Fogo e Gelo escrita por Reira


Capítulo 37
Quando o passado retorna.


Notas iniciais do capítulo

"Uh, I see the truth in your lies
I see nobody by your side
But I'm with you when you're all alone
And you correct me when I'm looking wrong
I see the guilt beneath the shame
I see your soul through your window pane
I see the scars that remain
I see Wayne, I'm looking at the
Mirror on the wall
Here we are again
Through my rise and fall
You've been my only friend (My only friend)
You told me that they can' t understand the man I am
So why are we, here...
Talking to each other again
Looking at me now I can see my past
Damn, I look just like my fucking dad
Lighting up that smoke of mirrors
I even look good in a broken mirror"
(Mirror, Lil Wayne feat. Bruno Mars)




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Castiel POV

Esta é uma daquelas noites em que eu não vou conseguir dormir.

Tudo passava em flashes pela minha mente, todas as lembranaças com Helena. Principalmente aquela noite em que tudo aconteceu.

Peguei a foto dela dentro do criado-mudo. Ainda não fui vê-la. Ela precisa se preparar psicologicamente, de acordo com os pais. E eu também preciso.

O desenho que eu havia feito de Shizuka estava em cima da cômoda. E agora tudo me lembrava ela. Alguns origamis espalhados pelo quarto, que ela havia feito pra mim. Uma pulseira de estrelas que ela havia esquecido. A garrafa de Jack Daniel's. Pássaros parando no umbral da janela, noite estrelada, tudo isso me lembrava ela. Porque ela era tão delicada e vivia dizendo coisas como admirar as coisas pequenas da vida, e eu acabei aprendendo com ela. E seus beijos...

Fechei os olhos e consegui sentir sua pele macia nas minhas mãos. Consegui ouvir sua voz doce, a voz que ela fazia quando estava brava, quando era irônica, quando estava com sono. E de repente eu precisei dela como nunca antes. Eu precisava daquele rosto, mesmo que estivesse com sono, mesmo que fosse para ficar em silêncio, ou para vê-la dormir, não importava. Eu só precisava vê-la. Como se fosse necessário reafirmar meu amor por ela. Tentar reprimir a vontade de ver Helena, tentar fingir que está tudo bem.

Eu parecia um menino pedindo colo. Mas é assim mesmo. Por mais homem que um cara seja, hora ou outra precisa de um ombro. Precisa deitar em um colo específico para conseguir recobrar o que quer que seja. E não pode ser de qualquer pessoa.

Coloquei minha jaqueta e saí. Peguei minha moto e fui até a casa dela. Dessa vez era eu que precisava dela desesperadamente. Quando eu finalmente cheguei e uma Shizuka sonolenta vestindo uma camisola florida me atendeu, eu a olhei um tanto constrangido e sorri.

-- Eu preciso de alguém, e não pode ser qualquer pessoa – Eu disse, me lembrando da letra de Help dos Beatles. Eu sabia que ela era fã e entenderia. Ela sorriu e pegou nas minhas mãos, me levando para dentro. Eu ia dizer algo, mas ela fez sinal de silêncio com uma das mãos. Com certeza seus pais já estavam dormindo, então fui com ela em silêncio até seu quarto. A cama estava desarrumada, havia um prato com cookies em cima da cama e a TV estava pausada em algum filme da Audrey Hepburn. Depois que ela fechou a porta, virou para mim e riu.

-- Eu estava assistindo Bonequinha de luxo, quase caindo no sono, quando você me ligou – Ela disse, ajeitando os cabelos bagunçados. Eles já estavam compridos, haviam crescido muito desde que a conheci. Ela já havia mudado o corte, e agora ele estava repicado até quase no meio das costas. Ela ficava tão linda assim. - O que aconteceu ?

-- Nada – Eu disse, dando de ombros. - Eu só precisava te ver. - Ela me olhou nos olhos e seu olhar me dizia que ela sabia porque eu estava ali. E ela compreendia. Eu não precisei explicar, ela entendia e isso era mais do que suficiente. Eu tirei a jaqueta e a deixei em cima da cama, depois me aproximei dela, e coloquei as duas mãos na sua cintura. Ela me pareceu tão perfeita naquele momento. Mesmo com o cabelo desajeitado, com a cara de sono, sem maquiagem, sem nada. Parece ridículo. Mas eu queria eternizar aquele momento. Porque eu a sentia escorrer por entre meus dedos e o pior era saber que não era ela, era eu deixando-a escapar. Porque Helena estava ali e eu tinha medo de mim mesmo. De deixá-la ir para ficar com Helena.

Me aproximei de seu pescoço e aspirei o ar para sentir aquele cheiro suave, tão calmante e ao mesmo tempo tão profundo.

-- Não me deixa ir – Eu sussurrei. Ela me abraçou forte.

-- Nunca – Ela respondeu. - Eu vou te amarrar na minha cama – E riu.

-- Acho melhor não dizer coisas desse tipo – E então ela entendeu o que havia acabado de dizer e eu tinha certeza de que seu rosto estava vermelho, e comecei a rir. Amava me divertir com essa ingenuidade.

-- Desculpa se desperto o tigre em você sem querer – Ela disse, rindo. Eu ri e mordi seu pescoço e ela começou a rir, e me afastou com as mãos.

-- Parece que o tigre ficou bravo – e ela subiu em cima da cama, como que fugindo de mim. Dei um sorriso de canto e fui para cima dela, lentamente. Ela pegou um dos cookies que estava em cima da cama e quando consegui me aproximar, ela colocou na minha boca.

-- Quer um biscoitinho ? - Ela perguntou, tentando me enganar. Eu ri e balancei a cabeça. Era disso que eu precisava. Dela, de suas brincadeiras, dela dizendo besteiras ou dizendo coisas sérias, me fazendo refletir sobre o mundo o observar alguma coisa, eu precisa dela como ela era, precisava daquele encanto e daquele sentimento de estar em casa, de estar no meu lugar quando estava com ela. A encarei com um olhar ameaçador e a empurrei para o guarda roupa, segurando seus pulsos.

-- Eu quero você – Eu disse. O biscoito caiu de sua mão e ela me olhou com aquele olhar de inocência e malícia e ressaca que me enlouquecia. Eu quero você, quero te pegar, quero te abraçar e ficar a noite inteira acordado ouvindo sua risada e onversando sobre tudo, quero as suas brincadeiras, seus gestos, seus jeitos e trejeitos. Mas eu não precisava dizer isso, ela sabia. Ela me faz tão bem, e a convivência já havia me feito um poeta. Porque ela recitava e dizia as coisas que lia pra mim, e me fez vê-la, ver o mundo e ver o amor de outra forma. E tudo muda, o pensamento muda. Até mesmo quando eu penso em sacanagem, eu penso em sacanagem com sentimento. Com essência e profundidade. Você me revirou inteiro, garota. Não me deixa ir... - Você me enlouquece com esse olhar sabia ? - Ela sorriu.

-- Faz parte do meu show, meu amor – E depois dessa confissão eu a beijei, com toda a vontade e ardor e desejo e violência do mundo. Minha, pensei enquanto a beijava.

Minha.

Lysandre POV

Confesso que foi um pouco doloroso fazer aquele depósito.

Mas pelo menos eu fiz alguma coisa. Quando Ambre receber o dinheiro e a carta acertando a pensão, acho que vai acalmar os nervos e nunca vai poder dizer que eu não fiz nada. É por isso que eu amo o dinheiro. Ele resolve tudo. Compra tudo.

Inclusive amor. Basta mostrar o quão rico você é e as garotas querem alimentar todas as suas carências, como ma namorada, com a vantagem de você ainda assim ser solteiro.

Mas confesso que isso não bastava. Quando eu acordava e olhava para o lado, e via aquela desconhecida, eu pensava o que é que eu tô fazendo aqui, com uma garota que não sabe nada sobre mim.

Mas eu evito pensar nesse vazio no meio da noite. Evito pensar nas marcas.

Ao pensar nisso, me lembrei de uma das noites com a Nina.

Passava qualquer coisa na TV, e eu estava em uma daqueles momentos de carência mas que fingia que não. E eu comecei a beijá-la e ela retribuiu, e colocou as mãos nas minhas costas. Quando senti suas unhas deslizarem, dei um pulo e me afastei dela automaticamente. Ela estranhou e eu deu qualquer desculpa, mas pedi para que ela não tocasse nas minhas costas. Os hematomas roxos que um dia estiveram ali já sumiram. Mas os hematomas da alma não.

Tirei minha camiseta e joguei em qualquer canto. Quando me lembro das vezes em que meu pai me bateu, sinto minhas costas arderem. Qualquer toque ali me fazia tremer.

Enquanto pensava nisso, ele entrou no quarto. E disse que precisava falar comigo. Suspirei fundo, e fui sem camiseta mesmo até o escritório dele. Não sei porque tanta formalidade.

Quando o encarei, seu rosto estava tenso, parecia uma panela de pressão prestes a explodir. Ele se acalmou antes de falar.

-- Sua mãe está doente. - Arqueei uma sobrancelha.

-- O que ela tem ?

-- Para você ver como se envolve na nossa vida. Fomos ontem ao médico, ela estava com anemia. E sua anemia evoluiu para leucemia – Confesso que foi um choque. Mas eu estava acostumado a lidar com tudo com serenidade – ou indiferença ? - e não demonstrei.

-- É só pagar o tratamento, e pronto. Se precisar de medula nós ofereceremos uma recompensa em troca e achamos alguém compatível facilmente.

-- Acontece que nós não temos dinheiro. Perdi mais da metade das finanças em ações, e descobri que nossa empresa está afundando. Nós estamos falindo. - E confesso que essa notícia me chocou ainda mais. Isso porque minha mãe estar doente, tem uma esperança. O dinheiro. Mas sem o dinheiro, qual é a esperança ? Isso é tudo que eu conheço. Essa vida é tudo que eu tenho, é minha base. Engoli em seco.

-- Você enlouqueceu ?

-- É isso Lysandre. Não temos nada. - Ele dizia isso como se estivesse me acusando. Senti meu rosto e corpo esquentarem e bati com força em cima da mesa dele, encarando-o com um olhar agressivo. Ele me fez acreditar, ele me forçou a acreditar que nós sempre seríamos estáveis e que dinheiro era a razão de tudo. Minha vontade era quebrar tudo, inclusive sua cara cínica, mas o que fiz foi sair batendo as portas e ir até o meu quarto.

Cheguei lá batendo a porta e andei em círculos, com a mão no queixo, me segurando para não quebrar tudo. Eu queria gritar, mas sentia minha voz presa. Me sentia como um animal engaiolado procurando desesperadamente uma saída. Me olhei no espelho. Meu rosto estava diferente. Estava acabado, dando a sensação de que havia envelhecido nos últimos quinze minutos. E vi o quanto sou parecido com meu pai. Meu sangue ferveu ao ver o rosto dele no meu. Peguei o primeiro objeto que vi pela frente e atirei com força no espelho, quebrando a parte que antes refletia meu rosto. E fiquei encarando aquela parte quebrada, ofegante.

Eu não queria me ver. Me lembrar que no fundo eu sempre soube disso. Que eu estava sozinho, e tudo que eu possuía era superficial. Aquele cara no espelho foi o único que esteve comigo.

Comecei a me lembrar de como tudo isso começou. Eu costumava ser uma criança amável que gostava de coelhos. Isso me fez dar um sorriso sarcástico, porque parecia ser outra pessoa do tanto que eu havia mudado.

Abri meu guarda roupa e dentro de uma caixinha guardada no fundo, estava um coelho branco de origami que eu ganhei de uma garota na sexta série. Eu me lembro de ter ganho dois coelhos de meu tio e ao chegar em casa nesse dia, o prato do dia era coelho assado. Eu não conseguia acreditar, até hoje, que meu pai foi capaz de fazer aquilo. Eu me lembro dele dizendo que tudo isso era viadagem e que filho dele deveria ser um homem sério e gostar de coisas que homens sérios gostam. E naquele dia também jogou todas as coisas que eu tinha relacionada á coelhos, e a única coisa que consegui salvar foi esse origami.

Foi traumático para mim, na sexta série, ver meus coelhos de estimação assados em cima de travessas. Parece engraçado, mas foi onde tudo começou. Quando meu pai começou a me moldar e controlar minha vida. Porque eu não sabia esconder como Leigh fazia. Eu demonstrava, eu dizia. E como resultado tudo foi tirado de mim.

Eu me lembrei da minha inocência que já havia morrido. De quando eu arrumei minha primeira namorada com quinze anos. Seu nome era Lee Min Jones, uma garota filha de coreana com americano. Foi ela quem me apoiou a fazer minha tatuagem de asas.

Lembrei do meu nervosismo, da sensação de ser livre, o motivo pelo qual escolhi as asas. Eu sonhava com a minha liberdade, do dia em que eu sairia daquela casa. Naquele mesmo dia eu abri uma poupança em segredo do meu pai, para juntar dinheiro para sair de casa.

Eu era um cara decente. Me fez rir lembrar o quanto eu era romântico, o cara bom, o cara que cuida, o cara fofo. Do tipo que faz biscoitos pra namorada. Do tipo que só de segurar na mão fica feliz. O tipo que não existe mais.

Não demorou para ele descobrir da poupança e da tatuagem. Ele cancelou minha conta, tirou todo o dinheiro e eu apanhei como nunca antes. Até hoje é doloroso lembrar. Porque as pancadas não doíam apenas fisicamente, doíam na alma.

Me lembrei do dia em que trouxe Lee Min para jantar em casa. Minha mãe a amou, mas meu pai não. Ele queria uma garota primeiramente rica. E de presença. Lee Min era meiga demais.

Ele percebeu o quanto eu a tratava bem e gostava de fazer suas vontades. E por conta disso, á noite, me levou em uma boate e disse que lá eu iria aprender a ser homem. Ele me levou até um quarto, bateu em uma mulher e a fez se ajoelhar e dizer: “sim, senhor”. E depois me deixou sozinho com ela para praticar. Eu acabei cedendo e acho que até hoje carrego a culpa por ter traído uma garota como Lee Min. E foi uma das coisas que ajudou minha consciência a cauterizar. E isso me mostrou o quanto esse tipo de coisa te ajuda a descontar a raiva, a frustração.

Meu pai contou a Lee Min que eu a havia traído e disse coisas horríveis a meu respeito. E aos pais dela também. E para finalizar de vez com tudo, os ameaçou se visse a filha deles comigo.

É claro que isso não faz nenhum sentido, mas meu pai nunca fez. Não sei que mágoas ou frustrações ele guarda para ser desse jeito. Eu demorei para esquecer Lee Min. Acabei tentando com outras, mas aí descobri o universo dos rejeitados, e na minha mente meu pai começou a ter razão. Ser o cara bonzinho só te fazia de capacho. Então, aos poucos, fui me tornando o canalha que sou agora.

As decepções, as mágoas que sofri durante esse tempo. Tudo alimentando minha face face egoísta e minha raiva pelo mundo, cauterizando minha culpa.

Meu pai sempre me dizia que se brincarem com meus sentimentos, devo brincar com os deles. Se recebo um tapa, devo revidar com um soco e um chute. Eu cresci ouvindo isso, eu cresci ouvindo que tendo dinheiro, se tem tudo. Isso me fez despertar uma memória ainda mais antiga. De quando eu tinha uns oito anos e perguntei ao meu pai se Deus existia. Ele riu com escárnio e me mostrou uma nota. Não lembro a quantia. E ele disse: “Existe, e este é o deus que você deve adorar”.

Não aprendi o respeito, não aprendi a amar. Eu nunca aprendi a entrar dentro de mim mesmo, nunca consegui me resgatar. Talvez tudo isso tenha se perdido para sempre.

Todo esse alicerce que foi construído durante todo esse tempo desmoronou. Talvez eu possa trabalhar em alguma empresa, talvez eu não fique pobre como temo. Mas parecia ir mais além que a perda do dinheiro. Era uma sensação de que tudo foi uma mentira, que eu vivi uma mentira. Eu achava que nunca nada mudaria. E agora eu sabia que minha mãe estava doente e que nem todo o dinheiro que tínhamos seria garantia de sua vida. Como se algo lá dentro me cutucasse, algum pedaço do antigo Lysandre que ainda tinha consciência. Fiquei segurando aquele coelho de papel nas mãos e por um segundo senti uma dor no peito. Uma saudade doída de quem eu costumava ser.

Eu não lembrava mais o que era saudade. Há tempos eu não sentia nada além de raiva ou frustração quando algo dava errado. Ao menos eu acho.

Eu senti saudade de Lee Min, dos amigos, saudade de quem eu poderia ter sido e não fui e do que eu não fiz. Dos planos guardados na gaveta. De sonhar com a minha liberdade. E apesar de parecer um cara bem sucedido, sou só um cara aprisionado aos próprios medos. E acabei admitindo que sou um covarde.

Eu senti algo queimar dentro de mim, uma vontade de mudar, de sair correndo daquela casa fria. Algo dentro de mim havia quebrado e meus pensamentos estavam totalmente desorganizados.

Eu senti um impulso louco de ver Lee Min. A única pessoa com quem realmente me apeguei do passado, a única ligação que eu tinha com o passado. Mas como ? E então me lembrei de que havia anotado o número do telefone dela em um livro de escola, quando nos conhecemos.

Corri até o porão e fui até a caixa onde estavam guardados meus livros de escola. Fui jogando tudo pelo chão até achar o livro de matemática do primeiro ano do ensino médio. Folheei ansiosamente e achei o númeo, quase apagada, em letras grandes na página 215. Lembro que a matéria era terrivelmente chata e resolvi conversar por bilhetes com a garota do lado. E isso acabou com ela anotando seu número no meu livro de matemática.

Subi para o quarto e peguei o celular. Disquei e senti meu coração saltar do peito como á muito tempo não sentia. Fiquei tão nervoso que comecei a rir. Eu estava ficando louco, mas isso me fazia sentir vivo.

Alguém atendeu. Mas não foi Lee Min, foi sua mãe. Perguntei dela e ela disse que Lee Min não morava mais ali, estava morando sozinha. Pedi o número dela, mas ela não quis dar antes de saber quem eu era. E disse que era um velho amigo de escola. Mas mesmo assim, não tive sucesso. Só consegui a certeza de que ela ainda morava na cidade.

Então peguei a lista telefônica e procurei por todas as Lee Min Jones. E para a minha supresa haviam muitas, e seu sobrenome poderia ter mudado. Depois de uma hora ligando para os números errados e quase desistindo, eu a encontrei.

-- Alô ? - A voz dela não havia mudado nada.

-- Lee Min ?

-- Sim, quem gostaria ? - Respirei fundo.

-- É o Lysandre. - Ela ficou muda por um instante. - Não desligue ! Eu só queria encontrá-la... por favor. - A ouvi rir.

-- Quanto tempo, não ? Mas o que gostaria de dizer depois de tanto tempo ?

-- Por favor, Lee Min. Eu preciso disso.

-- Ouça, eu estou noiva...

-- Não é nada disso ! Eu quero apenas conversar... me encontre no parque onde costumávamos ir, em frente á sorveteria.

-- Lysandre....

-- Por favor ! - Quanto tempo faz que não peço por favor sem ser irônico ? Ela acabou aceitando e eu não estava me reconhecendo. Aquilo parecia muito surreal. Horas atrás eu ainda era o Lysandre sério e passivo.

Vesti uma camisa qualquer e fui correndo para lá. Foi difícil encontrar, porque a sorveteria se tornou uma livraria e o parque mudara um pouco. Quanto tempo eu não ia para lá.

Meia hora depois, ela apareceu. Exatamente como me lembro. O cabelo preso em um rabo de cavalo e uma franja de lado. O olhar inocente, as bochechas coradas e um vestido de flores bordadas.

-- Olá. - Ela me disse, parando á minha frente. E de repente eu me dei conta de que eu poderia ter feito isso antes. Eu poderia ter mudado toda aquela situação e lutado por ela, mas eu não o fiz. Eu tinha medo. Eu já estava preso.

-- Olá. - Eu sorri e a chamei para sentarmos no banco. Ela respirou fundo.

-- Então, o que queria me dizer ?

-- De repente eu senti que devia – Eu disse – Devia explicar o que aconteceu. Acho que eu ainda carrego a culpa por tudo.

-- Lysandre, isso faz quase cinco anos...

-- Não é tanto tempo assim.

-- Mas mesmo assim...

-- Meu pai me forçou, Min. Ele queria me ensinar a ser homem e me levou para aquela espelunca. Eu acabei cedendo, mas eu me arrependi, Min. Mas eu tive medo de lutar contra ele. Porque ele sempre fazia mal á tudo que eu gostava. Se lembra dos coelhos ? - Ela assentiu. Ela sabia de tudo que meu pai havia feito comigo até então. Ela olhou para baixo e mordeu o lábio inferior.

-- Acho que eu também tive – Ela disse – Ele nos ameaçou na época. E eu sabia que ele era capaz de fazer tudo que havia dito. Mas... você me chamou aqui para se desculpar ? - Senti um nó na garganta. Eu não conseguia pedir desculpas. Eu não sei mais fazer isso, e meu orgulho é grande demais.

-- Eu acho que sim... - Ela sorriu.

-- Se sente culpado, ainda ?

-- É, eu acho que... sim. Eu acho que quero me desprender de tudo que me prende ao passado. De todas as amarras.

-- Você me magoou bastante. Mas, não guardo ressentimentos... vendo agora, vejo que tudo foi por culpa de seu pai. Eu disse, eu tinha medo. E meus pais acreditavam cegamente em seu pai, dificultando qualquer ação que eu tivesse coragem de fazer. Fomos dois covardes – Eu ri. - E se for apenas isso, então está perdoado. - Ela sorriu meigamente e balançou as pernas. Min era baixinha, e sentada naquele banco alto seus pés não tocavam o chão. Por alguma razão aquilo me fez sentir nostalgia.

-- Será que eu tenho conserto ? - Perguntei, olhando para as folhas no chão.

-- Algo quebrado nunca volta a ser o original. Sempre ficam as rachaduras – Ela disse. E tinha razão. Por mais que cole algo quebrado, não é a mesma coisa. - Mas você pode tentar. Mas porque essa pergunta ? Seu pai te mudou tanto assim ?

-- Você não faz ideia... - Ela me olhou por alguns instantes e depois olhou para frente.

-- Mas eu ainda vejo o Lysandre que eu conheci quando olhou pra você. Talvez ele tenha acordado agora. - Talvez fosse a presença dela. Mas se ela conseguia ver, então poderia ser verdade. Talvez eu possa ser um canalha com coração. Mas haviam coisas que eu jamais consertaria. Como a morte de Johnny e seus efeitos.

-- Mas existem coisas que não podem ser perdoadas...

-- Mas já estão feitas, não estão ? Talvez você só tenha que se perdoar. - Me perdoar ? - Porque você não tenta se soltar dessa prisão que seu pai te submeteu e não se arrisca ? Não tem ninguém que você ame ? - Pensei na criança que Ambre iria ter. E pensei em Nina. Mas tudo isso era loucura. Eram muitas coisas, muitos impulsos para um dia só. Mas eu estava gostando daquilo. Eu fiquei mudo e ela sorriu.

-- Se tem, vá atrás dela e recomece. Não é fácil mas também não é difícil.

-- Talvez você tenha razão... - Eu ainda tinha medo de saber quais seriam as rachaduras que ficariam dessa minha personalidade doente. Eu estava eufórico e não estava pensando claramente, então talvez essa não fosse a decisão mais sábia. Mas eu não estava ligando para isso.

-- Quanto eu falo em amor, quem te vem á mente ? - Nesse mesmo instante um nome me veio á mente. Se eu amo eu não sei, mas eu preciso descobrir. Eu comecei essa loucura, agora vou até o fim.

-- Obrigado, Lee Min. - Ela assentiu, sorrindo. - Espero que seja feliz no seu casamento. - A abracei, meu primeiro abraço sincero em anos. Ela anotou seu e-mail em uma papel e disse para eu mandar o meu, para que ela pudesse me convidar para o casamento. E dei uma última olhada para o meu passado que eu deixava para trás. Eu estava conseguindo me livrar das grades. Talvez o significado das asas nas minhas costas finalmente ganhe valor.


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Notas finais do capítulo

GEEEEEEEEEEEEEEEEENTE MIL DESCULPAS D: A fic criou até teias de aranha TT-TT mas eu prometo que continuarei postando, vocês são uns lindos que comentam na minha fic, e não quero demorar tanto assim pra postar TT-TT GOMENASAAAAAAAAAAAAI NÃO ME ABANDONEM TT-TT estive super ocupada com trabalho, e sinceramente não conseguia inspiração para escrever. Acabou que esse capítulo se centrou no Lysandre x3 E também estou como adm em uma página de KPop *-* curtam lá no face gente: http://www.facebook.com/koreanlandkpop?fref=ts

Não vou abandonar vocês TT^TT eu amo a fic e vocês também, espero que me perdoem :/
E quem vocês acham que Lysandre vai encontrar ? Ambre ou Nina ? :3
Kissus ♥