Fogo e Gelo escrita por Reira


Capítulo 29
Depois da calmaria, vem a tempestade.


Notas iniciais do capítulo

"I wanna know, have you ever seen the rain,
Comin' down
a sunny day ?"
(Have you ever seen the rain, Creedence Clearwater Revival)



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Ambre POV





Até quando isso vai durar ?

Me levantei do chão, dei a descarga e fui lavar o rosto. Há dias eu passava mal e tinha que dar pausas nos ensaios fotográficos. Eu estava acostumada com isso, eu fazia isso para continuar magra. Será que estou ficando bulímica ? Dizem que provocar o vômito dá refluxos e não dá mais pra comer... preciso ir ao médico. Isso está atrapalhando meu trabalho.

Enquanto eu ajeitava meu cabelo, uma das garotas que trabalhava comigo, Melody, entrou no banheiro e ao me ver me encarou de cima a baixo.

–- Parece que andou passando mal de novo. - Eu podia sentir o veneno nas palavras dela. Ela queria passar por cima de mim, eu sei disso. Quer as fotos que eu faço, o destaque eu tenho, e vive procurando uma forma de me derrubar.

–- Deve ser algo que eu comi, é isso.

–- E engordou também – Ela comentou enquanto eu saía do banheiro. Ignorei e voltei ao estúdio. Nora, a dona da grife que eu estava tirando as fotos, veio falar comigo. Seus olhos azuis eram severos e ela arrumava o cabelo a todo segundo, um tique que ela só tem quando está nervosa.

–- De novo passando mal, Ambre ? -Revirei os olhos.

–- Quer que eu faça o que ? Que eu vomite no seu carpete ? Tenho que ir ao banheiro. - Ela semicerrou os olhos.

–- Você tem passado mal há dias e também engordou, Ambre. O que acha que aconteceu com você ? - Arregalei os olhos. O que ela está insinuando ?

–- Não é nada demais, vamos voltar ás fotos. - Eu ia voltar para o sofá onde eu estava fazendo as poses, mas ela me segurou pelo braço. Nessa hora, Melody apareceu, com um sorriso triufante. Senti enjôo de novo.

–- Já fez um teste ? - Perguntou Nora. Eu respirei fundo para me acalmar e a fuzilei com os olhos.

–- Teste pra quê ? Vocês acham que eu ia jogar meu trabalho no lixo engravidando ? É claro que eu não estou grávida ! - Melody riu.

–- Seu corpo te trai, Ambrezinha – Disse Melody.

–- Cala a boca, todo mundo sabe que você é a mais rodada daqui e não engravidou por sorte... e que quer roubar meu lugar – Ela arqueou uma sobrancelha.

–- Porque sou esperta, querida. Mas pelo visto suas férias foram muito boas... - o 'muito' veio carregado de malícia. Eu tentei revidar mas agora todas cochichavam e riam de mim. Nora estava me dando sermão, mas eu não ouvia nada. Olhava em volta, desesperada, sem saber o que fazer. Será que estou mesmo grávida... ? Mas isso vai me fazer perder o emprego... a não ser que eu aborte... fiquei tão confusa que peguei minha bolsa e saí correndo. Ao chegar no carro, desabei em lágrimas. O que vou fazer ? Peguei o celular e ia ligar para o Lysandre, e então me dei conta do que estava fazendo. Nunca estivemos juntos, foi algo totalmente físico. Porque eu tinha de me envolver emocionalmente ? Eu sentia falta dele... eu queria ele e só ele pra me confortar agora. Mas ele deve estar com aquela menininha... é da mesma linha da Shizuka, se faz de sofredora pra ganhar atenção.

Resolvi acabar com a dúvida. Limpei o rímel borrado com um lenço e fui até a clínica que frequento marcar um teste. Depois comprei vários de farmácia, e ao chegar em casa corri tirar essa dúvida que me atormentava.

Quando estou ansiosa, eu como. E uma barra de chocolate foi embora enquanto eu esperava o resultado, e o choque ao ver que todos deram positivo foi enorme.

Eu estou grávida.

Me olhei no espelho. Eu vou ser mãe. Coloquei uma das mãos em cima da minha barriga.

Eu vou ser mãe...

Abortar tinha passado pela minha mente, mas agora, tendo consciência de que havia uma vida dentro de mim, eu não poderia sequer cogitar isso. Algo dentro de mim mudou, um sentimento novo e bonito, porém em seguida veio toda a responsabilidade que eu teria. Quem mandou ser irresponsável, Ambre ? Quem mandou ceder ?

Eu sempre fui uma pessoa tão influenciável. Sempre disposta a fazer de tudo para manter os garotos que eu queria comigo. Mesmo que isso custasse minhas vontades ou minha felicidade.

Com Lysandre não foi diferente... e ele é o pai. Isso é certo porque antes dele, houve uns três garotos, mas há um tempo considerável.

Me senti tão boba, tão vulnerável... será que serei capaz de cuidar dessa criança ? Minha vida estava indo bem, eu estava conseguindo ascensão, estava tudo perfeito. Mas agora a vida me virou de cabeça pra baixo... dizem que a calmaria vem antes da tempestade. Que pode chover num dia ensolarado. O que vou fazer... ?

Mas antes de tudo preciso falar com Lys. Ele tem direito de saber. Apesar de apreesiva com sua reação, corri pegar o celular e discar seu número.





Meredy POV





Porque ele está demorando tanto ? Já comi metade de um pacote de bolachas de tão ansiosa. Quando ouvi a campainha, corri dar uma última olhada no espelho e então corri para a porta.Quando abri, lá estava ele, com um sorriso de derreter a antártida.

–- Está pronta ? - Ele perguntou. Eu assenti e já ia sair, mas ele disse pra esperar.

–- Tenho uma coisa pra você. - Ele entrou comigo e me pediu pra sentar no sofá. Ele tirou uma caixa grande de dentro de uma sacola.

–- Parece que a Cinderela perdeu o sapato... então o príncipe comprou outro igual. - Olhei dentro da caixa que ele abriu, e dentro tinha um par de sapatos iguais aos que perdi no nosso passeio. Ri e balancei a cabeça.

–- Como peguei o outro par nas mãos, consegui ver o número... - Ele se ajoelhou e colocou um dos pares no meu pé delicadamente. - Espero que sirva... - Fiquei vendo aquilo surpresa e emocionada. Que fofo ! Parecia coisa de livro. Quando o sapato se encaixou perfeitamente no meu pé, ele me olhou e sorriu.

–- Achei minha princesa.- Nós dois rimos e eu coloquei o outro, pra já sair com meus sapatos novos. Eu agradeci e ele segurou minha mão e saímos. Parecia um sonho. Desde nosso passeio em Orlando, eu e Leigh nos falamos quase todo dia e combinamos de sair. É a segunda vez que saímos desde então, e tanto ele quanto eu nos divertimos muito. Nunca pensei que conquistaria alguém tão lindo e gentil como ele, porque nunca fui extrovertida ou o tipo de garota que chama a atenção. Não sou feia, mas sou comum, e até modesta. E os garotos bonitos gostam mais de garotas que aparecem, como a Hoshi. Mas Leigh diz que gosta de mim exatamente do jeito que eu sou. Ele é como eu, discreto, bem humorado e ama doces. Fomos ao cinema e lá aconteceu o que eu tanto esperava: o beijo. Como descrever um beijo dele ? Isso é impossível. Só sei que foi a tarde mais perfeita que já tive. Quanto o mais o conhecia, mais feliz ficava por saber que ele gostou de mim. Nem sequer lembro o nome do filme...

Eram oito e meia quando ele me deixou em casa. Ele entrou pra conhecer minha mãe e subimos pra ele conhecer meu quarto. Fomos até a varanda, e sentamos na rede para apreciar a vista maravilhosa que eu tinha da minha sacada.

–- Nunca pensei que conheceria uma garota melhor do que eu esperava – Ele disse. Eu sorri.

–- Sou muito diferente da Hoshi, não é ?

–- É, mas agora vejo que pra mim, você é melhor do que ela. Agora entendo o que querem dizer quando dizem que coisas ruins acontecem para virem as boas. - Eu sorri novamente, mas logo meu sorriso desapareceu ao ver que a expressão dele mudou. Ele parecia preocupado.

–- O que foi ? - Ele me olhou com uma expressão tão desolada, que tive vontade de abraçá-lo.

–- Meu irmão quer voltar. - Arregalei os olhos, me lembrando de que eles não moravam aqui e cedo ou tarde voltariam pra casa. Lysandre tem que cuidar dos seus preciosos negócios com o pai... - Meu pai quer que eu volte com ele, mas eu quero ficar. E corro o risco de ele me deserdar... sabe, tirar todos os meus direitos á heranças e essas coisas. No caso de eu ficar...

–- Então você tem que ir !

–- Não, eu vou fazer de tudo pra ficar. Você, os outros... nunca tive amigos. Nunca conheci alguém como você Mel, e finalmente me sinto livre pra seguir meus sonhos. Mesmo que isso signifique perder o dinheiro, eu não me importo.

–- Mas porque ? Sua família é rigida demais ?

–- Meu pai é – Ele começou a encarar o céu, imerso em suas lembranças. O observei atentamente enquanto ele falava. - Ele nos determinou um futuro e somos obrigados a seguir. Tudo fora disso, pra ele, é bobagem. Meu irmão sofreu nas mãos dele, e eu, vendo isso, sempre me reprimi e fui submisso, de medo. Viajar pra cá me abriu a oportunidade de finalmente ser quem eu sou e fazer o que quero fazer, o que ele é totalmente contra.

–- O que você quer fazer ?

–- Tem papel e lápis ? - Assenti e corri buscar uma folha e um lápis. Ele se sentou na mesinha da varanda e começou a desenhar. Observei enquanto balançava de leve na rede e quando ele terminou, veio sentar ao meu lado me mostrar. Era um vestido, lindo, perfeitamente o meu estilo. Mas havia algo de único, de fora dos padrões, o que caracteriza um estilista.

–- Eu sempre gostei de desenhar roupas. Mas meu pai acha que isso é trabalho de gay. - Ele revirou os olhos e eu ri.

–- Nada a ver ! Você é ótimo nisso ! Eu te apoio. - Ele sorriu.

–- Quero ter minha própria marca, minha própria loja.

–- Já estou tendo ideias... - Começamos a conversar sobre isso, expondo nossas ideias e planos. Parecia meio surreal, mas eu tinha certeza que ele iria conseguir.

–- Então estamos juntos nessa ? - Ele perguntou, me estendendo a mão.

–- Estamos juntos nessa – Respondi, dando a mão para ele, que me puxou pra perto e me abraçou. E ficamos assim, rindo e conversando sobre como seria a vida dele por aqui.





Lysandre POV





Que garota enigmática. Eu podia passar horas só olhando pra ela, que de vez em quando falava sozinha, algumas palavras tristes...

Algo nela me atraía. Não sei dizer o que, mas atraía. O dia todo, eu resolvi ficar. Porque na semana seguinte eu iria embora, e eu queria admirá-la por mais alguns dias.

Estranho Ambre não ter me procurado. De vez em quando, sentia falta dela, mas fingia que não. Sempre fui mestre em mentir pra mim mesmo. E era apenas uma saudade sem fundamento, assim como o que eu sentia por Nina. Está longe de ser amor. Eu nem sei o que é isso.

Quando estava pensando nisso, meu celular tocou. Ela disse que precisava me ver urgentemente, e quando estava saindo, ouvi a campainha tocar. Quando abri a porta, o namorado de Nina estava ali. Nem disse nada, apenas passei reto. Pelo visto a coisa ali ia ficar muito tensa.

Nunca vi Ambre tão desesperada. Eu não queria ir, mas ele dizia ser sério demais, então resolvi ir. Odeio quando estou tranquilo e alguém interrompe isso... quando cheguei no lugar marcado, ao lado de um restaurante, Ambre me esperava, claramente nervosa.





Ken POV





Depois de ver Lysandre sair quase correndo porta afora, sem nem ter reação de tão rápido que aconteceu, vi Nina aparecer na porta. Ela ainda estava de pijama, os cabelos bagunçados. Me lembro de já tê-la visto assim, e me deu uma nostalgia, uma saudade dos dias felizes. Corri pra dentro e a abracei. Ela me empurrou na hora.

–- O que está fazendo aqui ?

–- Vim trazer você de volta – Ela balançou a cabeça.

–- Sou um caso sem salvação, Ken.

–- É claro que não ! - A segurei pelos ombros, com o olhar suplicante.

–- Eu quero o Lysandre, é com ele que quero ficar. - Sua voz estava ficando embargada, claramente segurando o choro.

–- Nina... - Ela tirou minhas mãos dos ombros dela bruscamente, e nesse momento cedeu ao choro.

–- Não faz isso Ken... - Ela suplicava com seu olhar, agora borrado devido as lágrimas, pra que eu parasse. Mas eu nunca ia parar. Talvez o caso dela fosse semelhante ao do refém que se apaixona pelo sequestrador. Mesmo ele sendo o causador do sofrimento, só ele que o alivia. Era algo psicológico, não era ela que estava apaixonada por ele, era como um vício, uma absolvição para um crime que ela não cometeu.

–- Eu sei que não quer nada disso... Nina nós podemos começar de novo, tudo vai ficar bem... eu sei que você está aí dentro em algum lugar... - Ela não se continha, suas lágrimas era tantas que estavam me deixando angustiado. Eu queria poder arrancar tudo aquilo dela, mas ela precisava fazer isso.

–- Você não merece alguém como eu ! - Ela já estava quase gritando. - Vá embora Ken ! - Eu me aproximei para tentar abraçá-la de novo, mas ela me empurrou com força até a porta.

–- Nina me escuta...

–- VÁ EMBORA ! - Recuei diante do seu grito furioso e ela bateu a porta com violência. Não sei se toda aquela fúria era realmente pra mim ou pra ela mesma. Nada é tão simples, ela precisa de ajuda e precisa reconhecer... me encostei na porta, angustiado, frustrado, cansado. Algo muito mais profundo do que a dor da perda a acometia, era a dor da culpa... mas a culpa era de Lysandre... sorte dele não estar ali, senão iria apanhar. Mas eu não iria desistir. Estava determinado a trazê-la de volta. Ela achava que eu não a merecia... será possível que ela acha que é igual ao Lysandre ? Quando me recompus pra ir embora, vi uma mulher passando junto com uma garotinha de uns quatro anos. A menina olhou pra mim e sorriu, e eu sorri de volta, sentindo pena. Pena por saber que essa inocente criatura uma dia cresceria, e esse sorriso puro com certeza seria levado pela dureza da vida.

Quando saí lá fora, uma fina chuva estava caindo. Mas o mais impressionante era o sol ainda presente. Estava chovendo sem estar nublado, nunca havia visto isso. Era um retrato da minha vida, antes ensolarada agora tempestuosa. Resta esperar o arco-íris...





Shizuka POV





Respirei fundo e toquei a campainha.

Não adianta, nunca estaria totalmente pronta. Terminar com alguém é algo que sou péssima, odeio ver alguém sofrer.

Quando ele abriu a porta pra mim, seu sorriso foi enorme. Depois de me abraçar, me levou pra dentro e perguntou se eu queria comer alguma coisa. Engoli em seco e o olhei, séria.

–- Preciso conversar algo sério... eu... - Reuni coragem e deixei as palavras escorrerem como água, de uma vez só. - Eu quero terminar. - Sem rodeios, senão eu perderia a coragem. Ele me fitou, num misto de incredulidade e decepção.

–- Mas... - Ele ia começar uma objeção, mas não terminou. Estava visivelmente confuso.

–- Eu gosto do Castiel, Nath. Me desculpa, eu não posso te enganar, eu... - Deixei meus ombros caírem, sem saber o que dizer. Parti o coração dele, eu sei disso, e isso fazia o meu apertar. Ele não derramou nenhuma lágrima, mas era visível a dor em seus olhos.

–- O que eu posso fazer, não é ? Eu posso dizer que vou lutar por você, mas eu vejo nos olhares de vocês que essa é uma batalha perdida, mas continuei me enganando enquanto tivesse você comigo - Ele confessou, jogando o cabelo para trás como sempre faz quando está nervoso. - Era só isso que tinha pra dizer ? - O olhei, confusa. Nunca o vi tão grosso... mas como sou tonta ! É claro que ele vai ser grosso ! Balancei a cabeça e já ia indo em direção á porta, quando o celular dele tocou. Ao ver o número na tela, ele correu para a sala atender. Fiquei em pé, esperando, sem graça pela situação toda, e quando ele voltou estava mais nervoso e agitado.

–- Ótimo, você termina comigo e agora tenho que falar com seu namorado – Ele pegou as chaves do carro e foi para a porta. - Ligue pra ele e diga que é urgente, pra ele nos encontrar no Hospital Santa Edwiges. - Obedeci, totalmente confusa. Minha mente estava tão embaralhada que nem perguntei o porque, agi mecanimente. Castiel disse que pretendia me levar lá de qualquer jeito hoje, e então fiquei mais confusa ainda. Queria perguntar ao Nath mas ele parecia nervoso demais. Então fui calada até chegarmos ao hospital e encontrarmos Castiel esperando na recepção.



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Notas finais do capítulo

Aeee graças ao feriado, postei mais cedo que de costume ;D espero que gostem e... RECEBI MAIS RECOMENDAÇÕES !!! Da Isadots, a AnniGaburira e a Vanessa542... gente, fiquei MUITO feliz. Nem eu sabia que minha história provocava tudo isso, e fico realmente feliz... muito obrigada, é graças á vocês que eu escrevo. Muito obrigada MESMO ! ♥33



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