Harry Potter e o Círculo Sombrio escrita por JMFlamel


Capítulo 28
Orient Express




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CAPÍTULO 27

ORIENT EXPRESS








Durante grande parte da História da Humanidade, aqueles que não possuíam dons mágicos sempre temeram os que os tinham, provando que o maior medo era o do desconhecido. Desde a Idade Média, os bruxos chamavam os não-mágicos de “trouxas”, ou “muggles”, no original em Inglês, já que essa expressão teve origem na Grã-Bretanha. Seu significado era “simplório” ou “ignorante”. De fato, naquela época eles eram, pois nada questionavam, apenas viviam conforme o suceder das estações, ignoravam os mistérios do Universo e não preocupavam-se em expandir seus horizontes, nem em desenvolver suas mentes, encarando a Bruxaria com um misto de medo e reverência. A convivência, porém, sempre havia sido pacífica, tanto que bruxos, magos e feiticeiros haviam sido conselheiros de reis, príncipes e potentados, a exemplo do próprio Merlin, conselheiro de Vortigern, Uther Pendragon e seu filho, Arthur.
Mas, com o passar do tempo, os trouxas começaram, movidos pelo medo e pela inveja, a perseguir os bruxos, acusando-os de práticas demoníacas e tachando de maléfica toda a Magia. Isso fez com que muitos fossem julgados pelo Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição. Porém, a imensa maioria dos que sofreram as torturas era de trouxas que professavam outras religiões ou que desagradavam a algum poderoso sendo que, posteriormente, isso provocou o fim da Ordem Templária e perseguição de judeus.
Sentindo que corriam perigo, os bruxos começaram a tomar suas providências, refugiando-se em lugares isolados, constituindo povoados inteiramente bruxos, sendo Hogsmeade o único desses na Grã-Bretanha, ou então disfarçando-se e misturando-se aos trouxas, em certos povoados. Em alguns deles, sua presença era despercebida ou mesmo ignorada. Já em outros, eles eram tolerados e aceitos como parte da comunidade. Locais como Mould-On-The-Wold, Ottery-St. Catchpole, no Condado de Devon e Godric’s Hollow foram habitados por muitos bruxos. Sabemos que em Ottery-St. Catchpole residiam e residem várias famílias bruxas, tais como os Weasley, os Diggory, Neville, Luna e Julius Longbottom, além de outros. Esses viviam mais freqüentemente no campo, até há pouco tempo atrás não interagindo muito com a população trouxa. Já em Godric’s Hollow, grande parte dos trouxas sabia que haviam bruxos entre seus habitantes, afinal de contas era o povoado natal de Godric Gryffindor, também sendo o lar de outros bruxos eminentes, tais como Bathilda Bagshot, autora de “História da Magia”. Nos séculos de convivência, aprenderam a respeitar-se mutuamente e os trouxas chegaram à conclusão de que os bruxos não eram malignos, como certas instituições passaram tanto tempo querendo dar a crer. Principalmente porque, em Godric’s Hollow, a população bruxa mobilizava-se para ajudar a todos em caso de necessidade, como havia acontecido durante uma epidemia ocorrida durante uma onda de frio no Século XVII, quando as poções medicinais e os agasalhos conjurados provaram seu valor. Naquela ocasião e em outras, o líder das operações de assistência havia sido um bruxo chamado Odisseus Potter.
E é no cemitério de Godric’s Hollow que vamos encontrar quatro bruxos em vestes negras de luto, em estilo vitoriano, um casal e seus dois filhos gêmeos, sentados em um banco defronte ao jazigo dos Potter, que também abrigava os restos mortais de um casal de trouxas, cujo sobrenome era Evans. Mas como?
Algum tempo antes do casamento de Harry, ele foi visitado por Tia Petúnia, que mostrou ao sobrinho uma carta escrita por seu pai, um desejo que ela e Valter não haviam tido coragem de cumprir e que agora iriam fazê-lo, com a ajuda de Harry. A carta dizia:

“Petúnia, minha filha, talvez você estranhe o que lhe escrevi, principalmente porque envolve o lado bruxo da família, que você e Valter sempre procuraram negar. É um fato incontestável que Lílian e Tiago Potter casaram-se e seu amor é verdadeiro. Isso nos aproximou, a mim e a minha querida esposa, dos pais daquele jovem encantador, Norman e Igraine, ao ponto dele fazer a mim uma proposta que, a olhos não-bruxos ou, como eles chamam, ‘trouxas’, pode parecer excêntrica. Norman Potter propôs a nós uma coisa que demonstra a união de nossas famílias, passando os Potter e os Evans a serem uma só. Portanto, quero pedir a você que, quando chegar o momento de deixarmos essa vida, sejamos sepultados no jazigo dos Potter, no cemitério do povoado de Godric’s Hollow, onde a família Potter reside. Estou certo de que, por mais que você e Valter não gostem muito dos bruxos, não deixarão de cumprir esta vontade de seu pai.
Harold”

Petúnia havia guardado aquela carta, sem coragem de mostrá-la a Valter. Depois daquilo, Norman e Igraine Potter foram mortos por Death Eaters e Tiago assumiu os negócios da família, coincidindo aquele tempo com os Dias Negros e com a morte do casal Evans, ele por um infarto fulminante e ela por um câncer. Valter e Petúnia continuavam afastados dos Potter, até que houve o assassinato dos últimos por parte de Voldemort e a responsabilidade pela criação de Harry, ainda que de má vontade. Durante todos aqueles anos, Petúnia Evans Dursley guardou a carta, sem coragem de expor aquela situação, até que houve a reconciliação com Harry e ela contou o fato ao sobrinho. Mais que depressa, Harry providenciou o traslado dos restos de seus avós maternos para Godric’s Hollow, onde repousavam lado a lado com a família bruxa que agora era uma só com a sua.
Por essa razão, as lápides mais recentes mostravam os nomes de: “Norman Charlus Potter”, “Igraine Morgana Haversham Potter”, “Tiago Odisseus Potter”, “Lílian Viviane Evans Potter” e, agora, “Harold Algernon Evans” e “Eglentine Falworth Evans”. No túmulo de Tiago e Lílian, via-se a inscrição “Ora, O Último Inimigo A Ser Vencido Será A Morte”.

No túmulo que havia abrigado o falso corpo de Harry, durante o tempo em que ele fingira-se de morto para atacar o Círculo Sombrio, agora repousava sua filha, morta pela perversidade de “Escuridão”. A lápide trazia a seguinte inscrição: “Molly Hermione Weasley Potter – Pequeno Anjo De Luz Em Nossas Vidas”. Havia sido um enterro rápido e secreto, enquanto Gina estava internada e Harry estuporado. Depois que Gina tivera alta, foi realizado um ofício fúnebre adequado, com a presença dos Inseparáveis e seus filhos, Dumbledore e Minerva, os Weasley, os Black, os Mason, os Lupin, Frank e Alice Longbottom, Severo e Rosmerta Snape, Darlene Willingham e mais Dean e Martinette Thomas. Draco e Janine quiseram, em sinal de respeito, cancelar sua viagem no Orient Express, mas Harry e Gina insistiram para que não o fizessem. Então eles concordaram em adiar a saída. Depois que o ofício terminara e os amigos haviam ido embora, os Potter ficaram sentados, tomados pela dor da saudade que a breve passagem da pequena Molly deixara em seus corações. Passado o choque inicial que anestesiara as emoções de todos e a manifestação de fúria de Harry, interrompida pelo seu estuporamento por Dumbledore, a família permitia-se agora render-se à tristeza pelo fim daquela que sequer chegara a viver o bastante.
Harry conjurou uma coroa de rosas brancas e depositou-a no túmulo da criança. Retornou ao banco e sentou-se, calado, as lágrimas descendo por sua face. Por detrás dos óculos de sol, suas íris verdes destacavam-se em meio ao vermelho de seus olhos congestionados. Gina segurou sua mão, chorando tanto quanto ele, com Tiago e Lílian abraçados aos pais, também dando vazão ao pranto. Até que a ruiva rompeu o silêncio.
—Por que, Harry? _ perguntou Gina _ Por que nos ferir, atingindo uma criança ainda não nascida?
—A perversidade de “Escuridão” não conhece limites, Gina. Ele já provou que está disposto a tudo para atingir seus objetivos. E se com isso ele puder atingir a mim ou ao Draco, irá sentir-se gratificado. O que me faz pensar bastante.
—Que, talvez, “Escuridão” seja um remanescente dos Death Eaters da velha guarda?
—Muito provavelmente. Os que ainda estão vivos e não foram capturados têm verdadeiro ódio de Draco, por ele ter renegado a Ordem das Trevas, rompido com Lucius e casado-se com uma mulher de origem trouxa. Três falhas imperdoáveis, aos olhos dos trevosos.
—Quanto a você... _ e Gina deixou a frase na metade, sendo completada por Tiago.
—... É o maior dos inimigos dos trevosos, por todo o mundo. Aquele que derrotou Voldemort por sete vezes e despachou o Lorde das Trevas para sua última viagem. Qualquer Death Eater remanescente adoraria ter a cabeça do papai pregada na parede.
—Só que nunca conseguiram. _ disse Lílian _ E nem vão conseguir, pois papai é mais esperto e mais forte do que eles.
—Mas o mais importante é que eu tenho algo que eles não têm, Lílian.
—E o que é, papai?
—Amigos e uma família que eu amo para voltar e um ideal positivo pelo qual lutar: fazer a minha parte para restabelecer a harmonia entre bruxos e trouxas.
—E esta é uma missão na qual você tem se saído muito bem, meu caro jovem. _ os Potter levaram um susto ao ouvirem aquela voz. Viraram-se e deram de cara com Dumbledore, em vestes pretas de luto.
—Prof. Dumbledore, o senhor nos assustou! _ disse Lílian.
—O senhor permaneceu aqui, Prof. Dumbledore? Ouviu o que dissemos?
—O bastante, Gina, para dizer que compartilho de seus temores. Além disso, também tenho meus mortos para chorar.
—Sua família está sepultada aqui, Prof. Dumbledore? _ perguntou Tiago.
—Sim, Tiago. Aliás, o jazigo é próximo do de sua família, logo ali. Venham comigo, por favor.
Os Potter acompanharam Dumbledore até o jazigo de sua família, realmente perto dali e viram os túmulos: “Percival Dumbledore”, “Kendra Dumbledore” e “Ariana Dumbledore”. Uma frase estava gravada: “Pois Onde Estiver o Vosso Tesouro, Também Estará o Vosso Coração”. Gina e as crianças ficaram a uma certa distância, percebendo que Dumbledore e Harry precisavam falar de maneira mais reservada.
—Meus pais e minha irmã. _ disse Dumbledore _ Mudamo-nos para cá, vindos de Mould-On-The-Wold. Eu e Aberforth estávamos para entrar em Hogwarts e Ariana era uma pequena e graciosa criança. Em nome de Merlin, quantas coisas ocorreram, desde aquela época... _ Dumbledore pareceu perder-se em reminiscências, mas logo retornou ao presente _ Mas isso é assunto para uma outra ocasião. O que devo lhe dizer, Harry, é que você não deve deixar que sua tristeza e dor transformem-se em depressão e desejo de vingança.
Naquele momento, o autocontrole de Harry cedeu e o bruxo começou a chorar de tristeza e de ódio, pois eram exatamente esses os pensamentos que cruzavam por sua mente, naquele momento: Tristeza e dor pela morte da pequena Molly, além de ódio e sede de vingança contra “Escuridão” e sua perversidade. Alvo Percival Wulfric Brian Dumbledore abraçou seu aluno preferido, agora um homem feito, como se ele ainda fosse aquele garotinho que havia ingressado em Hogwarts sem saber quase nada do mundo mágico. Depois de algum tempo, Harry acalmou-se e novamente foi capaz de conversar com o ex-Diretor de Hogwarts.
—O senhor lê pensamentos, Prof. Dumbledore? _ perguntou Harry.
—Não os seus, Harry. Você tornou-se um mestre em Oclumência e Legilimência.
—Graças às lições que recebi do Prof. Snape e do senhor. Consegui, no sexto e sétimo anos, blindar totalmente meus pensamentos às invasões de Voldemort. Mas, como sabia o que eu estava pensando?
—Eu conheço você desde os seus onze anos e o tive em meus braços brevemente, quando você estava com um ano de idade, portanto sei mais ou menos como você reage ou pensa a respeito das coisas. Repito o que eu disse na elegia proferida na sua suposta morte. Você é o filho ou neto que eu gostaria de ter tido e isso faz com que eu me importe muito com o que lhe acontece e com o que você sente, assim como quando você recebeu aquela carta póstuma de Voldemort, no sétimo ano.
—Como o senhor soube? Apenas Gina e meus filhos têm conhecimento daquela carta.
—Deduzi. Vi, à distância, você e Gina debaixo daquela faia à beira do lago, naqueles dias em que você estava remoendo o que havia sido obrigado a fazer para que Voldemort morresse honradamente. Conheço de longe o corvo de Voldemort, que lhe entregou uma carta. Considerando que ele estava morto, aquela carta só poderia ter sido escrita antes, para que o corvo a entregasse no caso de Voldemort sucumbir, como aconteceu.
—E o conselho de que eu mais precisava veio justamente da parte de meu maior inimigo. Naquela carta, Lord Voldemort dizia que, se eu tivesse sucumbido à depressão e autopiedade, mesmo morto ele teria vencido.
—E ele estava certo, Harry. A situação é semelhante, agora. A perda de um ente querido com certeza abalou a todos vocês e, no seu caso, pode dar ensejo a cair em depressão ou a querer perseguir “Escuridão” somente por vingança. Isso poderá distorcer seus princípios e prejudicar seus objetivos.
—Por Merlin, Prof. Dumbledore! _ disse Harry _ Nem mesmo Lord Voldemort agia de maneira tão torpe e vil.
—Por mais cruel e impiedoso que fosse, Tom ainda tinha certos princípios, os quais norteavam suas ações.
—Tom Riddle jamais esqueceu completamente o Bushido, cujos ensinamentos recebeu no Ryu de Kuji-Kiri, ainda que fosse um Ryu Ninja do mal. Ele mesmo nos disse isso. Mas “Escuridão” não parece ter princípio algum, simplesmente passando por cima de qualquer um em sua trajetória em busca de poder e fortuna.
—Porém, devemos nos lembrar que, mesmo entre os trouxas, também há verdadeiros monstros com aparência humana. Lembra-se daquele caso que ocorreu no Brasil, anos atrás, que teve repercussão mundial? A menina que iria completar seis anos de idade?
—Sim, eu me lembro. Foi no ano em que me formei na Academia de Aurores, o caso foi noticiado na imprensa trouxa e também na bruxa. Tive acesso aos exemplares do “Arúspice do Tietê”, um dos jornais bruxos de São Paulo que mais acompanharam o caso. A menina agredida e deixada à morte, com crueldade e os responsáveis tentaram, de maneira torpe e insana, fazer com que parecesse um acidente, derrubando-a da janela, querendo dar a impressão de que ela teria caído por um buraco na rede de proteção. Mas a justiça foi feita.
—Exatamente, Harry. Justiça e não vingança, por maior que fosse o clamor popular. Eis a diferença.
—Estou entendendo onde o senhor quer chegar, Prof. Dumbledore. Não se preocupe, sua mensagem foi perfeitamente captada. Mas eu ainda tenho uma dúvida.
—E qual é ela, Harry?
—Na cafeteria do St. Mungus, depois que a pequena Molly faleceu, novamente me senti estranho, diferente, até o momento em que o senhor me estuporou. Lembro-me de que aquilo somente ocorreu uma única vez, antes. Foi em Avalon, depois que Voldemort atingiu Gina com aquele “Magnum Impacto”. Duas metamorfoses, relacionadas a episódios de fúria e que o senhor havia estudado. O senhor já conseguiu chegar a alguma conclusão?
—Estou quase descobrindo, Harry. Assim que todas as peças se encaixarem, eu lhe direi. Aliás, falando em descobrir, basta apenas revisar alguns cálculos e teremos a data do alinhamento planetário.
—E, com isso, poderemos destruir a última Porta de Cronos para impedirmos que “Escuridão” possa utilizá-la.
—Exato. Soube que Draco e Janine quiseram desistir da viagem que fariam.
—Eu insisti para que não o fizessem. Essa viagem fará bem para eles, uma nova lua-de-mel a bordo do Orient Express tem toda a atmosfera romântica de que precisam, afinal passaram por muita coisa.
—Assim como você e Gina. Deveriam pensar em tirarem um tempo para vocês, depois que a perda da pequena Molly estiver mais assimilada.
—Pensaremos nisso depois de impedirmos que “Escuridão” use a Sétima Porta de Cronos, Prof. Dumbledore. Inclusive, prometi isso a Gina. Agora me lembrei, professor, de que o senhor nunca contou nada sobre sua família. _ comentou Harry, vendo Dumbledore conjurar coroas de flores e depositá-las no jazigo de seus pais e sua irmã.
—Ainda não é o momento, Harry. Você deverá saber de tudo, mas a seu tempo. Então, prometo que não omitirei fato algum. Apenas não creia em tudo o que diziam sobre meu pai, devido ao fato dele ter sido encarcerado em Azkaban e lá ter encerrado seus dias. _ disse Dumbledore, ante o olhar de espanto de Harry. O bruxo já havia ouvido falar sobre Percival Dumbledore, mas não imaginava que ouviria aquilo de maneira tão sincera da parte de Alvo Dumbledore, seu filho. Uma lágrima correu pelo rosto do velho bruxo, ao depositar a coroa no túmulo de Ariana.
—Creio já ser hora de irmos, professor. Está começando a ventar um pouco. _ disse Harry.
—Tem razão, Harry. Lembre-se do que eu disse e não alimente sentimentos negativos. Além de prejudicar você, não traria a pequena Molly de volta.
Os bruxos caminharam de volta ao lugar onde Gina e as crianças esperavam por eles. Dumbledore despediu-se e desaparatou, de volta para Hogsmeade. Os Potter retornaram à mansão, Harry um pouco mais aliviado e conformado. Afinal de contas, nada faria com que a pequena Molly voltasse.
Mas ele podia fazer com que “Sombra & Escuridão” pagassem por tudo aquilo que haviam feito.

Passado o período de luto, Harry e Gina retornaram às suas atividades. No Ministério, o trabalho não parava e o bruxo não perdia um detalhe de qualquer indício que pudesse levá-lo a localizar “Escuridão” e apagar o sorriso cínico e cruel do rosto daquele falso chinês. Os colegas notaram o empenho e Shacklebolt alertou o bruxo.
—Harry, não leve essa caçada a “Escuridão” de forma obsessiva. Não vai lhe fazer bem e não trará sua filha de volta.
—Eu sei, Kingsley. Nada poderá trazer minha filha de volta, mas poderemos poupar outras vidas.
—Draco e Jan mandaram alguma notícia?
—Sim, eles chegaram a Dover ontem. Passarão lá a noite e sairão para Calais pela manhã.
—Então, o Orient Express voltou a fazer aquela antiga rota, desde Londres até Istambul? _ perguntou Rony, que acabara de entrar na sala e cumprimentara Harry.
—Sim, eles voltaram a operar as rotas da década de 30. Inglaterra, França, Alemanha, Áustria, Hungria, Romênia, Bulgária e Turquia, com as viagens opcionais para a Suíça, a Itália e a Grécia. As três rotas estão ativas: o Orient Express original, o Simplon Orient Express e o Arlberg Orient Express. As rotas são exclusivamente turísticas, a viagem está custando uma nota, mas vale a pena. _ disse Harry _ É a viagem mais clássica e romântica que se conhece, tanto que o Orient Express já foi cenário de várias histórias, de Agatha Christie, Graham Greene e outros mais.
—E é lógico que Janine e Draco irão fazer todas as viagens opcionais, se eu os conheço. _ comentou Shacklebolt _ Depois do que passaram, com aquela acusação falsa e aquele julgamento, no qual Nikolas Pieterzoon armou aquele mar de lama contra ela... bem que eles precisam. E você também, assim que puder, Harry.
—Já lhe disse, Kingsley. Assim que impedirmos o Círculo de utilizar a Sétima Porta de Cronos. Depois disso, prometo tirar umas looooongas férias com Gina e as crianças.
—Que tal também uma nova lua-de-mel, Harry? As crianças poderiam ficar comigo e com a Mione. _ sugeriu Rony.
—Sr. Weasley, essa é uma excelente idéia e prometo que será bastante considerada. _ disse Harry, abraçando o cunhado.
—Assim espero, Sr. Potter. Ou o senhor tira férias ou eu o azaro, com a bênção de minha irmãzinha. _ disse Rony, rindo e saindo da sala, rumo ao Departamento de Esportes Mágicos.

Tendo voltado a operar as três rotas da década de 30, o Orient Express saía da Estação Victoria, em Londres, utilizando vagões da British Southern Railway, que conduziam os passageiros até Dover. De lá, um Ferryboat levava-os para Calais, na França, de onde seguiam de trem até Paris. Lá, os vagões eram acoplados à composição do Simplon. E era em Dover que Draco e Janine iriam passar a noite, aguardando o momento de continuarem sua viagem.



"As rotas do Orient Express"

A cidade de Dover localiza-se no Sudeste da Inglaterra, no Condado de Kent, sendo o seu maior porto. Encontra-se na parte mais estreita do Canal, assim como sua correspondente francesa, Calais. Uma de suas imagens mais marcantes é a dos rochedos brancos, uma das visões mais queridas e ansiosamente aguardadas pelos pilotos e tripulantes das esquadrilhas que retornavam das missões no continente, nos dias da II Guerra Mundial.
Como o Ferryboat só sairia no dia seguinte, Draco e Janine aproveitaram para passear pela cidade, conhecendo seus pontos mais interessantes. Visitaram os vários mercados, nos quais eram comercializados vários produtos das fazendas da região. Passearam por Deal e entraram em várias lojas. Como Draco era entusiasmado por objetos clássicos de várias épocas e Janine não ficava atrás, entrar na Mummery & Fudger foi uma verdadeira viagem ao passado, com objetos temáticos dos Beatles, Betty Boop, Elvis, Rolling Stones e muitos outros. Apreciaram bastante a variedade e a qualidade dos produtos da Greencades. Quando a fome bateu, tiveram várias opções entre os Pubs da cidade. Retornaram, à noite, para o Loddington House, o hotel no qual estavam hospedados e foram dormir, aguardando o dia seguinte, quando o Ferryboat iria levá-los para Calais.
No dia seguinte, atravessaram o Canal e logo chegaram a Calais, a 34 Km de Dover, pois ambas situavam-se no ponto mais estreito do Canal. Não permaneceram muito tempo, pois logo foram conduzidos à estação ferroviária, onde suas bagagens já haviam sido colocadas na cabine reservada ao casal, na composição que logo partiu, com destino à Gare de Lyon, em Paris, onde os vagões foram acoplados à composição do Simplon. Logo a saída foi autorizada e o trem saiu de Paris, rumo à próxima parada em Lausanne, Suíça.
A cidade situava-se às margens do Lac Léman, assim como Genebra, onde os Inseparáveis já haviam tido suas aventuras, quando foram ver o conteúdo do cofre de Anya. Embora possuísse uma parte moderna, o visual de Lausanne era menos pesado do que o de Genebra. A cidade abrigava a sede do Comitê Olímpico Internacional, da Federação Aeronáutica Internacional, da Federação Eqüestre Internacional, além de vários museus e estabelecimentos de ensino de nível médio e superior, principalmente em Administração Pública e Hotelaria. Mas não iriam hospedar-se na cidade, pois agora dormiriam na luxuosa cabine que lhes havia sido destinada no trem. Como agora o Orient Express era um trem eminentemente turístico, haveriam passeios para conhecerem determinadas cidades, ficando o trem parado em um desvio da estação, até o retorno dos passageiros. Era o que estava acontecendo em Lausanne, onde os passageiros do Orient Express deixaram a estação em algumas vans, retornando horas mais tarde, para o jantar, já com o trem em movimento. O traje para o jantar? Black-Tie, of course.
Draco estava aguardando que Janine acabasse de se maquiar, enquanto terminava de vestir seu smoking. Ao vê-la sair, excepcionalmente bela em um vestido azul, da cor de seus olhos, exalando uma irresistível fragrância de “Dark Glow”, de Jennifer López, o queixo do loiro quase caiu.
—Calma, querido. Até parece que estou com um Feitiço de Glamour.
—Tenho certeza de que esse é um feitiço do qual a senhora jamais precisará, Sra. Malfoy. Ele é totalmente desnecessário.
—O senhor também está impressionante, Sr. Malfoy. De tanto usarmos vestes bruxas de gala, eu quase me esqueci de como você fica bem em um smoking trouxa.
—Obrigado, querida. Vamos? _ e Draco Malfoy ofereceu o braço à esposa.
—Vamos. _  Janine tomou o braço que lhe era oferecido e o casal encaminhou-se para o vagão-restaurante.
Tiveram a felicidade de dividirem a mesa com outro casal de bruxos, os St. Croix. A mulher, Juliette, era Assessora do Ministro da Magia da França e seu marido, Etienne, era professor em Beauxbatons, lecionando Astronomia. Conheciam os tios de Draco, os franco-ingleses René, Jacques e Danielle, tendo sido seus contemporâneos na escola.
—Pois é, Draco. Não cheguei a ser professor de Valérie, pois ela já havia sido transferida para Hogwarts quando fui admitido por Madame Maxime. Mas cheguei a conhecê-la, na vinícola de René. Mesmo sabendo depois que seu tio coordenava uma rede de informações para Voldemort na França, não acreditamos quando soubemos que ela era o assassino que agia em Hogwarts sob o codinome “Venom”. Foi um verdadeiro choque. _ disse Etienne.
—E depois houve aquele incidente em Azkaban, no qual ela e Lucius morreram. _ disse Juliette _ Uma pena.
—Realmente, Sra. St. Croix. _ disse Draco _ Mas isso passou, agora temos outras preocupações, tais como o Círculo.
—E eles procuraram fazer de tudo para manchar a reputação de vocês dois. _ comentou Juliette _ Aliás, foi uma grande idéia demonstrar transparência, insistindo para que todo o julgamento fosse transmitido ao vivo pela WBC. Com aquilo, você provou que não tinha nada a esconder.
—Sim, Sra. St. Croix. _ disse Janine _ E, no final, a verdade prevaleceu, com a ajuda de Harry Potter.
—Amigos são um tesouro, Sra. Malfoy. Quem os tem deve sempre conservá-los, pois a amizade sincera é um dos maiores bens que uma pessoa pode ter. Conhecem a história do Orient Express?
—Um pouco, Sr. St. Croix. _ disse Janine _ O senhor a conhece?
—Oui, Sra. Malfoy. É uma viagem cara, para padrões trouxas. Mas, como o câmbio favorece o Galeão em relação ao Euro, podemos realizá-la de vez em quando. Eu e Juliette costumamos fazer essa viagem pelo menos uma vez a cada dois anos. Sempre é um agradável passeio pela Europa e Oriente Médio. _ e Etienne St. Croix começou a contar a história do mais famoso trem do mundo.
—Bem, o Orient Express surgiu através de uma idéia do empresário belga Georges Nagelmackers, que criou a “Compagnie Internationale Des Wagons-Lits”, em 1872. Foi a primeira companhia na Europa a adotar a idéia de vagões-dormitório e vagões-restaurante nas composições, a exemplo do que a “Pullman” já realizava, nos EUA. Em 1883, mais precisamente em 4 de outubro, foi inaugurado o “Express D’Orient”, com duas saídas semanais da “Gare De l’Est”, até Giurgiu, na Romênia, passando por Estrasburgo, Munique, Viena, Budapeste e Bucareste. De Giurgiu, os passageiros eram transportados pelo Danúbio até Ruse, na Bulgária e, de lá, um trem os transportava até Varna, onde um Ferryboat concluía o transporte, até Istambul. Em 1885 o Expresso do Oriente já contava com saídas diárias de Paris até Viena. De lá, além das duas saídas semanais até Giurgiu, criou-se uma outra alternativa, que saía de Viena até Nis, na Iugoslávia (atual Sérvia), passando pela capital Belgrado. De Nis, como as ferrovias na Bulgária estavam incompletas, os passageiros cruzavam a fronteira usando carruagens, sendo levados até a cidade de Plovdiv, de onde tomavam outro trem até Istambul. Em 1889 a linha é finalmente completada até Istambul. Nessa época, o serviço diário de Paris passou a ir até Budapeste. Três vezes por semana o trem se estendia até Istambul, passando por Belgrado e Sofia. Ainda em Budapeste, uma vez por semana o serviço ia até Constanta, no mar Negro, passando por Bucareste. Em 1891 o nome foi oficialmente mudado para Orient Express. Em 1914, o serviço do Expresso do Oriente foi interrompido. As operações voltaram ao normal em 1918. Em 1919 foi inaugurado o túnel Simplon, ligando a Suíça à Itália, possibilitando uma rota alternativa para Istambul. Foi então inaugurado o serviço Simplon Orient Express, que passava (após sair de Paris) por Lausanne, Milão, Veneza e Trieste, se juntando à rota original em Belgrado. Uma das características desse novo trajeto consistia no fato de que a Alemanha era evitada, o que era uma vantagem para os Aliados (considerando que eles ainda não tinham total confiança nos alemães). Uma das cláusulas do Tratado de Saint-Germain-en-Laye definia que a Áustria deveria permitir que os trens passassem por Trieste, haja vista que antes os trens internacionais, quando estivessem em território austríaco, tinham a obrigação de passar por Viena. O Simplon Orient Express logo provou ser a rota mais visada de todo o serviço. Na década de 30 o Expresso do Oriente atingiu seu ponto máximo, com três serviços atravessando a Europa: o Expresso do Oriente original, o Simplon Orient Express, e o novo Arlberg Orient Express. Este seguia de Paris a Budapeste passando por Zurique e Innsbruck, com vagões seguindo tanto para Bucareste como Atenas. Nessa época Londres já era servida pelo Simplon. Os passageiros eram levados por trens da British Southern Railway da estação Victoria até Dover, de onde tomavam um ferry para Calais. A partir daí eles seguiam de trem até a estação Gare de Lyon, em Paris, onde os vagões eram acoplados à composição do Simplon. Foi nessa época que o Expresso do Oriente adquiriu sua fama de trem luxuoso, prestando um serviço de primeira linha para seus passageiros (chefs renomados eram contratados para trabalhar na cozinha dos trens), que incluíam membros da realeza, diplomatas, milionários e figuras importantes em geral. Mais uma vez, todos os serviços foram interrompidos. Durante esse período, a companhia alemã Mitropa tentou implementar o seu próprio Expresso do Oriente, mas não teve sucesso devido à constante sabotagem dos trilhos por rebeldes. Apenas em 1945 tudo foi normalizado, exceto no ramal de Atenas, que tinha sido fechado na fronteira entre a Iugoslávia e a Grécia. O trecho foi reaberto em 1951, mas logo após outro obstáculo surgiu: a fronteira da Bulgária com a Turquia foi fechada entre 1951 e 1952, bloqueando o caminho para Istambul. Com a Cortina de Ferro, muitos países do Leste Europeu resolveram trocar os vagões da Wagon-Lits pelos de suas próprias companhias, causando uma considerável queda na qualidade do serviço. Em 1960, o trecho complementar do Simplon até Calais é retirado, sendo substituído pelo Golden Arrow, um serviço não ligado à cadeia Orient. Em 1962 tanto a rota original do Expresso do Oriente quanto o Arlberg Orient Express são colocados fora de circulação, deixando apenas o Simplon Orient Express. No mesmo ano este também é retirado, sendo substituído por um serviço mais lento, chamado de Direct Orient Express. Ele contava com saídas diárias para Belgrado (passando pelo mesmo trecho que o Simplon), de onde ia para Istambul e Atenas duas vezes por semana. Em 1971, a Wagon-Lits decide atuar apenas na prestação de serviços nos trens, vendendo ou alugando seus vagões para várias companhias européias. Em 1976 o serviço Paris - Atenas é retirado por completo. Em 1977 o Direct sai de circulação. A última viagem de Paris a Istambul acontece em 19 de maio de 1977. Apesar de boatos de que o Expresso do Oriente tinha terminado, parte de sua rota original é reativada, num serviço sob o nome original de Orient Express. No período entre 1977 e 2001, ele saía de Paris indo até Budapeste, com poucas saídas para Bucareste. A partir de então os trens tinham vagões franceses, austríacos, húngaros e romenos, sendo todos atendidos por funcionários da Wagon-Lits. Em 10 de junho de 2001 o trajeto se restringe ao trecho Paris - Viena e novamente em 10 de junho de 2007 este passa a ser Estrasburgo - Viena, uma vez que o trecho Paris - Estrasburgo passou a ser atendido por trens da alta velocidade da TGV-Est. Todos os dias, saindo às 22:20 da estação Gare de Strasbourg, o Orient Express parte de Estrasburgo para Viena, chegando às 08:51 do dia seguinte. Administrado (mas ainda com funcionários da Wagon-Lits) pelas operadoras DB (Alemanha) e OBB (Áustria), o atual Expresso do Oriente pode ter perdido muito de seu legado como trem de luxo, mas ainda é considerado uma das formas mais convenientes de se chegar à Áustria saindo da França, em conjunto com os serviços Paris - Estrasburgo da TGV-Est. Aproveitando-se da fama do Expresso do Oriente, em 1982 o empresário inglês James Sherwood inaugurou o serviço Venice-Simplon Orient Express (VSOE). Após comprar e renovar vários vagões Pullman das décadas de 20 e 30, hoje ele opera um serviço caríssimo (£1200 por pessoa) entre Londres e Veneza no período entre março e novembro. Ao contrário do que afirma seu site, o Venice-Simplon não tem nenhuma relação com o original Orient Express de 1883 da Wagon-Lits.

—Uau! Eu já havia pesquisado sobre o Orient Express, mas não havia visto tantos detalhes. _ comentou Janine _ E, além disso, houveram vários filmes e livros nos quais o Orient Express foi o cenário da ação.
—Exatamente, Jan. _ disse Draco _ Podemos começar por “Assassinato no Orient Express”, de Agatha Christie. Ele foi escrito quando ela estava hospedada no Hotel Pera Palas, em Istambul. Aliás, é o hotel no qual ficaremos hospedados, nos dias que passarmos lá. Também há referência ao trem no livro “Orient Express”, de Graham Greene e no filme “Moscou Contra 007”, com Sean Connery, parte da ação passa-se no trem, incluindo a luta com o agente da SPECTRE, Nash, interpretado por Robert Shaw. Depois daquilo, eles saltaram do trem, entre Zagreb e Trieste.
—Fã do cinema trouxa, Draco? _ perguntou Etienne.
—Desde garoto. Meus pais não aprovavam muito, então eu fugia e ia às sessões. Ziggy sempre encontrava alguma desculpa para dar a eles. Depois, eles viam que não havia jeito e pararam de implicar.
—E vocês vão fazer a rota completa, como nós? _ perguntou Juliette.
—Sim, vamos. _ disse Janine _ Pela rota do Simplon, até Istambul e, depois de alguns dias, retornaremos pela rota mais clássica, por Varna, Bucareste, Budapeste e Viena, de onde seguiremos a rota do Arlberg, por Innsbruck, Zurique e Paris. Nós já conhecemos Munique e Estrasburgo, portanto não há tanto interesse. Já em Viena e Innsbruck, nós nunca estivemos. Então, será uma deliciosa novidade.
—Innsbruck parece uma cidade de conto de fadas. Você tem a impressão de que vai dar de cara com a Imperatriz Sissi e o Kaiser Franz Joszef ao virar em uma esquina. _ comentou Etienne _ É a mesma rota que pretendemos fazer.
—Que ótimo. _ disse Draco _ Satisfaça-me uma curiosidade, Sra. St. Croix. Sendo Assessora do Ministro da Magia da França, a senhora não fica meio visada pelo Círculo?
—Um pouco, mas parece que já perderam o interesse por mim. Sou mais uma secretária do Ministro, não tão importante quanto um Chefe de Departamento.
Juliette St. Croix parecia estar subestimando sua própria importância, pois não notou que um casal numa mesa próxima parecia estar prestando atenção na conversa dos quatro. Apenas Janine, com seu sexto sentido para o perigo, sentiu alguma coisa errada, mas deixou a preocupação meio de lado, pois o casal logo levantou-se e saiu. Ela pediu licença e foi atrás deles, fingindo estar indo ao banheiro. Mas, ao sair do vagão-restaurante, não viu nem sinal deles. Concentrou-se, tentando sentir o Ki do casal, mas foi como se eles tivessem desaparatado dali. Seriam bruxos? Seriam do Círculo? Ela não sabia. A única coisa que podia afirmar com certeza era que fingiam ser algo que não eram. Afinal de contas, ninguém que tivesse nível para viajar no Orient Express pediria vinho tinto para acompanhar filés de linguado.
Janine retornou para o vagão-restaurante um pouco frustrada e aquilo não passou despercebido a Draco. Após a refeição, pediram café e Brandy e, naquele momento, Janine moveu a varinha disfarçadamente por debaixo da mesa e usou o mesmo feitiço que Rony e Tetsuken haviam utilizado para poderem conversar sem que qualquer outra pessoa percebesse. Seus pensamentos formavam palavras na superfície do café do marido e ele logo compreendeu, utilizando o mesmo feitiço e conversando com ela.
Saindo do vagão-restaurante e indo para suas cabines que, coincidentemente, eram meio próximas, Draco e Janine despediram-se de Juliette e Etienne. Quando o casal entrou, o casal de Inseparáveis aproveitou para, disfarçadamente, lançar Feitiços de Proteção na cabine dos franceses, antes de irem para a sua própria.

O resto da noite transcorreu sem incidentes e, no dia seguinte, estavam chegando a Milão, depois de terem atravessado o Túnel Simplon. Durante o passeio por Milão, Janine e Draco deram um jeito de se afastarem do grupo e lançaram um Feitiço de Privacidade em torno deles.
—Então você acha que alguém pode estar atrás de Juliette e Etienne?
—Talvez, Draco. Eu creio que Juliette está subestimando sua própria importância. Aquele casal desapareceu como que por magia. Será que estariam no Orient Express para algo envolvendo a ela, ao marido ou a ambos?
—Talvez, Jan. Embora estejamos em uma viagem de lazer, um pouco de cautela nunca é demais.
—Ainda mais quando o perigo parece nos perseguir.
—É a sina dos Inseparáveis, querida. _ brincou Draco _ Sempre haverá um maluco do mal a fim de aprontar conosco.
—E sempre sairá com o rabo entre as pernas. _ disse Janine.
Visitaram e fotografaram vários pontos de interesse em Milão, tipo as igrejas de Santo Ambrósio e Santa Maria Delle Grazie, a catedral gótica, o Palácio dos Sforza, o Teatro Scala, onde foi levada a Ópera “O Guarani”, de autoria de Antônio Carlos Gomes e as galerias Vittorio Emanuele. Além disso, Milão também era um importantíssimo centro de moda da Europa e o casal teve tempo de assistir a um desfile, antes de embarcar na van para retornar ao trem.
Depois de Milão, a parada seguinte do Orient Express foi em Veneza, a romântica cidade dos canais, potência econômica no Século X, antigamente governada pelos Doges e que, graças a um esforço de saneamento básico (no qual houve participação da Fundação Narcisa Malfoy), conseguiu resolver o problema do mau cheiro dos canais, o que chegava a empanar o brilho da bela cidade, escolhida por muitos como destino para a lua-de-mel. Seu Carnaval era famosíssimo, ainda mantendo suas tradições em pleno Século XXI, com as primorosas máscaras artesanais e fantasias de personagens da Comedia Dell’Arte, tais como Arlequim, Colombina, Pierrot, Pantaleão e outros mais.
Como não poderia deixar de ser, um paseio de gôndola pelo Grande Canal estava na ordem do dia. Embora nenhum deles tivesse estado antes em Veneza, a descrição feita por Severo e Rosmerta Snape havia sido bastante precisa. Passaram pela Ponte de Rialto, cuja construção envolveu um concurso no qual foram apresentados projetos com participação de vários artistas, entre eles Michelangelo. Passaram também pela célebre Ponte dos Suspiros cujo nome, apesar de remeter a uma conotação romântica, tinha um motivo bastante triste, pois era por ela que os condenados às masmorras passavam e suspiravam, vendo a luz do sol pela última vez, através de suas janelas. Depois de muitas fotos, retornaram ao trem e seguiram viagem. A parada mais importante seguinte seria Belgrado, capital da Sérvia, após rápidos passeios por Trieste, ainda na Itália e Zagreb, na Croácia. O passeio nas vans permitiu visitarem os principais pontos turísticos de todas elas salientando, em Belgrado, a Fortaleza de Belgrado, o Templo do Santo Sava, Terazije, Rua do Príncipe Mihajlo, a Praça Nikola Pašić e um almoço em uma das kafanas, com direito a um café com licor, em um dos cafés a céu aberto, antes de seguirem viagem. Não iriam para Atenas, pois já conheciam a capital grega de viagens anteriores. Seguiram para Sófia, capital da Bulgária, sua última escala antes de Istambul, na Turquia.
Aproveitaram bastante o tempo livre em Sófia, conhecendo a Academia de Ciências, a Galeria Nacional de Arte, o Palácio Nacional de Cultura, a Catedral Alexander Nevsky, o Monumento ao Tsar Alexandre II e as várias outras igrejas bizantinas, muitas delas destruídas pelas guerras e depois restauradas. Durante o almoço, novamente viram o casal do trem, tirando fotos e fazendo compras. Naquele momento, Draco pegou a câmera e tirou uma foto de um monumento, na qual o casal aparecia, bem focalizado. Revisando a foto na memória da câmera, Draco deu-se por satisfeito.
—Vamos procurar um estúdio de fotos? Gostaria de imprimir esta última. _ propôs o loiro.
—Sim, vamos. _ respondeu Janine, percebendo qual era a intenção do esposo.
Chegando a um estúdio, Draco e Janine foram atendidos por um sorridente funcionário e ela dirigiu-se a ele:
— “Добрый день. Не могли бы вы распечатать это фото, пожалуйста” (“Boa tarde. Poderia imprimir esta foto, por favor”?)? _ perguntou Janine em Russo, com seu vasto conhecimento de idiomas.
— “Конечно, мэм. Минуточку” (“Com certeza, senhora. Apenas um minuto”.). _ respondeu o funcionário, na mesma língua.
— “Спасибо” (“Obrigada”.). _ respondeu ela, após receberem a foto impressa, acondicionada em um envelope _ “До скорого” (“Até logo”.).
— “Пожалуйста. До скорого” (“De nada. Até logo”.).
Pagaram pelo serviço, saíram do estúdio e, facilmente, localizaram uma agência de correio-coruja. Entraram e Draco logo começou a escrever uma pequena carta.
—Acho que sei para quem você está escrevendo, querido.
—Exatamente, Jan. Se esse casal está aqui, com certeza seguirá até Istambul. Sendo assim, há algumas pessoas lá que poderão ser de muita ajuda para identificá-los e descobrir qual é a deles. _ respondeu Draco, prendendo a correspondência na perna da coruja, afagando-a e soltando-a, logo em seguida. A ave descreveu um círculo no ar, antes de partir em direção Leste, rumo a Istambul. O casal também saiu da agência e foi para a van, retornando para o trem e seguindo viagem para a Turquia.
Istambul, uma das principais cidades da Turquia, encontrava-se a cavaleiro do estreito do Bósforo, com uma parte asiática, no território da Anatólia e a outra européia, no território da Trácia. Harry já havia estado naquela cidade, onde forjara sua captura pelo Círculo. Assim que o Orient Express parou na Estação Sirkeci, uma van estava pronta para levá-los ao Pera Palas Hotel, onde ficariam hospedados enquanto estivessem em Istambul.



"Hotel Pera Palas-Istambul"



"Orient Bar-Hotel Pera Palas"



"Quarto 411, onde Agatha Christie escreveu "Assassinato no Orient Express"



"Recepção do Hotel Pera Palas"



"Restaurante do Hotel Pera Palas".


O Hotel Pera Palas, cujo endereço era “Tepebasi-Mesrutiyet Caddesi, 98-100, Istanbul 80050 (Turquia)”, situava-se no distrito de Pera, próximo à Praça Taksim, Avenida Istiklal e vários consulados, tais como os da Inglaterra, Suécia, Rússia, Holanda, Itália, França e Alemanha. Sua construção datava de 1882, com a finalidade de hospedar os passageiros do Orient Express, sendo conhecido como “O mais antigo hotel europeu da Turquia”. Foi projetado pelo arquiteto franco-turco Alexander Vallaury, tendo sido aberto em maio de 1891. Era um belo edifício em estilo rococó, com uma bela coloração champagne e o aspecto de um palácio, com vista para o Golden Horn, uma reentrância natural do Bósforo, que dividia a cidade e proporcionava um porto natural. A van deixou-os na frente do hotel e logo um carregador veio buscar as bagagens do casal. Adentraram o saguão, decorado com mobília do Século XIX, admirando o belo piso de mármore. Registraram-se e subiram para seu apartamento, o 410, em frente àquele no qual Agatha Christie hospedara-se e escrevera “Assassinato no Orient Express”. Após um banho, desceram para o restaurante, Draco vestindo um Armani marinho e Janine com um Ayala cinza-claro. Sentaram-se nas cadeiras do bar, enquanto a mesa do jantar era preparada e pediram aperitivos. Draco pediu um Dry Martini e Janine um Kir Royal. Naquele momento, o Maitre veio avisá-los de que a mesa estava pronta e que havia alguém esperando por eles nela. Ao chegarem à mesa, Draco e Janine sorriram, pois reconheceram as pessoas que estavam nela e que eram exatamente quem eles queriam ver.
Ali Karin Bey e Haradja.
O bruxo que chefiava uma divisão da InterSec em Istambul estava ali, com sua filha e assistente, esperando por eles. Por detrás dos bigodes, era visível o sincero sorriso do turco.
—Draco! Janine! Há quanto tempo! _ disse Ali.
—Ali Karin Bey e Haradja. _ disse Janine _ Não nos vemos desde aquele falso funeral de Harry.
—Que, aliás, foi um golpe de mestre da parte dele e da Miep. Todos ficaram convencidos de que Harry havia morrido. _ disse Ali.
—Inclusive eu. _ comentou Haradja _ Aliás, fiquei com tanta raiva dele por ter me descartado da operação na Pasa Disco... foi só depois que eu entendi que a operação toda iria melar, caso houvesse mais alguém com ele.
—Gina me disse que aprendeu palavrões em turco e árabe que ela nem imaginava existirem. _ brincou Draco _ Ela jamais pensou que ouviria aquilo da sua boca.
Vermelha como um pimentão, Haradja tentou justificar-se.
—Bem, ele aprontou comigo, me sedando de surpresa. Mas, voltando ao assunto principal, gente, nós investigamos o casal da foto que vocês nos mandaram e descobrimos que não têm relação com o Círculo, pelo menos nenhuma conhecida.
—Não? _ perguntou Janine _ Houve uma hora em que eles me pareceram meio suspeitos, lá no trem.
—Não se preocupe, Janine. _ disse Ali Karin Bey _ Eles são trouxas, um casal de novos-ricos russos. Chamam-se Oleg e Maritza Chebrikov. Dois camponeses que investiram suas economias em uma empresa trouxa de mineração e deram muita sorte.
—O que houve? _ perguntou Draco.
—A empresa descobriu uma riquíssima jazida de diamantes na Namíbia, a cerca de 500 quilômetros da Prisão Bruxa Masmorras de Xangô, há cerca de uns dois anos atrás. Eles mudaram-se para Paris, onde Oleg fez um curso de Ourivesaria e Joalheria Artística. Estabeleceram-se lá, mas possuem uma casa em São Petersburgo. Resolveram também comemorar seu aniversário de casamento, fazendo uma viagem no Orient Express.
—Bem, a origem camponesa justifica o fato de terem pedido vinho tinto para acompanhar peixe. _ disse Draco, fazendo uma careta _ O vinho tinto reage com o iodo que impregna a carne dos peixes de água salgada e provoca uma oxidação com sabor meio desagradável. Eles devem ter sentido isso, pois vi que deixaram bastante do peixe.
—Prisão Bruxa Masmorras de Xangô... não é onde está encarcerada Mariana, a filha do Ministro da Magia de Angola? _ perguntou Janine.
—Estava. _ disse Haradja _ Conseguiu fugir, há cerca de duas semanas atrás.
—O Ministro já foi avisado? _ perguntou Draco _ Quando Harry, Rony e Neville prenderam Mariana ela jurou vingança.
—Todos eles já foram avisados e a segurança em torno do Ministro Lugoma foi reforçada. Ela não conseguirá chegar perto dele sem ser pega. _ Ali Karin Bey tratou de tranqüilizá-los.
—Assim espero. _ comentou Janine _ Mas podemos esperar qualquer coisa da parte do Círculo.
—Soube que você chegou a ser vítima de uma das dez Pragas do “Eser Ha-Makot”, Janine. _ disse Haradja.
—Eu e Hermione. Ela foi menos atingida porque eu era o alvo principal. Cheguei a passar para o outro lado, temporariamente, revendo pessoas que já se foram, inclusive o meu pai, que morreu quando eu tinha treze anos. Mas ficamos mais tranqüilos com a notícia de que aquele casal não representa perigo, principalmente porque uma Assessora do Ministro da Magia da França estava no Orient Express com o marido e, inclusive, também estão hospedados aqui, no Pera Palas.
—Juliette e Etienne St. Croix, estamos sabendo. Bem, o garçom está chegando com o cardápio. Estão prontos para escolher?
O jantar foi excelente, a cozinha do Pera Palas fazendo jus à sua fama internacional. Após a sobremesa, Ali Karin Bey perguntou:
—Gostariam de sair e conhecer algo da vida noturna de Istambul?
—Acho que amanhã, Ali. _ disse Janine_ Embora confortável, a viagem foi longa e estamos um pouco cansados.
—Pai, o movimento do escritório está fraco, não tem surgido nenhuma investigação importante, ultimamente. O senhor me dispensaria para que eu servisse de guia para Draco e Jan? _ sugeriu Haradja.
—Por mim tudo bem. _ disse Ali Karin Bey _ Seus irmãos poderão dar conta do serviço. Afinal de contas, Mustafá, Hamid, Samir, Fátima, Adma, Simara e os outros estão ficando meio folgados. Tudo bem para vocês?
—Será ótimo. _ disse Draco e Janine concordou com o marido, acenando com a cabeça _ Então, esperamos por você amanhã, Haradja.
—Perfeito. Vistam roupas leves e calcem tênis, pois vamos caminhar bastante. Nosso primeiro passeio será no Palácio Topkapi.

Na manhã seguinte, Draco e Janine encontraram-se com Haradja, no saguão do Pera Palas Hotel. Ele vestia uma bermuda cáqui, uma camisa pólo Lacoste azul e tênis Nike Vitess, tendo um Oakley Gascan preto a proteger seus olhos do sol. Janine usava uma pólo “Baby-look” Tommy Hilfiger lilás, bermudas jeans estonadas, tênis Puma bem leves e óculos de sol Vogue, bem fechados dos lados. Saíram do hotel e, em um local tranqüilo, deram-se as mãos e desaparataram, aparatando perto do Palácio Topkapi. Fizeram assim porque Haradja era a única dos três que já o conhecia (só se pode desaparatar para um local onde já se tenha estado ou que tenha sido muito bem estudado).
—Bem, aqui estamos, no Palácio Topkapi. Primeiro alguns dados históricos. _ disse Haradja _ O Palácio de Topkapi foi residência dos sultões por três séculos. Topkapi significa porta (kapi) redonda (Top). Mehmet o conquistador construiu o palácio logo após a conquista de Constantinopla em 1453. Hoje o Palácio é dividido em salas com exposições de objetos em ouro (tronos, xícara, talheres, berço, jóias, quilos e quilos em ouro) cravejados em pedras preciosas, prata, cerâmicas, miniaturas, roupas e artigos sagrados para os muçulmanos (Vocês poderão ver entre outros objetos sagrados os fios da barba e marca do pé do profeta Maomé). O Harém do palácio de Topkapi, cheio de mistérios e lendas é aberto ao publico e vocês poderão ver como as mulheres, mães e concubinas dos sultões viviam. Certamente mulheres belíssimas, faziam o que podiam de melhor para ter a atenção do sultão, mas o harém também era um local governado com tradição, obrigatoriedade e cerimonias. _ Haradja explicava os detalhes aos dois, tão bem quanto um guia profissional a um grupo de turistas estrangeiros _ O Palácio de Topkapi foi residência de sultões até o século 19, sendo Mahmut II o ultimo sultão a residir no mesmo. Os sultões precedentes preferiram viver em palácios com estilo mais europeu. Construíram então a margem do estreito de Bósforo os palácios de Dohlmabahçe, Ciragan e Beylerbeyi.
Depois daquela visita, ainda conheceram os outros três palácios. No Palácio Dohlmabahçe, Haradja novamente começou a explicar.
—O palácio de Dolmabahçe foi construído entre 1843 e 1856 no declínio do império Otomano. Este opulento palácio parece querer mostrar a riqueza e poder do império Otomano mas na verdade a história era outra. O povo estava em revolta por uma onda de nacionalismo europeu, o exército Otomano estava obsoleto e desorganizado e suas finanças descontroladas. O palácio se encontra a margem do estreito de Bósforo e é imenso. Possui enormes salões, inúmeros quartos e banhos Turcos. O palácio é divido em duas partes: a oficial e o harém. Cristais de bacará, quadros de pintores famosos, mobílias super luxuosas, tapetes da famosa cidade de Hereke, cada metro quadrado foi revestido com tudo o que o dinheiro pode comprar de melhor. Existe um salão de festa de 2.000 metros quadrados com um lustre de 4 toneladas e meia presente da Rainha da Inglaterra. Por causa do seu imenso tamanho, o aquecimento deste salão era iniciado 3 dias antes da festa. Ataturk, o fundador da República Turca, morou neste palácio por 3 meses, vindo a falecer no mesmo. Vocês poderão visitar o seu quarto particular e seu escritório. Quarto simples, símbolo de um homem que trabalhou e viveu por seu país.

Depois de terem visitado os palácios Topkapi e Dohlmabahçe, resolveram almoçar. Então, Haradja sugeriu:
—Embora hajam restaurantes de nível internacional aqui em Istambul, sendo o do Pera Palas um deles, eu acho que o melhor para mergulhar na gastronomia turca é ir a locais típicos. E não posso pensar em um lugar melhor do que os restaurantes do Kapalicarsi.
—O Grande Bazar? _ perguntou Draco _ Boa idéia.



"Kapalicarsi, o Grande Bazar de Istambul"



"Um dos restaurantes do Kapalicarsi"



"Kapalicarsi-Entrada Nurousmaniye"


Sentados à mesa de um restaurante no Kapalicarsi, Janine comentou:
—Você conhece bastante sobre os pontos turísticos de Istambul, Haradja.
—Nasci e me criei aqui, Jan. Além disso, sempre gostei de História, assim como você. E Istambul possui um passado riquíssimo, tendo sido a antiga capital do Império Otomano, o qual expandiu-se pelo Oriente Médio e grande parte da Europa, somente sendo detido por Charles Martel, em Poitiers.
—Mas a influência árabe é visível em diversos lugares. _ disse Draco.
—Exatamente. Embora turcos e árabes sejam povos diferentes, haja visto até mesmo os idiomas não serem iguais, partilhavam da mesma fé islâmica, que era a única na época. Turcos, Árabes Sauditas, Iemenitas, Iraquianos, Kuwaitianos, Libaneses, Iranianos, Sírios, etc, todos são chamados ou de “Árabes” ou de “Turcos”, para facilitar. A literatura, tanto oriental quanto ocidental, que trata da expansão do Império Otomano também é riquíssima.
—A começar pelos livros de Emílio Salgari. Quando li “Capitão Tormenta”, fiquei imaginando os cenários onde a aventura se desenrola, em Chipre. Foi um dos livros dos quais mais gostei. _ disse Janine _ Aliás, o seu nome também é o de uma personagem daquele livro, a sobrinha do Paxá.
—Exatamente, Jan. _ concordou Haradja _ Infelizmente houve muita crueldade nessa expansão, Jan. A política seguida era a de conquistar e, quem não partilhasse da fé, era executado.
—Mas a contribuição do mundo islâmico é incontestável. Podemos citar, por exemplo, a Arquitetura. _ disse Draco.
—Isso mesmo. _ comentou Haradja _ O Palácio Alhambra, em Granada, na Espanha. Também na Matemática houve contribuição.
—Sim, com a introdução dos algarismos, cujo nome deriva de seu criador, Al-Khouaresmi, além do conceito de zero, que não existia. Também na Medicina a influência foi importante, com Avicenna. _ disse Janine.
—Sem contar a Poesia, pois não podemos nos esquecer do Iraniano Omar Khayyam e os seus “Rubaiyat”. _ completou Draco, lembrando-se de um poema e declamando-o.

— “Noite, silêncio, folhas imóveis;
imóvel o meu pensamento.
Onde estás, tu que me ofereceste a taça?
Hoje caiu a primeira pétala.
Eu sei, uma rosa não murcha
perto de quem tu agora sacias a sede;
mas sentes a falta do prazer que eu soube te dar,
e que te fez desfalecer.
Acorda... e olha como o sol em seu regresso
vai apagando as estrelas do campo da noite;
do mesmo modo ele vai desvanecer
as grandes luzes da soberba torre do Sultão.”

—Lindo, lindo. _ disse Janine _ Os “Rubaiyat” tratam, em grande parte, de amores, do vinho, flores, alegrias e tristezas do amor.
—Sim. _ disse Haradja _ Ele apreciava, além das ciências, os prazeres da vida e transcrevia isso em seus poemas.

Terminaram seu almoço e saíram a dar uma volta pelo Kapalicarsi, tirando fotos das principais entradas, a “Nuruosmaniye”, em cujo pedimento há uma arma, um livro e uma bandeira como símbolos e a de Bayezid, onde encontra-se gravada a inscrição “Deus Ama Os Comerciantes” e o monograma de Abdulhamid II. Aproveitaram para dar uma passada no correio-coruja e mandaram alguns postais para os amigos, na Inglaterra. Ao final da tarde, retornaram ao hotel.
—Que tal irmos à Pasa Disco esta noite?
—Vamos, Haradja. _ disse Janine _ Finalmente iremos conhecer o lugar.
À noite, tomaram um táxi e dirigiram-se ao bairro de Ortakoy, onde localizava-se a famosa casa noturna, destaque do entretenimento em Istambul.
—Naquela noite, Harry me enganou direitinho. Eu queria participar daquela missão, mas não sabia que ele iria deixar-se capturar pelo Círculo e que, para aquilo, precisaria estar sozinho. Discuti com ele e com meu pai, até que ele aproximou a mão do meu pescoço, como se fosse me nocautear, pressionando um nervo. Eu me afastei e então percebi que ele só estava me distraindo, pois já havia arranhado minha mão com um dardo sedativo. Caí na hora e ele prosseguiu na missão. Quando falei com Gina, xinguei o coitado de todos os nomes dos quais me lembrava e de mais alguns que inventei na hora. _ disse Haradja, recordando-se dos acontecimentos daquela noite em que Harry enganou o Círculo.
—Por trás daquela carinha de menino tímido esconde-se uma das mentes mais astutas da Bruxidade, Haradja. _ disse Draco _ Harry não precisa utilizar força, pois vence na esperteza. Já provou isso muitas vezes, algumas delas em cima de mim, nos tempos de escola. Se bem que quando ele tem de usar a força (E Draco lembrou-se do desagradável contato com os punhos de Harry, no quinto ano. Mas aquilo ficara no passado), sai de baixo.
De volta ao hotel, Draco e Janine subiram para seu apartamento e foram dormir, pois teriam de visitar outros pontos turísticos no dia seguinte. Dali a dois dias tomariam um Ferryboat para Varna, onde embarcariam novamente no Orient Express, rumo a Bucareste e Budapeste, na viagem de volta para Londres.
Dormindo abraçados, sequer imaginavam que, na Praça Taksim, dois vultos vigiavam o Pera Palas Hotel, com intenções nada boas.

No dia seguinte, novamente com trajes bem confortáveis, Janine, Haradja e Draco prosseguiram em seu passeio turístico, dsta vez visitando o palácio de Beylerbeyi e as Igrejas de Santa Sofia e de Kariye, transformadas em Mesquitas após a conquista de Constantinopla e hoje museus. O restante do dia foi passado em visitas às Mesquitas Azul, Suleimaniye e Eyup, deixando para visitar por último o Palácio de Ciragan pois, de lá, iriam direto para o Parque, Chalé e Fábrica de Porcelana de Yildiz. Nas mesquitas, como estavam de bermudas, foram fornecidas aos três vestimentas adequadas. Obviamente os sapatos tiveram de ser descalçados, para que pudessem adentrar as mesquitas, respeitando os costumes islâmicos.

—Não visitaremos tudo desta vez, Haradja, pois servirá até como um motivo para voltarmos a Istambul. _ disse Janine, ao final do dia _ Muito obrigada por ter nos acompanhado e saiba que, quando for à Inglaterra, fazemos questão de que fique conosco.
—Eu é que agradeço, Jan. Digam a Harry, quando o encontrarem, que ele pode sempre contar comigo para combater o Círculo Sombrio. Um grande abraço ao pessoal, lá na Inglaterra.

Haradja Karin Bey abraçou o casal de amigos e afastou-se. Em um local mais deserto, desaparatou para casa.

À noite, na hora do jantar, tiveram o prazer de dividirem a mesa com Juliette e Etienne St. Croix, com os quais tiveram uma excelente conversa. Recolheram-se cedo, pois tomariam o Ferryboat para Varna, na manhã seguinte.
—Draco... _ disse Janine.
—Sim, querida?
—Obrigada por todos esses anos de felicidade.
—Se alguém tem de agradecer, Jan, esse alguém sou eu. Você foi o que aconteceu de melhor em minha vida, não me canso de dizer isso desde os dezesseis anos. Fico pensando que, se não fosse por você, eu talvez tivesse me tornado um bruxo das Trevas.
—Nem pense nisso, Draco. Venha, querido, vamos ver se os relógios darão treze badaladas à meia-noite. _ pouco depois, um perfume de sândalo espalhava-se pelo quarto, em mais uma doce e apaixonada emissão mágica involuntária.

Varna, na Bulgária, era a terceira maior cidade do país, atrás de Sófia, a capital e de Plovdiv, sendo o maior balneário búlgaro, às margens do Mar Negro, também conhecida como “A Capital de Verão da Bulgária”. Dona de um passado riquíssimo, desde o tempo das conquistas romanas, a cidade ostentava ainda as ruínas de antigas edificações do período, tais como anfiteatros, banhos públicos, etc. Depois de terem desembarcado do Ferryboat, Draco, Janine e os St. Croix saíram para uma rápida visita, antes que o trem partisse. Conseguiram visitar alguns museus, igrejas e galerias. Algumas horas depois, estavam de volta ao Orient Express, rumo a Bucareste, capital da Romênia.
Bucareste tem origem no nome do pastor Bucur, que, segundo a lenda, foi o seu fundador, no século XV. Existia já na Idade Média e designava-se então Cetatea Dimbovita. A Curtea Veche, ou Corte Antiga, foi estabelecida por Vlad III o Empalador, melhor conhecido como Vlad III Drácula.
A partir do século XV, decorrem uma série de conflitos contra os turcos, que culminam num grandioso incêndio que queimou a cidade. Em 1659, tornou-se a capital da província otomana da Valáquia. No final do século XVII, tornou-se sede do governo e entre 1711 e 1829 foi palco de numerosos conflitos. Tornou-se capital da Romênia independente após as guerras turco-russas. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi ocupada pelos alemães e também pelos soviéticos (esta última ocupação prolongou-se até 1958).
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a cidade expandiu-se rapidamente. Após ter sofrido as consequências de dois sismos de grande intensidade, assistiu-se às revoltas populares, que puseram fim à ditadura de Nicolae Ceauşescu em 1989. O poder foi ocupado pelos comunistas até 1996, data em que uma coligação de partidos centristas se apoderou do governo.
Depois de visitarem Bucareste, embarcaram de volta no trem e seguiram na direção de Budapeste, capital da Hungria. À noite, depois do jantar, os Malfoy e os St. Croix estavam à mesa, degustando um Brandy e conversando.
—Seria interessante visitarmos o interior do país, mas isso ficará para uma próxima vez. _ disse Draco _ Então poderemos conhecer Timisoara, Constança, Cluj-Napoca, Bistritz, Sighisoara, enfim, fazer o “Roteiro Drácula”, que é muito procurado.
—Boa idéia, querido. _ comentou Janine _ Afinal, não ver tudo da primeira vez serve de motivo para um retorno.
Os dois casais riram e brindaram àquela viagem, que estava sendo maravilhosa.
Em uma mesa próxima, estavam os Chebrikov que, daquela vez, haviam acertado e acompanhado o peixe com vinho branco. Reconhecendo os dois casais, cumprimentaram-nos e foram correspondidos. Depois recolheram-se, pois chegariam a Budapeste na manhã seguinte.
Altas horas da noite, os Malfoy e os St. Croix já estavam dormindo, em suas respectivas cabines. Por isso nem perceberam quando alguém aparatou dentro delas e lançou Feitiços Morpheus nos dois casais. Eles nem perceberam quando o Inferno pareceu manifestar-se na Terra e engolir o trem, em uma explosão com um imediato descarrilamento.

Naquela mesma hora, em São Petersburgo, o Auror a serviço do Ministério da Magia da Rússia, Piotr Dasaev, entrava em uma casa, seguindo a pista de uma informação dada por Pooka, o elfo que servira à sua falecida noiva, Anya. No porão da casa, encontrou os corpos dos verdadeiros Oleg e Maritza Chebrikov, já em estado de decomposição e com um macabro detalhe.
Ambos estavam com os cabelos totalmente raspados.


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