Fogo e Gelo escrita por Reira


Capítulo 4
Saudade, um velho amigo e controvérsias


Notas iniciais do capítulo

"I'm a thousand miles away
But girl tonight you look so pretty
Yes, you do...
Times Square can't shine as bright as you
I swear it's true..."
(Hey there Delilah, Plain White T's)



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Eu cheguei em casa, almocei, coisas óbvias e típicas de se fazer depois de uma manhã de estudos. Minha mãe me entregou o uniforme que comprou na loja da escola , eram duas camisetas brancas com o brasão da escola e uma camisa estilo social, também com o brasão, e os materiais que eu precisaria. Lá só a blusa era obrigatória, a parte de baixo era livre: saia, calça... desde que não fosse transparente ou curto demais. Eu sabia que ia servir então nem provei. E ainda estava indecisa quanto aos convites. Eu realmente fiquei curiosa em saber como seria o show da banda do Castiel... ele toca bem. Mas ao mesmo tempo, não queria parecer que estava atrás dele, até porque tenho o Lysandre. Que á propósito não me mandou nada até agora... nem um sms sequer. Talvez um e-mail ? Corri até meu notebook e fui até meu e-mail, ansiosa. E abri um enorme sorriso ao ver uma mensagem dele.

“ Como está indo em NY ? Espero que não se perca como costumava fazer dentro do supermercado. Está muito triste e solitário aqui sem você, queria que estivesse aqui... e eu esqueci de te explicar o porque de ter te chamado de Capitu. Agora é seu desafio descobrir... espero poder te visitar logo. Conseguirei férias do trabalho em breve e poderei viajar... meu pai está compassivo esses tempos. A empresa dele está indo muito bem, e não tem tanto serviço como antes, preciso aproveitar rs.

            Já é noite aqui... e fico imaginando a Times Square, como deve estar linda, cheia de luzes... mas ela não brilha tanto quanto você.

            Com amor, Lysandre”

PS: Lembra do meu amigo que te falei, o Nathaniel ? Eu esqueci em que escola ele estuda, mas talvez você o tenha conhecido... NY não é tão grande , afinal.

Nesse momento eu já estava quase chorando. Como ele conseguia ser tão fofo ? Eu detesto coisas melosas ao extremo, mas ele conseguia ser romântico sem fazer escorrer mel. E ri da parte do supermercado... costumávamos reunir os amigos em casa e ir comprar coisas para comer enquanto assistíamos filmes ou jogávamos, e eu sempre me perdia lá dentro, porque via algo interessante e me separava do resto do pessoal. E o Nathaniel ! O garoto que Ly conheceu quando veio fazer intercâmbio pra cá. Amanhã perguntarei pra ele se eles se conhecem. Mas meus pensamentos sobre Lysandre foram interrompidos pelo meu celular, sms novo. Mas respondi o e-mail primeiro antes de ver, e era do Ken ! Quanto tempo que não o via ! Nos conhecemos desde crianças. Ele nasceu aqui e morou em Hong Kong ao mesmo tempo que eu, e depois voltou pra cá, um pouco antes de eu ir para Tóquio. Desde então, nos comunicamos via sms. Ele foi o primeiro pra quem contei que me mudaria, e ele ficou animado em poder me ver de novo, mas já deixei claro que eu tinha um namorado... e ele pareceu não se importar. Espero que não se iluda. Passei o endereço de casa – não sei antes gritar pra minha mãe me falar porque eu nem reparei sequer no número da casa ainda – e esperei ele vir me buscar pra tomarmos um milk-shake.  Em cerca de meia hora, a campainha tocou. Coloquei o pé direito da minha sapatilha e corri para a porta. Não pude evitar a expressão de surpresa, ele havia mudado muito !

- Ken, é você ? – ele riu. Seu cabelo estava mais curto, mas bem charmoso. E estava fazendo academia com certeza ! Cadê aquele garoto magricelo que eu havia visto da última vez quando ele foi passear em Tóquio ? Só mantinha os óculos, que lhe davam um ar sério. Fazia apenas um ano ! Ok, preciso de um remédio pra dor de cabeça. Coisas extremamente inesperadas fazem minha cabeça doer, isso é estranho.

- Mudei tanto assim ?

- Demais, demais ! Espera, eu preciso de um vicodin. – ele riu mais ainda e foi atrás de mim.

- Ainda com essa mania de ficar com dor de cabeça quando é surpreendida, ou quando fica nervosa ?

- Sempre – respondi, enquanto engolia o comprimido. – Vamos, antes que minha mãe te veja. Ela vai ficar meia hora falando em como você mudou e perguntando da sua mãe e falando de quando você jogou calda de bolo no meu cabelo.

- Ela ainda lembra ? Mas foi mesmo engraçado. Você começou a me bater e a chorar, e tentou tirar com papel toalha, e acabou piorando tudo – ele mal conseguiu terminar a frase de tanto que ria. Bufei e fechei a porta.

- Mãe vou sair com o Ken, logo eu volto ! – gritei pela  fresta da janela antes de ir. Ela não respondeu, mas com certeza ouviu. Por segurança deixei um bilhete na porta do quarto dela e na geladeira. Acho que ela vai ver.

- Acho que vou me transferir pra sua escola. – parei de andar na hora.

- Quê ?!

- A minha é muito chata, a sua parece mais interessante, e sabe como é, quero ficar perto da minha flor de chuchu. – A aparência muda, mas a personalidade é a mesma, sempre querendo ficar perto de mim, sempre superprotetor. E meio carente. Voltei a andar e comecei a rir lembrando da história da flor de chuchu, foi quando tínhamos seis anos e eu insistia que chuchu era uma flor, não um legume, ou vegetal, sei lá o que é aquilo. Continuamos conversando, eu falei sobre o Lysandre, ele sobre o que havia acontecido no último ano, ele namorou uma garota mas não deu certo. Como sempre, ele me tirou por causa da cor do meu cabelo e depois começou outra das suas piadas toscas.

- Ainda bem que estamos perto, no inverno você me chama pra te aquecer.

- Me aquecer ?

-É, porque eu sou Kentin. – nisso ele começou a erguer uma das sobrancelhas, com um olhar de conquistador. Eu demorei um tempo pra entender, mas quando entendi tive que encostar em um poste de tanto que ria. De tão idiota, chegava a ser engraçado.

- meu Deus Ken ! – eu exclamei, enquanto enxugava algumas lágrimas que escaparam de tanto que eu ri. Ele nunca perderia aquela mania, sempre me jogando cantadas e algumas indiretas na forma de brincadeira. Sempre desconfiei que ele gostasse de mim, mas infelizmente não conseguia sentir nada por ele, o via apenas como um irmão. Rimos durante um bom tempo lembrando das nossas “artes” da infância e falando sobre nossas vidas desde que nos vimos da última vez. Contei sobre Castiel e Ambre, e ele , assim como eu, teve pena dessa garota idiota. Quanto ao Castiel ele nem ligou muito. Depois ele me levou até em casa, não sem antes ficar fazendo aquele barulho irritante com o canudo do milk shake, aquele de ficar puxando quando só tem um tiquinho dentro. Nos despedimos com um abraço e ele disse que em breve me veria na escola. Revirei os olhos e sorri, e então ele foi embora. Ficar com ele era divertido e um tanto nostálgico.

Enfim a noite chegou e resolvi dar uma visualizada na paisagem. Meu quarto ficava no segundo andar do sobrado, então eu tinha uma boa vista. Ao abrir a cortina, pude sentir meus olhos brilharem. De onde eu estava eu podia ver parte do Central Park e da luminosa Times Square. Me lembrei das palavras de Ly e não via a hora de tê-lo aqui. Só espero que ele não traga o irmão... Leigh. Ele parece não gostar do nosso relacionamento... não sei porque.

Resolvi dormir, pra ver se não dormiria na aula de novo na manhã seguinte.

O despertador tocou com alto e bom som, e eu estendi minha mão para o criado mudo para desativar, mas não achei. Abri os olhos e vi que não tinha despertador, mas eu conseguia ouvir claramente o barulho ! E logo vi uma coisa andando pelo chão, e o barulho vinha dali. Ahh não. Porque eu fui mostrar para meu pai aquele despertador com rodinhas que sai andando pelo quarto pra te fazer sair da cama e desligar ? E o mais instigante, como ele colocou no meu quarto sem eu ver ? Meu pai amava essas coisas diferentes, principalmente quando servia pra irritar alguém. Saí da cama resmungando e corri atrás do despertador. Que coisa idiota, perseguir um despertador.

- Despertador lindinho, vem com a Shizuka-chan – tentei calcular o momento certo para pular em cima do negócio e pegar, mas acabei  errado. Depois de quase bater a cabeça na porta do guarda roupa e de bater o dedinho na borda da cama, consegui apanhar. Ah, meu pai iria ver quando for a vez dele de acordar com essa coisa.

As três primeiras aulas correram normalmente, e eu evitei de olhar para trás de novo, e consegui ficar acordada. E então uma mulher entrou na sala, e falou com a professora. Depois se virou pra nós.

- Bom dia, sou a representante das festas da escola. E como todos sabem, todo ano temos o Baile de Inverno. Mas esse ano será tudo diferente. – todas as garotas começaram a cochichar entre si sobre as ideias que tinham sobre o tema da festa. – será um baile de máscaras. – os cochichos viraram gritinhos e a sala virou uma bagunça; as meninas ficaram animadas demais pelo jeito. Eu achei bem interessante, nunca fui em um baile assim... – mas caprichem hem ? Quero ver todos com roupas adequadas para a ocasião ! Era só isso. Ah, será na semana que vem, no Sábado. Aguardo vocês ! – nisso ela acenou e saiu. Quantos convites... eu me lembrei da promessa de ficar invisível na escola, mas acho que não haverá problema em participar desses eventos...  e claro, da festa que teria dali dois dias, ou o show... e para não ir sozinha, vou chamar a Meredy. E quem sabe a Íris.

Depois de muito pensar , decidi ir á festa. A garota que me convidou parecia legal, e por algum milagre não apareceram pessoas estranhas naquele dia. Castiel parecia mais reservado que de costume, até meio angustiado... mas nem ousei chegar perto dele. Na sexta ocorreu tudo bem também, até a hora da saída. Eu fui procurar a Meredy para chama-la para a festa e a achei perto da saída, mas no meio do caminho me deparei com uma discussão entre Nathaniel e Castiel.

- Você precisa assinar essa folha de ausência, Castiel. É meu trabalho. Esqueça as desavenças apenas nesses momentos...

- Eu te disse que não queria mais ver sua cara, Nathaniel, não importa por que motivo. Não apareça na minha frente.

- Um dia precisaremos esquecer tudo isso...

- Esquecer ? – Castiel cerrou os punhos, e algumas pessoas paravam para ver assim como eu. – Você sabe que as conseqüências não me deixam esquecer ! E some da minha frente !

- Você acha que só você sofreu ? Acha que só você é perturbado pelas conseqüências Castiel ? Se não fosse você... – nesse momento , Castiel se exaltou e empurrou Nathaniel com força para um armário, e não pude deixar de soltar um ‘ai’ com o impacto e a dor que ele deve ter sentido.

- Se não fosse VOCÊ ! Você é o culpado de tudo ! Você a queria só pra você, era egoísta ! Você viu a minha vida de perto Nathaniel, e você me tirou tudo que eu tinha – nisso, ele soltou o Nathaniel e o encarou com profunda raiva. – Tudo que me salvou do inferno que eu vivo...  e vai se ferrar com essa folha de ausência de merda – nisso ele jogou a folha em cima do Nathaniel, que a pegou e suspirou. Sua expressão era triste e repleta de remorso. O que tinha acontecido com aqueles dois ? A raiva de Castiel era tanta que podia ser sentida, o que dava até arrepios.

- E pensar que eles eram melhores amigos... – a voz de Meredy me surpreendeu, mas dessa vez o susto não foi tão grande. Arregalei os olhos.

- Melhore amigos ?!

- É – ela suspirou – melhores amigos.

- Mas o que aconteceu ?

- A vida – ela começou a andar e eu a segui – ela pregou peças e eles não souberam como lidar. E como sempre, alguém tem que perder mais do que o outro. – fiquei esperando que ela dissesse mais alguma coisa, mas pelo visto não iria dizer mais nada. Resolvi mudar de assunto e chamá-la para a festa, e ela aceitou. Mas a curiosidade era enorme... mas talvez fosse melhor não me meter.


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