– E agora ? – faltavam apenas uns quarenta minutos para a festa e eu ainda não tinha decidido o que vestir. – que roupa eu coloco ? - Meredy estava arrumando os brincos no espelho da penteadeira e se virou.

– Você só foi ver isso agora ? – eu deixei meus ombros caírem e suspirei.

– É que eu tinha certeza que tinha um vestido vermelho aqui, que eu usei em uma festa que teve ano passado na minha escola... mas acho que deve ter ido pra lavanderia, ontem minha mãe levou todas as roupas de festa pra lavar. – ela revirou os olhos e riu.

– Não é uma festa tão formal assim ! Você vai pra conhecer algumas pessoas, conversar e até dançar um pouco. Não precisa ir como se estivesse indo em um baile de gala... vamos ver – ela foi até meu guarda roupa e eu sentei na cama e esperei. Depois de alguns minutos ela tirou um vestido de seda rosado, com babados na saia, uma jaqueta de couro preta, daquelas mais curtas, pra usar aberta, e depois de colocar em cima da cama, pegou um sapato estilo boneca de salto alto que estava no canto do quarto.

– Vou te bater , você tem um monte de roupas maravilhosas e ainda diz que não tem o que vestir ! – eu ri e fui me trocar. Depois que eu saí do banheiro, ela ficou de queixo caído. – Perfeita ! Vamos ver, a maquiagem você já tinha feito, um colar pra dar um tchãns... que é muito lindo por sinal.

– Na verdade é um relicário... eu ganhei do Lysandre logo que começamos a namorar. Tem uma foto dele dentro... – Eu abri para que ela pudesse ver.

– Que garoto lindo ! Tem certeza que vai á festa ? – Olhei para ela com o cenho franzido.

– Hã ? Porque ? Ah, porque eu estou namorando ? – eu dei um sorriso de canto. – Mesmo se eu não estivesse, não gosto dessa de sair “catando” garotos, essas coisas. Gosto de conhecer, conversar... antes de dar em algo. Sou quadrada – ela riu.

– Não é não. Eu também sou assim.

– Na verdade eu não gosto de festas... depende. Se for algo mais fechado, sem tarados pra te agarrar e gente bêbada vomitando na sua frente... – ela riu e eu também. - Gosto de sair e fazer bagunça com os amigos. Nessas festas sempre acaba saindo algo errado e todo mundo se lasca, ou é muito gente aglomerada e barulho e nem dá pra conversar... vou mais porque é uma festa mais privada e posso acabar conhecendo pessoas legais. Antes de sair com os amigos, preciso ter amigos não é ? Ser invisível é uma coisa, ficar sozinha é outra.

– Com certeza ! Vamos nos dar bem Shisu, também penso assim. Então vamos ?

– Vamos ! – eu peguei minha bolsa e saímos. Meu pai que nos levou, e fomos ouvindo the Killers, pra já entrar em um clima de festa. Em questão de trinta minutos estávamos no endereço marcado. Sorte que meu pai tem GPS, porque pelo mapa do convite teríamos nos perdido com certeza.

Nos despedimos do meu pai, que me lembrou de tomar cuidado e ligar qualquer coisa. Assenti e fomos em direção á entrada. Logo que entramos, a garota que havia me convidado nos recebeu.

– Você veio ! E esqueci de dizer meu nome... é Karin. Aproveitem a festa, queridas. – eu agradeci, apesar de sentir uma certa repulsa de quem me chama de “querida”. Soa tão falso.

– Ela é amiga da Ambre – comentou Meredy quando entramos.

– Porque não me disse antes ? Ela que me entregou o convite, e lembra que eu te disse que iria pedir pra ela pra te trazer ?

– Mas não vi ela te entregando, só vi o convite na sua mão, e tem umas vinte Karins na escola – eu suspirei e resolvi deixar pra lá. Não iria acontecer nada.

– Ah, deixa pra lá, vamos aproveitar. – Haviam muitas pessoas dançando, outras bebendo, algumas conversando e outras... bem, é previsível. Mas estava agradável, não haviam muitas pessoas aglomeradas, só um pouco na pista de dança. Estava tocando David Guetta , e estava tudo muito animado. Eu e Meredy resolvemos comer alguma coisa antes de procurarmos algum conhecido, mas nem foi preciso, logo encontrei Nathaniel conversando com a Karin e mais algumas pessoas perto da mesa de petiscos.

– Olha só quem veio ! Como você está Shizuka ? – ele perguntou quando nos aproximamos da roda.

– Estou ótima ! Não esperava te ver por aqui...

– Na verdade fui arrastado pela minha irmã. E falando nela... – Ah. Que ótimo. Ambre chegou para acabar com todo o meu ânimo. E chegou como se nada tivesse acontecido. Minha sorte ter autocontrole.

– Olá , meninas, Nath... Shizuka querida, você veio... – apenas dei um sorrisinho e ela voltou a falar com o Nathaniel.

– Nath querido, preciso de você. Vamos jogar e eu preciso de um par.

– É aquele jogo da bebida de novo ?

– É, mas...

– Não, jamais. Você lembra como eu fiquei da última vez ?

– Nath é fraco para bebidas e muda totalmente quando bebe demais – explicou Meredy com um sussurro. Eu sussurei um “ah” e ergui as sobrancelhas. Isso deve ser no mínimo engraçado...

– Mas querido... prometo que vamos usar só Ice, é fraquinho... por favor... – Ambre fez uma expressão de cão sem dono e logo Nathaniel cedeu. Que garota persuasiva, e ela nem precisou falar muito... ou era ele que era tonto.

– Os pais deles sempre protegem a Ambre, então se ele não fizer o que ela quer... – explicou Karin.

– Sinto dó dele. Ter uma irmã assim... – Meredy me cutucou, afinal ei estava falando com a amiga dela, mas dei de ombros. Falei mesmo. Achei que ela iria fechar a cara e sair, mas para minha surpresa ela riu e mudou de assunto.

– Vou buscar uma bebida para mim, você quer também Shizuka ? E sua amiga ?

– Ahn... eu prefiro não beber – não iria arriscar beber em uma festa em que não conhecia quase ninguém... e se me fizessem passar dos limites ? Não iria confiar em todos tão facilmente assim.

– Tudo bem, nós temos refrigerante também.

– Ah, então sim. – Meredy também pediu um e ela foi para a cozinha buscar. Ficamos ali conversando enquanto esperávamos, até que um garoto alto e loiro veio falar com a Meredy. Ele a cumprimentou e começou a puxar assunto. Achei estranho, e me lembrei de que havia visto esse mesmo garoto conversando com a Ambre logo quando entrei na festa... mas achei que era algo irrelevante. Logo Karin voltou com as bebidas.

– Ei Shizuka – disse ela, depois de entregar o meu copo – vamos dar uma olhada em como está o jogo ? Quero ver o Nathaniel alegrinho – eu ri e aceitei.

– Mas não vou participar.

– Ah tudo bem. Vamos deixar a Meredy aqui, ela está em boa compahia...

– Tudo bem pra você ?

– Sim sim, qualquer coisa, eu tenho joelhos e uma boa mira. – Eu demorei um pouco pra entender , mas logo me dei conta de que se poderia fazer algo bem dolorido em um garoto usando um joelho e uma boa mira, e ri.

– Você não presta. – brinquei. Ela riu e eu comecei a seguir Karin. Nesse momento haviam mudado o estilo da música, e estava tocando the Killers. Não poderia ficar melhor ! Chegamos á uma extremidade da sala onde ele estavam jogando verdade ou desafio. Ambre e Nathaniel se aproximaram de nós, e pude perceber que Nath estava com uma expressão um tanto... maliciosa. Diferente do normal. E para completar , eu comecei a me sentir zonza, e tudo que me falavam eu ria feito doida. Era como se eu não controlasse minhas ações, agisse completamente por impulso. E a possibilidade de ter algo na minha bebida passou pela minha mente, mas era tarde demais. Era difícil descrever o que aconteceu em seguida, só me lembro de alguns flashes... lembro de Ambre dizendo que o desafio de Nathaniel era me beijar, e de começar a tocar Somebody Told Me... lembro de Ambre me dizer “As coisas acontecem queridinha, e é bom não piscar, para não perdê-las” , e de entrar no jogo. Não me lembro dos desafios, não me lembro do que eu fiz... pessoas rindo... e Nathaniel agindo de uma forma totalmente contrária á sua personalidade... pelo visto, conseguiram fazer com que ele passasse dos limites. Me lembro de dançar com ele, e acho que ele brigou feio com alguém... e deve ter agarrado algumas meninas também. Lembro de vê-lo forçando uma a beija-lo e ainda levar um tapa, e eu ri... e de estar com outros garotos também... um loiro, acho que ele tinha olhos verdes... depois disso, mais nada.

Acordei sendo sacudida por Meredy.

– Meredy ! Onde eu estou ? – me levantei na hora , e olhei em volta; estava em um quarto.

– No quarto de alguém... te procurei pela festa inteira, você sumiu ! Aquele garoto idiota só falou umas coisas nada a ver e e sumiu logo depois de você sair. Depois decidi te procurar pela casa e te encontrei aqui, dormindo... você está bem ? – Eu a encarei com os olhos cheios de lágrimas. Minha cabeça latejava e eu tinha medo do que tinha feito.

– Eu acho que fiz besteira... o que eu fiz ?

– Estar na mesma festa que a Ambre não é muito seguro, agora tenho certeza... ela fez algo com você ?

– Acho que tinha algo na bebida que a Karin me deu...

– meu Deus – Agora ela estava tão abalada quanto eu – Eu não duvido ! Mas porque isso ?

– Deve ser porque eu meio que a desafiei... eu to com medo Mel , o que elas me fizeram fazer ? - nisso as lagrimas escorreram de vez. Ela me abraçou.

– Calma. Eu estou do seu lado. Aconteça o que acontecer, nós vamor virar esse jogo. Vem, melhor irmos embora, já está tarde... – Eu não estava em condições de falar com o meu pai, então dei o telefone para Mel. Não descemos até meu pai chegar, eu estava com vergonha de encarar qualquer pessoa.

– Não vou pra escola na segunda – Eu disse quando entramos no carro.

– Claro que não , você vai ! Vamos enfrentar isso juntas ok ? Mais cedo ou mais tarde você vai ter que ir... e precisa mostrar á Ambre que é forte. – Nisso ela segurou minha mão e eu apertei de volta e sorri. Mel estava sendo uma ótima amiga. Depois me lembrei de uma coisa.

– Ei, aquele lugar que o Castiel foi fazer show...

– O Midnight Club ?

– É, lá tudo começa á meia noite não é ?

– Sim, mas porque ? – Olhei para o relógio do carro. 01:10.

– Pai, eu quero dar uma passadinha em um lugar antes de ir pra casa.