas vezes fizera depois da morte do pai, há muitos anos. Ela sabia o que passava no coração e na mente do esposo.

Em Hogwarts, o sistema mágico de som deu o aviso para toda a escola. Imediatamente as aulas foram interrompidas e uma representação foi formada, inclusive com a presença de Tiago e Nereida. Chaves de Portal levaram todos para Londres, onde estava se realizando o velório e depois a Paris, para o sepultamento no mausoléu da família Malfoy, no Cemitério Père-Lachaise.

O funeral atraiu muita gente, tanto do mundo bruxo quanto trouxa, tendo sido necessário lançar um Feitiço de Privacidade para evitar uma superlotação naquele cemitério, que já era bastante frequentado por causa do grande número de celebridades ali sepultadas (*Ler a Fic “Harry Potter e o Olho de Shiva”*). Familiares, representações de Hogwarts, Beauxbatons, Durmstrang e outras escolas de magia do mundo, além de integrantes de serviços de segurança de vários países e pessoas que desempenhavam “outras atividades”, muitos presentes para confirmar se Lucius Malfoy, o famigerado “Escuridão”, líder do Círculo Sombrio, o bruxo que aterrorizou o mundo por décadas, realmente havia morrido. Mesmo Valérie havia recebido uma autorização para comparecer ao funeral e estava ali vestida de preto, ao lado de seu pai, René Malfoy. Além de estar usando um bracelete inibidor de magia, dois Aurores a acompanhavam para evitar que utilizasse Metamorfomagia, já que essa habilidade não sofria o efeito dos braceletes.

Ma fille, pensar que passei todos esses anos pensando que você estivesse morta. _ disse René.

—Era preciso que eu estivesse morta para o mundo, mon père. Só assim eu poderia dar continuidade aos planos que iniciei ainda no sexto ano, quando soube que Lord Voldemort havia morrido e resolvi romper com as Trevas e destruir o Círculo Sombrio por dentro, na posição mais insuspeita possível.

—Liderando a organização, ao lado de Lucius.

—E ele descobriu que Scrimgeour estava passando informações ao Ministério, em troca de redução de sua pena, matando-o durante a rebelião na qual forjamos nossas mortes. Depois que saímos de Azkaban, eu passei a ser informante dos Aurores, como declarei no julgamento.

Entre as pessoas envolvidas com “outras atividades”, ali estava Sergei Karkaroff. Este quase deu um pulo ao ouvir uma voz e ver que sua dona estava bem ao seu lado.

Боже мой! Не потому, что мы на кладбище, ты захочешь убить меня от души (“Meu Deus! Não é porque estamos em um cemitério que você vai querer me matar do coração”)! _ exclamou Karkaroff, enquanto a Czarina apenas sorria.

Успокойся, Сергей. Тебе нечего бояться меня. Украинским аврорам уже стало ясно, что вы не имеете никакого отношения к Темному кругу (“Calma, Sergei. Você não tem nada a temer de mim. Já ficou bem claro para os Aurores ucranianos que você não tem nada a ver com o Círculo Sombrio”). _ disse ela.

—Depois de provar a eles que o “Crepúsculo Escarlate” e minha agência de carros de luxo eram operações lícitas, eles me deixaram em paz.

—Ainda bem que você tomou jeito. _ disse a Czarina.

—Depois de ter meu clube quase demolido por Harry Potter, não havia outra coisa a fazer.

—Fora que você escapou por pouco de ter a cabeça decorando a ponte de acesso a Roanapur, ao lado da de Choo-Pak. _ disse ela.

—Nem me lembre. Aliás, aí vêm Harry Potter e Draco Malfoy.

—Czarina. Karkaroff. Vieram se certificar da morte de meu pai?

—Não só isso, Draco Malfoy. _ disse ela _ O Círculo nos deu muito trabalho, viemos prestar nosso respeito a um adversário fortíssimo.

—Obrigado pela sua vinda. _ disse Harry.

—Eu também não poderia deixar de vir. _ ouviu-se outra voz _ Lucius quase tomou o meu clã e eu só estou vivo graças a Harry Potter e seus amigos. Seu pai era extremamente ardiloso e inteligente, Draco Malfoy. Se não fosse sua ambição desmedida, ele teria construído muitas coisas.

—É verdade. _ disse Draco _ Harry me contou como ele e alguns amigos evitaram que ele o matasse logo depois que o senhor foi aclamado como Wakagashira do seu clã.

—Tenho uma dívida eterna com Harry Potter. A Yakuza sempre será a Yakuza, mas o Clã Iwamura cumpre a promessa de se manter nas sombras, evitando se envolver nas disputas de poder, mesmo dentro da Yamaguchi-Gumi.

—Sua honra e sinceridade são conhecidas, Iwamura Shingen-san. Agradecemos sua vinda. _ disse Harry _ Vamos ocupar nossos lugares, pois o serviço fúnebre vai começar.

Foi lida a elegia, algo que não foi fácil. Afinal de contas, a Bruxidade sempre conheceu Lucius Malfoy como um bruxo das Trevas e os trouxas como o líder do Círculo Sombrio. Mas Draco conseguiu finalizar deixando claro que seu pai havia terminado seus dias reconhecendo os erros cometidos, o que possibilitaria a ele o retorno em futuras vidas para resgatá-los e dizendo que esperava que seu pai obtivesse no além-vida a paz que não tivera em vida.

Depois que o corpo de Lucius foi sepultado no mausoléu, inclusive tendo o serviço sido assistido pelos diversos fantasmas das celebridades, os quais já haviam estado presentes ao funeral de Narcisa Malfoy. Inclusive, o próprio espírito de Jean-Marc Malfoy D’Alembert estava presente ao funeral do sobrinho, mesmo que já tivesse prosseguido.

—Tia Danielle, sinto muito por não ter conseguido impedir que algumas coisas acontecessem, tipo o assassinato do Tio Lucien. _ disse Valérie.

—É triste, ma chérie, mas esse foi o mal de Lucius. Todos nós tivemos envolvimento com as Trevas no passado, mas nunca fomos para a linha de frente, como Lucius. Ele se envolveu profundamente, tanto que era o segundo em comando de Lord Voldemort. Tanto que jamais fomos marcados.

—Nós nos limitávamos a coletar informações. _ disse Jacques Malfoy com seu sotaque lusitano, resultado dos anos vividos na região do Douro onde tinha seus vinhedos.

—Srta. Malfoy, está na hora de irmos. _ disse um dos Aurores.

—Está bem. Foi muito bom revê-los. Agora tenho que acompanhar os Aurores, pois amanhã será minha transferência para Azkaban. _ disse Valérie, preparando-se para ir embora _ Ei, não façam essas caras. Pelo menos não há mais Dementadores, a diferença em relação a uma prisão comum agora não é muita. Além disso, são permitidas visitas. Quando menos esperarem, cumprirei minha pena e voltarei para casa.

—Fico admirada de como você está conseguindo encarar tudo isso com tanta maturidade, Valérie. _ disse Danielle.

—Oração da Serenidade, Tia Danielle. _ disse Valérie _ “Dai-me a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar, coragem para mudar as que eu posso e sabedoria para distinguir umas das outras”. Até a próxima.

Acompanhando os Aurores, Valérie tomou uma Chave de Portal de volta à Inglaterra. Todos foram se despedindo e retornando para seus lugares de origem, pelos mais diversos meios.

E uma vez mais, um grupo de amigos de Harry não conseguiu se encontrar com ele, tendo ficado do lado de fora do cemitério.

—Nós os perdemos novamente.

—Só tem um jeito.

—Sim, teremos que ir a Hogwarts. Por sorte vocês todos têm Cartões Nível 3 e eu posso acompanhá-los.

Uêba!!! Finalmente vou conhecer uma escola de magia!

Mew?


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