Fogo e Gelo escrita por Reira


Capítulo 36
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

"I want to reconcile the violence in your heart
I want to recognise your beauty's not just a mask
I want to exorcise the demons from your past
I want to satisfy the undisclosed desires in your heart...
You trick your lovers
That you're wicked and divine
You may be a sinner
But your innocence is mine..."
(Undisclosed Desires, Muse)



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Nina POV





Respirei fundo e apertei a campainha.





Como eu iria encarar a mãe dele ? Como eu seria capaz de simplesmente aparecer do nada, com um sorriso, como se nada tivesse acontecido ?

Mas agora era tarde para voltar atrás. A porta se abriu e diante dela estava uma bela mulher, com roupas de executiva. Devia ter chegado do trabalho á pouco. Mordi o lábio inferior, sem saber como reagir. Ela arqueou uma sobrancelha.

–- Ora, ora... quem resolveu aparecer. Sabia que é por sua causa que meu filho está em trapos ? – Olhei para o chão, constrangida. Respondi mentalmente que sim mas a voz não saiu, não tinha coragem para dizer nada. Nem mesmo de encará-la. Seu olhar era tão frio que incoscientemente me fez esfregar meus braços, como se eu estivesse realmente com frio. – Vamos ver se você é capaz de fazê-lo voltar ao normal – E me puxou pelo braço. Em seguida fechou a porta e foi em direção ao corredor. Fiquei paralisada, surpresa com aquela reação. Ela parou depois de alguns passos e se virou, me olhando da cabeça aos pés. – O que está fazendo aí ainda ? Suba ! – Fiquei confusa por um instante, mas logo que processei tudo, subi correndo as escadas. Eu sabia onde ficava o quarto dele, não precisava perguntar, graças a Deus.

Quando cheguei á porta, senti meu rosto esquentar e meu estômago embrulhar. Respirei fundo. Antes de bater, percebi que uma música baixa vinha lá de dentro. Não consegui identificar qual. Contei até três e bati.

–- Não quero jantar mãe ! – Ele gritou de lá de dentro. Soltei um risinho. Eu já estava quase histérica de tão nervosa.

–- Não é sua mãe... – Eu disse. A voz quase não saía. E então ouvi passos e de repente a porta se abriu.

–- Mãe, eu... – Minha voz deve ter saído falha e ele não deve ter entendido. Quando viu que era eu, interrompeu a frase e arregalou os olhos. Sua boca ficou entreaberta, seus ombros tensos. Eu também não sabia o que dizer. As palavras fugiram de minha mente, podia senti-la derreter. Ele estava diferente... o cabelo mais comprido, uma barba rala. Confesso que ele estava irresistível assim. Sempre me senti atraída por homens com esse jeito despreocupado e agora mais ainda. Uma ansiedade tomou conta de mim, um calor que de repente era frio. Minha temperatura oscilante me fazia tremer.

–- Nina – Ele sussurrou. Respirei fundo, quase sem ar. No segundo seguinte ele me abraçou, sem dizer mais nada. Eu retribuí seu abraço e por um momento ficamos em silêncio. Apenas tentando acreditar que estava acontecendo mesmo. – Eu senti tanto a sua falta... nunca mais faça isso – Eu o abracei mais forte e sussurrei um “me desculpa”, que saiu falho devido ao nó na minha garganta. Eu não sabia ao certo o que fazer. Como me desculpar, como agir. E acho que nem ele. Foi repentino demais. Ele se separou de mim e depois de uns segundos nos encarando, rimos. Apesar da dor, das coisas mal resolvidas, por um segundo conseguimos rir como se nada disso existisse.

Ele me puxou para dentro do quarto e fechou a porta. Em seguida se virou para mim e coçou a nuca. Ele parecia mais racional agora, como se toda aquela emoção inicial tivesse passado. Eu sabia que isso ia acontecer, um mero “me desculpa” não resolve nada.

–- Eu me sinto tão mal, Ken – Eu disse, finalmente. – Tão envergonhada. Eu devo ser doente...

–- Vai ficar brava se eu concordar ? – Dei um risada sarcástica. – É por causa do Lysandre, gostar dele é doentio mesmo. Mas eu entendo Nina. Podemos tentar mais uma vez. – Ele se aproximou de mim e colocou as mãos no meu rosto. Em seus olhos eu via uma espécie de torpor. Meus olhos deveriam estar iguais, porque aquilo realmente parecia um sonho. - E... o que aconteceu com seu cabelo ? - Perguntou, olhando para os meus ombros, onde meu cabelo terminava. Olhei para o lado, corada. 

-- Resolvi cortar, só isso. E... eu não sei o que deu em mim... - Eu disse, olhando para o chão. Vendo agora, realmente não entendo. Que loucura. Agora sei como é ser uma pessoa problemática. Nem sempre é para chamar atenção, muitas pessoas são assim... antes eu julgava e achava que tudo não passava de cena. Gente que se corta, gente que faz coisas como as que eu fiz. Mas isso é mais real do que eu imaginava. De repente reconheci o que estava tocando no quarto dele: Muse.

–- Eu também não entendo plenamente, mas eu tento. Vamos esquecer isso tudo... - Irônico é pensar que antes eu corria atrás e ele resistia. Agora ele me aceita tão facilmente... acho que até mesmo ele ficou abalado com tudo isso. Meio problemático. Eu, no lugar dele, só perdoaria depois de me dar uns belos tapas e jogar verdades na minha cara. E ao ver o caráter dele, o quanto ele era maravilhoso, me convenci novamente que não sou para ele. Ele merece alguém muito melhor. E se eu fizer merda de novo ? Se me der um ataque ?

Levantei os olhos do chão lentamente, passando os olhos por aquele Ken com ar de rebelde que me fez perder o ar por um segundo. Me recompus e olhei nos olhos dele.

–- Ken, eu... acho melhor acabarmos com isso. Você não merece ficar com alguém tão instável como eu. Tão problemática. - Só percebi que havia uma parede atrás de mim porque ele me empurrou até ela e colocou seus braços ao lado da minha cabeça. Esse ato repentino me assustou e arregalei os olhos.

–- Não. - Ele disse, bem enfático. Com tanta firmeza e com um olhar tão profundo que um arrepio subiu dos pés á minha cabeça e senti meu sangue gelar. - Talvez eu também seja problemático...

–- Ken...- Minha voz saiu entrecortada, devido a minha respiração que falhava com a presença dele. Ele colocou uma das mãos no meu queixo e acariciou meu lábio inferior com o dedão.

–- I know, you've suffered, but I don't want you to hide... - Ele cantou baixinho, acompanhando a música que tocava, Undisclosed desires. Ao lembrar da letra dessa música, meu sangue gelou novamente e um arrepio percorreu todo o meu corpo. Ele deu um meio sorriso e depois se aproximou do meu ouvido. - You may be sinner, but your innocence is mine. - Ele sussurou. Mordi o lábio inferior. Ele estava apelando. Eu estava confusa, e agora, mais ainda. Minha mente estava completamente embaralhada, centrada nas sensações.

–- Ken, não... - Eu disse, ao senti-lo beijar meu pescoço. Eu queria que minha voz saísse firme, mas saiu completamente falha. Droga. Ele riu.

–- I want to exorcise all the demons from your past... - Nisso ele beijou meu pescoço novamente. Fechei os olhos, enquanto sentia ele beijar meu rosto até chegar nos meus lábios. Ele venceu. Ao beija-lo novamente, senti, naquele momento, que era a coisa certa. Eu devia esquecer meu passado. Meu lugar é com Ken, e ele está disposto a perdoar. Mas aquela mistura de sensações e pensamentos não faziam das minhas certezas confiáveis. E as coisas não são tão simples....






Shizuka POV











Enfim, tudo pronto.






Foi um dia cansativo, ajudando as meninas a decorar os fundos da casa da Hoshi para a despedida da Iris. Fico pensando no Dake, tadinho. Será que ele vai no ensaio de hoje ?

Depois de tomar um banho demorado, meu pai me levou até a casa do castiel para irmos ao ensaio juntos. Quando cheguei lá, quem me recebeu foi a mãe dele, e ele não disse uma única palavra exceto 'oi' – até chegarmos na casa do Armin. Ele estava estranho, sério, e respondia impaciente á qualquer coisa. Comecei a ficar irritada, e resolvi não falar mais nada.

–- Porque o Castiel está estranho, Shizu ? - Perguntou Mel, quase sussurrando. Eu dei de ombros.

–- Quando eu pergunto, ele diz que não é nada. Nem eu sei, Mel. - Ela fez um bico e olhou para ele, que estava afinando a guitarra. Nem aguentava mais olhar para a cara dele, de quem chupou limão, então desci até a cozinha ajudar a Hoshi e a Violette com as bebidas e lanches.

Quando subimos com as coisas, eles estavam tocando, e Mel estava sentada acompanhando o ritmo com o pé, sem tirar os olhos de Armin. Acabei soltando um risinho. A música era animada, o clima estava muito bom. Era ótimo ver todo mundo reunido, fazendo música. Só Dake estava cabisbaixo, com certeza pensando na Iris, que agora estava arrumando os últimos detalhes da viagem. Eu também estava um pouco triste, mas a saudade seria mais fácil de suportar pra mim e as meninas. Eles pararam para corrigir algo na letra, e todos conversavam animadamente, fazendo piadas, enquanto a Hoshi distribuia copos e eu o refrigerante. Só Castiel ficou calado, sério. Nem olhei para ele, para não ficar irritada de novo.

Depois dessa pausa, voltaram a tocar. Estava indo tudo bem até Castiel parar de tocar, e dizer pra todo mundo parar. Todos obedeceram e olharam pra ele.

–- Droga, Dake ! Não é a primeira vez que você erra o riff ! A gente depende de você pra fazer o tempo certo, faz a coisa direito !

–- Não, eu não errei – Disse Dake. Castiel revirou os olhos.

–- Claro que errou ! Não é porque sua namorada vai embora que você pode ensaiar de qualquer jeito ! - Nessa hora o clima pesou. As meninas olharam para o chão, sem graça, e eu encarava Castiel incrédula. Que coisa horrível de se dizer ! Olhei para ele e balancei a cabeça, claramente decepcionada. Dake se levantou e jogou as baquetas no chão.

–- Pra mim chega por hoje – E saiu. Olhei para Hoshi e Armin, e nós três fomos atrás dele. Antes de sairmos, Armin encarou Castiel.

–- Quem errou no tempo foi você, Castiel. Seja lá o que aconteceu, não temos culpa. - E saiu, batendo a porta. Espero que ele pense bem no que fez.

Dake estava péssimo. Nós fizemos o possível e o impossível pra ele melhorar, e Castiel foi embora alguns minutos depois de saírmos do quarto.

O ensaio acabou por aí. Resolvi ir para a casa da Mel e ficar direto pra festa. A tarde passou, com a gente conversando e terminando de arrumar todos os comes e bebes.

Eu não queria pensar nele, mas Castiel não saía da minha mente. Apesar de estar decepcionada, alguma coisa com certeza aconteceu e eu estou preocupada. E para comprovar que ele estava com problemas, apareceu na festa por meia hora apenas para se despedir da Iris.

Logo todos chegaram e depois de muita música, comida e bebida, começou a cair a ficha e começaram os abraços, as lágrimas e despedidas pra Iris. Ela era muito querida, e não se continha de chorar em ver o quanto nós a amamos. Dake se segurou o máximo, mas quando começou a cantar I won't give up do Jason Mraz, as lágrimas saíram. Até eu me emocionei enquanto ele cantava. Será que eles vão conseguir, e nunca vão desistir como diz na música ? Eu espero que sim.

–- Hey Dake... eu poderia te substituir na bateria pra você poder visitar a Iris... - Eu disse, já no fim da festa. Ele ergueu uma sombrancelha, e ponderou aquilo por uns segundos. Depois um sorriso surgiu no seu rosto.

–- É verdade !

–- Uma baterista mulher ? - Disse Alexy, torcendo o nariz. Violette o puxou de leve pelo braço e riu.

–- Deixa de ser machista ! Tem uma banda, a white stripes, que a baterista é mulher.

–- É verdade – Disse Dake – Seria perfeito Shizuka ! Assim aumentam nossas chances de se ver. Eu queria passar um bom tempo lá, mas esse é um momento que não dá pra deixar a banda... mas com essa ajuda vou poder ir com mais frequência – Iris abriu um sorriso enorme e pulou no pescoço dele.

–- Isso é ótimo ! Temos os melhores amigos do mundo – Disse Iris olhando pra mim. Eu sorri de volta, satisfeita em saber que pude ajudar em algo.


Quando a festa acabou, Iris e Dake foram embora para se despedirem e fazerem algo entre eles. Eu ajudei a arrumar as coisas e tentei ligar para o meu pai, mas ele já devia estar dormindo, achando que Castiel ia me levar embora, certeza. Droga, não quero ir embora com ele.


Infelizmente, ele me ouviu pedir para Hoshi me levar pra casa e na hora me puxou pelo braço. Soltei do braço dele, indignada, e o encarei.

–- Qual é o seu problema, hem ?

–- Porque estava pedindo carona pra Hoshi ? Eu vou te levar !

–- Mas eu não aguento mais essa sua atitude ! É a despedida da Iris Castiel, você prestou atenção no que disse para o Dake ? Prestou atenção em como agiu hoje ? - Ele ia dizer algo, mas não disse. Respirou fundo e passou uma das mãos pelo rosto.

–- Shizuka, olha... eu não estou bem, e acabei descontando, foi isso.

–- Mas eles não tem culpa pelos seus problemas, Castiel !

–- Eu vou pedir desculpas pra ele ok ? - Ele disse, afastando a mão do rosto com violência e me encarando. - Eu assenti, mas minha expressão mostrava que eu ainda estava decepcionada. Ele suspirou. - Escuta... não quer dar uma volta comigo ? Prometo que vou pedir desculpas pra todo mundo amanhã. E vamos até o aeroporto pra eu poder falar com a Iris. - Mordi o lábio inferior segurando um sorriso. Não queria ceder tão fácil. Mas eu gostava tanto disso nele. Ele não se importava só comigo, ele se importava com os outros também.

–- E pra mim ? Eu fiquei chateada também.

–- Desculpa ? - Ele disse, num tom meio seco. Eu arqueei uma sobrancelha e dei um sorriso malicioso. Ele sorriu e me puxou pela cintura, e aproximou seu rosto do meu ouvido. Sussurrou um pedido de desculpas e depois começou a beijar meu ouvido, em seguida foi para o meu pescoço. Eu ri e comecei a empurrar ele, com vergonha. Mas tenho que admitir que era isso mesmo que eu queria.

–- Acho melhor a gente deixar o casalzinho ali á sós... - Comentou Armin. Eu corei e Castiel riu. Ele se afastou de mim e me puxou pela mão.

–- Vem, vamos sair daqui. - Todo mundo começou a rir e fazer um coro de “huuum” e eu quis afundar minha cara e a cara dele no chão, mas apenas dei uma risadinha.

–- Qualquer coisa você fala que caiu da escada viu Shizuka ? - Gritou Hoshi quando estávamos saindo. Eu não entendi na hora, mas Castiel estava rindo.

–- O que ela quis dizer com isso ?

–- É pra você dar como desculpa pra sua mãe se aparecer em casa com marcas roxas no pescoço – Ele disse, ainda rindo. Ele deve se divertir com essa minha lerdeza.

–- Mas porque eu... - A ficha caiu, senti meu rosto esquentar e meu coração acelerar, e pensei em quantas vezes Hoshi usou essa desculpa.

–- Sobe aí logo – Disse ele, me estendendo um capacete. Estava tão distraída que nem vi ele subir na moto. Peguei o capacete e antes mesmo de eu me ajeitar ele deu a partida.

Fomos até o Central Park. Estava vazio, pudera, são uma e meia da manhã. Descemos da moto e ele me puxou pela mão até chegarmos á um lugar com poucas árvores, de onde se tinha uma visão perfeita do céu, que estava muito estrelado. Era muito bonito ter duas coisas que eu gosto tanto ao mesmo tempo. Mas ele ainda parecia um pouco tenso...

–- Me diz o que aconteceu... - Eu disse, quando sentei no colo dele. Ele ficou quieto por alguns segundos, enquanto mexia em algumas folhas secas do chão.

–- Deixa pra lá vai... - Disse, colocando a mão no meu rosto. Ele ia apelar de novo... quando ele encostou os lábios no meu pescoço, ignorei os arrepios e tentei empurrá-lo, mas isso só o fazia rir. Revirei os olhos.

–- Não vou deixar não ! Vai me contar !

–- Vou te deixar com uma bela marca roxa – Ele disse, num tom debochado. Eu engoli em seco e senti meu rosto e corpo esquentar. Ignorei essa sensação de novo e dessa vez consegui me desvencilhar dele. Me levantei do seu colo e quando fiquei em pé, coloquei as mãos na cintura.

–- Você VAI me contar o que está acontecendo. - Ele franziu os lábios e revirou os olhos. Ficou alguns segundos me encarando, e eu apenas ergui uma sobrancelha, mostrando que não ia ceder. Ele supirou e se levantou.

–- Vem cá Shizuka, esquece isso... porque a gente não aproveita um pouco hem... - Disse ele, se aproximando de mim. Eu balancei a cabeça e comecei a andar para trás. Ele sorriu. - Só um beijo e eu conto. - Balancei a cabeça novamente. Ele começou a apressar o passo na minha direção e eu fiz o mesmo. Ele quase me alcançou e eu comecei a correr, e ele foi atrás. Comecei a gargalhar enquanto corríamos no meio do central park, quando conseguia me esquivar dele. Eu podia ouvir a risada dele também, e era tão bom... era uma risada pura e estridente, como a de uma criança.

–- Não vai me pegar enquanto não me contar ! - Gritei, virando a cabeça para trás e afastando o cabelo do rosto.

–- É o que você pensa – Nisso ele começou a correr mais rápido. Ele podia correr mais rápido, mas não o fez. Tentei correr mais, mas ele me alcançou a me puxou pelo braço, e me prendeu entre ele e uma árvore que estava do nosso lado. Tentei me desvencilhar balançando os pulsos que ele segurava com força, mas não consegui. Deixei os ombros caírem, derrotada.

–- Se podia correr mais, porque demorou tanto ?

–- Porque eu queria te ver correndo. Eu gosto de ouvir você gargalhando, e quando se diverte assim parece uma criança.

–- É ? - Dei um meio sorriso.

–- É, mas agora a criança vai crescer... - Disse ele, aproximando o rosto dele do meu. Toda aquela coisa – coração acelarado, calafrios, e tal – me impedia de pensar direito. Eu não posso ceder até ele me contar, mas ele estava jogando sujo. Sem conseguir resistir, deixei ele me beijar. Minha mente esvaziou nesse momento, fui capaz de esquecer tudo por alguns segundos. Mas ele que não pense que será tão fácil me fazer esquecer.

Quando o ar acabou e nos separamos, olhei em volta e ri. Ele perguntou o que foi e eu apontei para a trilha atrás dele com o queixo.

–- Como a gente vai fazer pra voltar ? - Enquanto corríamos, nem vimos por onde estávamos indo. Entramos em um lugar fechado, repleto de árvores. Ao perceber isso, ele riu, e depois deu um sorriso que eu não sabia se era de malícia ou de deboche.

–- Parece que a Chapeuzinho se perdeu no bosque com o lobo mau.

–- Idiota – Disse, torcendo o nariz. E agora sei que o sorriso era de malícia. - E o que você vai fazer comigo ? - Ele colocou as duas mãos no meu pescoço e sorriu.

–- Agora você descobre que eu sou um psicopata, e depois de te matar vou enterrar seu corpo no Central Park, onde ninguém vai achar.

–- Psicopatas são inteligentes e você não é – Ele franziu o cenho e eu mostrei a língua com um sorriso de deboche. - Além do mais, prefiro morrer em chamas – Disse, puxando ele pela jaqueta. Ele deu um sorriso de canto. Ficou analisando meu rosto por um momento. Queria saber o que ele estava pensando, mas eu não disse nada. Ele era tão lindo, por dentro, por fora. Ás vezes nem sei porque estamos juntos. Eu sou como uma chuva calma de verão e ele é como uma tempestade. Mas não sei, parece que há um equilíbrio perfeito entre nós. Quando ele está comigo, ele desperta seu lado sensível. Quando estou com ele, desperto meu lado malicioso. É natural, nada é forçado. Simplesmente flui.

E sim, ele realmente me deixou com marcas roxas no pescoço. Ainda bem que meu cabelo cresceu e dá pra cobrir. Nós estávamos deitados na grama, comigo apoiada em seu peito, enquanto ficávamos dizendo bobagens. Ele é bom nisso, me fez esquecer de novo sobre o problema. Mas para o azar dele, eu lembrei.

–- E agora você vai me contar o que aconteceu. - Eu disse, num tom firme. Ele pareceu meio pego de surpresa, com o cenho franzido, e olhou para o lado, talvez procurando um jeito de responder. Ele se levantou de repente e eu me afastei dele num ímpeto. Pelo seu jeito, parecia ser algo sério. Coloquei as duas mãos em volta dos ombros dele e encostei meu rosto em seu ouvido. - Sabe que pode me dizer qualquer coisa não é ? Não sou só sua namorada, sou sua melhor amiga. - Podia perceber que ele estava tenso de novo. Depois de ouvir minhas palavras, ele virou o rosto, mas não sorriu.

–- Eu sei... é que... a Helena sabe ? Ela acordou. Hoje de manhã. - Eu fiquei feliz em um primeiro momento, mas aí lembrei de tudo o que implicava em ela acordar. - Eu queria isso, e estou feliz por isso... mas ainda não a vi. Não sei como vai ser, não paro de pensar nisso... eu não estou preparado ainda. - Eu sabia que isso poderia afetar nosso relacionamento, mas talvez não. O problema maior seria lidar com tudo isso. Como dizer á ela ? Como ela vai reagir ? Me coloquei no lugar dele e percebi o quanto era difícil. O abracei apertado, tentando confortá-lo de alguma maneira. - Provavelmente isso vai deixar as coisas tensas. Por isso enrolei pra te dizer. Queria te aproveitar um pouco e esquecer tudo isso. Sem você saber. - É, ele sabe o quanto sou encucada com as coisas. Não conseguiria relaxar com isso na mente. E o pior é que eu não sabia o que dizer. Disse que ia dar tudo certo, que ela vai reagir bem. Que nós vamos reagir bem. Mas eu não tinha certeza.







Ellen POV












Alexy parece tão distante.






E foi hoje que descobri o porquê, quando passei pela sala de artes. Era ali que aquela garota do cabelo roxo que sempre estava junto com ele ficava. Será que eles estão juntos ? Puxa, ele deixou de gostar de mim bem rápido. Pensar nisso me enfurecia.

Abri lentamente a porta e ela estava pintando um quadro. Quando fechei, ela olhou para trás e sorriu ao me ver.

–- Oi, você é amiga do Alexy não é ? - Perguntou. Eu assenti e me sentei ao lado dela.

–- Posso perguntar uma coisa ?

–- Pode...

–- Vocês estão juntos não estão ? - Ela me encarou, surpresa, e corada.

–- Mais ou menos... eu... - Ela nem sabia o que dizer. Eu ri.

–- Ele é tão complicado. E dícifil. Ás vezes acho que há algo de errado com ele.

–- Há algo de errado com todos nós. - Fiquei sem ter o que responder. Apenas a encarei. - Sabe, ele é um garoto muito bom. Ele só precisa de inspiração. Para mudar sabe. Ele me contou sobre você. Você só iria aceitá-lo se ele mudasse não é ? - Não respondi, apenas olhei para a andorinha que ela estava pintando no céu da imagem do quadro. Era realmente isso. Ou ele mudava, ou não teria nada.

–- Mas você o aceitou como ele é ? - Eu disse, num tom desafiador. Ela sorriu, sem olhar para mim, com os olhos fixos no quadro.

–- O Alexy tem que melhorar em muita coisa. Mas não adianta apenas cobrar. Você tem que inspirá-lo a mudar. Mas sem fazê-lo se sentir preso ou obrigado. As coisas simplesmente fluem... - Ela disse, enquanto pintava um andorinha saindo de uma gaiola. Eu não respondi nada, não sabia o que dizer. Ela estava certa. Completamente certa....


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Notas finais do capítulo

Aee, finalmente o depois de um tempo sem inspiração :/
Espero que estejam gostando *---*
Ah, e gostaria de indicar uma história muito boa que estou lendo ^^ Se chama Caixa de Memórias, é original. Deem uma olhada õ/
http://fanfiction.com.br/historia/328759/Caixa_De_Memorias/ageconsent_ok
Kissus e comentem u.u