Castiel POV

Três dias se passaram. Hoje foi o último dia de provas e na semana que vem estaremos de férias. Até que enfim... é difícil me concentrar na escola... mas acho que não vou ter que ficar na recuperação.

E consegui compor. Uma boa música, devo dizer. Ontem fomos à gravadora conversar com Charles e já está tudo pronto, no sábado vamos gravar a música que compus pra lançar no rádio. É um ótimo começo... mas apesar de querer tanto isso, algo me impede de estar completamente feliz. É ela. Sem ela pra dividir isso, parece meio sem sentido...

Eu tentei falar com ela, mas provavelmente ainda está fugindo de mim. Mesmo se vê-la, não farei nada. Vou esperar... não vai ser fácil fugir de mim durante a viagem, então, vou aproveitar a oportunidade pra resolver isso.

Ellen POV

 – Ellen ! - Me virei e vi Iris correndo na minha direção. Sorri e a cumprimentei. - Pode me fazer um favor ? Tenho que ir pra casa agora, mas esqueci de deixar esses papeis na sala do clube de música... pode deixar lá pra mim ? - Assenti e peguei os papeis da mão dela.

- Deixo sim, pode deixar.

- Muito obrigada ! Até ! - Ela acenou e saiu correndo. Eu acenei de volta e fui até a sala demúsica. Aparentemente não havia ninguém ali, mas quando estava com a mão na maçaneta, ouvi um leve som de violoncello. Prestei mais atenção... era o prelúdio da primeira sinfonia de Bach ! Sou apaixonada por essa música. Entrei delicadamente e me deparei... com Alexy ? Tocando cello. Ergui as sobrancelhas, surpresa. Nunca o imaginei tocando um instrumento tão clássico.

– Oi ? - Perguntei. Ele pareceu um pouco constrangido e parou de tocar.

– Ah, oi...

– Então você toca violoncello... - Disse, com um sorriso debochado.

– É, mas não conte pra ninguém, por favor.

– Porque ? Violoncello é lindo.

– Eu tenho uma imagem a zelar... até parece, Alexy tocando cello. Vou ser zoado pela eternidade.

– Mas se é algo que gosta...

– É... eu fui aprovado em Juilliard.

– O QUÊ ? - quase joguei os papeis no ar com essa notícia. - E VOCÊ VAI NÉ ?

– Não sei... sou um baixista de uma banda de rock, não um violoncelista.

– Tem gente que daria a vida para estudar lá ! - Ele deu de ombros.

– É... mas vem cá – Ele deu um sorriso malicioso – Já que gosta, posso tocar pra você... na sua casa – E piscou. Eu revirei os olhos.

– Vai sonhando. - Deixei os papeis guardados em um armário e saí. Que garoto idiota ! Abrir mão de uma oportunidade dessas ! Mas talvez tivesse algo por detrás disso... porque recusar uma oportunidade dessas ? Não me conformo... enquanto ia andando pelo corredor inconformada, recebi um sms de Iris me avisando de uma viagem que iriam fazer. Me animei na hora, e logo me lembrei que era provável que Alexy fosse também. Ah, ótimo. Mas não vou deixar isso me atrapalhar...

Ambre POV

Que ótimo, mais um dia indo direto da escola pra agência. E pra completar, no meio do caminho de saída da escola me deparei com aquele jardineiro esquisito do cabelo verde. O Jade. Ás vezes ele me abordava e me dava uma rosa que tirava do jardim da escola. Eu sorria e pegava, mas depois jogava fora. Odeio flores ! E até parece que vou dar moral pra um jardineiro. Com nome de garota, ainda por cima.

Saí da escola e chegando na agência, estava tudo um completo silêncio. Só se ouvia o barulho do meu scarpin batendo no piso. Estava ficando mais calma quando ouvi a voz estridente da Eliza, a minha estilista. Suspirei fundo antes de entrar na sala dela, e vê-la pra lá e pra cá gritando com as modelos. Sempre estressada. Quando me viu, sorriu cinicamente e me deu um sermão por chegar atrasada. Nem respondi, não estava com cabeça pra lidar com essa mulher irritante. Deixei que ela tirasse minhas roupas e colocasse as da nova coleção de uma marca que esqueci o nome. Teria um desfile no sábado à noite, e tudo tem que estar perfeito... eu achava que essa vida de modelo era tudo que eu queria, mas é terrivelmente estressante. Sendo cobrada a cada segundo... me olhei no espelho, enquanto Eliza me vestida e reclamava de algumas coisas na costura. Me avaliei dos pés a cabeça. Não tenho escolha. É só pra isso que sirvo.

Shizuka POV

– Não vejo a hora de ver a peça pronta ! - Mel me acompanhava pelo corredor falando sobre a peça e eu a respondia animadamente, até que algo tirou minha animação. Castiel passou pelo corredor, e eu o olhei por alguns segundos, e logo desviei. Agradeci por ele não ter vindo falar comigo. Quando me virei para Mel, ela estava com os olhos arregalados.

– O que foi ?

– Vocês trocam olhares de uma forma tão intensa... é arrepiante. Sai faísca. - Corei e olhei para o chão. Eu nem havia percebido isso...

Estou conseguindo lidar bem com isso, eu acho. Nathaniel é tão carinhoso comigo... mas ás vezes me pego relendo as mensagens de Castiel. Hoje, reuni toda minha coragem e deletei todas. Seria difícil encará-lo durante a viagem, mas eu não queria perder por nada. Valeria a pena, eu teria muitos amigos e Nath ficaria perto de mim o tempo todo. Não vai ser tão difícil... eu acho.

Os dias foram passando e enfim chegou o dia da apresentação do teatro da Hoshi, Armin e Leigh. Estava ansiosa, Mel me disse que estava incrível. E também me contou que estava muito difícil conquistar o Leigh... ele parecia cada vez mais vidrado e confessou que gostava de sua irmã. E ainda pediu ajuda, ela estava indignada, mas acabou não fazendo nada. Fiquei com dó... ela realmente estava gostando dele. Mas prometi que iria ajudá-la, durante a viagem.

Me arrumei e logo Nathaniel veio me buscar. Fomos conversando sobre a peça e chegamos cedo, então conseguimos um lugar perto do palco.

Hoshine POV

– VOU MORRER ! - gritei, chamando a atenção de todos os atores que estavam se arrumando. Leigh veio correndo.

– O que aconteceu ?

– Nada, só que estou nervosa... e se eu errar ? - Perguntei, afundando meu rosto nas mãos. Ele riu.

– Calma, não vai acontecer nada. Você está perfeita. É só confiar em si mesma. - Dei um sorriso tímido e me levantei, ajeitando o cabelo, que estava em cachos perfeitos, dignos de Christine. E reparei em Leigh, que estava perfeito no papel do fantasma, com os cabelos pra trás e a máscara branca cobrindo metade do rosto. Ainda não tinha visto Armin, mas ele deveria estar impecável também. Dimitri apareceu dizendo que só tínhamos cinco minutos e corremos até o palco, para começar a peça. Respirei fundo várias vezes, deixando o nervosismo passar. Logo tudo estava começando. Fiz minhas cenas o melhor que pude, e Dimitri me elogiou. Agora, Armin está cantando The Music of the Night... e está simplesmente fantástico.

Shizuka POV

O cenário estava impecável, a atuação, coreografias e tudo mais também. Mais o melhor era o quão real tudo aquilo parecia... até me dar conta que um triângulo amoroso real estava em cena. Hoshi como Christine. Armin como o Visconde Raoul. Leigh como Erik, o fantasma.

Oh meu Deus.

Eu podia ver o sentimento transbordar dos olhos de Leigh e Armin, por Hoshine. Que trazia mais realidade ao sentimento de Erik e Raoul por Christine. E Hoshine estava incrível. Quando cantou “the Phantom of the opera is there” foi arrepiante. Era possível sentir o clima sombrio da história, a emoção dos personagens transbordava dos atores. Leigh estava incrível também... ele conseguia criar uma atmosfera sombria digna de Erik, suas expressões era perfeitas. Era possível sentir tudo, cada emoção... eles cantando juntos ficou lindo. E sombrio, como deveria ficar.

– Nunca vi uma interpretação tão real como essa – Murmurei para Nathaniel, que concordou. Estava impecável, perfeito. E o melhor momento foi na canção All I ask for you. Raoul cantava para Christine e Armin para Hoshine. E ela correspondia, no olhar, era arrepiante vê-los no palco. Cada gesto, cada olhar... as vozes. Quando Leigh sussurrou Christine, fiquei em dúvida se era isso mesmo ou Hoshine. E o mais emocionante foi quando Erik apareceu atrás da estátua, era possível ver a dor dele nos olhos, a dor de Erik e a dor de Leigh. No fim da música, Raoul a beijou. Ou melhor, Armin beijou Hoshine !

– Isso não estava no roteiro – Murmurou Mel pra mim, mal se contendo de felicidade. Ver a irmã com Armin era o que mais queria. E nesse momento Erik desapareceu, repleto de dor e ódio no olhar. E indignação. Mas a indignação era por parte excusiva de Leigh. Ao final de tudo, depois de um final impecavelmente interpretado, era visível a dor nos olhos de Erik, ao deixar sua amada partir com Raoul. E havia também a dor de Leigh, por saber que estava perdendo sua Hoshine. Quando acabou, pude respirar. Aquela peça me deixou sem fôlego. E como seria a partir de agora ?