Fogo e Gelo escrita por Reira


Capítulo 15
Desavenças, arrependimento e a proposta


Notas iniciais do capítulo

"I let it fall, my heart
And as it fell, you rose to claim it
It was dark and I was over
Until you kissed my lips and you saved me...
[...]But there's a side, to you, that I never knew, never knew
All the things you'd say, they were never true, never true
And the games you'd play, you would always win, always win..."
(Set fire to the rain, Adele)



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Hoshina POV


Levantei da cama , meio cambaleante de sono, e fui me arrumar pra ir pra escola. Atrasada como sempre... segunda aula, aí vou eu. Entrei no banheiro e ali estava Mel, terminando de ajeitar o cabelo, já de uniforme. Ela se afastou da pia para que eu pudesse escovar os dentes. Depois que terminou de arrumar o rabo de cavalo, encostou na parede e ficou me encarando pelo espelho. Arqueei uma sobrancelha, enquando via sua cara séria, e era muito raro vê-la assim. Depois de enxaguar a boca, me virei pra ela.

–- Não vai descer pro café ? - Ela deu de ombros.

–- Não to com fome.

–- Ah, tá... - Me voltei pra pia e lavei o rosto. Depois de terminar, ela continua ali, na mesma posição. Perdi a paciência. Revirei os olhos e me virei num ímpeto.

–- Ok, o que é ?

–- Parece que você e o Leigh estão bem amiguinhos. - A encarei, indignada. Meus braços foram pelos ares num gesto de indignação e me virei pra sair, e ela foi atrás de mim. - Nós discutimos ontem, pedi desculpas... e na saída da aula vejo vocês dois na maior convesa ! Você estava dando moral...

–- Mel ! Eu só estou sendo educada com ele, ele é legal, mas... é só !

–- Ah, sim.

–- Mel, para. Não tem nada a ver, não viaja.

–- Você sempre tem tudo, não é ? Todos os garotos te querem, me torno invisível quando estou perto de você... é sempre você, Hoshina, sempre você ! Eu gosto dele, mas ele só tem olhos pra você...

–- Meredy ! Para ! Eu não posso ignorar o garoto, somos só colegas de trabalho ! Ele vai atuar na mesma peça que eu ! - Ela já estava com os olhos cheios de lágrimas. Desviou o olhar, claramente tentando conter a raiva. Depois me encarou novamente, o olhar duro.

–- É sempre a mesma desculpa ! Sabe como é ser ignorada ? Até pelos seus próprios pais ás vezes ? Sabe como é ter que aturar a coitadinha que perdeu os pais ? Sempre sendo adulada, sempre merecendo mais... - Aquilo foi demais. Foi como uma faca perfurando meu coração. Senti o peso das memórias que eu queria esquecer, e lágrimas brotaram em meus olhos.

–- Mel... - sussurrei. - Mel, ninguém aqui me adula. Eles só me consolaram, me acolheram. Não sou melhor que você.

–- Claro que é ! É linda, canta, atua, toca violino... você é perfeita !

–- Então vamos comparar. Quer comparar ? Você sabe como é chorar todas as noites ? Se sentir uma intrusa ? - Eu perdi meus pais em uma acidente de carro quando morava em Seul, na Coreia do Sul. Nasci lá, e depois da morte dolorosa de meus pais, a família de Mel, que era muito amiga da minha família, me adotou. Já éramos praticamente irmãs, crescemos juntas, eu e a Mel. E depois nos mudamos para Connecticut , depois Chicago, depois NY. E por aqui ficamos. Somos parecidas, então as pessoas nem questionam muito nosso parentesco. Apesar de ela ser ocidental, - nasceu aqui e morou em Seul por um tempo por conta dos emprego do pai e também de um intercâmbio que queria fazer - tem os olhos meio puxados. Seus pais me tratam como se eu fosse filha de sangue deles, não fazem diferença alguma entre nós. Os considero meus pais. Mas ainda sinto a perda dos meus pais verdadeiros, choro pensando em como seria se eles estivessem aqui. Passei a desacreditar em tanta coisa... eu tentei amar uma vez, tentei gostar de alguém mas o que recebi em troca foi traição e decepção. E isso foi me tornando cada vez mais fria nesse sentido. Eu não queria mais arriscar. Meu coração já estava despedaçado demais. Não me permitia ter chances... e agora Mel trazia á tona todo esse passado traumático e doloroso. As lágrimas escorriam e meu rosto estava quente, devido á raiva. - Seus pais só estão tentando me fazer sentir parte real da família ! Nunca fizeram diferença entre a gente ! Mas eles sabem que eu carrego comigo a dor da perda, que você graças a Deus nunca sentiu Mel... e eu jamais roubaria um garoto de você, sabe disso... você sabe... - Não aguentei. Saí de lá ás pressas, entrei no quarto e bati a porta. A expressão de Mel foi da raiva ao remorso enquanto eu falava, mas era tarde, as palavras saíram, não poderiam voltar. Desabei na cama, soluçando. Odiava toda aquela atenção, eu não merecia. Não sou melhor do que Mel ou qualquer outra pessoa. Não quero que ela tenha raiva de mim. Ela nunca agiu assim comigo, e parece que agora não vai ser como aquelas discussões bobas que duravam um dia, foi feio. Vai demorar para conseguirmos consertar isso, e Leigh nem sabe de nada... não posso ingnorá-lo. Preciso pensar em uma solução...








Ken POV






Não poderia esperar surpresa maior. Cheguei na escola e me deparei com ninguém mais ninguém menos que Nina. Ela estava ao lado da Shizuka, ambas conversando animadamente, em frente ao portão da escola. Mas porque ela estava aqui, tão cedo ?

–- Oi Shizu, oi Nina. - Ela me olhou, surpresa. Depois sorriu e me cumprimentou.

–- Ken, eu vim tentar a matrícula aqui... naõ é legal ? Eu moro meio longe, em Manhattan, mas soube que a Shizu estudava aqui e quis vir pra cá ! Nossa, é difícil essa vida de ficar mudando de escola, não vejo a hora de entrar na faculdade ! Aí vou ficar em uma só, e...

–- Duvido que tenha vindo só por causa da Shizuka. - Meu tom de voz foi meio duro, e me arrependi um pouco, por ter exagerado. Mas não consigo, quando se trata de Nina, a frieza é automática. Eu olho para aqueles olhos castanhos, aqueles olhos quase infantis, cheios de uma graça misteriosa, um encanto perigoso, que me envolveu e me fez ficar que nem um idiota atrás dela. Me lembro muito bem de quando eles me olharam com a mesma frieza que agora olho pra ela, e apesar de ainda sentir algo, o orgulho é maior. Depois de me rejeitar, quem corre atrás é ela. Irônico isso.

–- É... eu vou entrar, ainda tenho que revisar a matéria de uma prova. Até mais Nina, nos vemos na sexta ! - Disse Shizuka, claramente percebendo o clima pesado e se retirando evasivamente e com muita delicadeza. É, agora estamos eu e Nina, ambos sem graça, olhando um para a cara do outro feitos dois tontos.

–- Festinha do pijama na sexta – Disse ela, dando um risinho, quebrando o gelo.

–- É... então, vou indo também... - Eu ia entrar, mas ela me chamou antes.

–- Ken – Sua voz agora era séria, não animada como antes. - Porque não responde minhas mensagens ? Aliás, até responde, mas sempre tão frio, tão... diferente de como você era. Ken, eu me arrependo, você sabe...

–- Não sei não. - A encarei, com um olhar acusador. - É tarde, Nina. Acabou, ok ? Acabou. - Senti um nó na garganta ao dizer isso, mas eu não podia ceder. Acabou. Dei as costas para ela, e entrei na escola. Podia sentir os olhos dela em mim, mas se eu me virasse, me depararia com aqueles olhos cheios de remorso, aqueles olhos lindos, aquele rosto, tudo, aquela menina, a minha pequena, como eu a chamava, minha pequenina. Entendeu ? PequeNINA. Dei uma risada irônica e meio sem sentido, mas determinado a não olhar para trás, como se eu fosse Ló e olhar pra trás me transformaria em uma coluna de sal. Sabia que ela não iria desistir facilmente, mas eu também não cederia facilmente, eu estava cansado. Seria uma batalha ferrenha e bem difícil...





Castiel POV




Charlotte tinha um ar de vitoriosa que estava me irritando. Eu estava quase demonstrando a falta de paciência, quando ela se aproximou de mim, e estendeu o papel. Eu o peguei e li, era um contrato de uma... gravadora ? Famosa, ainda por cima... a encarei, claramente confuso. Ela riu.

–- Meu tio... ele tem uma gravadora e uma rádio. A rádio só alcança NY, Manhattan e algumas cidades perto, mas ele pretende fazê-la alcançar todo os EUA, e tem recursos pra isso. E a gravadora é muito famosa. - Então o famoso Charles Donnel é o tio de Charlotte... faz sentido, o sobrenome Donnel, e a aparência... até o jeito arrogante. A encarei, com uma sobrancelha arqueada.

–- Aonde você quer chegar ?

–- Não é óbvio ?! É um contrato. Pra você assinar... uma oportunidade. - Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Esse ditado estava fazendo todo o sentido... porque ela estava me oferendo isso ? É óbvio que ela queria algo em troca...

–- Castiel, eu sei que a sua banda precisa dessa oportunidade há tempos... - Ela tem razão. E o que ela poderia querer ? A minha vida ? Trabalho escravo, montar um host club... ri ironicamente. Nossa banda procura uma gravadora há meses, mas só recebemos não. Penso nos meus amigos, o quanto eles querem isso... não posso perder a oportunidade. Tenho que fazer isso por eles. - Mostrei o som de vocês pro meu tio, ele realmente gostou. É pegar ou largar. - Ela deu um sorriso, e estendeu uma caneta pra mim, que tirou sei lá de onde. Eu hem. Peguei a caneta a coloquei a folha em cima de uma mesa. Fiquei olhando para a folha, ponderando a questão por alguns minutos. Fazer um acordo que envolva Charlotte... lembrei do seu sorriso ardiloso. Mas eu não iria me render á qualquer coisa que ela me mandasse fazer. E se o tio dela gostou, era só eu ir até aquele estúdio com os caras da banda e colocar aquele lugar abaixo com o nosso som, e pronto. Pensei novamente quanto queremos isso, e assinei.

–- Ótimo ! - Ela quase saltitou ao ir pegar a folha. - Agora, a condição. - Que rápida. Deis de ombros, já demonstrando meu descaso.

–- O melhor fica por último. Quero que namore comigo. - Rápida e direta. Comecei a rir, sem acreditar naquilo.

–- Bebeu gasolina ? Jamais namoraria alguém como você.

–- Hm – Ela ela fez bico. - Posso desfazer esse contrato em segundos... - Ela o posicionou na frente do corpo, pronta para rasgá-lo. Suspirei fundo, me segurando para não pegar ela pelos cabelos e jogar janela afora. Depois de calmo, a encarei com incredulidade e ao mesmo tempo, achando graça naquilo tudo.

–- Faz o que quiser. Não vou namorar você, jamais. Eu já gosto de outra, e mesmo que não gostasse, você, jamais.

–- Assim eu choro, Castielzinho – Ela fez uma voz tão melosa que tive vontade de vomitar e rir ao mesmo tempo, porque ela é ridícula, mas me contive. - Olha – Ela se aproximou de mim até ficar a centímetros do meu rosto. - Eu posso muito bem manipular meu tio para não aceitar vocês... e ele pode influenciar outras gravadoras... - Ela é desprezível. Eu não podia deixar isso acontecer, deixar nossas chances irem para o ralo assim... porque não duvido que ela seja capaz. Mas enquanto penso em tudo isso, ela me beija. Não sinto nada, mas fico lá, parado, sem reagir durante alguns segundos. Pensando em como reverter aquela situação sem perder a oportunidade. Ela achou que eu cederia fácil, que deixaria Shizuka, me tornaria alguém como ela. Mas não posso abrir mão dessa chance, e prejudicar a banda dessa forma... são meus sonhos em jogo. Os sonhos de meus amigos. E então resolvi ceder, do meu jeito é claro.




Shizuka POV





Ken e Nina... não sei quem está certo, e quem está errado nessa história. Ela foi dura com ele, mas será que não merece outra chance ? Fui pensando nisso até a sala de aula, e quando fui entrar, fui surpreendida por uma cena terrível. Castiel e Charlotte.... ele estava beijando ela, ou ela ele, sei lá, ele nem resistia. Parecia meio petrificado, meio surpreso, confuso... mas estava BEIJANDO ELA ! Senti uma raiva imensa me consumir, uma vontade encher a cara dele de socos, xingar, gritar e arrancar os cabelos daquela vaca, mas me contive. Não vale a pena, ele não merece meus esforços. Me virei e encostei na parede, ao lado da porta. As lágrimas escorriam, minha cabeça começa a doer. Porque ? Minha mente praticamente vazia só processa uma coisa: Porque ? Aquilo doía tanto... era como se meu coração fosse apertado por uma mão gigante, sem compaixão nenhuma. Minha respiração ficou pesada... ele foi meu refúgio pelo meu término recente com Lysandre, despertou em mim sentimentos tão intensos e bonitos... as expectativas, tudo destruído, nossos planos... aquele mentiroso ! Falso ! Nem me importei com as pessoas passando no corredor, me vendo daquele jeito. Só pensava no porque de tudo isso, não conseguia ao menos sair do lugar, tamanha minha incredulidade.






Castiel POV






E então me lembrei do seu ar de vitória antecipado e arrogante, me dei conta do que estava acontecendo, do seu beijo asqueroso, e tudo mais, e a empurrei para longe de mim.

–- Tudo bem, eu aceito. Mas me deixa acostumar com a ideia antes de me atacar assim. - Vamos jogar, então, Charlotte. É claro que não vou namorá-la. Mas vou enrolar até conseguir falar com o tio dela, e com certeza contarei aos garotos e á Shizuka sobre a situação. Sem que ela saiba, claro, todos terão que atuar muito bem.

–- Ótimo ! Não sabe como estou feliz ! - Que garota burra. Ela saiu rebolando, com todo aqueles quadris, pescoço, pernas, tudo balançando de uma forma estranha e engraçada. Aquele ar de superior... argh. Ela parou para falar com alguém na entrada da sala, mas nem prestei atenção. Fui para o meu lugar, ansioso para que Shizuka chegasse e pudesse contar tudo á ela.





Shizuka POV





E aquela garota horrível teve a capacidade de virar pra mim, ao sair e me ver, que sentia muito, mas eu tinha perdido. Apenas a encarei, um olhar acusador, frio, digno de uma pessoa que tem o gelo como elemento. E agora eu seria assim, uma garota com coração de gelo. Nunca mais me envolveria. Nunca mais... apertei meus olhos, deixando escapar mais lágrimas e soluços baixos, que eu tentava segurar á todo custo. E então Nath apareceu, preocupado, perguntando o que havia acontecido. Apenas o encarei, sem forças para dizer. Ele me levou até a biblioteca, sem se importar com o sinal de entrada tocando. Depois me olhou de novo e perguntou o que aconteceu. Apenas o abracei e desabei em soluços. Ele retribuiu, acariciando meu cabelo. Eu senti um conforto, mas nada comparado ao que senti com Castiel no baile. Senti que podia confiar nele, e depois de soltar todos os soluços que segurei, me afastei dele e contei sobre o ocorrido.



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Notas finais do capítulo

só eu que quero matar a Charlotte ? :B E o Cast também, tinha que dar bobeira ? ¬¬''