Fogo e Gelo escrita por Reira


Capítulo 3
As regras do jogo


Notas iniciais do capítulo

"Well, there's a million other girls who do it just like you
Looking as innocent as possible to get to who they want and what they like
It's easy if you do it right
Well, I refuse, I refuse, I refuse".
(Misery Business, Paramore)



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–- Como você se chama, querida ? - perguntou a garota quando saímos da biblioteca.

–- Shizuka.

–- Um belo nome Shizuska. - ela deu um sorrisinho – bem falso por sinal – e eu revirei os olhos.

–- É Shizuka. - ela deu de ombros.

–- Eu me chamo Ambre. Um belo nome não é ?

–- É... - ela seguiu em silêncio até chegarmos á uma sala identificada como “clube de

música”. Depois que entramos, ela virou para me encarar e cruzou os braços.

–- Você sabe onde você está não é, Shizuska ? - não resisti e ri.

–- Shizuka, caramba. Na escola ? - e ainda ergui uma sobrancelha e fiz uma expressão de “não me diga”. Ela deu outro daquele sorrisinho.

–- Imagine como se tudo isso fosse um Reino – ela começou a andar em volta da sala. - Reinos precisam de Rainhas. E nesse Reino, eu sou a Rainha.

–- Rainha sem um rei ? - ela me encarou, incrédula.

–- Claro que tenho um Rei ! - eu apenas apontei para a mão dela sem aliança. Ou seja, sem namorado, sem Rei. Ela deu de ombros. - Ele ainda não sabe disso. Mas não mude de assunto. Só quero alertá-la que eu tenho recursos e capacidade de tornar a sua vida um inferno se você me incomodar. E já incomodou muito por hoje, arrastando asa para o Castiel e para o Nathaniel, que á propósito, é meu irmão. E não quero vê-la com graça pra cima dele. - eu a encarei, incrédula.

–- Hã ? Eu só trombei naquele garoto que á propósito é um mal educado, e o Nathaniel é representante de sala ! É óbvio que vou falar com ele !

–- Gostei – disse ela dando outro sorrisinho – Você aprende rápido. Sempre que fizer algo que me desagrade, terá de se justificar. Olhe como sou compassiva. - eu dei uma risada irônica, e me xinguei de idiota por ter me justificado. Não devia ter feito isso. - Mas se sua justificativa for falha querida, você estará muito ferrada.

–- Não tenho medo de você, Amber.

–- Eu teria se fosse você. E é Ambre. - dei um sorrisinho semelhante ao dela – tá vendo como é bom pronunciarem seu nome errado de propósito ? Depois me virei e ia saindo, quando ela interveio. - E olhe só... - Eu virei o rosto. Ela andou em direção á uma bateria no canto da sala, onde havia também um baixo e alguns amplificadores. Ela passou os dedos de leve pelos pratos da bateria e me encarou. - Esses equipamentos são da banda do Castiel. Ele costuma ensaiar aqui ás vezes. Eu já vi algumas apresentações, é uma banda muito boa... sabe o nome ? Winged Skull. Eu sinceramente acho meio tosco, mas ouvi rumores de que é provisório...

–- Deve ser uma ótima banda, mas onde você quer chegar ? - cruzei os braços, esperando. E ela sorriu. Aquele sorrisinho.

–- O sonho do Castiel é ser um músico promissor. Fazer o que gosta, realmente impactar o mundo com suas canções. Ele quer aparecer, quer deixar sua marca. Ele quer fazer sua parte em mudar esse mundo, nem que seja um pouco. - claro, porque ele está infectado com pessoas como você, pensei. - Mas é um sonho tão frágil, tão tênue quanto as cordas desse violão. - ela foi até um violão que estava pendurado logo ao lado da bateria, e puxou uma das cordas com vontade. Até tive um sobressalto com a ação dela e o barulho da corta ao estourar. - Eu sou capaz de fazer o mesmo com esse sonho bobo. Eu sou capaz de tudo para ter ele pra mim. - ela jogou a corda no chão e saiu andando. Minha vez.

–- Well, there's a million other girls who do it just like you... - eu comecei a cantar um trecho de uma das músicas que eu mais gosto, Misery Business do Paramore. Enquanto cantava essa frase, andei a bateria e comecei a tocar as notas do trecho correspondente. E segui com a letra. - Looking as innocent as possible to get who they want and what they like, It's easy if you do it right... Well, I refuse, I refuse... I refuse. - finalizei com uma improvisação nos pratos – ficou legal, me superei – e saí de lá, com um sorrisinho e ela com cara de what the hell. Mas valeu a pena. Ela jamais sonhava que eu sabia alguma coisa de bateria – e também piano, mas não foi necessário – e menos ainda que eu não jogaria o jogo dela. Ah, se tem uma coisa que não gosto é mostrar tudo sobre mim de uma vez só.

–- Então é guerra. - pude ouvi-la dizer enquanto deixava a sala. Nem sequer me virei; a ignorei completamente e voltei para minha sala, até me lembrar que não sabia onde estava. Era uma escola cheia de corredores estranhos. A entrada, minha sala e a biblioteca eram fáceis, num corredor só. Mas ela havia me levado á uma extremidade da escola e fiquei completamente perdida, mas continuei andando como se soubesse o caminho até ter certeza de estar fora da vista dela. E então me rendi e resolvi perguntar para alguém.

–- Com licença – eu disse para uma garota que estava passando um tanto rápido, com passos curtos e segurando uma pasta em frente ao corpo. Ela olhou para mim.

–- Sim ?

–- Poderia me dizer onde fica o 2° A ? Sou nova aqui e me perdi...

–- Ah claro – ela se virou a ia apontar a direção, mas deixou os ombros caírem e voltou a olhar para mim. - melhor eu te levar lá. - assenti e comecei a segui-la.

–- Me chamo Shizuka, e você ?

–- Iris. Gostei do seu nome, tem algum significado ? Nomes asiáticos em geral tem significados – perguntou, ajeitando os óculos. Eu sorri.

–- Algo como silenciosa...

–- Hm, interessante. Está gostando da escola ? - eu assenti, apesar de não querer. Mas não iria encher a pobre garota com tudo o que eu estava pensando. Comecei a prestar atenção nela, já que tenho tendência á observar pessoas, suas manias. E ela tinha de enrolar a ponta da longa trança lateral dos cabelos castanhos. Era engraçado, ela tinha habilidade. Se eu fizesse isso, iria embaraçar tudo.

–- Enfim, chegamos.Ah, você já participa de algum clube ?

–- Ainda não... quais são ?

–- Bom... temos o de jardinagem, música, basquete, teatro, karatê, desenho... são muitas opções – ela sorriu. Nem pensei para responder.

–- Gostaria de entrar no de música ! - ela abriu a pasta que segurava e pegou um papel. - ok, o de música... vou anotar seu nome aqui. Amanhã você aparece lá para confirmar. - assenti, super feliz. Até que enfim uma coisa boa, até esqueci aquela bit... idiota da Ambre. - vou indo Shizuka, espero nos vermos mais vezes ! Até mais !

–- Até ! - Acenei e entrei na sala. Estava mais aliviada agora, me lembrando de que ainda haviam pessoas legais na escola e que eu poderia fazer alguns amigos, e ainda assim continuar invisível. Mas logo me lembrei da parte ruim quando entrei na sala e ali estava Castiel, sentado no fundo da sala com seus fones de ouvido, me encarando com um sorriso que era tudo, menos amigável. Ignorei e fui para o meu lugar.

Por incrível que pareça consegui ficar acordada nas três últimas aulas e evitei de olhar para trás, até mesmo quando fui embora. Mas ele passou por mim e me entregou um folheto.

–- Pra me ver tocar de pertinho – e deu uma risada maliciosa. Que vontade de jogar aquilo nele, mas não iria adiantar nada. Olhei para o folheto enquanto caminhava para a saída; era sobre o show que eles fariam dali três dias, no sábado. Quem sabe... mas desviei a atenção do folheto quando alguém me cutucou.

–- Ei, você que é a Shizuka ? - era uma garota, asiática como eu, de cabelos pretos, beem lisos e compridos. Assenti.


–- Sim, porque ? - ela sorriu, um sorriso muito amigável que me fez sorrir também.

–- Vai ter uma festa... no sábado á noite, e como você é nova seria bom pra se enturmar... vá, vai ser muito legal. É uma festa em uma casa enorme em Mahattan. É imperdível, e é inadimissível passar noites de sábado em casa, sendo que você mora em NY. - parecia realmente muito sedutora a proposta, mas ao mesmo tempo perigosa. Ok, o que teria de ruim em uma festa, era até milagroso alguém me convidar para alguma coisa. E parecia que ia ser legal, qualquer sinal de exageros eu pediria para o meu pai me buscar. Agradeci o convite e disse que iria fazer o máximo para ir. Ela sorriu e saiu.

–- Vai aceitar ?

–- Meredy ! - exclamei, quase encostando na parede com o salto que dei devido ao susto. Ela riu, mas só depois de engolir um pedaço da bolacha que estava comendo. Resolvi reparar no corpo dela, que era perfeito ! Como alguém poderia comer assim e ser magra ? Filha da mãe.

–- Não sei...

–- Hm... ir ou não ir, eis a questão - ela fez um gesto dramático ao dizer isso, e me fez rir. - você tem três escolhas... show, festa ou casa. Mas casa parece muito monótono. Você está em NY, e precisa de emoção. Mas cuidado, as emoções dessa cidade muitas vezes são traiçoeiras... faça uma escolha sábia. Até mais Shizuka – e me deixou ali plantada na escada enquanto corria para o carro do pai, ou mãe, sei lá. Suspirei e sentei em um dos degraus, para esperar minha mãe. Enquanto esperava, olhei novamente os convites que havia recebido. Ambos pareciam muito inofensivos... mas as aparências enganam. Qual escolher ?





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