Touched By Hell escrita por raquelsouza, milacavalcante


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Hey hey cupcakes o/ mais um capitulo lindo pra vocês (e grande, pra compensar o caps passado)
Queria agradecer a Gabizinha pela recomendação (:
é isso, enjoy.



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Pov. Annabeth

Quando Sally chegou – com Gabe a tiracolo -nos encontraram deitados no chão olhando as nuvens com ar de tédio.

- Crianças, você se divertiram? – ela perguntou olhando de Thalia para Percy e eu e então para meu tornozelo inchado.

Sally suspirou.

- O que aconteceu com o seu tornozelo? – ela perguntou.

Olhei de relance para Percy que encrespou os lábios.

- Eu caí enquanto corria. – disse sem mentir. Sally mordeu os lábios.

- Enquanto corria do Percy. – Thalia fez questão de dizer. Percy e eu olhamos pra ela com desgosto.  Sally sorriu discretamente e Gabe me encarou inexpressivo.

- Vou leva-los pra casa. – ela disse pegando minha mochila.

Fiz menção de me levantar e Gabe veio na minha direção.

- Venha, eu te ajudo. – ele disse segurando meu braço. Desvencilhei-me de seu braço rapidamente.

- Não preciso da sua ajuda. – disse encarando seus olhos com frieza. Um brilho de humor apareceu ali.

- Mal educada. – Percy resmungou.

- Amarra uma pedra no pescoço e entra no lago Percy. – disse me apoiando na perna boa.

- Chega vocês dois, Gabe, diga algo. – Sally disse cansada.

Olhei pra Gabe e percebi que ele encarava Thalia que estava vestindo sua camisa.

- Os deixe, Sally. – ele respondeu ainda olhando pra Thalia. – Acho que vou no carro com Thalia pra ela não fazer uma viagem numa estrada deserta sozinha.

- Ótima ideia. – Sally disse sorrindo e dando um beijo na bochecha gorda dele.

Senti meu estômago revirar e meus machucados latejarem. Apoiei-me na perna machucada e gemi de dor.

- Acho que eu preciso ir ao hospital. – disse. – Thalia você poderia me levar lá?

- Claro. – Thalia disse franzindo as sobrancelhas. – Mas não seria mais...

- Obrigada. – disse cortando-a e me dirigindo a Sally. – Eu vou no carro com Thalia, assim ela não fica sozinha.

Gabes olhou pra mim com o pescoço vermelho de raiva.

- Certo, vamos embora. – ele disse e foi em direção à trilha. Sally o acompanhou.

Dei dois passos e parei quase chorando de dor.

- Eu vou ficar por aqui. – disse dramaticamente.

Thalia bufou e Percy revirou os olhos e chegou perto de mim.

- Sobe aqui, eu te carrego até lá. –ele disse sem olhar para mim.

Subi nas suas costas e ele segurou minhas coxas pra eu não cair. Thalia olhou pra gente com uma mão no queixo.

- Vocês ficam tão lindos assim, eu preciso tirar uma foto. – ela disse pegando o celular do bolso e tirando uma foto antes mesmo de dizermos alguma coisa.

- Mais um comentário e eu jogo Annabeth em cima de ti. – Percy disse andando. – E faria um grande estrago porque ela pesa uma tonelada.

- Você é que é um fraco. – rebati.

- Cala a boca. – ele resmungou. Eu comecei a rir e ele me acompanhou.

- Do que vocês estão rindo? – Thalia perguntou confusa.

- Não faço ideia. – disse entre gargalhadas.

- Idiotas. – Thalia disse revirando os olhos.

Sorri contra o pescoço de Percy. Naquele momento percebi que estava gargalhando como nunca mais tinha feito e por motivo nenhum o que tornava ainda melhor.

O peito de Percy subia e descia rapidamente e logo nossas respirações se tornaram iguais. Fizemos o resto da caminhada em silêncio, chegando ao carro rapidamente.

Percy me colocou no banco do carona e fechou a porta. Gabe e Sally já tinham ido, podíamos ver seu carro se distanciando na estrada.

- Percy, você dirige, eu cheguei muito tarde ontem à noite e preciso cochilar um pouco. – ela disse se jogando no banco de trás e jogando as chaves para Percy. – Por tudo o que é sagrado, não faça nada pornográfico no meu carro comigo aqui atrás.

E com isso ela fechou os olhos e antes que eu piscasse ela estava roncando.

Percy revirou os olhos e começou a dirigir. Encostei minha cabeça no vidro do carro e acabei dormindo também.

Acordei com Percy me cutucando.

- Chegamos ao hospital. – ele disse suavemente. – Acorde.

Cocei os olhos sonolenta. Olhei-me no espelho do carro e vi que a maquiagem do meu rosto tinha saído, revelando um olho roxo. Não olhei pra Percy.

- Obrigada, daqui eu me viro. – disse saindo do carro sem olhar pra ele ainda.

- De jeito nenhum, eu vou com você. – ele disse tirando o cinto de segurança.

- Você precisa levar Thalia pra casa. – disse. – Eu pego um táxi pra voltar.

Percy bufou.

- Thalia vai sozinha. – ele disse. – Você mal consegue andar.

- Eu não preciso de ajuda, eu juro. – disse pegando a minha mochila e batendo a porta.

Segundos depois ouvi o carro ir embora e respirei aliviada.

- Annabeth. – alguém gritou meu nome e por reflexo eu virei. Percy estava vindo em minha direção.

- Droga Percy, porque você é tão intrometido? – disse mancando com pressa mas ele me alcançou em um segundo.

- Cala a boca e deixa eu te ajudar. – ele disse passando meu braço ao redor do seu pescoço e segurando a minha cintura.

Virei o rosto pro outro lado para assim ele não ver meu olho e deixei-o praticamente me carregar até lá dentro.

Percy me deixou sentada numa cadeira enquanto ia falar com a recepcionista do hospital. Logo ele voltou e sentou do meu lado.

- Logo eles vão nos chamar. – ele disse.

- Obrigada. – respondi a contragosto. – Não precisava ficar aqui comigo.

- Não tem problema. – ele disse colocando a mão na minha coxa. Dei um tapa nela.

- O que você pensa que está fazendo? – perguntei virando-me para ele. – Está sendo legal comigo pra me seduzir ou coisa parecida? Saiba que isso não vai dar certo.

Era mentira, é claro.

- O que aconteceu com seu olho? – ele perguntou ignorando minha pergunta. Virei o rosto rapidamente.

- Nada. – respondi sem olhá-lo.

- Annabeth, olhe para mim. – ele disse sério e pegando meu rosto entre os dedos não me dando escolha a não ser olhá-lo.

- Não foi nada. – respondi de novo.

- Você está toda roxa e diz que não foi nada? – ele perguntou. – Tem um roxo no seu abdômen, no seu olho, nos braços e na perna. – ele disse apontando pra onde ele tinha colocado a mão na minha coxa momentos antes. – Como não foi nada?

Hesitei em responder.

- Já disse, foi na festa, eu devo ter brigado com alguém ou sei lá, eu não lembro. – disse dando de ombros.

Percy afagou ao redor do meu olho com a ponta do dedo.

- O que você está aprontando Annabeth? – ele falou suspirando.

- Nada. – disse lentamente.

- Eu vou descobrir. – ele ameaçou.

- Não há o que descobrir. – disse dando de ombros e uma enfermeira veio até nós com uma cadeira de rodas.

Depois de uma hora, Percy e eu saímos do hospital. Acabei com o pé engessado e com uma recomendação de não me movimentar muito. Eu mancava bastante, mas quase não sentia dor por conta da quantidade enorme que foi preciso colocar de insulina em minha perna.

- Annabeth, deixa eu te levar até o carro, pelo amor de Deus.

- Não Percy, eu consigo andar. – menti.

Antes que eu percebesse, Percy me jogou sobre o seu ombro e continuou a andar normalmente. Olhei para as pessoas a nossa volta e corei. Varias pessoas nos olhavam como se fossemos loucos, o que era verdade.

- Me coloca no chão Percy! – disse entre dentes.

- Não.

Percy chamou um taxi e me colocou no banco de trás do carro tomando bastante cuidado com o meu pé, depois de conversar com o taxista, entrou como se nada tivesse acontecido.

- Idiota! – disse eu quando chegamos na frente de uma farmácia. – O que você está fazendo?

- Vou comprar o remédio que o médico receitou.

Sem dizer mais nada, Percy saiu do carro e entrou na farmácia. Alguns minutos depois, ele retornou com uma sacola cheia de analgésicos e com uma caixa grande.

 - O que é isso? – perguntei levantando um tubo laranja e branco.

- Uma pomada.

- Pra...?

- Pra você passar nesses hematomas ai. – disse ele apontando para a minha perna.

Fiquei olhando pasma para ele, que por sua vez não se importou.

Suspiro forte. Ninguém nunca se preocupou assim comigo, a não ser Atena, de vez em quando.

- Obrigada. – minha voz quase não sai.

Percy disse algo que não consegui ouvir, olhei para ele confusa.

- O que você disse? – procurei saber.

- Nada. – disse ele rapidamente.

- Percy, você está me escondendo algo? – perguntei com humor na voz.

 Percy riu com escarnio.

- Acho que quem está me escondendo algo é você, Annabeth.

Ignoreio-o, encostando a cabeça na janela e fiquei observando as casas e prédios que passavam rapidamente.

- Você não vai me contar, né? – perguntou Percy me tirando de meus devaneios.

Soltei um suspiro longo. Percy não ia desistir até eu contar pra ele o que estava acontecendo.

- Percy, acredite em mim quando eu digo que isso não é nada, está bem? Isso é só uns hematomas, não precisa se preocupar. – respondi.

- E quem fez isso? – era impressão minha ou Percy tinha mesmo cerrado os punhos?

- Ninguém.

- Quem? – insistiu Percy. Seu tom de voz passou de preocupação para raiva.

- O que te importa Percy? – explodo. – Isso não é da tua conta.

- Se eu estou perguntando é porque é sim da minha conta.

- Não, não é não.

- Tudo bem, eu descubro quem fez isso.

 - Boa sorte.

O taxi parou em frente a casa de Percy, abri a porta e saí mancando o mais rápido possível. Ainda sentia umas pontadas de dor, mas não liguei. Tentei subir a escada o mais rápido possível e quando Percy atravessou a porta da frente, apressei o passo até o meu quarto.

Eu não queria mais ouvir Percy. Na verdade eu não queria era mais viver.

Acho que Zeus já pode deixar um raio cair sobre a minha cabeça.

Jogo-me sob a cama gemendo de dor. Quem diria que o meu dia poderia ficar pior? O meu celular vibra ao meu lado, na tela diz que há uma mensagem nova. É de Atena.

*Esse lugar continua lindo. Sinto sua falta. Te amo, minha filha.*

Aperto em responder, mas não o faço. O que eu digo? Que também a amo? Ah claro, como se ela fosse se importar com as minhas palavras. Atena sente a minha falta?

Atena não tem culpa pelas ações de Frederick e nem pelas as de Gabe. Diz o meu consciente. Em parte Atena não tem culpa mesmo, mas ela podia ter prestado atenção quando a sua filha chegava chorando em casa com o corpo cheio de hematomas. Se ela tivesse prestado atenção em mim, talvez eu não teria me tornado esse monstro que sou.

Balanço a cabeça. Eu não era um monstro. Eu era apenas uma garota que tinha seus demônios.

Afundo a minha cabeça em meu travesseiro e me controlo pra não desabar em lágrimas. Não posso simplesmente passar o dia chorando feito uma idiota. Eu tinha que resolver isso. Tinha que dar um basta.

Ouço alguém bater na porta suavemente. Não respondo. Uma segunda batida e a pessoa entra. Ouço o seu movimento pelo quarto. Ela deixa um copo com água em cima da minha escrivaninha e volta para a porta. Continuo com a cabeça enterrada no travesseiro.

- Thalia ligou convidando a gente pra aparecer na casa dela mais tarde. Parece que os pais dela viajaram e ela quer fazer uma pequena... Hum... Como ela diz: “uma pequena confraternização entre amigos”. – Percy diz. Percebo que ele esta rindo com a última frase.

- Eu não vou a lugar algum com o meu pé inchado desse jeito. – digo entre dentes.

- Faz um esforço. Thalia gosta de você.

Sento-me na cama bruscamente ignorando a dor.

- O que você disse?

- Você foi a única garota com quem Thalia tem falado de verdade nos últimos 2 anos.

- Porque? – pergunto

- É, bem... Depois do que aconteceu entre ela e Luke. Ela nunca mais confiou em outra pessoa. Acredito que ela goste de você.

- O que aconteceu entre ela e Luke?

- Pergunte a ela. – Percy diz inclinando-se na porta.

- Vou dar um jeito de ir. Agora sai daqui. – falo secamente.

- Tome o seu remédio. – E com isso Percy vai embora fechando a porta.

Bufo com frustração. Por que ele está sendo legal comigo? Não pode ser porque quer mesmo ser meu amigo. Apesar de odiá-lo, eu o conheço melhor que muita gente e tenho certeza que Percy está aprontando alguma coisa.

Resolvo tomar o maldito analgésico e tirar um cochilo. Só faço tirar minha roupa, ficando só de calcinha e me jogo embaixo de um edredom bem grosso. Adormeço imediatamente.

Abri os olhos e não consigo ver nada. Tento colocar as mãos nos olhos, mas ela estão presas à minha costa. Grito, mas nenhum som sai da minha boca. Tento me levantar de onde estava mas parecia estar amarrada. De repente ouço uma gargalhada estrondosa.

- Você não passa de um passarinho com medo, não é? – a voz diz ao pé no meu ouvido. – Eu posso ver você de verdade, Annabeth Chase.

Debato-me contra as amarras com mais força que antes, podia sentir que alguém se aproximava.

- Você é apenas o meu animalzinho de estimação. – a voz soou atrás de mim. – E eu faço o que eu quiser com você.

O dono da voz começou a pegar em mim. Havia muitas mãos e todas me tocavam em lugares diferentes, a pele queimando onde seus dedos tocavam. A dor era lancinante e me fez gritar sem voz.

- Annabeth, acorde. – ouvi alguém dizer mas ainda havia muitas mãos. – Vamos acorde, você está tendo um pesadelo.

Grito e dessa vez minha voz sai. Abro os olhos e dou de cara com Percy me encarando preocupado. Sento-me na cama com a respiração falha e checo as feridas no meu braço. Passo a mão no cabelo e regulo a respiração.

- Você está bem? – ele pergunta. Aceno minimamente.

- Foi só um pesadelo. – disse. Um pesadelo que se torna realidade.

- Quer falar sobre isso? – ele pergunta passando o polegar embaixo dos meus olhos. Não tinha percebido que estava chorando.

- Estou bem. – digo.

- Tem certeza? Não quer um abraço ou um ombro pra se encostar? – ele pergunta me dando um sorriso malicioso.

Reviro os olhos.

- Você só está fazendo isso porque eu estou pelada aqui, não é? – indago.

Percy faz uma cara de falso inocente.

- Você está pelada aí embaixo? Não tinha percebido. – ele disse dando de ombros forçadamente. – Nada que eu já não tenha visto.

Revirei os olhos novamente.

- Se você continuar revirando os olhos dessa maneira você vai acabar vesga. – ele disse sério.

-Claro que vou. – disse. – E o que você está fazendo no meu quarto mesmo? Espero que você não seja do tipo maníaco que espia o sono da mulher amada.

- Mulher amada? – ele disse com uma sobrancelha levantada.

- Maneira de dizer. – digo dando uma piscadela.

- Na verdade vim te acordar, já são 10 horas, logo vamos pra casa da Thalia. – ele disse levantando. – Então trate de parecer apresentável.

Levantei a sobrancelha.

- Esconda seus roxos, o pessoal gosta de fazer strippoker e você teria que dar algumas desculpas que não convenceriam ninguém sobre como os fez. – ele disse dando de ombros.

- Obrigada por avisar que vão querer me ver nua. – disse e levantei a sobrancelha. – Você estava checando antes é?

Percy enrubesceu.

- Não, quando eu cheguei você estava gemendo ai. – ele disse.

- Isso com certeza te excitou, né? – provoquei-o.

- Você é louca garota. – ele disse e saiu do quarto.

Sorri para o nada e levantei da cama. Tomei um difícil banho quente – difícil porque tinha que ter cuidado pra não molhar a porcaria do meu pé enfaixado – e sequei meu cabelo.

Sai do banheiro mancando. Vesti um short verde curto e uma blusa de seda branca com botões. Calcei um lado do coturno por causa do pé maldito.

Fiz uma maquiagem leve e me olhei no espelho. Tirando o gesso do pé, eu estava decente.

Saí mancando até o fim do corredor e me deparei com o maior desafio da minha vida: A escada.

Olhei para ela com determinação, não vai ser uma escadinha que iria me derrubar. Pulei um degrau, depois outro e então mais outro e parei cansada. Essa vida de saci ia ser difícil.

- Você está querendo se matar? – ouço Percy perguntar no topo da escada.

- Boa ideia. – digo pulando mais um degrau.

- Pode parar de pular e prestar atenção no que eu trouxe pra você? – Percy perguntou.

Virei-me apoiando-me no corrimão e o vi com duas muletas.

- Tadan. – ele disse apontando para as muletas. – Não vou poder carregar você por aí o tempo todo então...

- Caramba Percy, obrigada. – disse aliviada. – Como as conseguiu?

- Quebrei o pé ano passado. – ele disse dando de ombros e descendo até onde eu estava. – Venha, é melhor não testá-las numa escada.

Percy me carregou até a base da escada e me passou as muletas. Apoiei meu peso nelas e no meu pé bom e dei um passo.

- Consegui. – disse sorrindo.

- Parabéns. – Percy disse empolgado. – Levei duas quedas antes de conseguir andar nisso.

 ***

A casa da Thalia ficava numa área próxima a floresta do Robin Hood. Sua casa era cercada por arvores altas, formando uma espécie de labirinto projetado. A casa em si tinha um milhão de metros (estou exagerando, obviamente), um gramado bem aparado se estendia ao redor da mansão de madeira o que a tornava rústica e clássica de uma maneira legal.

Percy estacionou na frente da casa. Andamos (eu com muletas) ate a entrada da casa e bati a porta.

- Não precisa bater, é a casa da Thalia. – ele disse abrindo a porta e entrando. – É só invadir.

Entrei em seguida e parei no meio do caminho. A casa, diferente do exterior, era bem moderna. Logo no hall da entrada, uma TV LED dava boas vindas. Ao som de Fun, um pequeno garoto loiro jogava algum game de guerra.

- Oi Jason! – Percy cumprimentou o garoto que estava esparramado no enorme sofá.

Jason deu pausa no vídeo game e olhou para o Percy.

- E ai cara. – notei que ele tinha os mesmos olhos que Thalia. Ele olhou pra mim. – Quer jogar?

Percy respondeu por mim.

- Agora não Jason, onde esta Thalia? – Percy perguntou. Jason suspirou.

- No porão. – disse e voltou a olhar pra TV.

Percy me indicou o caminho e eu o segui prontamente.

- Ele parece ser meio solitário. – comentei.

- Ele é meio sozinho. – concordou abrindo uma porta. – Aqui é o porão.

Descemos uma pequena escada. O porão era maior que meu quarto em Nova York. As paredes eram brancas. A primeira coisa que me chamou atenção foram os livros numa prateleira. Todos tinham títulos desconhecidos por mim e logo fiquei atraída por eles. Prestei atenção em outros detalhes.

O piso era de linóleo, havia uma cama comum e um sofá de dois lugares que estava ocupado. Havia também alguns pufes, uma mesa de cabeceira da mesma cor do piso e o chão estava cheio de garrafas com líquido coloridos. Reconhecia a maior parte deles.

Um som alto tocava de um home theater. A iluminação estava baixa. Thalia e os outros estavam espalhados pela cama, alguns no sofá e alguem estava deitado de barriga pra baixo no tapete.

 - Finalmente vocês chegaram. – Thalia diz se levantando. – Pararam no caminho foi?

Percy revirou os olhos.

 - Apresente o resto do pessoal pra Annabeth. – Percy diz.

- Pessoal. – Thalia anuncia. – Essa e a Annabeth.

- Oi Annabeth. – disseram em coro.

Thalia sorriu.

- Annabeth, esse e o pessoal. – Thalia disse olhando pra Percy com humor.

 - Nossa Thalia. – Percy disse.

- O que? – indagou inocentemente.

- Nada. – ele disse e foi sentar num canto.

Andei com as minhas muletas ate o sofá e me joguei nele.

Conhecia a maioria das pessoas que estavam ali então não havia motivo pra ser apresentada. O som foi aumentado, eu estava louca pra dançar, mas infelizmente, não conseguia.

Comecei a puxar papo com Nico que parecia ser o mais solitário do grupo.

- Oi. – disse eu.

- E aí. – ele responde sem tirar os olhos de Thalia, que dançava com o Luke.

- Porque você não vai lá falar com ela? – digo olhando para a mesma direção que ele.

Nico olhou pra mim com as sobrancelhas levantas.

- Porque eu faria isso? – disse ele por fim.

- Porque tá na cara que você gosta dela? – digo como se fosse a coisa mais obvia do mundo, o que realmente era.

Nico conseguiu, de um jeito impossível, levantar mais as suas sobrancelhas.

- Acho que sua sobrancelha vai fugir da sua testa.

Nico soltou uma risada fraca.

- Acho que ela não é a única coisa que quer fugir de mim.

Conti a enorme vontade de abraça-lo, o que realmente não era de minha natureza, mas vendo-o ali, tão solitário, me deu uma certa... Pena, dele.

- Tudo bem pessoal, vamos tentar nos animar enquanto o resto do pessoal ainda não chega. – Thalia disse depois de Luke tentar, pela terceira vez, beija-la.

- E o que você sugere para fazermos? – perguntou Percy.

- Olha, você consegue conjugar o verbo fazer. – digo sem me conter.

Todos começaram a rir, menos Percy, que fez um sinal com a mão como quem diz “espere só”.

Depois que conseguiu se recuperar o excesso de riso, Thalia girou uma garrafa na mão. Ela me olhava com cara de quem estava aprontando alguma.

Nos sentamos em uma roda, Thalia liderava a garrafa.

 - Roda logo isso. – disse Luke quando uma cotovelada de interesse em Percy.

Thalia colocou a garrafa no chão e a rodou.

- Em quem a garrafa parar, vai ter que beijar a pessoa de qualquer jeito, sem luta.

 Depois de 5 voltas completas, a garrafa parou em Thalia e Percy.

Thalia abre a boca e seu olhar se alterna entre, Percy, Nico, Luke e eu.

- Puta merda. – diz ela por fim.

Em todos os lábios, um sorriso irônico se formou.

Percy e Thalia se encaravam seriamente, acho que eles preferiam sentar em cima de um formigueiro do que se beijar.

- Vamos, não temos a noite toda. – disse eu já me expressando com a demora.

- Vem logo, seu lerdo. – disse Thalia com um grande suspiro.

- Não, vem você. – retrucou Percy.

- Larga de ser besta e vem. – Thalia revirou os olhos.

- É hoje... – resmunga Nico abaixando a cabeça entre as mãos.

E em um ato de coragem, Thalia puxou Percy pela gola da sua camisa e o beijou. Não se porque, mas acabei virando a cabeça pro outro lado.

- Já Annabeth, pode olhar. – Thalia tinha um tom de ironia na voz.

- Ok, já podemos girar a garrafa? – Nico disse visivelmente estressado.

Thalia pegou a garrafa e a virou novamente. Dessa vez, a garrafa parou em Silena e Charles Beckendorf. E assim o jogo se seguiu, a garrafa parando em casais como Grover e Juniper e Thalia e Luke

- Cadê os beijos polêmicos tipo o beijo da Thalia e do Percy, cadê? – perguntou Ethan pela primeira vez.

Me limitei a dar um meio sorriso, ainda tinha nojo do Ethan.

Thalia voltou a girar a garrafa após o beijo de Bianca com Ethan.

- A única que ainda não beijou ninguém aqui foi Annabeth. – Bianca disse depois de a garrafa fazer a sua segunda volta.

- Fazer o quê, né?

A garrafa foi parando, a boca alternando entre Nico, Bianca, Silena, eu... Todos prenderam a respiração, o outro lado da garrafa estava direcionado ao Percy. Mas como se fosse mágica, a garrafa parou em Luke.

- Beijo homossexual entre Percy e eu! – grandou Luke. – Vem cá gato, vamos nos amar.

Percy soltou uma gargalhada alta.

- Roda isso direito, Thalia. – disse Percy às risadas.

Thalia rodou a garrafa novamente, e deu em Luke e Percy.

- Mas que merda! – Percy tomou a garrafa da mão da Thalia e a colocou no chão.

- Não adianta fugir, meu amor, é o nosso futuro nos beijarmos!- brincou Luke quando Percy rolada a garrafa.

Percy rodou a garrafa com força dessa vez, e ela foi alternando em cada pessoa que estava sentada no grupo.

- Essa garrafa vai parar em nos dois de novo, você vai ver... – comentou Luke quando a garrafa voltava a parar.

Mas não aconteceu. Acabou parando no Percy e em mim. Levantei o olhar e Percy já me encarava.

- Ou não. – Luke terminou a frase.

Soltei um longo suspiro e tentei me controlar. Porque essa bendita garrafa tinha que parar justo em mim?

-  E aí vai um beijo polemico pra você, Ethan.

Thalia rolava no chão de tanto rir.

- Do quê você está rindo, Thalia? – perguntei seriamente.

- Vocês precisam ver como a cara de vocês estão. – respondeu ela se contendo.

Revirei os olhos. Eu não ia beijar o Percy nem que ele fosse o ultimo garoto do mundo! Mas pensando bem...

Joguei o meu  cabelo pra trás e o encarei. Percy levantou uma sobrancelha. Agarrei a garrafa de vodka mais próxima e a virei.

- Mas...? – começou Percy.

- Vou ter que te beijar, certo? Eu preciso de uma ajudazinha. – disse dando os ombros.

Mas para a minha pequena sorte, ou não, umas 10 pessoas chegaram ao porão bem na hora em que Percy tinha se levantado para me beijar.

- Poxa... Deixa pra próxima. – disse eu fingindo uma voz de desapontamento.

Percy revirou os olhos e foi falar com uma menina que veio junto com o povo. Virei a garrafa mais uma vez.

Dancei parada tentando não me apoiar no meu pé torcido, mas a bebida tinha entorpecido a dor então não fazia diferença.

Deitei na cama e fechei os olhos. Fiquei viajando com a batida da música por muito tempo, até alguém deitar ao meu lado.

- Annabeth. – me cumprimentou.

- Olá Ethan. – respondi abrindo os olhos. – Cansado?

- Não. – ele disse e olhou pra mim. – É sempre bom estar deitado com companhia tão interessante.

Ri alto.

- Você só pode estar de brincadeira. – respondo fechando os olhos novamente.

Ethan rolou pra cima de mim sem se importar com Bianca que estava a uns 3 metros de nós.

- Eu adoraria terminar o que tínhamos começado. – ele sussurrou.

Abri os olhos e o encarei com frieza.

- Isso é tão tentador. – sussurrei de volta. – Mas cai fora.

O empurrei e levantei da cama. Bianca me olhou com certa mágoa então fui até ela.

- Desculpe por isso. – disse sem rodeios. Bianca respirou fundo e sorriu falsamente.

- Você não consegue resistir, não é? – ela disse ironicamente. – Tem que ficar com todo o mundo. Vadia.

Engoli o espanto e a mágoa. Se controle Annabeth, ela deve estar magoada.

Devolvi o sorriso.

- É um vício. – disse e sai de lá.

Fui escada acima e voltei pra sala de estar onde o irmão de Thalia continuava jogando.

- Não devia estar dormindo? – pergunto.

Ele nem sequer tira os olhos do vídeo game.

- Meus pais não estão em casa e você não manda em mim. – ele responde atirando contra uma nave.

- Boa resposta. – disse prendendo o cabelo num coque. – Posso jogar com você?

Ele pausa o jogo e olha pra mim assustado.

- Mas você é amiga da Thalia. – ele diz como se isso fizesse de mim o Hitler.

- Qual é o problema disso? – perguntei sentando ao seu lado.

- Ela é minha irmã. – ele disse como se fosse óbvio.  – Os amigos delas não gostam de mim.

- Os seus amigos não gostam dela também? – perguntei franzindo as sobrancelhas.

Ele olhou para o controle do vídeo game.

- Eu não tenho amigos. – ele respondeu baixo. Pobrezinho.

- Certo, então eu vou ser a sua amiga, beleza? – pergunto pegando um solitário segundo controle.

Ele parecia confuso.

- Porque? – ele perguntou.

- Cara, eu posso jogar ou não? – perguntei. – Isso parece mais legal com o que acontece lá embaixo.

- O que acontece lá embaixo? Thalia me proibiu de ir lá embaixo quando tem gente. – ele disse.

- E você obedece? – indago estupefata.

- Ela me paga. – ele respondeu simplesmente. – Mas eu ainda quero saber o que acontece.

- Certo, se você ganhar de mim eu te levo lá embaixo escondido. – digo. – Fechado?

Ele sorri vitorioso.

- Fechado.

Acabei jogando com Jason pelo resto da noite. E ninguém nunca vai ouvir-me dizer isso em voz alta mas jogar com ele foi bem mais divertido que estar lá embaixo.

- Você está destruindo ela, Jason. – alguém disse atrás de mim.

- Assombração. – disse dando um pulo.

- Oi Percy, quer ver a gente jogar? – Jason perguntou.

Percy olhou pra mim rapidamente e então para Jason.

- Claro. – ele disse sentando ao lado de Jason.

Depois de uns 15 minutos Jason deu um bocejo e pausou o jogo.

- Estou cansado. – ele disse. – Podemos parar?

- Está fazendo isso só porque eu ia ganhar dessa vez? – indaguei rindo.

- Não é isso. – ele disse rindo.

- Ótimo porque você ia perder feio. – eu disse.

- Eu ganhei de você 9 vezes. – ele disse triunfante.

- Nove vezes? – Percy indagou. – Você é péssima nisso.

- Eu ganhei uma vez. – disse contrariando-o. – Pronto pra saber o que acontece lá embaixo?

Jason sorriu e levantou.

- Pronto. – ele disse.

- Annabeth, você sabe que... – ele começou a reclamar mas eu o cortei.

- Na idade dele eu já estava nessas festas. – menti.

- Por isso você é toda errada. – ele revidou.

- Outch. – disse. – Doeu Percy, de verdade.

- Idiota. – Percy disse rindo.

- Vamos Jason. – disse pegando as muletas. - Você vai adorar ver isso.

Andamos (manquei) até a entrada do porão e olhei pra Percy.

- Veja como estão as coisas antes. – sussurrei pra ele.

Percy me olhou espantado. Será que ele achava mesmo que eu queria denegrir a mente de uma criança inocente e tão legal? Idiota.

Ele desceu alguns degraus e voltou rapidamente.

- Tem certeza que quer fazer isso, Jason? – Percy perguntou para Jason.

Notei que Jason estava ficando com medo.

- Eu acho que sim. – ele respondeu e olhou pra mim esperando uma resposta.

- Não deixe ninguém te ver. – disse. – Estou bem atrás de você.

Ele desceu dois degraus e se acocorou para ver. Desci um pouco mais e olhei com ele.

Tinha umas poucas pessoas dançando no meio do porão muito bêbadas e outras sentadas num canto rindo bem alto. Na cama havia pessoas embaixo do lençol mas nada que pudesse traumatizar uma criança.

Jason suspirou e voltou lá pra sala.

- Isso foi tão sem graça e emocionante ao mesmo tempo. – ele disse com os olhos cansados.

- Viu, estar lá é completamente sem graça, jogar vídeo game com os amigos é melhor. – eu disse.

- Verdade. – ele disse bocejando. – Boa noite Annabeth, boa noite Percy.

Mostrei o punho pra Jason e ele bateu no meu punho.

- Até mais Jason. – disse enquanto ele corria escada acima.

- Jason gostou de você. – Percy disse.

- Todos gostam. – brinquei sentando no sofá. – Uma partida?

- Vou destruir você. – ele disse sentando ao meu lado e pegando o controle.

- Veremos. – disse começando a jogar.

Começamos a jogar freneticamente. Percy era obviamente melhor nisso mas eu não era tão ruim quanto pensei.

- Sabe... – Percy começou.

- O que? – disse concentrada.

- Você ainda me deve um beijo. – ele disse sem olhar pra mim.

- Eu não vou te beijar. – disse sorrindo.

- Porque? Você obviamente sente algo por mim. – ele disse se achando.

- Obviamente. – digo com sarcasmo.

Percy ri.

- Se eu ganhar você me beija. – ele disse. – Apostado?

Penso por um momento.

- Que seja, apostado. – digo dando de ombros.

 Voltamos a jogar dessa vez com mais intensidade.

- Prepare seus lábios, essa é minha. – Percy diz em tom de brincadeira.

- Eca, não acredito que você falou assim. – respondi sem tirar os olhos da tela.

Comecei a apertar os botões aleatoriamente numa tentativa desesperada de ganhar e acreditem se quiser, deu certo.

- Eu ganhei. – disse sem acreditar.

- Você ganhou. – Percy disse a contragosto.

- Eu sou demais. – comemoro levantando e fazendo a dança da vitória.

- Também não exagera. – Percy disse revirando os olhos.

- Eu ganhei. – disse de novo. – Você não vai me beijar.

Percy revirou os olhos.

- Você iria adorar me beijar. – ele disse levantando. – Vamos pra casa?

- Casa? – com Gabe no quarto ao lado. – Ainda é cedo.

- São quase 5 da manhã. – ele disse. – Gabe vai trabalhar em 1 hora.

- O que o Gabe tem haver com isso? – perguntei paranoica.

Percy franziu as sobrancelhas.

- Devemos chegar antes dele sair. – ele respondeu. – Qual o problema?

- Nada. – respondi dando de ombros. – Vamos embora.

Levantei e manquei até a tv para desliga-la. Dei meia volta e tropecei no fio do vídeo game de Jason mas antes de cair no chão – e provavelmente torcer o outro tornozelo – Percy me segurou.

Ele olhou pra mim por apenas um segundo e então, por um estranho impulso sobrenatural nossas bocas estavam coladas.

Tudo bem, estranho impulso sobrenatural não é a maneira correta de descrever isso, mas é assim que eu prefiro pensar.

Inicialmente foi um beijo esquisito. Só ficamos lá parados com os lábios encostados um ao outro encarando-se como se nenhum dos dois tivesse ideia do que tinha acontecido.

Afastei a minha boca e sorri.

- Você não conseguiu resistir a mim, não é? – disse tentando brincar.

- Você queria me beijar tanto assim, Annabeth? – ele revidou.

Ficamos nos encarando com sorrisos cínicos nos lábios por alguns segundos.

- Podemos fazer melhor que isso. – ele disse levantando uma sobrancelha.

- Definitivamente. – eu disse e então nos beijamos pra valer.

Percy agarrou a minha cintura com força e eu passei os braços ao redor de seus ombros, arranhando a sua costa por cima da blusa. Percy se desequilibrou e ambos caímos sentados no sofá sem parar de se beijar. Coloquei uma perna em cada lado do seu corpo e puxei o seu cabelo com força. Percy agarrou a minha coxa e sugou o meu lábio inferior.

E então como um lâmpada acendendo em minha mente eu lembrei. Esse era Percy. O mesmo Percy que eu implicava desde sempre. Eca.

Saí de cima dele e me afastei arfando. Percy pareceu pensar a mesma coisa que eu, pois me olhava com cara de assustado.

- O que foi isso? – ele indagou arfando.

Parei e olhei pra ele cética.

- Que pergunta idiota. – respondi.

Ele me encarou inexpressivo. Suspirei.

- Certo, isso nunca vai sair daqui. – disse fazendo gestos exasperados com as mãos.

Percy balançou a cabeça.

- Nunca aconteceu. – ele concordou.

- E nem vai acontecer de novo. – digo.

- Isso eu não posso garantir. – ele disse rindo.

- Idiota. – disse rindo e pegando as muletas. 


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Notas finais do capítulo

gostaram pro primeiro beijo percabeth? sei que não foi uma coisa mt romântica, mas não era pra ser mesmo kkkk
estamos abertas a novas recomendações e reviews com ideias do que deve acontecer no próximo capitulo, porque eu e a mila gastamos o que restava da nossa quase inexistente criatividade nesse capitulo, haha.
Até mais, cupcakes da quel :*