Fogo e Gelo escrita por Reira


Capítulo 27
A vida continua, fica tão pesada...


Notas iniciais do capítulo

"When you try your best, but you don't succeed,
When you get what you want, but not what you need,
When you feel so tired, but you can't sleep
Stuck in reverse...
And the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone, but it goes to waste
Could it be worse?"
(Fix you, Coldplay)



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E voltamos para nossa última noite naquela casa. A viagem acabou antes do tempo, é claro, ninguém tinha ânimo para se divertir depois do que aconteceu. Ao voltarmos, eu não conseguia dormir. Tudo aquilo era muito estranho pra mim, eu não sabia como lidar com isso. Talvez a ficha não tivesse caído, ás vezes eu tinha a sensação de que receberia um sms dele á qualquer momento, que o veria á qualquer momento. Que tudo não passou de um pesadelo.

Decidi fazer um chá para tentar me acalmar e conseguir dormir. Não queria mais pensar nisso, ao menos dormindo eu esqueceria da dor por algumas horas. Quando cheguei á cozinha, Ken estava lá, sentado na mesa, com cara de sono olhando para o seu celular.

–- Ken ? - Eu chamei baixinho, mas ele ouviu. Me olhou com o olhar vago, repleto de tristeza e de uma luta árdua contra o sono. Ergueu o celular, dando um sorriso derrotado.

–- Já liguei pra ela dez vezes, ela não me atende. Já não basta o que passamos, ela teve de sumir com aquele crápula do seu ex-namorado. - Arregalei os olhos. Só agora percebi que Nina não voltou com a gente. Não, eu não ia suportar mais essa. Suspirei fundo e me sentei antes que perdesse o equilíbrio.

–- Como isso aconteceu ?

–- Ela simplesmente entrou no carro com ele e foi embora. Antes disso, ela me evitou e disse que não merecia alguém como eu – Ele suspirou pesadamente. - Ela me trocou de novo.

–- Não, não ! Não tire conclusões precipitadas. Dê um tempo pra ela, Ken. Ela entrou em choque com tudo que aconteceu, não deve estar no seu juízo perfeito. E a Ambre está lá com eles, não vai acontecer nada. Depois irei conversar com ela...

–- É...

–- Vou fazer um chá pra nós – Tentei parecer equilibrada, mas por dentro eu estava arrasada. O medo de Nina cair na armadilha de Lysandre me invadiu, e eu sabia que ele poderia muito bem se aproveitar desse desequilíbrio emocional dela. Ken ficou apenas me observando enquanto eu colocava a água pra ferver, e quando fui pegar as xícaras, as deixei cair de tanto que tremia.

–- Ah, não ! - Exclamei, ao ver os cacos espalhados pelo chão. Aquilo refletia exatamente como eu estava, completamente em cacos. Se eu estava nesse estado com a morte de Johnny, imagine com a morte de outra pessoa ainda mais importante. Sou uma fraca. E sem perceber, disse essa última frase em voz alta. Ken se levantou na hora e me abraçou.

–- Você não é fraca. É apenas alguém com sentimentos, Shizuka. - Eu retribuí o abraço, coisa que estava precisando. Ficamos um tempão abraçados, ambos deixando suas angústias e medos serem amparados pelo outro, sem palavras. - Você está tremendo... você comeu alguma coisa hoje ?

–- Apenas alguns petiscos no almoço... - Ele me levou até a mesa e me ajudou a sentar.

–- Vou fazer macarrão pra gente comer. Com salsicha.

–- Mas são uma da manhã...

–- Não importa, você precisa comer. E eu também. - Sorri. Só ele mesmo pra me fazer sorrir depois de tudo. Eu e Ken sempre gostamos de cozinhar juntos quando éramos mais novos, e macarrão com salsicha – depois de waffles com chocolates, claro – era um dos nossos pratos preferidos. Mas logo meu sorriso desapareceu, tudo estava muito recente e não achava justo sorrir agora. Fiquei observando enquanto ele preparava tudo, até que a campainha soou. Nos entreolhamos, e eu fui até a porta. Ao olhar pela câmera do interfone, era Ambre que estava lá. Franzi o cenho e abri a porta. Ela entrou cabisbaixa, de pijama, com uma expressão horrível.

–- Não consegui aguentar o casalzinho. Vou dormir aqui hoje - Ela jogou as chaves do carro em cima da mesa e foi para o quarto. Casalzinho ? Corri atrás dela e a puxei pelo braço. Ela se virou e me encarou, impaciente.

–- O que quis dizer com isso ?

–- Aquela garota disse alguma coisa sobre ser igual ao Lysandre. Sabe, farinha do mesmo saco. E acho que são mesmo. - Não consegui sentir raiva, estava fraca demais para isso. Apenas soltei o braço dela e olhei para o Ken, que nos olhava da cozinha com a expressão vazia e certa de que havia perdido sua menina. Ambre riu cinicamente. - Tenho dó dela, acha que só o Lysandre a compreende... - Ela disse, e entrou no quarto. Estava claro que Nina estava com forte desequilíbrio, mas ela iria acordar. Nada sério iria acontecer.

–- Ambre exagera as coisas, eles devem ter se abraçado ou coisa assim e ela já vem dizendo essas coisas...

–- Porque ela está fazendo isso ? - Ele perguntou, com lágrimas nos olhos. - Já foi difícil a morte dele, e vê-la se sentindo tão culpada, todo aquele peso, eu queria ajudá-la a suportar ! Eu estava lá !

–- Ken... algumas coisas não conseguimos compreender. Não a culpe, deve estar sendo difícil pra ela. Um choque muito maior. - Ele deixou uma lágrima escorrer e eu o abracei com força. - Tudo vai ficar bem.









As férias continuaram e eu me concentrei em me reerguer a cada dia. Estava mais nostálgica do que nunca, vendo memórias, fotos, chorando e rindo ao lembrar de tudo que vivi com Johnny. Mas como diriam os Beatles, “ob-la-di, ob-la-da, life goes on”... apesar das perdas, a vida continua mesmo. Mas eu não conseguia me divertir, sorrir, como antes. Precisava deixar a ferida cicatrizar primeiro. E pra isso, me isolei de tudo e todos. Mel e Hoshi me ligavam de vez em quando, pra saber como eu estava. Não tinha muita vontade de atender, mas atendia porque sabia que elas estavam preocupadas, e não queria que ficassem mais. Mas Nath e Castiel eu evitava ao máximo. Não queria que eles me consolassem, queria me virar sozinha, me curar sozinha. Esses dias, remexendo numa velha caixinha onde guardo coisas importantes, achei um velho broche de rosa, com rubis vermelhos, que ganhei de presente do Lysandre quando se despediu de mim no aeroporto. A época que eu era feliz, apesar de já ter sofrido decepções como qualquer outra pessoa, eu não havia percebido minha fragilidade, não havia sofrido um baque, não me sentia mal por namorar um garoto gostando de outro. Tantos erros, decepções e perdas... em tão pouco tempo. Fiquei um tempão olhando o broche, pensando em como tudo mudou tão rápido. Quando me lembro da cena de Lysandre me abraçando no aeroporto, do quanto eu gostava dele... parece que faz tanto, mas tanto tempo... Meus pais, ao saberem da notícia, ficaram tristes, mas logo o tanto de trabalho os fizeram esquecer. Um abraço foi consolo suficiente para minha mãe. Nas primeiras noites, eu mal dormia de tanto chorar, mas eu sabia que se a chamasse, ela ficaria brava por atrapalhar o sono dela, o que a faria não ter disposição para trabalhar no dia seguinte. Numa dessas noites, sem conseguir dormir, resolvi fazer chá de camomila. Me sentei na varanda de casa, vendo as estrelas enquanto tomava o chá, pensando em como meus pais foram insensíveis. Eles não são pessoas ruins, mas o mundo os sufocou. Com tanto trabalho e tanta exigência, eles se perderam. Os sentimentos ficaram em segundo plano. Até mesmo eu, que sou sentimental; há quanto tempo não paro pra admirar alguma coisa ? Vamos seguindo, nos distraindo com coisas superficiais e nos esquecemos do que realmente tem valor. E de repente eu me dei conta do tamanho da carência que eu sentia. Meus pais, sempre ausentes, concentrados no trabalho. Dava pra contar nos dedos de uma mão as vezes que conversávamos durante o dia, e ás vezes eram duas ou três palavras trocadas de forma automática. Eles se importam com minha saúde, com minhas necessidades; mas sem perceber isso se tornou automático e se foram os abraços, o apoio, tudo. Isso talvez justifique a minha fase revoltada, a fase em que eu tentei chamar a atenção. E consegui, mas logo essa atenção sumiu novamente. Apesar de voltar a ser quem eu sou, continuei com aquela necessidade de um apoio constante, de alguém para abraçar, de uma válvula de escape para todas as minhas inseguranças.

Isso me fez sentir culpada. Eu realmente gosto do Castiel ? Ou ele é apenas um apoio emocional que a fraca aqui precisa ? Voltei para o quarto e me sentei na cama, encarando a parede. Talvez esquecê-lo fosse a melhor solução. Eu não sei.

Confusa e cansada, me deitei na cama e consegui pegar no sono.






Hoshine POV





Estava tudo indo tão bem... porque isso tinha que acontecer ? Fiquei realmente abalada com a morte de Johnny. Eu conheço tão bem a dor da perda, e ficava pensando em como devia estar sendo para os pais dele, para a Shizuka. Tanto que, ás vezes, perdia o sono e ligava para o Armin, porque só ele conseguia me acalmar e me fazer rir. Conversávamos até eu dormir, mas nessa noite, quem dormiu primeiro foi ele. Já eram quase três da manhã, e eu não sabia o que fazer pra dormir. Talvez ver algum filme... me levantei da cama e fui até a a estante, onde eu guardava minha coleção de DVD's do Tim Burton, e peguei Coraline e o mundo secreto. Mas quando desci as escadas e cheguei á sala, Mel já estava ali assistindo alguma coisa. Pensei em voltar, mas lembrei que há tempos não conversávamos direito. Desde aquele mal entendido entre eu, ela e Leigh, nossa convivência ficou estranha. Talvez ela tenha percebido que brigamos por uma coisa idiota, que ela me interpretou mal. Que o que ela falou foi horrível... talvez ela tenha percebido mas não tenha conseguido demonstrar isso. Suspirei fundo, pronta para encarar a Mel que viesse – a esquentada ou a calma – e entrei na sala. Ela me olhou, e a expressão antes indiferente, se abriu numa interrogação. Dei um sorrisinho amarelo e me sentei em uma poltrona.

–- Tá sem sono também ? - Perguntei. Ele me olhou, séria, mas não disse nada, apenas deu de ombros. - Eu pensei em assistir um DVD pra tentar pegar no sono... o que você está assistindo ?

–- Tudo bem Hoshi, o que você quer ? - Ela me encarou impaciente. Eu ia responder a altura mas me calei, lembrando em manter a calma, ou iria piorar a situação. Mel sempre foi a mais esquentada entre nós duas, e devolver seus ataques sempre piora tudo. Respirei fundo.

–- É que... faz tempo que a gente não conversa direito. Só oi, tchau, e coisas muito nescessárias. Eu sinto falta da nossa amizade Mel, e o que causou nossa briga parece tão sem sentido agora não parece ? - Ela não respondeu, apenas olhou para o chão, com uma expressão mais amena. Acho que consegui quebrar suas defesas.

–- É...

–- Eu vi que você e Leigh estão se dando bem, muito bem, e fiquei feliz por isso. Me desculpa por aquele dia.

–- Não para, eu que devo pedir desculpas. Na verdade eu estava agindo assim, te ignorando, porque estava envergonhada. Foi horrível o que fiz pra você, mana. Me desculpa.

–- É normal a gente dizer o que não quer... é bom que a gente aprende. - E sorri. - Claro que te desculpo. Então... tudo volta ao normal ?

–- Tudo volta ao normal – E sorriu. Eu dei aquele sorriso que sempre dava quando ia aprontar, e ela já sabendo o que eu ia fazer, arregalou os olhos e disse não várias vezes. Mas eu ignorei e fui pra cima dela, enchendo de consquinhas. Rimos até a barriga doer e depois assistimos o filme juntas, enquanto ela me contava sobre Leigh. Eles não estavam namorando, até porque muita coisa aconteceu e ambos ficaram muito mal por isso. Mas ele ligou pra ela mais cedo, convidando pra sair, e eu já comecei a dar dicas. Ficamos conversando até pegarmos no sono no sofá mesmo.




No dia seguinte, fui surpreendida por mais um coisa boa – bom, depende do ponto de vista. Depois do café, o carteiro passou e eu fui recolher as cartas, e tinha uma endereçada á mim. Corri pro sofá abrir, e quase detonei o envelope de tanta ansiedade. Não tinha o nome do destinatário, o que aumentava ainda mais minha curiosidade. Mel, quando viu, se sentou na poltrona, esperando que eu lesse e contasse pra ela.


“ Não coloquei o destinatário pra fazer mais suspense, hihi. Enfim... me desculpa por sumir desse jeito. Mas tudo que aconteceu foi demais pra mim e eu fiquei tão magoada e confusa, que decidi sumir até conseguir organizar minha mente. Eu entendo que a culpa não foi sua Hoshi, não foi de ninguém. Ás vezes até um pouco minha. E espero que me perdoem por ter sumido... e o Alexy também. Ele principalmente. Não conte a ele, ok ? Quero fazer surpresa...

Nessa escola nova, me sinto pior do que na antiga. As pessoas não entendem minha reserva, minha timidez, e me rebaixam por isso. E o cabelo roxo não ajuda, haha.

Mas sempre me lembro do que disse a respeito de ignorar essas pessoas e ser eu mesma. E estou conseguindo ! Agora que me sinto mais forte, irei voltar. Estou com tanta saudade ! Amo muito vocês duas. No retorno ás aulas estarei lá.

Com amor, Violette”



–- Mel ! - Exclamei, quase saltando do sofá – a Violette vai voltar !






Nina POV





Acordei e ele não estava lá. Me levantei da cama, me sentindo um pouco culpada. Eu não sei se isso está certo, eu não consigo pensar. A imagem de Ken vinha á minha mente o tempo todo, mas junto dela vinha o lembrete: “você não o merece”.

Lysandre sempre me lembra que a culpa foi minha. Sutilmente, ele sempre me lembra. Ele divide a culpa comigo, torna minha carga mais leve ao mesmo tempo que não me faz sentir um peso na vida dele. Ele não me deixa esquecer. Apesar de ser frio e distante, apesar de eu estar infeliz, ao menos a minha carga é mais leve... eu não sei se estou me enganando, eu não consigo pensar sobre isso, tenho medo de concluir que sim. Eu tenho medo de acordar de tudo isso e me sentir pior por estar com alguém como ele. Mas eu não importa, o que importa é o peso da vida do amigo que eu tanto amava.

Lysandre sempre me atraiu, é verdade. Mas nunca trocaria Ken por ele estando em minhas condições normais. Eu o evitava porque tinha medo de cometer um deslize, porque sou impulsiva. Mas nunca, nunca trocá-lo. Mas ele com certeza deve estar melhor sem mim. Eu estaria sendo um peso, um poço de amargura para deixar a vida dele mais cinza.

Em troca de dividir comigo esse peso, Lysandre disse que formamos um belo casal, mas de acordo com Ambre é apenas porque ele pode ter ótimas oportunidades de negócio com meu pai. Mas eu não ligo. Eu faço de tudo pra não sentir aquele peso nas minhas costas....






Shizuka POV





Já fazem duas semanas. Me sinto melhor agora, e continuo evitando Nath e Castiel. Talvez esteja na hora de dar notícias a eles... estou começando a me sentir mal por isso, mas foi necessário. Mas antes disso, agora que estou mais forte, preciso lidar com algo mais complicado ainda, Nina. Ken me contou que ela ainda não se recuperou e eu precisava fazer algo. Me senti mal por demorar tanto, mas se tivesse agido antes, fraca como estava, eu teria piorado tudo. E é preciso dar tempo para que Nina pense.

Eu estava pensando em ir á casa dela, quando uma música começou a tocar no rádio, e me chamou a atenção. Eu conheço aquela voz... parece a do Castiel... era sobre um garota que ele queria de volta. Ele não a descreveu, mas quando, no fim da música, o locutor anunciou que quem a cantava era a banda Winged Skull, eu soube que a garota era eu.

E a música era linda. A melodia, a letra. Me sentei na primeira cadeira que vi de tão emocionada, ao saber que Castiel vez uma coisa dessas pra mim. Depois de ajudar Nina, eu vou me resolver com ele. Eu vou ser honesta e dizer que não sei o que ele é pra mim – a pessoa que gosto, ou um apoio emocional. Eu preciso de tempo para descobrir isso...

Enquanto estava ainda absorta nos pensamentos sobre a música, meu celular tocou. Era Hoshi dizendo que os membros da banda iriam comemorar mais tarde. Eu perguntei de Nina e ela disse que ela ia, que depois de muito insistir a convenceu e ia levá-la.

É a oportunidade perfeita de falar com ela. Esperei o tempo passar ansiosamente, e quando chegou a hora, me senti bem de estar com todos de novo. Que faziam de tudo pra me ver rir. E ainda tive uma notícia ótima, de que Iris irá tentar entrar em uma outra escola de dança renomada, que não lembro o nome agora. Mas é na Inglaterra. Conversei com Nath e pedi desculpas, e ele foi compreensivo. Mas não terminei o namoro porque não queria estragar a noite, isso devia ser feito á sós. Já Castiel ficou um pouco chateado de início, mas logo compreendeu. Eu disse que a música era linda e ele disse: “Ainda bem que gostou, é sua”. Eu me senti derreter na hora, e logo me afastei. Porque eu não queria essas emoções naquela noite, eu queria avaliar friamente meus sentimentos por ele.

E então Nina chegou. O clima ficou um pouco pesado. Quando ela se aproximou, Ken logo veio a frente, na clara esperança de ver sua Nina, mas o que viu foi a Nina atual, presa na própria culpa.

–- Não sei porque me obrigou a vir aqui ver isso – Ela disse a Hoshi - Johnny morreu e eles estão se divertindo. Como se nada houvesse acontecido.

–- Mas não é dessa forma melancólica que vamos honrar a memória dele – disse Mel. Ela estava alfinetando e isso não ia dar certo. Nina a olhou com raiva. Antes que ela respondesse eu a puxei pelo braço e a levei para fora do bar.

–- Nina, precisamos conversar. - Ela não respondeu. - O que está acontecendo... ?

–- O que está acontecendo é que Johnny morreu e vocês estão aí, rindo e...

–- Nina ! Nesse ponto Mel tem razão. Ele não iria querer vê-la assim, jamais... e você sabe que a culpa não é sua...

–- É claro que é. Não venha me dizer o que fazer, Shizuka. Você só está com inveja por eu estar com Lysandre. Você sempre consegue tudo o que quer, e só porque eu tenho algo que você não conseguiu manter está vindo me dar lição de moral.

–- Nina... - Eu sentia as lágrimas brotarem. Aquela não era a Nina que eu conheço. Pensei que encontraria uma depressiva, mas além disso, encontrei uma maldosa. - Você não é assim, eu sei que não quer isso... porque está fazendo isso ?

–- Porque ele não me deixa esquecer ! - Ela estava gritando, e nessa hora começou a chover. Apenas alguns pingos, mas eu não sabia identificar se as gotas no rosto dela eram lágrimas ou chuva. - Ele divide a culpa comigo Shizuka, porque ambos somos pessoas horríveis.

–- Você não é horrível, Nina ! E é pra isso que veio ? Pra nos lembrar da dor que sentimos ?

–- Isso deve ser lembrado. Você não sabe o que é carregar o peso da vida de alguém ! Cala a boca !

–- Nós duas sabemos que a culpa é do Lysandre...

–- Eu entrei em buraco fundo e escuro, Shizuka, não há como sair. - Eu ia dizer algo mas ela saiu correndo. Foi em direção á avenida chamar um táxi. Suspirei fundo e me encostei na parede, me escondendo da chuva que engrossava. Eu não sei o que Nina quis dizer com sua última frase. Será que ela achava que não poderia mais voltar ser a mesma ? Ou o buraco era apenas a culpa ? Sequei meu rosto com a manga da blusa e entrei tentando ser discreta. Chamei Hoshi e Mel de canto, disse que iria embora e saí á francesa. Não queria muitos questionamentos. Peguei um táxi e fui pra casa.

Chegando lá, lovely Rita se ofereceu pra me ajudar ao ver meu estado. Eu disse que apenas peguei chuva e sorri pra disfarçar. Ela acreditou e voltou para o quarto.

Nina é uma das pessoas que mais amo. Me dói tanto vê-la assim. E parece que tudo que eu construí naquelas duas semanas estava desmoronando. Na realidade, eu não estava preparada para enfrentar essa nova Nina, acho que ainda não tinha caído a ficha sobre ela. Eu estou me sentindo fraca novamente, e preciso de alguém. Mas eu não sabia quem, todos estavam se divertindo e eu não queria estragar. Tentei dormir, mas fiquei apenas deitada por uma hora. E nada. Precisava desesperadamente de um abraço. Até que ouvi um barulho na sala e corri até lá, e quando cheguei, minha mãe estava mexendo no notebook, um tanto sonolenta.

–- Mãe ? - Sussurrei. Precisava tanto dela agora. Tomara que minha expressão desamparada desperte sua sensibilidade oculta.

–- Hm ? - Ela nem sequer olhou. Suspirei fundo e mordi o lábio inferior.

–- Será que posso conversar ? Aconteceram umas coisas...

–- Shizuka, estou morrendo de sono e acordei a pouco me lembrando de um trabalho que deve finalizar até amanhã, e tinha esquecido. Pode ser amanhã ? - E novamente, nem sequer olhou. Eu não podia acreditar. Eu nunca iria ser uma mãe como essa. Já eram três e meia, e com certeza todos já tinham chegado em casa. Eu precisava de alguém, e sentia que se não me apoiasse em nada, eu iria cair. Todos os meus esforços em vão, aqui estou eu, a ferida que tanto demorou pra cicatrizar se abriu novamente, e eu ainda ganhei novas. E então pensei na única pessoa que poderia me consolar agora. No único abraço que além de me fortalecer, me daria esperança e aquele sentimento acolhedor junto de algo diferente e ainda maior. Aquela pele quente, aquele cheiro suave.

Castiel.

Corri para o quarto, peguei dinheiro e as chaves e saí correndo. Minha mãe gritou pra eu voltar mas ignorei. Ignorei a hora, a chuva, tudo. Eu só queria uma coisa, e estava agindo totalmente por impulso. Não parei pra pensar em nenhuma parte do caminho, nem dentro do táxi que me levou á casa dele. Só me senti calma quando, ao apertar a campainha, ele veio correndo até o portão e me levou para dentro.




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Notas finais do capítulo

Aeeee postei (o( a escola anda me consumindo muito, então está difícil escrever, mas consegui *-* Obrigada pelo apoio gente, fico muito feliz com o review de cada um de vocês, e espero melhorar cada vez mais. ♥



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