A Garota Do Colar De Pérolas escrita por Milk


Capítulo 1
A Festa


Notas iniciais do capítulo

Capítulo único. Espero que gostem. Boa leitura.



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Ele era dos pés a cabeça uma obra nostálgica, uma pintura renascentista animada, carregando consigo um relógio de bolso banhado em puro ouro, presente de seu falecido pai. Um tanto antiquado para os dias de hoje, mas era para ele um objeto útil de extrema importância.

Aquela era uma ocasião especial sobre todas as outras, aniversário de oito anos da pequena Inoue, irmã mais nova por quem ele tinha um estranho afeto incondicional, diferente dos outros membros da renomada família Uchiha. A desconsideravam por não conter nenhum vínculo sanguíneo com individuo algum. Foi adotada poucos dias depois do nascimento, tudo o que sabem sobre a origem dela é sua naturalidade italiana, fora isso, só um belíssimo rosto anguloso e olhos cremosos acinzentados.

O traje dele estava impecável, bem passado até nas dobras mais insignificantes e imperceptíveis de uma camisa Calvin Klein riscada sobre um branco pérola; calça social da mesma marca em um preto carvão que não chegava a ser tão nítido quanto o dos olhos do moço; gravata vermelha em um nó frouxo com um blaiser italiano em gola ‘v’; o aroma de um 212 exalava do seu corpo e os cabelos caídos sobre os olhos faziam o desfeche perfeito de um homem dono de uma beleza simétrica e estonteante. Chegava a ser incômodo, não importava onde estivesse, seu rosto exótico era a coisa mais perceptível e invejável. O foco. E ele detestava tamanha generosidade que Deus teve ao lhe proporcionar tudo isso.

O relógio de bolso marcava um quarto para as nove, estava adiantado como sempre esteve. Chamou seu irmão Itachi e desceram juntos com Mikoto para o salão do Palace conferir a festa. Havia muita gente. Familiares, um pouco da imprensa, estranhos e crianças, bastante criança. Mesmo sendo um aniversário infantil, a decoração e energia do local era o padrão de uma festa de família, exceto pelas máscaras. Ele se perguntava se isto teria sido escolha de Inoue ou de sua mãe. Logo foi distraído das observações quando o silêncio governou as vozes e os holofotes se direcionaram para ela. Estava perfeita em um vestido de rendas da cor de seus cabelos róseos repleto de cachos delicados com uma tiara de prata finalizando o penteado. Um anjo, só não tinha asas. O coração de Sasuke batia como um barco a vapor, as lágrimas lhe escapavam dos olhos como um trem desgovernado fora das pistas, vê-la tão deslumbrante o enchia de felicidades e recordações.

—Não se deixe levar, querido. –Avisou-lhe Mikoto secando suas lágrimas e exibindo as dela no lugar. –Deixe esse que este papel eu interpreto. –Sasuke entendeu o deslize e se controlou ao máximo para não repeti-lo ao ver Inoue se aproximar dos três. Ao sair dos braços da mãe, automaticamente os olhos dela se dirigiram à ele com uma serenidade palpável de tão sincera. Deu-lhe um abraço e o olhou sorrindo:

—Obrigada, Sasuke! –Agradeceu.

—Ainda vou te dar o mundo, não se esqueça.

Fotos, fotos e fotos. Cerca de meia hora reservada só para isso, o que não era tão ruim quanto cumprimentar parente por parente em vez de aproveitar as boas bebidas da festa. Os anciãos de sua família o irritavam de uma forma desesperadora, até um deles ser útil.

—Sasuke, um garotinho me deu isto. –Mostrou um bilhete. –Aí diz que é para você. –Ele pegou o bilhete e analisou a frente e o verso meio confuso. –Parece interessante. –Acrescentou o senhor com um sorriso malicioso. –Oh, não pense que eu li, não li mesmo! Digo isto por causa do perfume feminino! –Sasuke fez um aceno de agradecimento e se afastou um pouco para lê-lo.

“Ela cresceu muito rápido,

está igualzinha a mãe.

Todos estavam ocupados em vê-la,

ninguém notou suas lágrimas

exceto eu.

Cuidado com as brechas, querido!”

—Impossível! –Sussurrou e começou procurar em volta pela autora do bilhete anônimo, mas para seu azar, aquela era uma festa de máscaras, só para dificultar a situação. Novamente se perguntou se aquela teria sido ideia de Inoue ou de Mikoto.

Foi até a cozinha do hotel e tomou uma dose generosa de whisky com energético. Leu e releu várias vezes o bilhete e o perfume não enganava a autoria, ela era a dona, ela estava ali. Mas por que voltara? Isto que o intrigava. Ficou sumida por tantos anos, por que dar as caras agora? Ele temia o que ela poderia fazer e, acredite, ela podia fazer muito estrago.

Voltou para a festa com uma expressão mais viva, atento a todas as moças ao redor. Abriu alguns botões do blaiser e se sentou no bar, pensativo. Pediu um Martini e abaixou a cabeça sobre as mãos, não estava acreditando no que estava acontecendo. Quando abrira os olhos, lá estava seu Martini e um novo bilhete preso embaixo da taça. Suas mãos tremeram ao segurar o papel que dizia:

“Surpreso? Assustado? Ansioso?

Já esperava essa reação.

Depois de tanto tempo eu ainda

Tiro seu fôlego, né?

Estarei me apresentando

Para a Sra. Mikoto às dez.

Desta vez eu juro que não vou fugir!

Adoraria receber suas boa vindas!”

Imediatamente tirou seu relógio do bolso, marcava cinco para as dez, não havia tempo. Virou o Martini na boca e saiu dali a procura da mãe, tentando se distrair com as moças dançando, não podia mostrar ansiedade para os outros, principalmente para sua irmã que o conhecia muito bem. Iriam questionar e comentar, mas isso era inevitável, fingir que tudo estava bem. Ele era péssimo ator.

Voltas ali, voltas lá, voltas por todo o salão a procura de uma dama de cabelos rosado, lhe é entregue outro bilhete por uma garçonete.

“Que nostálgico!

Ainda tem o relógio de pulso do tio.

Eu também tenho o colar de pérolas que me deu,

estou com ele no meu pescoço agora.

Uso ele sempre em ocasiões especiais.

É melhor correr!

Não vou ficar muito tempo trocando

sarcasmos com sua mãe.”

Acelerou o passo a procura de sua mãe até que enfim a achou conversando com seu tio Shisui, mas nada da garota.

—Ah, Sasuke! Já cumprimentou seu tio? –Perguntou a mãe acariciando os seus cabelos negros enquanto estendia a mão para o senhor de meia idade. –Querido, não sabe o que ele disse! Sakura, sua prima está de volta! –Avisou-lhe Mikoto com uma falsa alegria. Ela odiava Sakura mais do que qualquer coisa no mundo.

—Sério? –Fingiu surpresa. –Ela está voltando de onde? –Perguntou com a expressão mais sincera. –Porque ela sumiu há anos, não deu notícias, nem você... –Shisui ficara sem graça e não respondeu. –Desculpe-me tio. Eu apenas...

Ciao ragazzi!!! —Uma mulher com máscara branca de paetê e penas pulou por trás de Shisui com uma alegria exagerada.

—Aí está ela! –Riu Shisui. Ele era obcecado por ela desde sempre, qualquer suspiros era motivo de orgulho se fosse vindo dela. Isso porque ele não sabia que os melhores suspiros que a rosada emitia eram causados pelo próprio sobrinho.

—Como vai, tia?! –A abraçou. –Primo... –O beijou no rosto como por obrigação, com uma irrelevância convincente.

—Suponho que esteve na Itália por todos esses anos. –Começou Mikoto tomando o champanhe.

—Meu sotaque entrega? –Pegou uma taça com um dos garçons.

—Seu sotaque não existe. –Mikoto era realmente uma mulher rancorosa, mas guardando um segredo por tantos anos e sendo vítima dele todos os dias, é natural sentir ódio de quem lhe seu tal maldição.

—Menos mal. –Tomou um gole da bebida e olhou a mão do rapaz que ainda segurava o último bilhete. Sorriu e continuou. –Terminei o ensino médio na Itália, seria mais fácil para quando eu entrasse na faculdade, já estaria habituada ao idioma.

—Terminou?

—Sim. Fiz arquitetura e atualmente faço parte da equipe de arquitetos de Veneza. –A mãe se surpreendeu. –E você Sasuke, cugino, tem feito o que? –Perguntou simpática.

—Cuidado da minha irmã. –Sakura ficou desconfortável visivelmente, a mãe do garoto virou o rosto apavorada e secou a taça de champanhe. Tudo muito confuso para Shisui que não tinha conhecimento nenhum do segredo que envolvia os três.

—Eu vou pegar um Martini, volto já. –Esperaram ele se afastar e então deixaram as máscaras caírem, literalmente.

—Impressionante! O rosto de vadias continuam intactos! –Começou a Uchiha mais velha furiosa.

—Sua acidez também! –Retrucou a mais nova.

—Por que voltou?

—‘O bom filho à casa torna!’

—O bom filho sempre esteve aqui! –Apontou para Sasuke que observava a cena sem reação. –Diferente de você que fugiu das consequências como uma cadela amedrontada!

—Eu tinha dezesseis anos, era uma criança praticamente!

—Mas era mulher pra abrir as pernas e...

—Mãe, pare!!! Já está chamando atenção!!! –Avisou Sasuke se colocando entre as duas. –Deixa que eu resolvo. –Mikoto saiu pisando firme, Sakura esperou a ‘tia’ sair para olhar para ele com aquele olhar, aquele que o fez delirar anteriormente, aquele que o colocara no estado em que estava. Seria possível que depois de tantos anos a chama dos dois ainda queimasse?

Finalmente soli! —Disse tomando o restante do champanhe.

—Se for para resolver isso de uma vez por todas, que seja na minha língua!

—Na sua língua? –Perguntou maliciosa.

—No meu idioma. –Reformulou a pergunta.

Non.— Saiu de perto do moreno e foi em direção a escada de emergência, fazendo Sasuke segui-la.

—Para onde está indo? –Ela ignorou. Sumiu dois lances da escada e parou no corredor vazio do primeiro andar.

—Tinha que ver sua cara toda vez que lia os bilhetes. –Ria. –Ridicolo! —Sasuke continuou sério. Ele a conhecia, sabia dos seus truques e por mais tentadora que fosse a vontade de entrar no jogo dela, ele já estava imune. –Você continua o mesmo. –Comentou a rosada, pela primeira vez com seriedade.

—Tive medo de mudar pois construí minha vida ao redor desse segredo.

—Amadureceu.

—Crianças amadurecem, eu também. –Ela ficou em silêncio. –Por que fugiu sem mim? Por que não me contou que estava grávida? Fiquei dias indo naquela sala empoeirada, te esperando e você não apareceu! Por que?

—Me desculpa! Aquilo tirou minha coragem de te contar, tinha medo da sua reação.

—Carreguei todo o peso dos seus erros no meu ombro para hoje ouvir palavras sem sustentação. Inoue não merece isso. –Ao terminar de dizer isso ouviu a voz da menina no corredor, havia trocado de vestido. Imediatamente, os olhos de Sakura marejaram.

—Ei! O que fazem aqui vocês dois?

—Estava muito barulho lá embaixo. –Explicou Sasuke.

—Por que está chorando? –Perguntou amenina gentilmente.

—Não estou.

—Está. –Insistiu. –Não precisa dizer o porque se não quiser. –Sakura sorriu limpando as lágrimas. –Vamos descer. Já está na hora dos meus parabéns.

—Já estamos descendo, vai lá. –Disse Sasuke.

—Espere! –Olhou para a menina com paixão e lhe deu um abraçou terno. –Mi dispiace!

—O quê? –Perguntou Inoue confusa. Sakura tirou o colar de seu pescoço e colocou no da pequena. –Obrigada.

—Quero que fique com isso e que cuide muito bem pois é algo muito valioso. Promete?

—Prometo, mas... –Sakura selou os lábios da menina banhados com um batom de morango e saiu antes de qualquer questionário, Sasuke foi atrás, deixando a pequena Uchiha cheia de perguntas.

Sem permissão, ela a virou e tomou seus lábios depois de anos, permanecia com o mesmo sabor de cerejas.

—Da maior parte de mim, você foi a melhor coisa, agora é tempo desperdiçado. –Falou baixo.

—Parece que todos estão esperando. Não desperdice seu tempo comigo.

—Desperdício de tempo com você é lucro. –A prensou na parede.

—Mais segredos... –Suspirou enquanto Sasuke beijava seu pescoço.

—Apenas mais um. –Abaixou sua calcinha por baixo do vestido.

—Não posso...

—Então diga a verdade! Diga nos olhos de Inoue que ela é nossa filha!

—Ninguém mantém um segredo para sempre.

—Eu pretendo manter este trancado no meu bolso.

—Como seu relógio?

—Como deve ser.

—Não aguento esconder mais. Já posso encarar isso como uma adulta.

—Ainda é apaixonada pelo seu primo? –Sakura não respondeu, corou levemente. –Antes um romance comigo do que uma filha.

—Então leve isso para a cova! Leve essa paixão medíocre junto! –Ele levantou o vestido e se encaixou entre as coxas dela, tão rápido que quando ela se deu conta já estava entregue. Perigo, medo, desejo, paixão... Tudo o que conseguiam sentir era passageiro e proibido. O mundo lá fora era um eco desaparecendo, o relógio de bolso perdera o tic toc, as pérolas brilhavam assim como os olhos da menina a procura do irmão que deveria estar ali, laços de família virando nós no canto do corredor de um luxuoso hotel. Segredos, segredos e mais segredos, até alguém notar a ausência e resolver vasculhar os corredores do Palace.

Era tarde demais.

Nem pânico, nem tranquilidade. Ambos estavam conformados com o que viria a seguir. Chantagem ou humilhação, estavam prontos. Um dia esse dia chegaria, já chagara tarde.

Segredo.

É tão pesado que te deixa corcunda. Todo mundo tem um peso que carrega em silencia sobre passos delicados, vai se tornando cada vez mais pesados à medida que os ponteiros do relógio de bolso correm. Você escolhe: jogue o relógio fora e viva de mentiras ou se livre de um fardo e se torne prisioneira da culpa. Este é o pior dos dilemas.


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Notas finais do capítulo

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