Harry Potter e o Círculo Sombrio escrita por JMFlamel


Capítulo 25
A Fronteira Final




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CAPÍTULO 24

A FRONTEIRA FINAL







O rosto de Harry Potter revelava o júbilo por ter estabelecido a conexão e a preocupação pelas implicações do fato. Ninguém entendia nada do que se passava, até que Harry pediu:
—Draco, estou certo de que vocês têm na sua biblioteca o livro da Profª Sinistra, “Mapas Celestes e Eventos Astronômicos”, não têm? Poderíamos dar uma olhada nele?
—Claro, Harry. Vamos lá.
Foram até a biblioteca e Draco retirou o volume da estante.
—Aqui está, Harry. O que você quer ver? _ perguntou o loiro.
—Bem, primeiramente, o mapa geral. Vejamos, aqui está ele. Eis o mapa celeste, com as constelações visíveis no Hemisfério Norte. Aqui está a posição da Lua em relação à Terra e ao Sol. Podemos fazer as projeções das posições relativas e calcular quando eles apresentarão o alinhamento que proporcionará o evento previsto.
—Quer dizer, um... _ e Draco deixou a frase pela metade, sendo completado por Dumbledore.
—... Um eclipse solar total. Harry, você acredita que o Círculo tentará interferir em um fenômeno cósmico para lançar “Chosech”?
—Não só acredito, como tenho uma teoria de como eles tentarão fazê-lo. Bem, vejamos as projeções... Acho que será nessa data. Agora, vamos confirmar isso, com os profissionais. _ Harry pegou o seu celular enfeitiçado e fez uma ligação _ Alô! É do Observatório de Greenwich? Alguém poderia me informar para quando está previsto o próximo eclipse solar total, visível no Hemisfério Norte? Têm certeza de que a data e a hora são mesmo essas? E a previsão é de que seja bem prolongado? Ah, sim. Muito obrigado.
Harry anotou a data e a hora. Dumbledore e os outros estavam curiosos.
—E então, Harry? _ perguntou Luna _ Para quando será esse eclipse?
—E como você acha que o Círculo vai agir nessa situação? _ Janine estava curiosa.
—Os astrônomos do Observatório de Greenwich calcularam a data e hora do eclipse. Será em 30 de março, às 14:00 h GMT. Isso bate com a projeção feita através do livro, que propunha uma data entre 15 de março e 10 de abril, mais ou menos por volta desse horário. Bem, temos tempo para planejar, até lá. Mas precisarei de alguma ajuda, principalmente do Prof. Mason. Creio que nem o nosso lado e nem o deles irá se mexer, por enquanto. Mas precisarei do Prof. Dumbledore e do Prof. Mason no dia 26, lá no QG dos Aurores, no Ministério.
—Estaremos lá, Harry. _ disse Mason.
—Certo. Bem, vamos curtir este Natal, gente. É sempre bom ter a turma reunida. _ disse Harry, levantando sua taça.
—Apoiado! _ disse Draco _ Vamos nos preocupar com cada coisa a seu tempo. Temos uma noite pela frente, presentes para abrirmos pela manhã e, no momento, não vamos permitir que “Sombra & Escuridão” nos perturbem.
A festa prosseguiu, animada. Na manhã seguinte, os presentes mais variados foram trocados e todos saborearam um delicioso almoço de Natal. Mas o dever chamava e o dia 26 de dezembro chegou, mais depressa do que esperavam.

Na sala de reuniões do QG dos Aurores, árias pessoas estavam à volta da mesa, a cuja cabeceira sentava-se Kingsley Shacklebolt. Os outros participantes da reunião eram Dumbledore, Minerva, Sirius, Ayesha, Draco, Janine, Rony, Hermione, Neville, Luna, Harry, Gina, Mason, Marilise e um convidado, um Auror americano, chamado Morton Dekker. A reunião desenrolava-se com tranqüilidade, exceto pelo fato de que Dekker fazia-se de desentendido aos pedidos e continuava a fumar um charuto que já estava começando a incomodar, mesmo que o sistema de exaustão da sala fosse excelente. Shacklebolt iniciou a reunião.
—Bem, todos os que estão aqui, principalmente os Inseparáveis, já combateram contra a Ordem das Trevas no pasado e contra o Círculo, no presente, razão pela qual eu sei que nada do que for discutido aqui chegará ao conhecimento de ninguém fora desta sala, exceto Arthur, é claro. Marilise, embora trouxa, tem um conhecimento bastante extenso da Bruxidade, principalmente depois que teve acesso a documentos que haviam pertencido ao Coronel Sandoval, quando ele era oficial de ligação da Inteligência Militar do Exército Brasileiro com o Ministério da Magia do Brasil, além do fato do Ministro da Magia brasileiro, Leonardo Mafra, ser amigo da família e atestar sobre sua confiabilidade. Na Véspera de Natal, foi ela quem deu a pista para que Harry estabelecesse a conexão para descobrir o plano do Círculo Sombrio para a Nona Praga. Harry, você poderia nos explicar?
—Está bem, Shacklebolt. Como todos nós sabemos, a Nona Praga do “Eser Ha-Makot” é “Chosech”, os Três Dias de Trevas. Então pusemo-nos a pensar em maneiras pelas quais o Círculo poderia lançar essa Praga, que tipo de feitiço eles poderiam utilizar para deixar o mundo no escuro. Na Véspera de Natal, quando Marilise declamou um poema cujo tema era “Nariz”, os versos finais me fizeram ligar todas as pontas que ainda estavam soltas. “Nariz de massa infernal/ Que, se o cálculo não erra,/ Posto entre o Sol e a Terra/ Faria eclipse total”. Eles pretendem utilizar um evento astronômico, um eclipse que está previsto para 30 de março. Será um eclipse raro, pois será visto em todo o Hemisfério Norte e bastante prolongado. Acreditamos que o Necronomicon tenha, nas páginas em que haviam os Feitiços das Pragas, um feitiço que pode manter a Lua em posição eclipsada e potencializar a área de sombra, para que obscureça a Terra. Mas tal feitiço não teria potência suficiente, se lançado da Terra. E é aí que entram as últimas informações que eu obtive com minha fonte, cuja identidade preservaremos. A informação dizia que “Escuridão” havia feito vários contatos com associados nos EUA, a saber com Jett Catrall, no Texas e com dois outros, na Flórida. Henri LaRoquette, um trouxa e Margareth Wilkes, uma bruxa.
—E qual a conexão, Harry? _ perguntou Hermione.
—Bem, o que é que há no Texas?
—Petróleo, gado e história. _ disse Draco _ O Texas foi conquistado ao México e mantido, ao custo de muitas vidas.
—Realmente, Sr. Malfoy. _ disse Dekker _ Aí está o Forte Alamo, para que ninguém se esqueça.
—Dekker, você poderia, por gentileza, apagar o seu charuto? _ pediu Shacklebolt. Mas Dekker fez-se de desentendido, novamente.
—Mas há uma outra coisa que o Texas possui, Potter. E eu acho que sei qual a conexão entre o Texas e a Flórida. _ disse ele, entre duas baforadas.
—Exatamente, Dekker. _ disse Harry. _ E temos agora a Flórida. Alguém sabe o que há na Flórida?
—Disney World, Busch Gardens, Everglades, Miami Beach, Sea World, Daytona Beach, Fort Lauderdale, etc. _ comentou Rony _ Principalmente o turismo.
—Exatamente, Rony. _ disse Harry para o cunhado _ Mas há outras coisas que a Flórida e o Texas têm em comum e eu vou dizer agora. No Texas há a cidade de Houston e nós sabemos o que há lá.
—Você está se referindo ao Centro de Comando e Controle de Missões Espaciais e ao Johnson Space Center, onde os astronautas são treinados? _ perguntou Gina.
—Isso mesmo, querida. E, na Flórida, o que temos?
—Essa eu sei, Harry. _ disse Janine _ E, realmente, isso estabelece a conexão. Na Flórida existe o Kennedy Center, em Cape Canaveral. É onde são realizados os lançamentos, eu já estive lá e visitei o Museu da NASA. Então isso significa...
—Que o Círculo pretende lançar esse feitiço do espaço. Jett Catrall, Henri LaRoquette e Margareth Wilkes têm contatos na NASA. E eu descobri uma outra coisa, através de Dekker, devido aos contatos que ele também tem na NASA. Dekker, poderia, por favor, apagar seu charuto? _ pediu Harry, mas Dekker fez que não era com ele, novamente.
—E o que foi? _ perguntou Sirius.
—Sabemos que o Programa Espacial dos EUA não parou e que a Estação Espacial Internacional foi ampliada e continua orbitando a Terra, como um Centro de Pesquisas e uma escala para a Base Lunar Internacional, no Mar da Tranqüilidade. E Dekker me disse que o Ônibus Espacial Enterprise será lançado no mês de março.
—E, com isso, você acredita que o Círculo pretende infiltrar alguém na tripulação da Enterprise? _ perguntou Ayesha e quem respondeu foi Dekker.
—Tenho praticamente certeza de que esse bruxo já deve estar infiltrado, Sra. Black. Quando o Sr. Potter pediu para que meu mano Derek entrasse em contato comigo, eu chequei minhas conexões na NASA e verifiquei que um novo grupo de astronautas está recebendo treinamento e alguns serão selecionados para a Missão Enterprise. O treinamento, agora, é mais compactado, não dura dois ou três anos, como era antes. O pessoal técnico ou colaboradores civis são recrutados, treinados e entrevistados em um período de meses.
—E o senhor tem conhecimento de qual é o objetivo da próxima Missão Enterprise, Sr. Dekker? _ perguntou Luna.
—Bem, até onde eu sei, a Enterprise deverá levar suprimentos para a Estação Espacial Internacional, parte dos quais descerá nos transportes de superfície para a Base Lunar. Alimentos, medicamentos, material para os conversores de oxigênio, artigos de higiene e lazer, etc. Coisas das quais o pessoal irá precisar, pelos seis meses seguintes.
—Mas a Enterprise não era uma nave sem capacidade de entrar em órbita, usada apenas para testes de pouso? _ perguntou Dumbledore.
—Sim, Prof. Dumbledore, mas com o avanço do Programa Espacial por parte de várias nações, inclusive o Brasil (e Dekker fez um aceno de cabeça para Janine e Marilise), a Enterprise foi remodelada e aperfeiçoada, possuindo agora a capacidade de entrar em órbita e retornar.
—A tripulação será apenas de militares? _ perguntou Luna, novamente.
—Não, Sra. Longbottom. As tripulações dos ônibus espaciais agora podem ser mistas. Lógico que o Comandante e o Piloto devem, obrigatoriamente, ser Oficiais da Marinha ou da Força Aérea. Os outros, especialistas da missão como, por exemplo, o Especialista em Carga Útil, podem ser civis, desde que atendam às qualificações específicas para cada missão e sejam aprovados nos treinamentos. Acredito que o agente do Círculo deve ser um deles, passando-se por cientista, técnico ou empresário colaborador.
—E ainda daria tempo para introduzir alguém no grupo de astronautas, Sr. Dekker? _ perguntou Draco.
—Está meio apertado, mas eu creio que será possível, Sr. Malfoy. Por sorte, vários dos coordenadores das missões espaciais fazem parte de uma mesma Ordem Maior, Justa e Perfeita. Uma “palavrinha amiga” nos ouvidos certos poderá aumentar o grupo de “trainees” em mais um elemento.
—Excelente, Sr. Dekker. _ disse Shacklebolt _ Resta agora selecionarmos qual dos Aurores será designado para essa missão.
—Não sei se dou os parabéns ou se lamento por ele. _ comentou Marilise, ao lado de Mason _ Ele irá passar por uma experiência única na vida mas, em compensação, enfrentará um treinamento bastante duro e uma missão no espaço nunca é isenta de riscos. Por falar em riscos, Sr. Dekker, poderia nos poupar do risco de um câncer por fumo passivo, apagando o seu charuto?
Dekker fingiu não ter ouvido o comentário de Marilise, mas uma coisa diferente aconteceu: uma nuvem escura e densa começou a formar-se sobre ele que, ao ver o clarão de um pequeno relâmpago e ouvir um trovãozinho, olhou para cima, bem a tempo de ver grossos pingos de chuva despencarem da nuvem, logo transformando-se em uma mini-tempestade que, imediatamente, encharcou o Auror americano que, ao ver-se todo molhado e com o seu charuto completamente apagado, levantou-se e vociferou uma série de palavrões, sem se importar com as senhoras presentes, enquanto a nuvem se desfazia e um pequeno arco-íris formava-se no seu lugar.
—Quem foi o engraçadinho? _ perguntou Dekker, furibundo.
—Fui eu, Dekker. _ respondeu Harry, rindo tanto quanto todos os outros da mesa, à exceção do próprio Dekker, é claro.
—Pô, não precisava radicalizar, Potter! _ disse Dekker.
—Depois de você ter fingido que não ouviu, por três vezes, Dekker? Caracas! Não havia outra coisa que Harry pudesse ter feito. _ disse Draco, rindo e lembrando-se de quando, no sexto ano, fizera a mesma coisa para acabar com um “Piti” de Pansy: Um Feitiço “Cumulusnimbus, Condensar” e pronto. O problema se resolveu.
Aos risos, a reunião foi encerrada e todos seguiram seus destinos. Harry e Rony foram para seus gabinetes e envolveram-se nos assuntos do expediente. Os outros foram para suas casas.

Dois dias depois, Harry estava em casa e Dobby entrou em seu gabinete de estudos.
—Mestre Harry Potter, Dobby recebeu a correspondência e veio lhe trazer.
—Muito obrigado, Dobby. Gina e as crianças já chegaram?
—A Dra. Potter está voltando do St. Mungus. As crianças estão com a Sra. Weasley, que foi levá-las ao cinema.
—Obrigado, Dobby. _ Harry agradeceu e o elfo retirou-se, com uma pequena reverência. Harry lembrou-se, divertido, de como conhecera o pequeno ser mágico, quando estava com doze anos de idade e de como conseguira salvá-lo da servidão a Lucius Malfoy. Dali a pouco, Gina chegava do hospital e Molly do cinema, com as crianças. Gina beijou o esposo e, depois deles abraçarem as crianças, cumprimentarem Molly e esta tê-las levado para brincarem, ele começou a ler a correspondência. Uma carta em especial chamou a atenção do casal de bruxos, porque trazia o selo dos Aurores e algo mais, que fez com que Harry pegasse a varinha e tocasse os óculos.
— “Infrarubra Thermosensora”. _ os óculos de Harry passaram a captar o infravermelho e emissões de calor, o que permitiu a ele ver a frase escrita com uma tinta especial: “Somente para os seus olhos” e ele desfez o feitiço _ Acho que esta é só para mim, Gina. Sinto muito.
—OK, Harry. _ disse a ruiva, saindo do gabinete _ Mais uma mensagem sigilosa do Kingsley?
—Isso mesmo. Bem, vamos ver do que se trata.
Harry abriu o envelope e retirou dele um pergaminho em branco. Com uma cara de surpresa, viu um pequeno quadrado no canto inferior direito, onde havia a figura de uma impressão digital. Franzindo a testa, pressionou nele o seu polegar direito, sentindo um leve calor e vendo o quadrado brilhar. O rosto de Shacklebolt apareceu no pergaminho, e ouviu-se a sua voz:

— “Bom dia, Harry. Como sabemos, após a reunião que tivemos, o Círculo Sombrio conseguiu infiltrar um bruxo no grupo de astronautas que participará dos treinamentos seletivos para a Missão da Enterprise, a realizar-se em março. Já descobrimos quem é o bruxo e aqui está sua foto. Seu nome é Bernard Brent, americano e que possui treinamento Ninja, com o que consegue ocultar seu Ki, impedindo que saibamos qual dos astronautas é ele, transfigurado. Morton Dekker e Derek Mason, através de seus contatos Maçônicos na NASA, conseguiram incluir mais um elemento no grupo de ‘Trainees’ e ele deverá apresentar-se no Johnson Center dentro de dois dias. Caberá a nós designar o Auror mais qualificado para essa tarefa, entre os integrantes de nossos quadros. Sua missão, Harry, se decidir aceitá-la e eu estou certo de que aceitará, porque é o que apresenta as melhores qualificações e habilidades para ela, será infiltrar-se no grupo de astronautas, participar dos treinamentos, identificar e capturar Brent, impedindo-o de lançar ‘Chosech’, se possível antes do lançamento da Enterprise. Caso você falhe... Aah, mas que besteira eu estou dizendo! Sei que você não falhará! Harry, você terá um contato trouxa no grupo, que irá identificar-se como ‘Sete de Nove’ e que procurará ajudá-lo no que for possível. Este pergaminho se autodestruirá em cinco segundos. Boa sorte, Harry.”

—O que ele queria dizer com cinco seg...? _ e não terminou a frase. O pergaminho se desfez em uma pequena explosão de chamas e uma nuvem de fumaça preta. Atraídos pelo barulho e pelo cheiro, Tiago, Lílian, Gina, Molly e Dobby correram na direção do gabinete, vendo a porta abrir-se e uma figura sair dele, em meio à fumaça.
—O que houve, Harry? _ perguntou Gina, sem saber se chorava ou se ria, pois o aspecto de Harry era cômico: a cara, a camisa outrora imaculadamente branca e os óculos, agora meio tortos na cara, tudo preto de fuligem.
—Gina, se algum dia eu, novamente, emprestar um DVD de “Missão Impossível” para o Shacklebolt, faça-me um grande favor: me lance uma Maldição Cruciatus, OK? _ disse o bruxo, tossindo.
—Pode deixar, querido. “Limpar”! “Zephyr”! _ em um instante, o rosto, os óculos e as roupas de Harry estavam novamente limpos e uma brisa dissipava a fumaça.
—Obrigado, querida. _ disse Harry, agora rindo da situação, tanto quanto todos os outros e tocando seus óculos com a varinha, para consertá-los, dizendo: “Reparo” e vendo-os se desentortarem.
—A mensagem de Shacklebolt devia ser muito importante, para que fosse enviada no estilo “Missão Impossível”. _ disse Gina.
—Você não imagina o quanto, ruiva. Tenta adivinhar.
—Sobrou para você, de novo?
—Estou indo para os EUA, hoje mesmo.
— “Astrobruxo”? Vai participar dos treinamentos?
—Você sabe muito bem que eu sou o único que tem alguma chance.
—Sei, querido. Seus poderes de Magid lhe dão uma vantagem secreta.
—Sim. Todos pensam que, quando estou sem a varinha, canalizo a magia pela modificação que Jasper Olivaras fez no meu anel da Grifinória.
—Vai passar no QG dos Aurores, primeiro?
—Sim. Tenho de pegar instruções com Kingsley.
—Por que tinha de ser você? _ disse a ruiva, abraçando o esposo e voltando para ele aqueles olhos verde-jade, agora meio vermelhos e com algumas lágrimas teimando em aflorar _ Principalmente agora, que eu vou precisar... _ e a frase ficou pela metade.
—O que você quer dizer, Gina? _ perguntou Harry, bastante curioso.
—Não, eu não quero te preocupar, Harry. _ disse ela, enxugando os olhos.
—Se você não disser, aí é que eu vou me preocupar, meu amor. Vamos, me diga, não me obrigue a usar Legilimência. _ brincou Harry, abraçando e beijando Gina.
—Tudo b-bem, Harry. _ e Gina abraçou mais forte o esposo, contendo pequenos soluços de emoção _ Como você sabe, acabei de voltar do St. Mungus. No final das consultas, me senti meio indisposta e acabei me encontrando com Darlene, em um dos corredores. Ela me levou ao consultório e fez um exame, confirmado por Ultra-Som.
—Espere aí, Gina! _ disse Harry, com um enorme sorriso formando-se no seu rosto _ Você esteve com a Dra. Willingham? Não me diga que você...
—Estou grávida, Harry. _ disse Gina, com lágrimas de felicidade nos olhos e abraçando o esposo _ Vamos ter mais um filho... ou filha, ainda é cedo para dizer.
—Eu te amo, Gina. _ o bruxo abraçava a esposa, ambos chorando de felicidade. Molly, Dobby e as crianças chegaram, espantados com a cena. Quando os dois disseram o que estava havendo, todos comemoraram e Harry pediu para que Dobby trouxesse cerveja amanteigada e suco de abóbora. Após servir a todos, o elfo ia se afastando, mas Harry o chamou.
—Dobby, sente-se e tome uma taça conosco.
—Meu patrão, Harry Potter, me convida para participar da comemoração pela vinda de um novo Potter? _ os olhos verdes de Dobby umedeceram-se.
—Mas claro, Dobby. Você é meu amigo desde os meus doze anos e não é um simples empregado, é parte da família. Sente-se conosco.
Dobby juntou-se a eles e fizeram um brinde. Depois daquilo, Harry preparou-se para ir ao Ministério.
—Gina, eu vou indo.
—Harry, lembre-se de que você prometeu reduzir as atividades de risco.
—Eu não me esqueci, Gina. Prometo que isso acontecerá, logo.
—Quando?
—Primeiro deverei impedir que “Escuridão” utilize a Sétima Porta de Cronos. Depois disso, eu prometo que procurarei por atividades menos arriscadas. Se preciso, farei até um Voto Perpétuo.
—Não precisa chegar a tanto, querido. _ disse Gina _ Bem, Shacklebolt deve estar te esperando.
—OK, já vou indo. _ beijou a esposa, abraçou os filhos e a sogra, despediu-se de Dobby e, com um estalido, desaparatou.

Aparatou no Átrio do Ministério da Magia, cumprimentando os conhecidos. Ao entrar no QG dos Aurores, viu que lá estavam também Rony e Sirius.
—Que bom que recebeu o meu recado, Harry. _ disse Shacklebolt, com um sorriso.
—Ouvi dizer que a coisa andou meio preta para você. _ Sirius olhava para o afilhado, com aquela cara gozadora que tinha desde a adolescência.
—Sabia que tinha a sua pata no meio daquela carta, Cachorrão. Aquilo praticamente tinha a assinatura dos Marotos. _ disse Harry, sorrindo para o padrinho.
—Então você vai, mesmo? _ perguntou Rony.
—Sim, Rony. Não há outro que possa ir, todos vocês sabem. Mesmo entre os “Camaleões-Fantasmas” eu acabo por ser a escolha mais lógica.
— “Espaço, a Fronteira Final...” _ Sirius disse a frase inicial da abertura de “Star Trek”. Por um lado sinto inveja. Irá para onde nenhum bruxo jamais esteve.
—Com sorte, capturarei Brent antes do lançamento e não precisarei ir. Ainda mais agora, que Gina vai precisar de mim um pouco mais do que o normal.
—Como assim? _ perguntou Shacklebolt.
—Não me diga que... _ Rony deixou a frase na metade.
—Exatamente, Rony. Há um novo Weasley/Potter a caminho. Gina está grávida. E prepare-se, pois quero você e Mione como padrinhos.
—Parabéns, Harry. _ disse Sirius, abraçando o bruxo. Ele e Ayesha eram padrinhos de Tiago, enquanto que Draco e Janine eram os de Lílian.
—Cuidaremos de tudo, durante sua ausência, Harry. Pode ir tranqüilo para os EUA. _ disse Rony, também abraçando o cunhado _ Mione vai gostar de saber.
—Obrigado, Rony. Bem, vamos estudar os detalhes da missão e do meu disfarce.
—Certo, Harry. _ disse Shacklebolt _ Seu nome será Gilbert Sullivan, trinta e cinco anos, Engenheiro de Software, candidato a realizar o upgrade dos computadores da Base Lunar por seis meses. Aqui está a fotografia com sua aparência. Prepare-se, pois eles não vão pegar leve no treinamento. Sua boa forma física e o treinamento Ninja serão uma grande vantagem. Sem contar que, devido à nova diretriz do treinamento dos Aurores, você fez estágios de sobrevivência em ambientes inóspitos, tipo montanha, selva, mar, gelo e deserto, além de já ter participado certa vez de uma edição do “Eco-Challenge”. Por essas e outras razões, Harry, não há outro para essa missão a não ser você. Seu vôo sairá de Heathrow dentro de quatro horas, você deverá chegar aos EUA por meios trouxas, a fim de não despertar suspeitas. Pegue sua bagagem e pode ir. E. lembre-se, nós estamos todos contando com você, Harry.
—Não os decepcionarei. _ disse Harry, pegando a passagem da British Airways, de Londres para Miami, onde faria a conexão para Houston. Em seguida, desaparatou para o Aeroporto de Londres, Heathrow.

Durante o vôo, procurou lembrar-se do que havia lido e dos documentários assistidos no Discovery Channel sobre treinamento de astronautas, de como eram exigidos em sua resistência e do desagradável treino de simulação de gravidade zero, realizado em aeronaves KC-135, nos quais muitos dos candidatos ficavam desorientados e nauseados, alguns chegando a vomitar, razão pela qual o avião era conhecido como “Vomit Comet”. Além disso, haviam vôos em jatos T-38, inclusive com exercícios de ejeção. Bem, para alguém que havia saltado de pára-quedas sobre Azkaban, aos dezesseis anos de idade, essa parte não assustava muito. Instruções de Ciências, Matemática, Tecnologia, treinamentos em simuladores, isso era algo pelo que Harry já esperava. Aproveitou para assistir a filmes sobre a conquista do espaço, inclusive “Apollo 13, do Desastre ao Triunfo”, com Tom Hanks, Bill Paxton e Kevin Bacon, nos papéis dos astronautas Lovell, Haise e Swigert, admirando-se com a resistência, força de vontade e criatividade, na situação perigosa e adversa na qual encontravam-se.

Horas depois, o avião aterrissou no Aeroporto Internacional de Miami, onde Harry passou por um rápido check-out e logo foi liberado. No saguão do aeroporto, um representante da NASA encontrou-se com ele e logo estavam saindo de lá, em direção à pista, entrando em um hangar. Dentro dele, um representante dos Aurores americanos estava aguardando.
—Sr. Sullivan, eu presumo (Ninguém, além de algumas poucas pessoas, sabia que “Sullivan” era Harry)? Seja bem-vindo aos EUA, meu nome é Sykes, Allan Sykes. Iremos agora para Houston, no caminho eu irei colocá-lo a par dos fatos. O senhor irá compor o grupo de astronautas em treinamento e tem plenas condições de completá-lo, pelo que me disseram. Sei que esse não é seu verdadeiro nome e essa não é sua aparência, o senhor talve seja um “Camaleão-Fantasma”. Vamos embarcar, nosso avião está à espera.
Subiram as escadas de um Learjet e Sykes começou a pôr Harry a par da situação, enquanto um bom café era servido.
—Bem, Sr. Sullivan, como o senhor pode ver, nós utilizamos muitos meios e equipamentos trouxas, em grande parte melhorados com Tecnomagia. Um grupo de cem pessoas candidatou-se, sendo que metade deles foi eliminada na entrevista. Outros vinte e seis ficaram pelo caminho, durante o treinamento. Sobraram vinte e quatro, entre militares e civis. Brent passa-se por trouxa com perfeição, tem treinamento Ninja, talvez ministrado pelos próprios “Sombra & Escuridão” e, com isso, sabe bloquear a mente, reduzir o Ki e tem experiência em combate corpo-a-corpo. Também obteve meios de proteger-se contra a reversão do Feitiço Transfigurador. É certo de que está entre eles. O Engenheiro de Software que o senhor está substituindo teve uma apendicite ontem, nós nem precisamos utilizar qualquer feitiço para afastá-lo do grupo.
—Melhor assim. _ disse Harry _ Assim não despertaremos suspeitas. E quanto aos outros membros do grupo?
—Você irá conhecê-los, logo que chegarmos. É um grupo bem legal, esse da “Missão Hawkeyes” (Harry riu-se por dentro, ao saber o nome da missão). Bem, logo chegaremos a Houston. Amanhã começa a pauleira, vocês já vão começar com sobrevivência na selva.
—Fort Bragg?
—Sim. Embora o treinamento de selva do Exército dos EUA não se compare com o do CIGS do Brasil, serve aos nossos propósitos (Harry riu, novamente. Já havia feito um curso com o CIGS, portanto a selva não lhe era estranha). Aperte seu cinto, Sr. Sullivan. Já vamos aterrissar em Houston.

O Learjet pousou e eles desembarcaram, entrando em um Crown Victoria, com destino ao Johnson Center. Lá chegando, Sykes apresentou “Sullivan” ao grupo de astronautas em treinamento e Harry logo integrou-se a eles, procurando desde o início identificar qual deles poderia ser Brent, transfigurado. Qualquer dos outros poderia ser o agente do Círculo Sombrio. Nenhum parecia transparecer um Ki maligno, embora isso nada significasse, pois Brent havia aprendido a rebaixá-lo. Prepararam o material para utilizarem em Fort Bragg no dia seguinte e foram dormir cedo.
Na manhã seguinte, levantaram-se às 05:00 h, com o céu ainda escuro e pegaram as mochilas, embarcando em uma Land Rover, com destino a um aeroporto militar. Lá o grupo desmbarcou, carregando seu equipamento e entrando em um C-130 Hércules, que já estava na cabeceira da pista, com seus motores ligados, decolando assim que eles entraram e afivelaram seus cintos. A mente de Harry voltou no tempo, até os seus dezesseis anos de idade, quando um C-130 Hércules da “Malfoy Import & Export” levou seus companheiros para serem lançados de pára-quedas sobre Azkaban, com Draco transfigurado em sua aparência, para resgatarem Janine das garras de Voldemort e Lucius. Depois daquilo, saltara de pára-quedas várias vezes, inclusive e principalmente durante o curso de Auror. A voz do Mestre de Salto no alto-falante tirou o bruxo de seus devaneios.
— “Bom dia, senhoras e senhores. São 05:45 h e estamos nos aproximando da nossa zona de lançamento. Suas mochilas já foram revistadas e todo material considerado proibido foi removido. Vocês serão lançados em grupos de seis elementos, denominados Alpha, Bravo, Charlie e Delta e terão de, transcorrida uma semana, terem sido capazes de obter água, abrigo, fogo e alimento, utilizando apenas suas facas de sobrevivência, canivetes, facões e os cinco tiros de fuzil que lhes deixamos. Lembrem-se de que a selva provê tudo aquilo de que vocês precisarão, basta saberem procurar. Agora, levantem-se, enganchem e aguardem os comandos. Sullivan, você será o precursor do seu grupo, o Alpha. Boa sorte e logo saberemos quais os grupos que prosseguirão para a Missão Hawkeyes.”
Todos eles levantaram-se, engancharam as fitas de seus pára-quedas, revisaram o equipamento e numeraram-se. Quando a luz vermelha passou para verde, o Mestre de Salto bradou: “A porta, já!!!” e Harry saltou no céu matutino, com o velame do seu pára-quedas enfunando-se acima dele, com o já conhecido tranco nos ombros. Direcionou sua queda para uma pequena clareira entre as árvores e aterrou, sem problema algum. Recolheu o seu velame e sinalizou para os outros, que logo juntaram-se a ele.
—Bem, vamos ver quem deverá ser o líder do grupo. _ disse Wallenquist, um candidato a piloto.
—Creio que teria de ser alguém com experiência em selva, é claro. E eu não posso pensar em ninguém melhor do que o Coronel Sales. _ disse Minako Idehara, filha de japoneses, nascida na Austrália, uma das candidatas a Especialista em Carga Útil.
—Então será o Sales. _ concordaram os outros.
—Obrigado. _ agradeceu o Coronel-Aviador Roberto Sales, um brasileiro de cabelos negros, já começando a ficar grisalhos nas têmporas, candidato a Piloto-Reserva _ Mas teremos de ter também um segundo em comando. Alguém mais tem experiência de selva?
—Eu tenho. _ “Sullivan” levantou o braço _ Fiz o curso do CIGS, quando estava no SAS, antes de dar baixa e me dedicar à Informática (Harry havia feito o curso, durante a Academia de Aurores, disfarçado como Tenente do SAS). Creio que poderei ajudá-lo.
—Bom. Estamos bem servidos. Gente, nossa prioridade, no momento, é água. Há um rio por aqui, precisamos encontrá-lo. _ disse Sales.
—Está a leste daqui, cerca de três milhas. _ disse López, um candidato a Especialista em Carga Útil, utilizando o mostrador do seu Omega Speedmaster como bússola, alinhando o ponteiro das horas com o sol e traçando a bissetriz entre ele e o número 12, a fim de localizar o Norte.
—Então, vamos para lá. _ sugeriu Renault, candidato a Comandante da Missão, americano nato, apesar do sobrenome francês _ E poderemos aproveitar os velames e cordames dos pára-quedas para os abrigos.
Puseram-se a caminho em fila indiana, com Harry à frente e Sales fechando o grupo. Embora não tivessem bússolas muito precisas, somente as dos cabos de suas facas de sobrevivência, além delas utilizavam o mostrador dos relógios, como López o fizera e, além disso, Harry ainda corrigia a rota com o Feitiço dos Quatro Pontos, através do seu anel, disfarçado como se fosse um anel da Academia Militar de Sandhurst. Quando havia um desvio mais pronunciado, o anel dava um leve puxão na direção correta. Enxames de mosquitos circulavam, mas não se aproximavam do grupo, pois todos estavam tomando drágeas de Complexo B, que era eliminado pela transpiração, proporcionando um cheiro que, embora pouco perceptível para o olfato humano, era insuportável para os mosquitos. Então, chegaram ao rio.
Escolheram um local para montarem um acampamento provisório, próximo à margem. O rio fluía rapidamente, o que garantia uma água satisfatoriamente limpa. Ainda assim, Sales e Harry procuraram filtrá-la com um tipo especial de junco que encontraram às margens de um remanso e acrescentaram algumas gotas de hipoclorito.
—Não vai ser nada legal termos um ou mais membros do grupo incapacitados por uma gastroenterite devido a água suspeita. Mesmo que hajam remédios naturais na mata, qualquer baixa afetará o desempenho. _ disse Sales.
—Com certeza. _ comentou Harry _ Bem, agora que temos água, é a hora de providenciarmos fogo. Enquanto isso, alguém poderia improvisar umas varas de pesca, para obtermos algum peixe.
—Se estivéssemos no Amazonas... _ disse Sales.
—... Poderíamos usar Raiz de Timbó, que atrai e narcotiza os peixes, sendo inofensiva para as pessoas. _ completou Harry _ Mas, infelizmente, o Timbó não é nativo destas matas.
—E para o fogo? _ perguntou Minako.
—Fácil. _ disse Harry _ Um bom canivete Victorinox não é proibido e ele tem vários acessórios, tais como este.
—Uma lupa. _ disse Renault _ Ótimo, pois poderá concentrar os raios do sol e inflamar algum musgo, que acenderá gravetos e depois toras.
—Já vou providenciar o fogo. _ Harry buscou musgo e gravetos, logo concentrando os raios de sol com a lupa de seu canivete. Pouco depois, uma fogueira ardia em um lugar protegido e desbastado, a fim de não haver risco de incendiarem a mata. Nela, foram assados os peixes pescados por Idehara e Wallenquist.
—Vamos pensar no nosso abrigo. _ disse Sales _ Os velames e cordames dos pára-quedas servirão para ajudar na cobertura ou como mosquiteiros, mas procuraremos fazer abrigos tipo “Tapiri”, como aprendemos no CIGS. Eu mostro a vocês.
—Ficarei com uma das cordas, Sales. _ disse Harry _ Vou preparar um arco, para providenciar alguma caça.
—Eu vou preparar algumas armadilhas. Costumava pegar alguma coisa com elas, nos tempos de moleque. _ disse López.
—Excelente. _ disse Renault _ E eu acho que sei como providenciar um reservatório para a água, que ajudará na filtragem. Vai “preparar” as flechas com alguma coisa, Sullivan?
—Vou, Renault. _ disse Harry _ Vi algumas plantas que podem dar um bom sedativo de contato e algumas lâminas plásticas das mochilas dos pára-quedas poderão substituir as penas.
—Perfeito, gente. Vamos, então, executar nossas tarefas.

No final da tarde, os abrigos estavam prontos e logo Harry e López voltavam com duas pequenas pacas e um porco-do-mato, que logo foram pendurados para que os corpos esfriassem e fossem abandonados pelos ectoparasitas, podendo ser esfolados.
No decorrer dos dias, o acampamento do grupo foi aperfeiçoado e não houveram intercorrências, exceto uma jararaca que foi encontrada na cama de Idehara e capturada por Harry. Este levou o réptil para longe do acampamento e falou com ele, em Ofidiano.
— “Tome cuidado e não apareça por perto. Além de atrapalhar nosso exercício de sobrevivência, alguém pode querer te abater a pauladas.”
— “Obrigada, Duas-Pernas que fala nosso idioma. Avisarei a outros Rastejantes para que não se aproximem. Adeus.”

Quando a semana terminou e os árbitros do exercício foram julgar o desempenho dos grupos, a nota mais alta foi a do Grupo Alpha. A bordo do helicóptero que os conduziu de volta à base, souberam que o Grupo Charlie havia sido eliminado.
Em Houston, no Johnson Center, Harry estava caminhando por um dos corredores e notou que havia algo de diferente em uma faxineira, que limpava uma sala vazia àquela hora da manhã. Entrou na sala e olhou bem para a moça loira.
—Só poderia ser você, “π”. O que está fazendo aqui, com a aparência de Jeri Ryan?
—Quem mais poderia ser “Sete de Nove”, Harry? Aliás, gostei dessa sua aparência, “Sr. Sullivan”. Um típico irlandês.
—Passando-se por trouxa, “π”?
—Sim. Descobri que precisariam de mim e estou me fingindo de agente da NSA. Nem mesmo Shacklebolt sabe que sou eu, para todos os efeitos sou um contato trouxa da Corporação dos Aurores. Já tem uma idéia de quem pode ser Brent?
—Não, mas o leque de opções já diminuiu em seis possibilidades, com a eliminação do Grupo Charlie. Agora teremos dois dias de descanso e depois o treino de sobrevivência no mar.
—Estou curiosa para ver como você vai se sair, Harry. Nesse meio tempo, continuarei tentando ajudar a descobrir quem pode ser Brent, transfigurado. A gente se vê, depois do seu exercício. Tchau, Harry.
—Tchau, “π”. _ e Harry foi preparar o equipamento.

O exercício de sobrevivência no mar consistiu de tentarem, em um bote inflável, chegar a uma ilha onde haviam suprimentos e um rádio para entrarem em contato com a base. Foram deixados em um ponto do oceano, com uma bússola e uma ração de água e comida para dois dias, devendo orientar-se até as coordenadas corretas. Eram agora três grupos, deixados em pontos diferentes. Os botes dispunham de velas, que foram ajustadas corretamente. Um pedaço de lona plástica serviu para recolherem em uma vasilha a condensação da água evaporada e assim obterem um suprimento extra. Revezavam-se no controle das velas, dos remos e na orientação, também aproveitando para pescar com as linhas e anzóis que haviam sido autorizados a levarem. Três dias depois, o Grupo Alpha chegava à ilha, com cerca de dez horas de vantagem em relação ao Delta e quinze em relação ao Bravo que, ao chegarem, encontraram todos eles de banho tomado, os homens barbeados e o grupo todo com uniformes novos, encontrados nos containers deixados pelos instrutores. Com os suprimentos dos mesmos, acrescidos de frutas colhidas na ilha, o Grupo Alpha preparou um Luau para os companheiros recém-chegados e para os instrutores, chamados pelo rádio. Infelizmente, um dos grupos deveria ser eliminado por haverem orientado-se mal e gasto todo o suprimento de água e comida, chegando quase mortos de fome à ilha e foi com pesar que despediram-se dos colegas do Grupo Bravo, que haviam tornado-se bons amigos.

Depois daquilo, realizaram um exercício de sobrevivência no deserto, o qual transcorreu sem maiores novidades, tendo os dois grupos remanescentes, Alpha e Delta, concluído o mesmo com requisitos suficientes para a missão. O desempate ocorreria no último exercício, sobrevivência em montanha e neve.

—Este exercício definirá qual o grupo que seguirá adiante no treinamento para a “Missão Hawkeyes”, com o simulador e o “agradável vôo turístico” no nosso KC-135 e nos T-38. _ disse o Major Sheldon, especialista em sobrevivência em montanha e entusiasmado campista, nas horas vagas.
— “Vomit Comet”, sei, sei. _ murmurou Renault _ é melhor que nos preparemos para um nó no sistema digestivo.
—Mas antes, teremos alguns dias usufruindo dos saudáveis ares da montanha, amigos. _ disse Harry.
—Tem razão. Então, é melhor que nos ponhamos a caminho. _ disse o Coronel Sales, ajustando o equipamento. Teriam de atravessar uma serra, no menor tempo possível. Para isso, cada grupo seguiria uma rota diferente, munidos de bússolas, chocolates, barras de cereais e bebidas energéticas, entre outras coisas das quais precisariam. Iniciaram a subida da montanha e, quando a trilha bifurcou-se, os Grupos Alpha e Delta seguiram cada um seu caminho.
Conforme subiam, as árvores começavam a rarear e a neve tornava-se uma companheira freqüente, além das rochas. A trilha ficava escorregadia e estreita, obrigando-os a avançarem com cuidado, unidos por uma corda. Ao subirem mais, a trilha foi substituída por um planalto nevado e cercado por escarpas rochosas.
—Cuidado para não se perderem. _ disse López _ Essas passagens podem ser muito traiçoeiras, pois são muito parecidas umas com as outras. Mantenham-se unidos pela corda e atentos às bússolas.
—Creio que não chegaremos a subir alto o bastante para precisarmos de oxigênio mas, de qualquer modo, é bom estarmos prevenidos. _ comentou Idehara.
—E não consumam todo o Brandy, antes de chegarmos ao outro lado, minha gente. _ disse Harry _ precisaremos dele para a confraternização da vitória.
—Está confiante em nossa vitória, Sullivan? _ perguntou Renault.
—O Grupo Delta é bastante bom, gente. Olha que eles até poderão nos vencer no exercício. _ disse Wallenquist.
—Segundo uma frase de um grande mestre de artes marciais, “Quem teme perder, já está vencido”. _ disse Harry.
—O grande Jigoro Kano, criador do Judô. _ disse Idehara _ Você está certo, Sullivan. Nossa atitude será muito importante.
E, com aquela conversa, chegaram ao local do primeiro acampamento.

Na manhã seguinte, o grupo pôs-se a caminho, após terem recebido a mensagem pelo rádio de que estavam adiantados em relação ao Grupo Delta. No ritmo em que estavam, atravessariam as montanhas em cinco dias, no máximo. Os suprimentos estavam sendo consumidos na média, não havia com o que se preocuparem, era o que pensavam.
Até que deu zebra, na tarde do terceiro dia.
Ao entardecer, o céu começou a nublar e a neve caiu, com intensidade cada vez maior, até que transformou-se em uma nevasca que não permitia ver dez metros à volta.
—Caracas, que tempestade de neve! _ exclamou Sales, que liderava o grupo, unido pela corda _ Acho que teremos de acampar mais cedo, minha gente. Há uma encosta protegida do vento, umas cinco milhas a leste daqui, na qual poderemos montar as tendas ou construir abrigos de neve. Todos presentes?
—Renault, presente.
—Wallenquist, presente.
—López, presente.
—Sullivan, presente.
Como Minako Idehara não tivesse respondido, Harry chamou:
—Idehara, cadê você? _ e sacudiu a corda, sentindo-a frouxa.
Minako Idehara, candidata a Especialista em Carga Útil, estava perdida nas montanhas.

—Praga! _ exclamou Wallenquist _ Ela perdeu-se do grupo!
—E agora? _ perguntou López.
—Eu vou atrás dela, gente. _ disse Harry.
—Não! _ exclamou Renault, preocupado _ Assim estaremos nos arriscando a perder mais um do grupo!
—E o que você sugere, Renault? Que nós a deixemos morrer congelada? _ perguntou Harry.
—Não foi isso que eu quis dizer, Sullivan. Ela também possui treinamento para sobreviver nas montanhas, poderá resistir até amanhã quando, com certeza, essa nevasca já terá cessado.
Eu acho que não, Renault. Vou voltar para procurá-la. Sales, eu irei atrás dela, mesmo que você não me dê permissão.
—Sei disso, Sullivan. E, pode acreditar, sinto que se há alguém capaz de encontrá-la, esse alguém é você.
—Obrigado, Sales. Já vou indo, então. _ disse Harry, checando o equipamento, soltando-se da corda e retrocedendo pelo caminho por onde tinham vindo.

O que aconteceu?
Em certo ponto do caminho, durante a nevasca, Minako Idehara colocou a mão no bolso do casaco Columbia que usava, a fim de pegar um bastão de hidratante labial e, involuntariamente, afrouxou o nó da corda que a unia ao restante do grupo, que logo se desfez. Para completar o azar, sua bússola caiu, sem que a oriental percebesse. Avançando um pouco mais, percebeu que havia perdido-se do restante do Alpha.
—Calma, Minako, não entre em pânico. _ dizia a mulher para si mesma, enquanto enfiava a mão no bolso e procurava pela bússola, que não estava lá. Aí começou a se preocupar _ OK, Minako, pode ficar um pouquinho assustada, mas não muito.
Introduziu a mão em outro bolso e dele tirou um potente apito. Eles não carregavam radiotransmissores para comunicação interna, apenas um aparelho para contato com os instrutores. Ela soprou o apito, rezando para que os Kamis do vento não permitissem que o seu som fosse abafado pelo assobio enregelante.

No meio da nevasca, com as últimas luzes da tarde, Harry já estava várias milhas distante do local onde havia separado-se dos outros, protegido pela Parka Columbia, além de várias camadas de roupas isolantes, luvas, botas, cachecol e óculos. Para localizar Minako, resolveu ignorar a bússola, concentrando-se no Ki da companheira e orientando-se pelo Feitiço dos Quatro Pontos, através do anel. Certa hora, ouviu um som semelhante ao de um apito, mas que parecia vir de vários lugares, devido ao vento (“Pode ser que tenha sido Minako, caso tenha perdido a bússola. De qualquer forma, é mais seguro me orientar pelo Ki dela”, pensou ele).
Realmente, a vibração do Ki da oriental vinha de um lugar sem nada a ver com a direção do som do apito e Harry percebeu uma outra coisa, que ela estava começando a ficar nervosa e mover-se muito rápido. Aquilo iria fazê-la cansar-se, transpirar e, se seu suor congelasse, o risco de uma pneumonia seria muito grande, além de que ela poderia apresentar um quadro de hipotermia e morrer congelada. Pouco a pouco, o bruxo foi aproximando-se, até que encontrou a companheira de grupo.
—Idehara, fique calma! _ disse Harry _ Eu estou aqui.
A cientista parecia não reconhecê-lo, começando a entrar em pânico. Harry não viu outro jeito, senão agir de forma mais drástica.
—SCHLAPT!!! _ uma sonora bofetada estalou no rosto de Minako Idehara e seus olhos amendoados voltaram a entrar em foco.
—Sullivan? _ perguntou ela, esfregando o rosto, no local que havia sido atingido pela mão de Harry _ É você mesmo?
—Sim, Idehara. Não sou nenhuma ilusão. O que houve?
—Acabei soltando-me da corda, sem querer. Minha bússola também se perdeu e eu só pude usar o meu apito.
—Então eu estava certo e foi mesmo você.
—Me localizou pelo apito?
—Sim. _ disse Harry, em uma mentirinha piedosa _ Agora, vamos procurar um abrigo, garota. Você andou em círculos e transpirou muito. Sabe o que isso significa?
—Sei. Não posso deixar o suor congelar. O que faremos?
—Lembro-me de uma gruta, cerca de uma milha ao sul de nossa posição. Chegaremos em cerca de quinze minutos. Vamos!
Puseram-se a caminho, Minako já começando a dar sinais de cansaço, sendo praticamente carregada por Harry. Vendo que ela estava quase fechando os olhos, ele tratou de preveni-la, sabendo que se ela dormisse, aquele seria seu último sono.
—Idehara, não feche os olhos!
—Só... só um p-pouquinho, Sullivan.
—Não! Resista, Idehara! _ disse Harry.
—Você me acorda, daqui a pouco.
—Daqui a pouco você estará morta, congelada. Vamos! _ então, uma idéia formou-se na mente de Harry _ “Serenidade”!
—???
—Uma palavra começada por “E”, rápido!
— “Encadeamento”.
— “Obliviador”.
— “Ranzinza”. Está querendo jogar “Shiritori” comigo, Sullivan?
—Estou. Isso manterá sua mente ativa e, conseqüentemente, irá mantê-la acordada (O “Shiritori” era um jogo japonês de encadeamento de palavras, no qual um tinha de dizer uma palavra iniciada pela última letra da palavra dita pelo outro). Conhece as regras: vale qualquer idioma, substantivos, adjetivos, nomes próprios, etc. E quem disser uma palavra terminada por “N” perde o jogo. “Avançar”.
—Está... está bem. “Roçadeira”.
— “Aspas”.
— “Salvar”.
— “Rock”.
—Essa está difícil. Hmm... “Kadindic” (“Senhorita”, em turco).
—Apelou, hein? “Clorpromazina”.
—Parece difícil, mas não é. “Amplictil”.
— “Lilás”.
— “Serengeti”.
— “Indolência”.
— “Ampliado”.
E prosseguiram, em direção à gruta, jogando o “Shiritori”. Além de manter ativa a mente de Minako, a energia mística gerada pelo encadeamento de palavras fortalecia e protegia os dois. Uns trinta minutos depois, chegaram à gruta. Harry explorou o interior com sua lanterna, vendo que era bem maior do que imaginara.
—Ótimo. Servirá perfeitamente. _ disse ele, arrastando Minako para dentro e constatando que haviam alguns cavacos de madeira, sobras de fogueiras feitas por outros montanhistas que haviam utilizado aquela mesma gruta, na verdade uma caverna de regular tamanho _ A primeira coisa, será proteger a entrada do vento.
Juntando uma boa quantidade de neve, Harry bloqueou a entrada, deixando uma pequena abertura. Depois, procurou juntar a madeira existente. A quantidade não era muita, o que não permitiria uma grande multiplicação. Um pequeno gemido de Minako chamou sua atenção.
—Minako! Você está quase congelando, garota! Agüente um pouquinho mais, por favor! _ mas a garota desmaiara, de pura exaustão _ Praga! Tenho de fazer algo! Bem, já que ela desmaiou, posso usar magia para multiplicar um pouco a madeira mas, infelizmente, eu acho que será o suficiente apenas para secar as roupas dela, não mais do que isso. A Lei de Transfiguração Elementar de Gamp diz que a quantidade resultante de uma multiplicação mágica será diretamente proporcional à quantidade inicial a ser multiplicada, portanto a fogueira não será muito grande, já que não tenho muita madeira para iniciar a multiplicação. “Lignum multiplicatio”!
Os cavacos de madeira existentes aumentaram de número e Harry deu-se por satisfeito. Ajeitou-os e, dizendo: “Inflammare”, logo fez com que chamas crepitassem. Começou a tirar os agasalhos de Minako Idehara e a colocá-los perto da fogueira, para que secassem. A nissei ficou apenas com a última camada de roupas e Harry constatou que estavam encharcadas pela transpiração dela (“Ela está congelando, apesar da proximidade da fogueira. Se eu secá-la com magia, ela poderá desconfiar que algo não está certo. Terá de ser da maneira tradicional, compartilhando o calor do corpo. Gina, minha querida, me perdoe. Não há outro jeito”, pensou o bruxo, logo agindo). Tirou a última camada de roupas de Minako, inclusive a roupa íntima, deitando-a nua sobre o cobertor dela, estendido perto da fogueira, nem reparando no belo corpo da nissei de vinte e oito anos, que lembrava um pouco o de Cho, naqueles momentos íntimos que haviam tido no seu quinto ano (“Nem pense em ficar admirando essa beleza toda, Harry. Você deve concentrar-se em salvar a vida dela”, pensou o bruxo). Harry tirou as próprias roupas, ficando apenas com a roupa íntima e cobriu a ambos com o seu cobertor. Logo sentiu que a pele de Minako, antes gelada e acinzentada, começava a aquecer-se e ganhar cor. Abraçou a companheira de grupo e compartilhou com ela o calor de seu próprio corpo.
—Sullivan... _ disse Minako, com um fio de voz _ Tenho um pedido a lhe fazer. Faça amor comigo, para que eu leve uma boa lembrança para o outro lado.
—Não diga besteiras, Minako. Primeiro, você não vai morrer, porque eu não vou deixar. Segundo, o que você me pede seria como se eu me aproveitasse de você e isso seria desonroso não só para você, como também para mim, para minha esposa e filhos.
—Desculpe. Acho que n-não sei o que estou dizendo.
—Tudo bem. Apenas procure não dormir enquanto não estiver suficientemente aquecida. _ Enquanto conversava com Minako, Harry modulava seu Ki, para também energizar o da colega, em suaves ondas. Dali a pouco, o bruxo sentiu que a freqüência vibracional do Ki de Minako se estabilizava. A nissei, especialista em Física de Partículas, estava salva.

Perto do amanhecer, Harry rendeu-se ao cansaço e cochilou. Minako, já recuperada, saiu de baixo do cobertor e, apalpando-se à luz das últimas brasas da fogueira, constatou que estava nua, mas que nada havia acontecido. Procurou por suas roupas e encontrou-as, já secas. Vestiu-se e olhou para Harry, adormecido sob as cobertas, cansado pelo esforço de compartilhar seu calor corporal e seu Ki. Aproximou-se e fez menção de acordá-lo, mas logo mudou de idéia. Antes disso, inclinou-se e beijou suavemente os lábios do colega, levando um susto quando ele acordou.
— “Dômo arigatô gozaimassu”, Gilbert-san. _ disse a cientista.
— “Do itashimashité”, Minako-san. _ respondeu Harry, com voz meio sonolenta, abrindo os olhos _ Que bom vê-la viva e acordada. Bem, acho melhor eu me vestir, senão sou eu quem vai congelar.
—Com certeza, Sullivan. A fogueira está nas últimas brasas e temos de sair daqui.
—Vamos indo, então. _ disse Harry, vestindo-se e rompendo com seu bastão a proteção de neve da entrada da gruta, que havia endurecido. Olhou para fora e sorriu, satisfeito.
A tempestade havia passado e os primeiros raios de sol daquele dia iluminavam uma enorme extensão branca e imaculada. O céu estava limpo e não teriam dificuldade para alcançar o restante do Grupo Alpha.
—É melhor comermos alguma coisa, para termos energia para a caminhada, Idehara.
—Com certeza, Sullivan. Devo ter chocolate na mochila.
—Eu também. Acho que um pedaço de chocolate e uma pequena dose de Brandy estão na ordem do dia, não concorda?
—Sim. Vamos nessa, então.

Comeram um bom pedaço de chocolate cada um e tomaram alguns goles de Brandy da garrafa de Harry, pondo-se a caminho.
—Idehara, eu queria deixar bem claro que não fiz nenhuma tentativa para me aproveitar de você, enquanto te aquecia. _ disse Harry.
—Eu acredito em você, Sullivan. _ disse Minako _ Mas o que eu lhe pedi era verdade. Se eu tivesse de morrer, queria levar uma boa lembrança para o outro lado.
—Esqueça. Estamos vivos e logo encontraremos os outros.
Com efeito, cerca de meia hora depois, viam a fumaça do acampamento. Chegaram e fizeram uma refeição decente, logo pondo-se a caminho para continuarem o exercício. Ao final do dia, acamparam e Harry contou o que ocorrera, apenas omitindo o pedido de Minako. Todos comentaram a “sorte” que os dois tiveram de encontrar madeira na gruta.
—Sullivan, eu soube que estamos à frente do Grupo Delta. Parece que eles se desorientaram com a nevasca de ontem e saíram da rota. Esse desvio lhes custou umas boas horas e, ao que tudo indica, venceremos o exercício.
—Muito bom, Sales. Creio que ao final da manhã já estaremos descendo a encosta e, o mais tardar, à noite, estaremos chegando à base dos instrutores.
Com efeito, as mudanças puderam ser vistas durante o deslocamento do grupo. Lentamente a neve e as rochas iam dando lugar à Tundra e às florestas de coníferas. No final da tarde, quase ao anoitecer, alcançaram uma clareira, na qual os instrutores haviam montado seu acampamento-base. Receberam os parabéns dos instrutores e aguardaram mais umas duas horas, até que o Grupo Delta chegou.
—Bem, senhoras e senhores, devo dizer que o Grupo Alpha passará para a fase seguinte do treinamento. Embora os Grupos Bravo, Charlie e Delta tenham sido eliminados para essa missão, a “Hawkeyes”, eles continuam no Programa Espacial. Comemoremos, minha gente. _ disse o Instrutor-Chefe, o Coronel Adams.

De volta ao Johnson Center, tiveram um dia livre antes de iniciarem a fase seguinte do treinamento, na qual Harry fez novo contato com “π” e aproveitou para conhecer um pouco da cidade de Houston, onde ainda não estivera, mesmo que já tivesse estado em outros lugares do Texas, em missões de Auror. Retornando ao alojamento, tratou de dormir cedo, pois os próximos dias seriam cheios. De fato, começaram com vôos em jatos T-38, treinos com trajes espaciais em piscinas, para simular as condições de falta de gravidade, além de horas no simulador do Enterprise, pois todos deveriam estar habilitados a pilotar, em caso de necessidade. Mas o pior ainda estava por vir e Harry já antecipava as voltas que seus intestinos dariam, durante os “agradáveis” vôos na aeronave KC-135, muito apropriadamente apelidada de “Vomit Comet”.
Realmente, a experiência de participar dos exercícios de simulação de microgravidade nos KC-135 era única. A aeronave executava arcos parabólicos de seis milhas de comprimento, primeiro subindo em altitude e depois caindo, de modo que a equipe experimentava a sensação de ausência de peso durante vinte e cinco segundos, sendo cada vôo com duas horas de duração e com a execução de quarenta arcos. Ao final dos primeiros exercícios, todos saíam caminhando, alguns meio que trançando as pernas, mas aparentemente bem, embora Harry tivesse ouvido, ao passar pelo banheiro, mais de um companheiro “chamando o Hugo”. Não os culpava, ele mesmo tivera de fazer força para resistir à náusea. Aos poucos, todos eles iam ficando mais resistentes às sensações desagradáveis e precisariam ficar, pois logo estariam submetidos às condições de gravidade zero.
Nos treinos de simulador, Harry destacou-se em pilotagem e operação do braço mecânico, estando apto a substituir o piloto, em caso de necessidade. Logo acostumou-se ao traje, enquanto o utilizava nos exercícios da piscina, que simulavam as operações extranave. O Coronel Adams estava satisfeito, aquela turma era muito boa e a “Hawkeyes”, com certeza, não seria a última missão deles. O grupo já encerrara o período de treinamento e todos já estavam na Flórida, aguardando o tão esperado dia de irem ao espaço. Quando faltassem dois dias para o lançamento, deveriam recolher-se em concentração, mas a noite anterior seria de confraternização, tradicionalmente realizada em um bar perto do Kennedy Center, sugestivamente chamado “Final Frontier”. E é lá que vamos encontrar nossos amigos, Sales, Renault, López, Wallenquist, Idehara e “Sullivan”, às voltas com geladíssimas Budweiser, jogando conversa fora e procurando conhecer-se um pouco mais.
—Então, Sullivan, você era do SAS? _ perguntou Wallenquist.
—Sim. Mas fiz um curso superior de Informática e dei baixa. Hoje trabalho com Engenharia de Software e Hardware, além de me aventurar em Design de videogames. Quando um dos candidatos a realizar a manutenção e Upgrade dos computadores da Base Lunar teve uma apendicite, fui convocado. E quanto a você?
—Marinha dos EUA, primeiro colocado da minha turma na Top Gun, em Miramar, dois anos de instrutor e depois a inscrição para a NASA e a aceitação. Essa não é minha primeira missão, mas sempre devemos nos reciclar ao nos candidatarmos às missões.
—Eu sempre quis fazer a minha parte para dar continuidade ao que o Tenente-Coronel Marcos Pontes começou. _ disse Sales _ Minha passagem pelo ITA sempre teve a formação de Astronauta como meta. Fiz pós-graduação e obtive o Doutorado em Sistemas Aeroespaciais e Mecatrônica. Estou conduzindo experiências para o desenvolvimento de novos equipamentos para controle de órbita de satélites.
—Muito interessante. _ disse Idehara _ Minhas pesquisas são relacionadas a transmissão de certas formas de energia no espaço exterior. Pena que meus pais não estão mais aqui para verem que correspondi às suas expectativas.
—Como assim?
—Morreram, em uma explosão de seu laboratório. Também trabalhavam com Física de Partículas e, além disso, ainda tinham outra especialidade.
—???
—Excelentes cozinheiros, principalmente meu pai.
—Gosto muito de comida japonesa. _ disse Harry _ Leve, saudável e gostosa.
—Há controvérsias. _ disse López _ Meu paladar e ela não combinam muito.
—Para você, López, tudo tem de estar nadando em pimenta, senão não terá sabor nenhum. _ comentou Renault, sorrindo _ Eu também gosto muito e acho que equivoca-se quem pensa que a culinária japonesa resume-se a Sushi e Sashimi. Há muitos outros pratos, bastante saborosos. Tem gente, por exemplo, que não gosta de “Tai Chazuke”, mas eu gosto.
—Eu também. _ disse Harry.
—Meu pai fazia um muito bom. _ disse Idehara _ Ele sabia dar um ponto todo especial ao salmão.
A festa continuou noite a dentro. Seria a última oportunidade de descontração, antes de embarcarem rumo à Estação Espacial Internacional. Harry ainda tentava identificar qual deles seria o transfigurado Brent, pois era certo que o bruxo do Círculo estava entre os outros cinco integrantes do Grupo Alpha. Mas o desgraçado não deixava uma brecha, pelo menos era o que Harry pensava.
Depois daquilo, retornaram ao Kennedy Center e recolheram-se aos alojamentos. Dois dias depois seria o lançamento e o tempo estava perfeito. Previsão de sol e céu limpo, nenhuma nuvem para atrapalhar. O gigantesco foguete que impulsionaria a Enterprise, libertando-a da atração gravitacional da Terra já estava na plataforma de lançamento, com o Ônibus Espacial preso a ele. Harry olhou para aquilo e teve de reconhecer que era uma visão impressionante.
No dia seguinte, submeteram-se aos últimos exames médicos e fizeram o reconhecimento da nave. O restante do dia foi de descanso e estudo. Harry ainda recebeu a visita de “π”, que disse ainda não ter descoberto qual dos outros seria Brent e desejou-lhe boa sorte. O bruxo agradeceu e tratou de ocupar-se de uma tarefa mais relaxante: folhear um exemplar de “XXX-Holic”, um antigo Mangá do Grupo CLAMP.



"Bem que dizem que, no espaço, a cara da gente fica inchada."

Chegou a manhã do lançamento. Por mais que estivessem preparados, não havia como não sentirem um friozinho na barriga, pela imponência do conjunto. Antes de seguirem para o elevador que os levaria à nave, tiveram seus trajes revisados e ajustados. As luvas e os capacetes, parecidos com aquários, foram encaixados e os seis astronautas embarcaram em uma van, que levou-os até o elevador, na base da torre. Os seis subiram e Harry notou que Idehara parecia nervosa.
—Idehara, você parece não querer conversar. Se for algo sobre aquela noite, lá na caverna...
—Não se preocupe, Sullivan. _ disse a nissei, olhando para Harry e dando uma piscadela maliciosa _ Ninguém mais ficará sabendo do que rolou lá.
—Mas... _ foram interrompidos pela parada do elevador.
Adentraram a Enterprise e ocuparam seus lugares, Harry ainda tentando descobrir quem era Brent. A escotilha foi fechada, todos ajustaram seus cintos e os instrumentos foram checados. A seqüência de ignição foi iniciada e, naquele momento, Harry foi invadido por uma estranha sensação de bem-estar e relaxamento. Imediatamente, compreendeu que alguém, um membro do grupo, estava lançando a Maldição Imperius sobre os restantes e tratou de fechar sua mente, utilizando sua habilidade de resistir àquele feitiço. Naquele momento, a ficha caiu, pois Harry lembrara-se dos dois erros cometidos por aquela pessoa que, com certeza, era Brent. Finalmente ele havia acabado de descobrir qual era o disfarce que o bruxo do Círculo Sombrio estava utilizando (“Mas como foi que eu não pude perceber isso antes?”, pensou Harry).
Mas agora era tarde. Os propulsores de lançamento foram acionados e imprimiram ao conjunto um empuxo de aproximadamente 30.800.000 Newtons, equivalente à soma dos empuxos de decolagem de 30 Jumbos 747, para lançarem a Enterprise ao espaço. Não havia tempo para agir e nem seria seguro. Um duelo no espaço interno da nave certamente iria expor os outros companheiros ao perigo (“Não tem jeito. A coisa terá de ser resolvida lá em cima”, pensou o bruxo, enquanto fingia estar sob o efeito da Maldição Imperius, ouvindo a ordem subliminar de Brent, que não lhe fazia efeito algum: “Ajam normalmente, até que seja o momento de executarem minhas ordens”). E os propulsores impulsionavam a Enterprise pelo céu matutino, cada vez mais alto, rumo ao espaço exterior.
Naquele exato momento, “π” abriu um armário e encontrou a fonte do Ki fraco que havia percebido: Inconsciente, com toda a aparência de haver sido vítima de Estuporamento, Feitiço Incarcerous, Maldição Imperius e Feitiço Morpheus, ali estava um dos membros do Grupo Alpha, cujo lugar estava sendo tomado pelo bruxo a soldo de “Escuridão”, Bernard Brent.

O jogo ficava cada vez mais perigoso.


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